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    Kim Sun-Hee

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    Mensagem por Persephone Sáb Out 21, 2017 11:32 pm


    CENA EXTRA 01
    Tipo: Pequena
    Previsão: 2 rodadas (4 mensagens)

    21/04/2018


    O sábado de primavera não começou colorido e iluminado como de costume. Havia algo de diferente na atmosfera que deixava o dia um tanto quanto cinzento. Até mesmo os cães podiam sentir que não era o melhor dia para fazerem bagunça e isso deixou o café da manhã particularmente silencioso. Tia Yu-Mi servia os sobrinhos e o cunhado com uma expressão séria e quase triste. O Sr. Kim lia o jornal, mas dava para perceber que não saía da primeira coluna.

    Os irmãos estavam quietos e silenciosos. Yi-Hoo repousou o talher sobre a mesa, chamando alguma atenção ainda que não houvesse violência em seu ato e disse.

    - Eu não vou. Desculpe, mas eu não consigo. - O irmão mais velho meneou negativamente.

    Tia Yu-Mi o encarava com um certo ar de reprovação, mas havia entendimento ali. Até que o Sr. Kim disse.

    - É seu direito. Você já é maior de idade, sabe o que faz. - Disse desgrudando os olhos do jornal e encarando os familiares. - Alguém mais gostaria de ficar? Jun? Sunny? Ninguém é obrigado a ir.

    O Sr. Kim tinha um modo muito irritante de lidar com essas situações. Fosse o tom de voz ou o olhar que ele transmitia, as pessoas acabavam se sentindo moralmente erradas por não seguirem os próprios instintos. Yi-Hoo não mudou de postura, mas agora carregava uma expressão infeliz no rosto. Não demorou para que ele se retirasse da mesa e fosse levar os cães para passear. Yu-Mi já tinha dito que não iria, pelo menos não naquele dia, porque sábado o restaurante ficava bem cheio e ela podia cumprir com sua tarefa moral ao longo da semana.

    Portanto, restaram apenas Jun-Pyo, Sunny e o Sr. Kim. O trio logo entrou no carro da família e tomou rumo ao destino final. O modesto carro da família facilmente destoava daquele edifício. Eles podiam sentir que até mesmo o manobrista olhou de modo estranho quando pegou as chaves do carro e o direcionou para o estacionamento.

    Kim Sun-Hee 11280905

    O Sr. Kim e os filhos não tinham condições de iniciarem qualquer tipo de tratamento naquele hospital. Tratava-se do hospital mais moderno e equipado de toda Coreia do Sul. Possuía as mais diversas áreas de atendimento e era o sonho de qualquer jovem estudante de medicina. Isso porque os jovens geralmente só pensam no lado bonito da profissão e não exatamente no quão desgastante ela pode ser.

    Apesar de tenso, o Sr. Kim fez um afago no ombro da filha. Conhecia o sonho dela e foi meio que um incentivo para que ela continuasse acreditando.

    - Quem sabe daqui a 10 anos, hm? - O tempo médio que levaria para que ela terminasse a escola e a faculdade. Talvez o mínimo para a residência.

    Os três seguiram até a entrada e pediram o cartão de visitas da área psiquiátrica. Iriam visitar Kim Nam-Ryu, a ex esposa de Jung-Hwa e mãe de seus filhos. A atendente entregou os adesivos e os três caminharam. Jun-Pyo tinha uma expressão um tanto quanto perdida. Não entendia, sinceramente, porque eles continuavam fazendo visitas a ela em datas importantes. Ela provavelmente nem queria vê-los, ainda que fosse seu aniversário. Mas ele não conseguia ser firme e decidido como o irmão, por isso se viu arrastado até lá. Já o Sr. Kim prezava pela tentativa.

    Cada um tinha seus próprios conceitos e deveriam agir de acordo com eles e do próprio coração. Ainda que nenhum dos filhos fossem, ainda que ela não quisesse vê-lo, ele iria levar o buquê de flores que levava todos os anos. Só esperava que ela estivesse melhor.

    Para a enorme tristeza do trio, o médico plantonista os encontrou na área e informou que a paciente não estava nas melhores condições. Não era como se o médico os estivesse expulsando, só queria deixar claro que, talvez, não fosse o melhor momento para um encontro. O Sr. Kim esperaria a postura dos filhos, mas pediria para que vissem, pelo menos a janela do quarto.

    A cortina foi erguida e eles podiam vê-la deitada na cama. Nam-Ryu estava amarrada pelos pulsos e pernas, com os olhos fechados e uma expressão nada tranquila. Apesar de ser irmã gêmea de Yu-Mi, ela parecia quinze anos mais velha. A pele estava chupada, envelhecida e o cabelo tinha mechas brancas oriundas de constantes surtos e medicações. Respirava de modo pesado e uma enfermeira a ajeitava do melhor modo possível.

    O Sr. Kim começou a perder a vista por conta dos olhos marejados e passou os dedos por baixo dos óculos de modo discreto enquanto abaixava o buquê. Respirou fundo e foi a vez de Jun-Pyo demonstrar seu apoio. O filho do meio bateu a mão em seu ombro e o incentivou a encará-lo, por um instante.

    - Você faz o seu melhor, pai…

    Jun olhou para Sunny, preocupado com a irmã também.

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    Mensagem por Ailish Dom Out 22, 2017 11:59 pm


    Mesmo depois de acordar, ela ainda permaneceu deitada por um bom tempo. Não sentia a menor vontade de levantar, mas sabia que se esconder ali, entre as cobertas, não se tratava de uma opção aceitável. Não porque existia a possibilidade do papai obrigá-la a fazer algo que não desejava... e sim pela razão de que não conseguia abandoná-la.

    Não era como ela.

    E diferente dos irmãos, não guardava rancores.

    Apenas uma imensa tristeza, que aumentava ao final das complicadas visitas.

    Lentamente saiu da cama e caminhou até a janela, empurrando as cortinas para as laterais e assim que encarou o céu pintado de cinza, Sunny controlou o embrulho no estômago. O dia refletia a aura daquela casa e ela sequer precisava fitar os familiares para enxergar a nuvem negra que liberava a tempestade contínua sobre suas cabeças. Tempestade que, às vezes, assumia as formas de uma sutil garoa, já em outras, tomava as proporções de um verdadeiro furacão. Mas não importa quais são os traços ou a intensidade... Sempre permanecia lá, lembrando os Kim que não adiantava seguir em frente, pois o passado continuaria a assombrá-los.

    Sunny suspirou conforme tocava o vidro com as pontas dos dedos.

    Engraçado que nessa ocasião específica, não notava a ansiedade característica se aproximar, espreitando seus nervos como uma serpente diante do próximo bote. Ela ficava... vazia, porém, por pouco tempo.

    Não há fuga.

    Uma hora, transbordava, repentinamente.

    Até esvaziar de novo.

    [...]

    A família Kim já estava reunida na cozinha, mas fugindo do comum, o clima que rondava o ambiente não era melhor do que aquele que acontecia no lado de fora, como Sunny anteriormente imaginou. A primeira pessoa que ela cumprimentou foi a tia Yu-Mi, presenteando-a com um beijinho carinhoso na bochecha e um abraço bem apertado – Feliz aniversário, titia... – sussurrou, mesmo que a mulher não gostasse de comemorar a data. Depois da troca de afeto, cumprimentou o pai e os irmãos, sentando-se, enfim, ao lado de Yi-Hoo.

    Naquela manhã... não houve o “bom dia”.

    Seria uma ironia que ninguém estava disposto a invocar.

    Quando se inclinou para pegar a garrafa térmica cheia de chá, Yi-Hoo deixou o talher sobre a mesa e Sunny não precisou observar o irmão mais velho para visualizar a exata expressão de infelicidade. Fingiu um interesse desproporcional na bebida que caía lentamente no interior da xícara. O pai não se opôs a decisão do filho e deu abertura para os outros...

    - Eu vou, appa.

    Respondeu sem hesitar ou demonstrar alguma linha de incerteza.

    Yi-Hoo nem terminou o desjejum. Após a declaração e as palavras do Sr. Kim, ele levantou e assumiu a tarefa de passear com os cães, e dessa forma, o restante do café da manhã transcorreu em silêncio fúnebre.

    Ao fim, o trio seguiu na direção do carro e durante o trajeto, Sunny refletiu sobre como se comportar ou o que falar enquanto os dedos, tensos, apertavam o delicado e bonito embrulho que descansava no colo dela. Entretanto, os olhos reagiram assim que enxergaram a enorme e luxuosa estrutura do melhor hospital da Coreia do Sul. O coração de Sun-Hee subiu até a garganta e a menina foi a última a descer do veículo, não percebendo a feição estranha do manobrista. Ele certamente se perguntava o que estes indivíduos, reles mortais, queriam ali... num lugar que, de fato, não podiam pagar, nem se juntassem dinheiro ao longo de um ano inteiro.

    Os sentimentos dividiram-se.

    Aquele era o seu sonho, mas... ironicamente, dadas as circunstâncias, também representava um de seus mais sombrios pesadelos.

    O toque no ombro atraiu a atenção ao pai e Sunny sorriu, tocando-o por cima da mão, liberando um breve afago – Me esforçarei além do possível para conseguir, papai... Nem que demore mais do que dez anos.

    E a determinação de Sunny era algo que a família conhecia muito bem.

    No momento em que pisaram na entrada, ela agiu em “modo automático”. Tinha guardado o presente na bolsa e como se pesasse mais do que meras 10g, ela segurou o cartão com ambas as mãos depois de colar o adesivo na camisa. Sun-Hee, ao contrário dos irmãos, visitava-a em todas as datas importantes, apesar dos modos agressivos e cruéis de Nam-Ryu. Jamais recebeu qualquer carinho da mãe, que abandonou a família meses depois do nascimento da primeira, e única, menininha. Mas a doença já havia consumido os rastros mínimos de sanidade da gêmea de Yu-Mi, ao ponto de uma cura para o quadro ser inviável. Nam-Ryu estava presa no hospital psiquiátrico, sem previsões de uma alta que nunca receberia.

    No fundo, todos se culpavam, porém o fardo maior pesava nos ombros de Sunny.

    Sim, a mãe era uma jovem doente desde nova... Trincada em vários pedaços. No entanto, Sun-Hee sabia que a gota d’água foi após o parto de uma criança indesejada.

    Aquilo terminou de quebrá-la, de maneira que os cacos não encontrariam conserto.

    Não mais.

    Quando o médico os interceptou para avisá-los das condições atuais da paciente, Sunny olhou com tristeza para o pai e Jun-Pyo. Queria vê-la...

    Precisava vê-la.

    Ela moveu o queixo em resposta à pergunta não verbalizada do appa.

    À medida que caminhavam pelo corredor, o ruído dos passos machucavam os ouvidos da garota, forçando-a a controlar o impulso de cobri-los. O cheiro das medicações a enjoava, sentia frio por causa do ar condicionado e as pernas tremiam... Os sentidos reagiam a forte pressão emocional, porém, o rosto, expunha uma rígida seriedade. Logo, diante da porta do quarto de Nam-Ryu, o doutor erguia a cortina, permitindo que a olhassem por trás da janela.

    Um cadáver.

    Era o que Sun-Hee via ao encarar a mulher amarrada na cama, cuja imagem bonita estava destruída. Olhar para ela, ciente que possuía a mesma beleza de sua tia Yu-Mi... Sunny apertou a palma contra os lábios e desviou os olhos.

    Sua mãe estava morta.

    Porque aquele corpo não vivia, somente existia, aguardando o próprio desfecho.

    Enquanto Jun apoiava o appa, ela pegou o embrulho na bolsa e só então notou o olhar preocupado do irmão. Balançou a cabeça, só que não era exatamente uma resposta positiva ou negativa. Talvez um “eu aguento...”, pois só tinha como fazer isso: suportar. Aproximou-se do pai e o acariciou no rosto para enfatizar as palavras de Jun-Pyo. Em seguida, encarou o médico – Doutor, realmente não podemos entrar? Por favor... Cinco minutos. Ou menos. Quero entregar o meu presente, mas não gostaria que ela ganhasse por outra pessoa.

    O que custaria, afinal?

    Nada tinha a capacidade de piorar o estado de Nam-Ryu.  

    Pelo menos era no que Sunny acreditava, de verdade.



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    Mensagem por Persephone Dom Nov 12, 2017 2:32 am

    O Sr. Kim se mantinha de pé ainda que suas esperanças para aquele dia tivessem falhado. Apesar deles não serem mais casados - legalmente falando - ele ainda respeitava aquele corpo que estava ali. Afinal, ela era a mãe de seus filhos e a mulher que ele tinha escolhido para construir uma vida. Infelizmente, o destino não quis assim. Não demorou muito para que ele descobrisse a verdadeira Nam-Ryu que existia por baixo daquela máscara de perfeição. Os detalhes eram inúmeros, mas Jung-Hwa poupava os filhos dos detalhes sórdidos porque eles não precisavam saber que tipo de pessoa a mãe deles era.

    Pelo menos tinha Yu-Mi, o outro lado da moeda, que o ajudou a criar as crianças. Nunca entendeu, de verdade, porque a cunhada tinha feito aquilo. Ela simplesmente abandonou a vida de conforto que tinha quando Sun-Hee nasceu e passou a se dedicar aos sobrinhos ao invés de ter uma vida própria. Jung-Hwa era muito grato por tudo, mas achava que Yu-Mi era uma mulher jovem, bonita e atraente - como sua ex-esposa deveria ser, caso não tivesse se transformado naquele vegetal. Ainda podia constituir a própria família.

    Era o que dizia e que sua mente sabia que era o certo.

    Mas a verdade é que...só de pensar na possibilidade de Yu-Mi um dia partir, ele já se sentia um pouco perdido.

    Não podia sabotar a felicidade dela, mas também, no fundo, não queria perdê-la de vista. Porque ela foi uma peça fundamental para a estrutura daquela família. Não conseguia imaginar o que seria deles sem Yu-Mi. E nem queria.

    Agora, contudo, diante daquela cena, ele sentia um peso maior sobre os ombros. Era mesmo um homem muito egoísta. Porque mesmo não querendo abrir mão de Yu-Mi, ele sofria por ver Nam-Ryu daquele jeito.

    Jun tocava em seu ombro e o estimulava a erguer a cabeça. Dizia que ele tinha feito o seu melhor. As palavras erma quase um alento, porém, uma rusga de preocupaçã se formou quando ouviu a pergunta de Sunny ao médico. O Sr. Kim olhou num misto de ansiedade e preocupação. O médico encarou a família de modo misericordioso e suspirou.

    - Eu compreendo, mas... - Olhou para o vidro e olhou a jovem de novo. - Cinco minutos. É tudo o que posso garantir a vocês, mas eu não sei se a reação dela será a melhor. Hoje está um pouco difícil.

    Tanto que tiveram que imobilizar os membros dela.

    Jun engoliu em seco, um pouco incerto sobre o que deveriam fazer. Acabou que os três entrariam, um dando apoio ao outro. Jun estava um pouco mais atrás enquanto Kim guiava Sunny pelo ombro e a outra mão segurava o buquê. A filha podia sentir que a mão do pai tremia um pouco de nervosismo. Todos eles sabiam que a preocupação era com a reação da mulher, sempre imprevisível. E ninguém queria ficar com a sensação de que fizeram uma visita inútil.

    Sunny pode se aproximar um pouco mais enquanto Kim colocava o buquê de orquideas ao lado da cama dela. Nam-Ryu deu um longo suspiro misturado num gemido de incomodo, até por estar imobilizada. Os olhos dela começaram a se abrir lentamente quando vou chamada pela filha, mas o olhar não a reconhecia. Era um olhar de desprezo, frio, desconhecido. Encolheu-se um pouco mais na cama e viu aqueles três rostos, sem reconhecê-los.Até que olhou um pouco mais para Kim e murmurou.

    - Kim...Kim Jung-Hwa... - Os lábios estavam secos.

    - Nam-Ryu... - Kim disse baixinho, mas sem muito afeto ou proximidade.

    A voz dele foi o estalo necessário para despertar a fera insana que existia dentro dela. A mulher fechou os punhos e começou a se sacudir enquanto dizia.

    - Saiam daqui. - Seu tom era agressivo- Quem são vocês? Você... - Olhou para Kim de novo, ignorando a existência dos filhos. - Você ainda não morreu, seu desgraçado?! O QUE ESTÁ FAZENDO AQUI?? ESPIRITO NOJENTO!! PARA DE ME ATORMENTAR!!! E VOCÊS??? SAIAM!!! EU NÃO QUERO SABEEEER!!! SAIAM DAQUIII!!!ME DEIXEM EM PAZ...OLHA O QUE VOCÊS FIZERAM COMIGO, OLHAAAAAAA!!!

    Começava a se sacudir no leito. Não tinha dado nem dois minutos direito e a presença deles já atormentava a mulher. O médico ainda estava ali e logo chamou os enfermeiros, pedindo para que eles se afastassem. Sunny foi protegida pela pai que não queria que ela visse ou ouvisse mais os absurdos que aquela mulher dizia. Eles veriam que os enfermeiros e o médico a dopavam de novo. Porque apenas quando injetarma um liquido no soro, ela foi acalmando até desmaiar.

    Quando saiu do quarto, o médico nem soube o que dizer. Afinal, tinha avisado.

    Aquela visita tinha sido pior do que eles poderiam imaginar.

    [...]

    O restaurante ainda estava fechado ao público, mas já havia uma pessoa ali dentro. Yu-Mi tinha buscado refúgio em seu próprio negócio enquanto seus entes queridos iam visitar sua irmã. Tinha feito um cupcake de aniversário para si mesma. Acrescentou uma vela e observou a chama que tremeluzia no topo.

    Seus olhos estavam um tanto quando marejados enquanto pensava como era dificil ainda hoje sofrer pelas escolhas do passado.

    Mais um ano tinha se passado e ela não conseguia perdoar sua irmã.

    - Vamos, Yu-Mi...Faça um pedido e assopre as velas... - Disse para si mesma, secando as lágrimas.

    Tomou fôlego para assoprar, mas antes que conseguisse pensar em qualquer coisa para si, foi o rosto de seus sobrinhos que veio à sua mente. Os ombros dela caíram um pouco até que fechou os olhos e disse.

    - Desejo que minhas crianças concretizem seus objetivos. - E assoprou a vela.

    A fumaça subiu e, ao invés de comer o cupcake, a mulher pegou sua caneca de chá, aquecendo as mãos e olhando pela janela do restaurante. Esperava que tudo tivesse corrido bem no hospital.

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    Mensagem por Ailish Seg Nov 20, 2017 12:15 pm


    Os olhos estavam novamente fitando a mãe pela janela conforme aguardava a resposta do médico. E quando ele, mesmo hesitante, autorizou a rápida visita, Sunny o encarou e acenou de leve, uma forma de agradecer e concordar com as condições impostas. Dia difícil? Aquilo não a surpreendia mais... porém, ainda machucava. Sempre iria machucar, independente de quanto anos se passem. Todas as vezes que olhasse a mãe, Sunny sentiria o coração quebrar. No fundo, entendia que o que aconteceu não era sua responsabilidade, mas a consciência da verdade não impedia a proliferação da angústia... e da culpa. Em alguns momentos, de tanto prender o choro para não perturbar os entes queridos, ela o sentia afogá-la lentamente, numa tortura silenciosa e solitária.

    Os três decidiram entrar juntos, ambos sendo o suporte do outro.

    Apoiando a palma no ombro da filha, o Sr. Kim a conduzia até pertinho da cama, onde o corpo esquálido de Nam Ryu jazia e os punhos e tornozelos presos lhe davam um aspecto animalesco.

    Uma criatura a ser contida.

    A mão trêmula do appa foi um detalhe adicional ao clima já pesado do ambiente, além de indicar de quem a caçula herdou o traço altruísta da personalidade naturalmente gentil.

    Engolir a dor para que a família não precise experimentá-la...

    Um gesto admirável e inútil.

    No meio do caminho, porém, o appa teria os passos interrompidos devido à brusca estagnada de Sunny, que não conseguia se aproximar mais. Entretanto, antes que o pai a questionasse, ela respirou fundo e continuou o percurso, parando próxima da mãe. De cima, evitava encará-la por inteiro, preferindo focar a atenção no rosto pálido... Ela aparentava estar presa a um sono de sonhos perturbados, mas a respiração indicava o verdadeiro estado – Eomeoni... – sussurrou de modo incerto e o termo soava tão estranho... quase que de um idioma completamente diferente – Somos nós. Sunny, Jun-Pyo e o papai...

    Até pensou em aplicar um rápido carinho nela, todavia desistiu, deixando o braço tombar, inerte.

    - Mamãe?

    O gemido, enfim, veio acompanhado do demorado abrir das pálpebras.

    E o que Sunny viu nas pupilas dilatadas foi o bastante em empurrá-la um pouco para trás.

    A indiferença que havia nas íris escuras era pior do qualquer tipo de ódio, mágoa ou rancor.

    Então, assim que o pai se pronunciou, apenas o som da voz baixa e serena do homem mostrou-se suficiente para despertar o demônio que a ex-esposa carregava dentro do coração. Nam Ryu se debateu e gritou, forçando as amarras, o que certamente causaria ferimentos, mas ela não se importava. Sunny, horrorizada, assistia a cena com as lágrimas já umedecendo a face. Pois, por mais desequilibrada que Nam Ryu estivesse, cada palavra os atingia ao nível de não ser possível simplesmente não absorvê-las como reais. Não percebeu o instante que o pai a puxou, afastando-a, e para impedi-la de observar o desfecho da visita, abraçou a filha. A menina até lutou um pouquinho, debatendo-se entre a proteção, mas não tinha forças. Cedeu, escondendo o rosto no peito dele, prontamente molhando a camisa do patriarca. No entanto, quando começou a levá-la para fora do quarto, Sunny relutou – Não. Ainda não, papai. P-Por favor...

    Soltando-se dos braços acolhedores, mais uma vez, andou na direção da mãe, que agora realmente dormia graças ao uso das medicações.

    Sunny conhecia a sensação de torpor...

    E a invejou, embora fosse algo extremamente errado de sequer cogitar. Mas encarando a figura desfalecida, em sono profundo e distante de quaisquer problemas e emoções gastas, Sun-Hee notou a boca secar diante da perspectiva de uma única dose.

    Aí que espreitava o perigo.

    Porque, essa dose, com o avançar dos dias... meses...

    Anos...

    Não era mais efetiva.

    Devagar, rasgou a embalagem, expondo o presente.

    - Feliz aniversário, eomeoni...

    Era um delicado porta-retrato, de moldura branca e esta contornava uma foto de todos os filhos de Nam Ryu, sorridentes e mostrando caretas engraçadas para a câmera. Claro que tratava-se de uma recordação que ela não lembraria. Não teve participação naquela memória de férias.

    Uma época em que a tristeza ainda não tinha encontrado espaço nos resquícios de felicidade da família.

    Se pudesse poupá-los de novas dores...

    Colocou a peça na mesinha de cabeceira e a admirou por um tempo, alimentando uma assombrosa vontade de rir perante à ironia...

    Afinal, feito a mãe, também não recordava-se daquelas pessoas.

    Sem olhar para trás, Sunny saiu dali. 




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