Arredores de Jader

Aproximando-se cautelosamente, Shayla consegue ver as feridas e os corpos mais de perto. A visão desperta uma memória de descrições que leu várias vezes em diversos livros, mas que até então nunca tinha visto pessoalmente. São os sinais da Mácula - a terrível praga transmitida pelas crias das trevas, e da qual não há cura.

Ao sentir o toque da maga, o corpo moribundo mexe-se novamente, e abre os olhos terrivelmente maculados. Quase não há mais sinal de branco, apenas uma cor preta profunda. Mas ele ainda está vivo. Tossindo, lentamente consegue fôlego suficiente para falar:

- Uma elfa! Graças a Mythal, uma elfa! - diz ele, com a voz abafada, fazendo um visível esforço para falar enquanto se senta - Não chegue... Não chegue muito perto. Não quero que... que você seja maculada. Mas preste atenção. Você precisa saber de... De algo importante. - e a fala é novamente interrompida por uma crise de tosse.

O elfo sorri ao ouvir o nome de Madre Giselle, mas o que era para ser uma demonstração inocente de alegria transfigura-se em uma expressão horripilante por causa da mácula.

- Sim, Madre Giselle... Foi por ela que estávamos indo para Jader... - mais uma tosse - Bem, fomos atacados por aqueles monstros. Não sei... não sei daonde vieram. Mas o importante é que...

Com esforço, o elfo tenta pegar algo em seu bolso. Depois de alguns momentos, consegue sacar um pedaço de pergaminho sujo e desgastado, que deposita no espaço entre ele e Shayla, para não ter que tocar na maga ao entregar o objeto.

- Aí está um mapa... No caminho, encontramos uma ruína dos tempos... Dos tempos de nosso povo. Planejamos encontrar um clã de valeanos para contar para eles, mas... Não há tempo. Vá até as ruínas. Há memórias... Memórias importantes. Que contam a verdade sobre a queda de Halam... Hala... - entre tosses e falhas na voz, ele não consegue terminar a frase, mas Shayla supõe que ele esteja falando de Halamshiral, a antiga capital élfica.

Mais uma vez, o maculado leva a mão aos bolsos, e desembainha uma adaga. Imediatamente vira o cabo para a maga, demonstrando que não pretende fazer mal a ela, e deposita a arma ao lado do mapa. Com isso, abaixa a cabeça, em uma forma de reverência.

- Por favor... - diz, a voz ainda mais fraca - Eu já estou morto... Prolongar só vai me fazer sofrer mais, ou pior... Posso me transformar em um deles... Por favor, me mate logo - suplica, as lágrimas invadindo seus olhos.

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O elfo fecha os olhos conforme solicitado, enquanto Shayla dá um fim à sua vida. Logo seu corpo inerte é só mais um dentre os outros cinco. Pesarosa, a maga pensa em incendiar os corpos para conter o avanço da mácula, mas, para sua surpresa e tristeza, não encontra em seu equipamento material para acender o fogo. Frustrada, decide retornar a Jader, mas tenta, antes, ocultar os corpos com galhos de árvore. Entretanto, a pouca quantidade de árvores na região faz com que ela consiga dar apenas uma leve disfarçada; não muito útil, mas melhor que nada.

Após ler o mapa, Shayla retorna à cidade costeira e, após comprar uma pederneira, dirige-se à Chantria para reportar sobre sua missão. Busca Madre Giselle, mas é informada de que a madre partiu há pouco tempo em direção a Halamshiral, devido às notícias que chegam sobre uma rebelião élfica na cidade. No seu lugar, Madre Lucia atende a maga. A sacerdotisa ouve atentamente seu relato, e demonstra um olhar preocupado ao final dele.

- Dê-me isto, querida - diz assim que Shayla para de falar, tirando o mapa de suas mãos delicadamente, mas com firmeza - Nossos estudiosos farão melhor uso dessa informação - explica, com um tom complacente, enquanto coloca o mapa em um dos bolsos da veste.

- Bem, sinto muito em saber sobre as mortes dos elfos. É uma pena - continua, suspirando - Que eles encontrem descando ao lado do Criador. Dou-lhe permissão para retornar e queimar os corpos, como deseja. É o mínimo de dignidade que podemos oferecer a eles.

Ao fim de sua fala, Madre Lucia faz um leve cumprimento com a cabeça em despedida e desaparece atrás de uma porta, deixando Shayla novamente sozinha.

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Depois de melhor se preparar, Shayla deixa Jader novamente, em direção aos corpos dos elfos. É difícil reconhecer o caminho de volta naquela região, já que todos os locais parecem o mesmo; mas, enfim, a maga consegue refazer seus próprios passos e alcançar o amontoado de corpos.

Eles não estão mais sozinhos, todavia. Ainda a cerca de 10 metros do local, Shayla pode ver um lobo deliciando-se com a carne ainda fresca do elfo que foi morto há não muito tempo. Mas não se trata de um lobo qualquer; este é magro, de pele manchada, espinhos ósseos nas costas e olhos vermelhos. É um lobo maculado.

Concentrada em sua refeição, a besta não nota a aproximação da maga. Está visivelmente ferida, e o sangue que brota de seus ferimentos é negro. Lobos preferem consumir carne viva; o fato de este estar banqueteando-se na carne de um cadáver indica que ele está bastante faminto.

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O lobo urra em dor e surpresa quando a dupla rajada arcana atinge-o. Raivoso pela dor e por ter tido seu banquete interrompido, volta seus olhos e suas presas em direção a Shayla, rosnando de ódio. Mas o ataque súbito e a fome que sente deixam a criatura desnorteada por alguns momentos, tempo suficiente para que a maga aja novamente.

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Ao ser atingido por mais uma rajada arcana, o lobo emite um urro de fúria e vários ganidos de dor. Já estava ferido antes, e agora está perceptivelmente à beira da morte. Mesmo assim, resta-lhe um último impulso de vitalidade ao direcionar todas as suas energias em correr, correr muito, correr até alcançar aquela humana que surgiu do nada atacando-lhe violentamente. E assim o faz, percorrendo rapidamente toda a distância que o separava de Shayla, mas sem alcançá-la em tempo suficiente para lhe dar uma mordida.

Ação Principal: Corrida (28 m)
Ação Menor: Movimento (4 m)

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Para alívio de Shayla, seu ataque é suficiente para encerrar de vez a vida da criatura. No momento em que o lobo alcança a maga e prepara-se para dar-lhe uma mordida, é acertado pelo projétil arcano do cajado, e, com um último ganido, cai ao chão.

Por causa da luta, a elfa está agora a uma distância considerável dos corpos dos elfos que ela pretendia queimar. E, bem diante dela, mais um cadáver infestado com a mácula.

As chamas estalam enquanto consomem os corpos maculados, incendiados pela maga. O desagradável cheiro de carne queimada impregna o ar; mas ainda é melhor que o cheiro apodrecido da mácula. E, sem dúvidas, mais seguro.

Quando Shayla termina seu descanso, as chamas já estão quase apagadas, e pouco sobrou dos corpos além de ossos enegrecidos. Enfim abandonando o local, e tentando recordar-se daquele mapa, a elfa segue viagem. Não era um mapa muito elaborado, certamente, até porque foi rascunhado às pressas por um refugiado. Mas possuía alguns pontos de referência que ela espera serem suficientes.

Não demora muito até que alcance a magnificente Estrada Imperial, com seus arcos imponentes e arquitetura histórica. Com as tensões permeando Orlais, não é um tempo muito propício para viagens ou comerciantes, então Shayla não encontra outros viajantes. Atenta em busca da saída adequada, ela segue observando as terras ao redor. É uma tarefa difícil, já que, entre planícies, rochas e vegetações rasteiras, o cenário não parece mudar muito.

Depois de pouco menos de uma hora, a maga reconhece um barranco que estava indicado no mapa. Saindo da Estrada Imperial, segue em direção a ele. Aproximando-se mais, entretanto, vê que é bem mais íngreme do que parecia de longe. Pelo que o mapa indicou, deve haver alguma trilha para descê-lo com maior segurança, mas ela não está visível ainda.

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Depois de andar por alguns metros, a elfa consegue vislumbrar uma trilha mais ou menos regular, que sinuosamente segue o barranco até a terra plana lá embaixo. Descendo com cautela, Shayla consegue ultrapassar aquele obstáculo com segurança e segue seu caminho, em direção ao norte.

O próximo ponto de referência que se lembra do mapa é a estátua de um lobo, uma homenagem ao deus élfico Fen'Harel, o Lobo Solitário. Sua pata erguida indica o caminho para as ruínas. Naquela região com poucas árvores e razoavelmente plana, não será difícil ver a tal estátua - contanto, claro, que esteja seguindo pelo caminho certo.

O sol começa a abaixar no céu, alongando as sombras das pedras, das poucas árvores e da própria maga. Uma brisa fria agita seus cabelos. Pelo que consegue se lembrar do mapa, não falta muito para alcançar as ruínas. Poderá chegar lá antes do anoitecer. Ainda terá, entretanto, que fazer o caminho de volta. Talvez tenha que acampar antes de retornar.

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