Fauzi - Hades

- Sim, ela é confiável... Essa é Karen. Está conosco... Quanto a governadora, acho que o melhor a ser feito é irmos até ela e apresentarmos a nossa missão, pedindo autorização para tal... Ela já desconfia de você, então temos que acabar com essa desconfiança.

Aaliyah volta a olhar para a meia-drow, que estava a passear com seu esguio dedo indicador por sobre a borda da taça de vinho, como se toda aquela conversa fosse trivial e não lhe dissesse respeito. Mas a munir sabia que a outra era dissimulada, como qualquer uma de sua raça.

A morena se recosta na cadeira, desconfortável. Fauzi estava certo, apesar da ideia de entregar para a governadora seu projeto de pesquisa não fosse algo que lhe agradasse. O que se poderia esperar de uma vampira, um ser que vive a custa do sangue dos outros. Aaliyah volta seu olhar novamente para o munir, e ela o amaldiçoa por ser tão atraente! E o amaldiçoa novamente por ter caído nas garras da elfa negra. Aaliyah já tinha visto o beijo entre eles de longe, mas lhe custava acreditar que o rebelde fosse escolher justamente a opressora para ser seu par. Grande tolo!

- Muito bem, façamos isto. E o quanto mais cedo, melhor!

**

Fauzi, Aaliyah e Karen esperavam sentados no sofá da antessala do gabinete da governadora de Kardunia. A drow, que normalmente era reservada e que na ocasião anterior mantinha uma distancia dos seus colegas, dessa vez estava colada ao munir, dando beijos e acariciando seus músculos com a ponta dos dedos. Aaliyah olhava para o teto e para suas próprias unhas para matar o tempo, orando para as deusas para que viesse logo o chamado para a audiência.

Depois de meia hora eles são recebidos no gabinete, e Lilia aguarda o grupo se acomodar a sua frente. Com os dedos cruzados e os cotovelos apoiados na mesa, ela escuta o relatório do munir, a explicação de Aaliyah sobre sua vinda a Kardunia e seu pedido formal de desculpas por agir de maneira tão suspeita.

Lilia, tão bela quanto no dia em que fora transformada por seu marido em uma vampira, fecha os olhos para avaliar a situação mentalmente. Fauzi a observa, e se lembra de Neli Fox. As duas eram pálidas e tinham os cabelos negros, mas enquanto Lilia mantinha uma certa jovialidade, Neli trazia tristeza em seus olhos.

- Muito bem, fico satisfeita em saber que Fauzi desempenhou bem seu papel. Será bem recompensado – diz a governadora dirigindo-se ao munir – Quanto a voce, Aaliyah, foi muito bom que tenha tido o bom senso de esclarecer toda esta situação... Melhor nem falar no que estava considerando fazer a você, minha jovem.

A vampira volta novamente seu olhar para Fauzi. Havia um que de ambição em sua face, talvez evidenciada pela ponta de sorriso no canto de seus lábios vermelhos. Devia ter acabado de se alimentar.

- Posso apoiar esta pesquisa, mas antes gostaria de propor algo a vocês... Kardunia é uma cidade relativamente nova, porém temos grande potencial. E nos falta um bom exercito... O que vocês poderiam me oferecer neste sentido?

Fauzi ouve em silêncio a vampira e quando ela questiona o que eles tinham a oferecer quanto a formação de um exercito ele fica confuso. Ele olha pra Aaliyah e então para Karen, com um semblante de dúvida. Não sabia o que exatamente a governadora queria. Em seguida ele responde de maneira cordial.
- Minha senhora, somos somente mercenários e aventureiros. Não possuímos terras ou homens para fornecer a senhora... Realmente não sei como poderíamos ajudá-la nesse sentido...

Fauzi fica perdido diante da pergunta de Lilia, e tanto Aaliyah como Karen não puderam ser de muita ajuda, pois elas também não tinham entendido o que a vampira queria dizer com aquilo.

- Minha senhora, somos somente mercenários e aventureiros. Não possuímos terras ou homens para fornecer a senhora... Realmente não sei como poderíamos ajudá-la nesse sentido...

Com os dedos entrelaçados, a vampira acena com a cabeça. O gato esqueleto, que tinha sido animado na visita anterior dos heróis, sobe sobre a mesa e se deita em um canto, os sons de seus ossos estalando na madeira. Parecia que Lilia tinha gostado de sua companhia.

- Sim, sei disso. Bem, deixe-me explicar como esta a situação de Kardunia em termos de poderio... A cidade possui cinco grandes famílias de vampiros, e cada uma delas fornece um numero de elementos para formar a defesa da cidade. Normalmente não temos muitos problemas, uma vez ou outra ocorre uma tentativa de invasão de algum grupo pirata de Porto Negro, mas eles não são pareo para os meus vampiros. Além disso conto com a ajuda de Shumah para afundar barcos suspeitos que se aproximem demais.

Lilia chama o gato esqueleto para perto, e passa a mão sobre seu crânio.

- Porem contar com vampiros para a defesa da cidade não é algo nada fácil. Não somos nada confiáveis, conheço minha espécie... E embora Kardunia fique em um local de constante neblina, fora daqui os vampiros não podem fazer nada durante o dia. Por isto que conto com mercenários... Mas mercenários também não são confiáveis.

A governadora fixa seu olhar em Fauzi, que por um momento fica zonzo ao ver aqueles olhos fascinantes.

- Eu tenho as terras e o dinheiro necessário para se montar um exercito, mas me falta alguém para faze-lo. Você é um mercenário, mas sinto que posso confiar em voce. E sinto também a ambição em cada uma de vocês – diz Lilia, apontando para Aaliyah e Karen – Todos aqui querem algo maior... Voces vão aceitar este desafio?

Fauzi fica surpresa com a oferta da vampira. Os olhos penetrantes dela fazem com que fique um pouco zonzo, mas logo ele volta ao normal. Ele olha pra Karen e Aalyah para ver a reação delas quanto a propostas e em seguida se volta para a nobre.
- Minha senhora, fico lisonjeado com a confiança que deposita em nós... Permite-me que converse a sós com minhas companheiras sobre a proposta?

Em caso de positivo ele se afastaria de vampira por um momento e se reuniria com Karen e Aalyah em um local mais afastado, em seguida perguntaria a morena de forma direta:
- O quão importante é o item que você quer aqui para nossa causa?

Lilia acena com a cabeça, permitindo que Fauzi pudesse consultar suas companheiras de jornada.

Aaliyah também estava desconfiada com a oferta, mas ela suspira e diz:

- Tudo isto me soa estranho, oferecer um cargo tão importante para alguém que há pouco mais de alguns dias era um desconhecido... Lilia não é a governadora por acaso, ela fundou a cidade, com certeza deve haver algo a mais nesta historia. Mas qual melhor chance temos para ajudar nosso reino, Fauzi? – ela mostra o cristal psíquico azul que tinha na mão – Sinto que estou prestes a descobrir algo que nem os azuis de Darkover sabem, e isto pode ser uma moeda de troca valiosa!

Karen, que estava ao lado de Fauzi, põe as mãos na cintura e bate o pé impaciente.

- M’randii, o que está esperando, aceite logo esta oferta! Ou voce acha que só nós dois... três vamos derrubar os dominantes de Rabiah? Depois nos preocupamos com o que planeja Lilia! Se ela pensa que somos peões do seu jogo de poder, mostramos a ela que podemos ser muito mais poderosos que possa imaginar! Mas definitivamente precisamos ter por onde começar.

Aaliyah olha para a meia-drow, com uma interrogação.

- M’randii? Que raios é isto? Hah, deixa para lá... Karen, voce esta deixando seu lado humano falar mais alto! Não podemos agir precipitadamente! Temos a opção de declinar da oferta, se ela nos parecer uma armadilha...

Karen devolve o olhar com frieza.

- Voce confunde afobação com uma simples constatação da realidade. Você é idiota ou se faz de idiota? Não existem opções neste caso.

Fauzi coloca a mão no queixo e fica pensativo analisando a situação. Após alguns segundos ele diz:
- Bom, vou aceitar... O item é importante e pode ser o que precisamos pra nos ajudar na nossa causa em Rabiah. Mesmo que eu fique preso em algum juramento aqui, você teria condições de continuar com a missão com esse item Aalyah e eu poderia usar os recursos que teria aqui para ajudá-la.

Dito isso, o guerreiro retorna a governadora e diz que aceitaria a oferta dela.

Depois de confabular com suas companheiras, Fauzi aceita a proposta da governadora. A vampira acena com a cabeça satisfeita e aperta a mão do munir para fechar o acordo, e ele sentiu que era uma mão fria e dura, como se fosse a mão de uma estatua de pedra.

- Muito bem, Fauzi. Terá uma grande tarefa pela frente, devido as peculiaridades de minha cidade. Para formar um exercito terá que conhece-la, e já tenho a pessoa certa para isto.

Lilia Kardum entoa uma magia e parece sussurrar para o ar. Aaliyah olha para os lados receosa, enquanto Karen permanece parada com os braços cruzados. Então uma das portas do gabinete se abre, e por ela adentra uma bela jovem, magra e pálida, de olhos vermelhos e cabelo negro como a noite. Fauzi sabia o nome dela: Néli Fox.



Ela se posiciona ao lado de Lilia, e lança um olhar para os presentes. Ao cruzar os olhos com Fauzi ela da um leve aceno com a cabeça. A governadora então a apresenta e diz:

- Néli Fox é uma vampira com um ótimo histórico de trabalho em Porto Negro, pois é filha de um grande líder de guilda. Ela tem uma rede de informantes extensa, que vai das ruas ate as casas nobres vampíricas. Estará a sua disposição para dar a informação que necessitar, e será o nosso canal de comunicação.

NRPG: As aventuras de Fauzi lhe valeram dois níveis. Podemos avançar o tempo para considerar seu treinamento, ou mesmo suas ações para a organização do exercito de Kardunia. Quanto ao atraso nas postagens, sem problemas Hades! Vida real é um problema, kkk!

Fauzi faz um gesto positivo com a cabeça quando a governadora apresenta sua auxiliar.
- Eu já a vi em ação e sei que é mais do que capaz... Se a senhora me der licença, preciso me inteirar mais sobre a cidade...

Inicialmente o munir resolver a questão com Aalyah, obtendo o item que a ajudaria na resistência em Rabiah, em seguida ele estuda a cidade, com Néli, conhecendo as ruas, contatos importantes e principalmente os outros envolvidos na briga pelo poder. Para as intrigas e questões políticas conta principalmente com a ajuda de Karen, pois era bruto e não tinha refinamento para lidar com questões desse tipo.

Ele aproveita o tempo para treinar seus conhecimentos e poderes psíquicos e assume a chefia da guarda. Realizando treinamento intenso com os guardas e tentando iniciar o treinamento de um grupo de elite, de guerreiros psíquicos, nos moldes do que haviam feito em Rabiah.

FAUZI – CHEFE DA GUARDA DE KARDUNIA

As reações a nomeação de Fauzi como chefe da guarda foram mornas entre os importantes de Kardunia. Que diferença fazia um estrangeiro no comando de algo que para eles não tinha quase função? Nada iria mudar...

Mas não era isto que Fauzi tinha em mente, que com seus aliados e aliadas colocara varios planos em execução.

Primeiro Aaliyah, com o apoio do munir, teve acesso a necrópole subterranea e pode fazer os estudos necessários para armazenar as energias psíquicas dos mortos em receptáculos, e partiu para sua vila, Asbag, onde permanecia até então.

Com Néli, Fauzi aprendeu sobre as 5 principais famílias de vampiros, e que a Veintral era a dominante, possuindo varias terras e companhias de comercio em outros reinos, e de cujo dinheiro vinha a sustentação da cidade. Todas as outras casas invejavam essa posição de poder, mas eram os Barujah os mais compelidos a brigar por ela.

Foi também a franzina vampira de cabelos negros que explicou a origem dos artefatos mágicos, os mesmos que tinham caído nas mãos de Fauzi e da antiga companheira Bia Wiam. Tratavam-se de aparatos vindos de uma outra dimensão, acessados por um portal magico permanente. Néli não soube explicar mais, dizendo que era algo da competência da governadora, e que provavelmente era obra conjunta com Shumah Gorath.

Néli, por ser uma vampira de Porto Negro e pertencendo a nenhuma das famílias, não tinha contato com as casas nobres de vampiros, e tal incumbência caiu para Karen. Acostumada a lidar com os nobres da capital Asmir, a sua irreverencia, frieza e arrogância foi ate que bem-recebida, e a meia-drow conseguiu manter uma certa civilidade entre os nobres de Kardunia. Mais de uma vez Fauzi teve que intervir para acalmar os ânimos de um ou outro vampiro mais assanhado, querendo arrebanhar a meia-drow para as suas fileiras.

Enquanto isto, o munir se concentrava em treinar sua tropa de guerreiros psíquicos, selecionados a dedo entre os mais promissores moradores de Kardunia. O conhecimento adquirido por Aaliyah foi fundamental para que pudessem avançar bastante em pouco tempo, entendendo melhor sobre como dominar o poder da mente sobre o corpo. Os rapazes e garotas se esforçavam muito, e treinavam com Fauzi mostrando muita dedicação e respeito, deixando-o muito orgulhoso.

E assim se passaram 3 meses.

***

A sala onde se encontrava Fauzi já estava fechada por mais de uma hora, e os membros da guarda de elite sabiam que não deveriam incomodar seu mestre, enquanto a meia-drow estivesse com ele.

O munir, que estava sentado com a meia-drow em seu colo, ficava se imaginando se algum dia Karen iria se acalmar em seu fogo. Normalmente um relacionamento costumava esfriar conforme o casal ia se conhecendo mais, mas parecia que com a cleriga ocorria algo oposto. Com muito esforço Fauzi conseguiu controla-la em seu escritorio, pois sabia que se os afagos continuassem daquele jeito, iriam transar em cima da mesa. Como das outras vezes.

Karen estava irritada, como sempre ficava quando tinha seus desejos negados.

- Muito bem, se seu trabalho é tão importante assim, fique com ele – diz, ajeitando a roupa. – Para a sua sorte não existe outro macho que me interesse, mas vou dizer que já estou me enjoando tendo que dar conta sozinha das minhas necessidades.

Fauzi tem que conter sua excitação após todos aqueles afagos da meia-drow. Quando acordaram já havia feito sexo e agora, algumas horas depois ela já queria novamente. Apesar das esfregações com a drow deixar Fauzi pronto para outra, ele tinha sua obrigações e afazeres, contudo as palavras de Karen feriram seu orgulho como guerreiro.
O guerreiro a pega enquanto ela ajeita as vestes e a debruça sobre a mesa. Ele entrelaça a mão esquerda nos cabelos dela e com a direita ele ergue o vestido dela.
- Esse é nosso trabalho... Sua safada... Mas se você quer mais, eu te dou mais!

Após essas palavras ele arria as calças e guia o membro dele dentro dela, penetrando-a enquanto segura bunda dela com a mão direta. Ele sente aquela pele macia da meia-drow e isso o deixa ainda mais excitado. Ele utiliza as habilidade psíquicas de concentração e segura a excitação e movimenta contra a meia-drow até sentir que ela tenha um orgasmo, quando também liberaria o seu.

Fauzi então a vira e beija os lábios carnudos dela. Ele adorava sentir aqueles lábios, deliciava-se com eles.
- Podemos falar de trabalho agora? Como estão as coisas entre as famílias? Alguma novidade?

Karen adorava provocar seu macho, pois quando ele caia na tentação ficava mais fogoso e viril. Até que ficar na posição de baixo de vez em quando era gostoso, se sentir dominada... De vez em quando.

A meia-drow sai de cima da mesa e abaixa o vestido. Não se importava nem um pouco de ficar assim, sem calcinha, além do que o grosso sêmen de seu M’randii ainda estava escorrendo por seus lábios e descendo por sua coxa. Incomodava, mas tinha valido a pena.

- Sim, trabalho... Bem, as famílias estão como sempre estiveram, sob uma trégua forçada. O desejo delas seria de destruir todas as outras, mas não o fazem, porque sabem que se uma guerra civil começar, aquela sem aliados sera dizimada... E como ninguém confia em ninguém, nada acontece abertamente.

Karen se recosta na cadeira, cruzando a perna lentamente. As drows tinham cabelos brancos também nas partes intimas.

- Cada uma das 5 famílias vampíricas domina uma área de comercio: os Veintral são os que possuem mais posses, os Trimer negociam magias, Toriale lidam com artes, Nosfer vendem informações e os Barujah, armas. Nenhum deles morre de amores por voce, querido, porém é inegável o quanto a ação dos salteadores contra as caravanas diminuiu, e a violência dentro de Kardunia reduziu-se a quase zero.

A meia-drow então se levanta e se apoia na ponta da mesa com as duas mãos, com a ponta de um sorriso nos lábios.

- As casas vão fazer um baile em sua homenagem, Fauzi. Quer maior honra que esta? – diz, zombeteira – Você já imaginou um ratinho indo para uma comemoração dos gatos?

Fauzi senta-se a cadeira, pensativo enquanto digere as palavras de Karen. Baile, não gostava daquele tipo de coisa... Em nada ajudava no trabalho essas festas de nobres, além disso, não gostava nem um pouco de ter que ser "obrigado" a conversar com eles.
- Eu não tenho tempo para bailes... Talvez possa mandar você como minha representante... Eu tenho mais o que fazer do que ir nessas festas...

Caso se mostrasse não receptiva a sua ideia, Fauzi suspiraria e diria que então iria.
- Fazer o que né... Mas não ficarei por muito tempo... Só irei para não fazer "desfeita"... Quanto a essa calmaria, isso me incomoda... Parece a calmaria antes da tempestade de areia...

- Eu não tenho tempo para bailes... Talvez possa mandar você como minha representante... Eu tenho mais o que fazer do que ir nessas festas...

Karen balança o dedinho e faz um biquinho.

- Nada disso querido... Os vampiros já marcaram a festa em sua homenagem, já imprimiram convites, já estão fazendo múltiplos planos. A sua ida é imprescindível, sinto muito.

- Fazer o que né... Mas não ficarei por muito tempo... Só irei para não fazer "desfeita"... Quanto a essa calmaria, isso me incomoda... Parece a calmaria antes da tempestade de areia...

A meia-drow se levanta e caminha até Fauzi, ficando por trás dele enquanto massageia seus ombros, retirando sua tensão acumulada. As mãos dela passeavam por ele como se fossem aranhas.

- Muito bemm Fauzi, talvez exista alguma esperança para um pobre morador das dunas... E se houver alguma tempestade de areia, já tenho um lugar bem aconchegante para voce se esconder... – diz, mordendo o lóbulo de sua orelha.

Uma batida na porta. Karen apenas se limita a voltar seu olhar para a pessoa que iria entrar, não se dava ao trabalho de disfarçar nada do que estivesse fazendo.

Era a vampira Neli Fox.

Ela faz um leve menear da cabeça, reconhecendo a presença de Karen no gabinete do chefe da guarda. E então se dirige ao munir, com sua voz tranquila de sempre.

- Governadora Lilia requisita sua presença, chefe da guarda. Disse que é urgente.

Karen ergue uma das sobrancelhas, e belisca Fauzi nas costas.

- Seus instintos estão afiados, M’randii.

Fauzi faz um aceno com a cabeça para Neli e dá um beijo nos lábios de Karen antes de sair e acompanhar a vampira. Ele segue com ela pelos corredores se dirigindo até a governadora.
- Sabe do que se trata, Neli?

Andar ao lado de Néli era algo um tanto quanto enervante, pois seu caminhar parecia um levitar sobre os pés, como se fosse um espirito. Gostava sempre de usar preto, como se estivesse em um luto constante, e seu humor acompanhava este sentimento.

- Sabe do que se trata, Neli?

Ela se vira para fitar Fauzi, seus olhos vermelhos sem sentimento piscam, não por necessidade, mas meramente para dar a impressão de que ainda era humana. Ela diz, numa voz suave:

- Tenho minhas suspeitas... A Governadora anda muito irrequieta ultimamente, mais do que o normal. Para mim ela é um espécime peculiar, pois apesar da grande idade, por vezes age como se fosse uma adolescente... Ainda deve manter um grande sentimento pelo Duque desaparecido, o que a mantem ativa desta maneira. Cada qual age de uma maneira diferente quando se sofre uma grande perda...

O munir sabe que ela não estava falando apenas da duquesa. Percebendo seu deslize, Neli volta novamente seu olhar para a frente.

- Algo sobre a festa em sua homenagem, Fauzi, ela falara com voce em breve... – diz. Caminham por mais alguns metros, até que Néli para. Ela é bem direta. – Tenho que lhe perguntar algo... É um assunto que não me sai da cabeça, e preciso esclarecer. É sobre Cray Jr e sua meia-irmã, Bia Wiam. Eles saíram de Kardunia, e desde então nunca mais tive noticia deles. Vocês sabem onde eles se encontram? Por que eles saíram da cidade? Cray sequer se despediu de mim, apesar de ter ajudado a encontrar e libertar sua meia-irmã do cativeiro...

Fauzi para e escuta os questionamentos de Néli. Ele faz uma expressão triste após as perguntas dela.
- Bom, para ser direto eu e a Bia nos desentendemos por causa da Karen... Ela pressionou dizendo que não ficaria comigo, se a Karen estivesse por perto. Como não tinha lógica nas ações dela, pois a Karen nunca fez mal algum a ela, eu disse que não seria pressionado a escolher dessa forma e ela foi embora e levou o Cray consigo. Acredito que ele não teve tempo de se despedir de você, ela estava bem transtornada. Eu sinto a falta dela, era como minha irmã, mas foi a escolha dela...

Néli ouve a resposta de Fauzi e leva a mão em sua propria fronte. “Como os homens conseguiam ser tão densos?”, perguntou-se.

- A lógica nas ações de uma mulher para os homens é difícil de entender, pois são muito racionais. Por amor uma mulher é capaz de tudo, até mesmo se afastar quando na realidade ela gostaria mais do que tudo estar ao seu lado. Para mim está mais do que claro que Bia nutria um grande sentimento por voce, Fauzi, e via Karen como uma rival. Embora voce a visse como uma irmã, Bia gostaria que a visse como uma mulher.

Este tipo de conversa parecia tirar um pouco de Neli a sua letargia, tornando-a um pouco mais sociável. Ela ate tocou no braço de Fauzi com suas mãos geladas.

- Voce poderia me ajudar a trazer Bia de volta, e com ela Cray... Vou lhe fazer uma confidencia, Fauzi. A família Daragon foi muito importante para mim, e sinto que minha historia com eles ainda precisa de um final feliz... Talvez agora entendendo o que Bia sentia, vocês dois possam voltar a ser amigos novamente, e da minha parte estando próxima de Cray eu poderia revelar meus sentimentos a ele... É algo importante para mim, algo que pode aliviar a minha existência sofrida como não-viva.

Néli afasta as mãos do munir e olha para baixo, seu olhar agora triste. Suas mãos se cruzam em frente de seu peito, abraçando a si mesma como se estivesse com frio.

- A vida vampírica não é fácil... Os anos passam e vemos as coisas envelhecerem, enquanto nós continuamos os mesmos... Vi o pai de Cray perder sua juventude, e sei que em questão de anos ele estará debaixo da terra sendo comido pelos vermes. Eu permaneço e vejo as coisas se deteriorarem ao redor. Não gostaria de ver Cray Jr perder também sua jovialidade... E cada minuto que passa, o fim se aproxima... – diz, com voz sombria.

Fauzi observa as demonstrações de afeição da vampira e isso até lhe deixa pouco confortável. Não estava acostumado com aquelas atitudes por parte dela.
- Néli, eu nada tenho contra a Bia ou o Cray, mas não sei o que posso fazer para que eles voltem. Não de uma maneira que isso não gere desconforto para a Bia, afinal, se ela me via como você diz, ficar próximo de mim enquanto estou com a Karen não seria bom para ela. Talvez, após esse tempo todo ela tenha esquecido...

Ele então fita os olhos dela e diz:
- Quais são as opções que apresenta?

- Quais são as opções que apresenta?

A vampira fica pensativa por alguns momentos, e Fauzi por alguns instantes se admira como daquela maneira ela se assemelhava a uma estatua de marfim. Mais uma estatua do que uma humana.

- Bem Fauzi, voce sabe que eu trabalho com informações, é basicamente nisto que reside meu poder... E acaba virando uma mania querer saber de tudo... Bem, fato é que Cray e Bia saíram de Kardunia, e devem ter seguido para qualquer lugar, tanto oeste, como leste ou sul. Não foram para Porto Negro, meus contatos me garantiram isto.

Um servo passa ao lado deles, e Neli para de falar, aguardando o mesmo se afastar. Então ela continua.

- É possível encontra-los através de magia, no entanto isto tem um custo. E para valer a pena, quero saber se voce poderia busca-los para mim, Fauzi. Buscar é modo de dizer, na realidade, convence-los a retornar para Kardunia.

A vampira toca novamente na braço de Fauzi.

- Eu sei que é difícil para voce fazer isto, já vi que não sente nada por Bia, e que esta apaixonado por Karen. Mas talvez eu possa te convencer de uma outra maneira...

Néli segura a mão do munir e procura por uma sala vazia, onde não podiam ser vistos. Ao encontrar uma e fechar a porta atrás de si, ela se aproxima do ouvido de Fauzi e diz:

- Karen tem um segredo muito bem guardado, algo que não lhe contou e nunca ira contar... Mas que eu sei, e se voce prometer me ajudar, posso revela-lo.

As palavras da vampira afetam Fauzi, Karem já havia dito que não teriam mais segredos entre eles, mas agora Néli dizia que ela tinha um segredo muito bem guardado. Ademais, ele tinha um carinho muito grande por Bia. Ela o ajudou quando ele veio de Rabiah e foi sua companheira de aventuras por muito tempo, ressentia-se pelo modo como as coisas terminaram.
- Eu gostaria de poder falar sim, mas você sabe que não posso... Tenho meus compromissos como chefe da guarda agora. Não posso me retirar do meu posto por muito tempo. Como que eu iria buscá-los sem descumprir com minhas obrigações.

O guerreiro respira fundo e diz:
- Se você conseguir localizá-los por magia e me dizer que estão próximos, posso ficar um dia ou dois longe dos meus compromissos, mas nada que me tome muito tempo. O ideal seria localizá-los e ter uma magia de transporte até onde eles estão. Assim conseguiria fazer o que me pede.

Ele fita a vampira e acrescenta:
- O que você sabe sobre Karen?