O que mestres de RPG podem aprender com o teatro de improviso

Pessoal, essa é a minha tentativa de contribuir com a comunidade de RPG.

Eu queria muito saber qual é a opinião de todo mundo sobre a importância do improviso e tal. Como estou sem grupo, estou colocando minhas experiências como mestre em texto, na forma de dicas.

http://regrasdojogo.com/rpg/nao-diga-nao/

Eu gosto muito de aventuras bem improvisadas. Mas queria a opinião da galera. Na falta de grupo pra jogar, conversar sobre RPG é o que mata aquela vontade que vem lá do fundo.

Toda narrativa é improvisada. É mais fácil atores aprenderem com mestres de RPG, não?

Por mais que você faça uma pré-definição e tenha noção do rumo que a crônica irá tomar, às vezes os jogadores interpretam uma situação que você não imaginava, dando uma guinada total no que você estava "preparando", o que é ótimo, essa é a graça do RPG, a possibilidade de fazer o que quiser com a personagem, desde que seja condizente com a interpretação do personagem.

Tentar forçar o contrário é um meta-game ruim, que só demonstra o despreparo tanto do narrador como do grupo em si.
O texto foi bom, mas está errado no quesito que citei acima, o meta-game deve ser impedido, por mais que fosse causar uma "satisfação" para o jogador do personagem.

Logo em algumas vezes, o NÃO, é extremamente necessário.

Belial escreveu:Toda narrativa é improvisada. É mais fácil atores aprenderem com mestres de RPG, não?

Por mais que você faça uma pré-definição e tenha noção do rumo que a crônica irá tomar, às vezes os jogadores interpretam uma situação que você não imaginava, dando uma guinada total no que você estava "preparando", o que é ótimo, essa é a graça do RPG, a possibilidade de fazer o que quiser com a personagem, desde que seja condizente com a interpretação do personagem.

Tentar forçar o contrário é um meta-game ruim, que só demonstra o despreparo tanto do narrador como do grupo em si.

Eu concordo com você sim. Mas tem muito mestre que tenta forçar a história numa direção, não importa o que os jogadores façam.

A parte de mestres aprenderem com teatro do improviso é que eu mesmo comecei a participar desse estilo de teatro e vi que várias dicas deles podem ser trazidas pro RPG.

Por exemplo, a dica de não dizer não, porque isso nega a participação da outra pessoa. Ou de não ficar se forçando a ser criativo. Tem várias dicas deles que se encaixam bem no RPG.

Eu li todos os artigos. Tem algumas coisas interessantes, mas como o Belial disse, muitas vezes o "NÃO" além de necessário, é completamente condizente com a situação. Mas de fato não tem coisa mais frustrante do que jogar um jogo sem caminhos alternativos, onde segue sempre a linha que o mestre estabeleceu. O improviso tem que estar presente sempre, e isto dá para fazer até mesmo em plataformas como esta aqui, que teoricamente permitem um tempo grande pros jogadores e mestre pensarem bastante antes de postarem.

Em minha experiência de mesa, as cenas mais divertidas e que ficaram mais na minha memória foram as que saíram completamente fora do roteiro. Por exemplo, uma vez um demônio estava perseguindo o meu grupo há umas três sessões de jogo, e todo mundo temia a criatura. Ela era enorme, apavorante, nitidamente poderosa. Ninguém queria enfrentá-la. Mas uma hora chegou o momento do combate. Logo na primeira rodada, um dos personagens disparou contra a criatura, obtendo um '20', seguido por outro '20' na confirmação. O mestre pediu pro jogador rolar de novo o dado, e ele de novo tirou um número alto, confirmando o sucesso critico mortal (variação de regra de D&D).

O mestre poderia ter inventado qualquer resistência do monstro para evitar a sua morte, ter bolado alguma característica para mantê-la viva e assim dar o prosseguimento à batalha que prometia ser épica. Só que ele não interferiu nisso, e o demônio que todos temiam (e com razão, pois era realmente muito poderoso) foi morto por um único tiro. Não deu tempo do demônio sequer atacar o grupo, mostrar uma de suas armas, nada. Se a batalha tivesse ocorrido, por mais épica que pudesse ser, ela certamente não teria sido tão impactante como esta cena surpreendente.

Ou seja, o mestre às vezes precisa sacrificar um super vilão que ele construiu, junto com as horas gastas pra fazer a ficha, para que ele deixe a cena ocorrer do jeito que ela se apresenta, e não do jeito que muitas vezes ele quer.

PS: essa parte "O ladino roubou o cajado do seu grande vilão sem ele perceber?", me lembrou o episódio da Andariel com o Capitão Sinistro, apesar dela ser uma bruxa, e não uma ladina.

Essa história do demônio morrendo com um tiro é muito boa. Cenas assim são o que tornam o RPG muito legal. Todo mundo é pego de surpresa com isso, jogadores e mestre igualmente.

Eu não conheço essa história do Andariel com Capitão Sinistro. É algo que rolou aqui? Comecei a ler as coisas por aqui ontem.

Sim, é da campanha de piratas que rola por aqui. Andariel roubou o artefato mais poderoso (coincidentemente um cajado) que apareceu no jogo das garras do vilão e agora tem ele a seu bel-prazer.

Galera, o Teatro tem conceitos teóricos muito bem estabelecidos mesmo dentro do Teatro do Improviso. De fato há o que nós do RPG temos a colaborar para eles, mas é uma via de mão dupla onde o Teatro em sua natureza lúdica tem mais a oferecer ao RPG do que o RPG, para muitos mero jogo, tem a retribuir.
Aqueles dentro do RPG que levam este como atividade lúdica e dedicam seu tempo para se aperfeiçoar talvez tenham sim muito a oferecer, mas mesmo estes teriam pouco a oferecer comparado a Contadores de Histórias que trabalham no campo do improviso.
Somos, nós do RPG, herdeiros deles e de suas praticas, temos de reconhecer que o Teatro esta para o RPG tal qual o RPG esta para o Ludo.