Um pequeno filete de luz a fez sair de seu sono, semi-desperta, sem perceber, seu dedo brincava com seus lábios, as memórias da noite anterior ainda estavam vívidas...
......
A brisa da noite tocava seu rosto e balançava seu cabelo, o sentimento da liberdade fazia tudo valer a pena; um grupo de rapazes e rostos familiares, frequentadores da Templation (sua boate), observavam de longe, quase que inertes, aquela pintura viva da varanda, duas medusas trocando olhares que captavam a atenção dos incautos que lhe lançassem o olhar.
A pintura, primeiramente descrevia, Ingrid, uma linda mulher morena de cabelos negros e de claros olhos castanhos, únicos que contrastam com suas feições, debruçada sobre as hastes de ferro, fumava descontraidamente, sendo este um fato raro e provavelmente, um indicativo da seriedade daqueles tempos, ainda sim, um corselet de couro que deixava apenas seus braços e um comportado decote a mostra, atraiam olhares dos vivos jovens que ainda apreciavam a visão das curvas das calças de linho e botas, todos pretos daquela mulher, cujas sombras e roupas cumpriam o dever de esconder seus numerosos músculos.
A outra, era o glamour da pintura, a menina de poucas sardas em seu rosto, o charme naquela paisagem, formosa e graciosa, ela sorria, alegre, admirando sua companheira, sua mestra, ao seu lado, seu cabelo ruivo e seus olhos muito verdes, por vezes, também seguiam o mesmo caminho de outros vivos, percorriam as curvas e segredos da mulher ao seu lado.
“- Veja, querida…” - Ingrid acendia um de seus cigarros, debruçada sobre as hastes de ferro forjado da varanda do terceiro andar
“- A efervescência da não-vida em nossa modesta cidade.”De fato, Ginger contava um número maior de cainitas que jamais tinha visto. A proximidade da Templation com o principal Elísio da cidade familiarizara a brujah com o contínuo fluxo de vampiros por ali, entretanto, dessa vez era diferente; nunca em tão curta e recente não-vida presenciará tamanha diversidade e concentração de crianças da noite num só lugar, e ela nem sequer havia ido para o local da reunião ainda.
Ginger suspirara, fazendo seu peito se encher de ar num movimento mais que normal para ela, e por fim num bocejar, mostrando uma certa melancolia, responde:
“- De fato, nunca vira tantos assim tão juntinhos” - dizia sem dar importância, enquanto brincava com o cabelo com movimentos circulares do dedo indicador.
“- Vejo apenas um aglomerado de indivíduos egoístas, nada diferente do que vira antes”“- Já esta quase no horário, meu bem, acho que você deveria adiantar logo para lá“. - a mestra dizia num tom imperativo que recusava uma negativa
“- Eu tenho, hmm… Assuntos pendentes para resolver, mas logo chegarei. Não se preocupe.“ - ela mantinha um braço atravessado na frente do abdômen, e o cotovelo do outro apoiado neste, de modo que o cigarro nunca estivesse distante de seus lábios
“- Bem, faça como te instruí e apresente as contas da boate. Nos vemos em alguns minutos.“ - com um último trago, o cigarro era atirado do topo da varanda quase atingindo um grupo de rapazes nos degraus de acesso à casa noturna. O rápido instante de distração olhando a cena era o bastante para que Ginger perdesse Ingrid de vista.
......
A medida que seus lábios ficavam mais úmidos com as lembranças do cheiro, de cada fala e de cada gesto de sua amada mestra, seu dedo percorria seus lábios, brincando... com afinco, e por um bom tempo permaneceu assim...e quando finalmente tinha despertado ainda com o rosto corado, se dirigiu como de costume ao banheiro para se arrumar, percorrendo o conhecido e tortuoso castelo.
E ao chegar, uma deliciosa cena, a fez perder a compostura, inebriada, seu rosto, agora rubro e seus olhos gulosos desvendavam as voltas de sua amada mestra, de tal forma, que a ovelha perante o lobo, estava faminta; vergonha que Ingrid gostava de provocar em sua discípula.
- Spoiler:
- Finalmente. Parece que agora demora ainda mais a despertar. Precisa agora que te chame? Feche meu zíper.
O chamado da mestra, a fez hesitar por alguns segundos, a fazendo lembrar do que fazia agora a pouco, seu rosto vermelho, se dirigiu a frente, com uma de suas mãos em sua cintura enquanto a outra fechava o zíper de sua amada e ainda ao terminar, enquanto a abraçava pelas costas, sussurrou em no ouvido de sua mestra.
“- Você sabe que nunca vou esquecer o que fez por mim, sempre estarei ao seu lado, sempre! Incondicionalmente!”