Torre dos Guardiões Cinzentos

Chegar até a entrada daquele castelo por si só, foi uma tarefa difícil. Tivemos que passar por um monte de humanos estúpidos, que nos olharam de um jeito que eu não gostei nem um pouco. Algumas vezes até senti meu corpo ficar mais rígido por causa da tensão, mas a mão de Khaenis sempre estava ali pra me acalmar. Ser vista daquele jeito não era novidade nenhuma pra mim, mas olharem assim pra ela... Eu quase não pude tolerar aquilo, pude sentir meu sangue ferver, mas Khaenis funcionava como um ponto de equilíbrio pra mim, porque eu sei que sem ela ao meu lado eu já teria arranjado confusão de novo... Eu me conheço. Mas agora estamos diante de um guarda coberto pela armadura brilhante e com aquele olhar de paspalho. Olho para Khaen - como gosto de chamá-la - e então de volta pra ele. Ela me olha de um jeito que parece me dizer pra tomar cuidado, então sem dizer nenhuma palavra... Entramos no consenso de que vamos falar a verdade. Omitindo algumas coisas, talvez. Pigarreio levando uma das mãos até o rosto com o punho fechado e volto a ficar na minha posição inicial.

— Eu vim pra ser uma guardiã cinzenta. —  Meu tom de voz é firme e decidido. Olho levemente para baixo, afim de encarar os olhos do guarda e cruzo os braços. — Não se preocupe com a elfa, ela só tá me acompanhando.

Eu não era tão inocente, não quanto a isso. Humanos não gostavam da gente. Aparentemente era ainda pior com Ash, mas eu conseguia entender, apesar de não gostar nem um pouco. Ela era diferente, muito diferente. Mas aquilo não me assustava nem irritava mais, nem deveria irritar ela. Andando pela cidade apenas mantive meu olhar pro caminho a frente, ignorando os olhares, e ocasionalmente colocando a mão no braço da qunari toda vez que sentia ela ficando agitada demais.
E então chegamos no guarda. Ah, como eu adorava quando as pessoas nos tratavam daquele jeito. Ressaltando nossas raças como se fosse algo que nos definisse. Mas era a vida e logo troquei um rápido olhar com Ash. Lidar com pessoas era dificil e algo que eu não estava muito acostumada, mas me parecia ser melhor ser direta. Aparentemente, ela tinha entendido isso também, então olhei para o humano, concordando.

— Mas se me permite, senhor... Eu, uhn, adoraria ajudar os Guardiões como puder. — Hesitando por alguns segundos, continuei. — Se você nos permitir vê-los, claro... Senhor.

O guarda observa as duas atentamente, e semicerra os olhos quando trocam olhares. É um homem desconfiado por natureza, e duplamente desconfiado de raças que não a sua.

Assim que Zhera anuncia seu desejo de juntar-se aos Guardiões, seguida pela demonstração de interesse em ajudar de Khenis, o guarda solta uma gargalhada audível.

- Virar uma Guardiã? Tá querendo ser uma heroína, é? - o homem ri por mais alguns momentos, mas logo se recompõe - É cada coisa que se vê nesse trabalho... Sinto em acabar com seus sonhos surreais, mas os Guardiães deixaram aquela Torre faz alguns dias. Pela pressa e quantidade de coisas que carregavam, acho que foram todos. Ninguém mais entrou ou saiu daquela Torre desde então, deve estar deserta.

Subitamente, o olhar divertido desaparece dos olhos do guarda e ele fica novamente desconfiado.

- E como vocês podem me garantir de que não sabem que a Torre está deserta e só querem ir lá para roubar artefatos dos Guardiões? - indaga, os olhos semicerrados aguardando uma resposta.

off:

Ouvir a gargalhada daquele inseto, me faz ter vontade de enterrar meu machado pelo cabo no fundo da garganta dele ali mesmo. Cerro meus punhos e sinto meu sangue ferver enquanto observo aquele verme, zombando de nós. O que foi? Só porque não somos humanas, isso nos torna menos dignas do que ele? Que eu saiba, os guardiões cinzentos não se importam com a raça dos seus membros. Por falar em membros... Eu adoraria arrancar os braços dele ali mesmo. Dou um passo à frente, com uma expressão furiosa e sinto a mão delicada de Khaenis, segurando meu braço. Se eu quisesse, poderia avançar sem problemas, apenas arrastando a elfa como se não pesasse nada... Mas aquela pequena consegue tirar minhas forças. Sinto meu rosto esquentar e recuo envergonhada ao notar o olhar dela, pois aqueles olhos azuis derrubam minhas defesas. Ouço o que a mesma tem a dizer e aceno com a cabeça, embora esteja mesmo querendo cair na porrada. Respiro fundo e mantenho os punhos cerrados, sabendo que ela quer dizer algo, então apenas evito olhar demais na cara desse merda, para evitar que eu mude de ideia e tente ameaçá-lo.

Dava pra sentir a raiva irradiando de Ash e... De certo modo, eu até entendia. Qual era o problema em querermos no juntar aos Guardiões? De qualquer modo, não havia necessidade alguma de uma briga aqui e agora com aquele humano preconceituoso e estúpido. Apenas toquei no braço dela, me aproximando um pouco.

— Ele só não quer que roubemos nada. Se descobrirmos para onde os Guardiões foram... — Soltei um suspiro antes de continuar. — Não precisamos ir na torre. —

Voltando o olhar para o soldado, pensei um pouco nas minhas próximas palavras então voltei a falar, dessa vez um pouco mais alto.

— Só queremos nos encontrar com eles. Se você souber pra onde eles foram ou de alguém que possa saber... Não precisamos ir na torre e não vai ter esse risco, não é? — Forcei um sorriso. — E então nós podemos sair da sua cidade e não atrapalhar mais. —

— Antes que você fique aquie e torre seu tempo... — Dei um sorriso bobo, apontando pra ele com os dedos. — Torre? Torre dos Guardiões? Entendeu? — Então comecei a rir da minha própria estupidez.

Bato contra minha fronte fechando os olhos e inclinando a cabeça pra frente. É isso que eu ganho por ter deixado ela falar... Ainda assim, olho para ela com o canto do olho e sorrio levemente, balançando a cabeça.

À medida que a elfa vai falando, o olhar do guarda vai se tornando menos desconfiado, mas ainda cauteloso. Entretanto, ao ouvir o trocadilho pronunciado por Khaenis, seus olhos demonstram uma expressão divertida. As rugas indicam que ele sorri, mas a máscara orlesiana cobre sua boca.

- Muito bem, muito bem. Nosso trabalho exige que sejamos desconfiados, especialmente nesses tempos sombrios... E não é todo dia que vemos uma dupla como vocês duas - fala o guarda, dando de ombros - Respondendo à sua pergunta, não faço a menor ideia de onde aqueles Guardiões se meteram. Ninguém sabe. Eles simplesmente juntaram tudo e sumiram. Foi o mesmo na fortaleza em Montsimmard. Estão todos desaparecidos, inclusive a Guardiã-Comandante Clarel.

O homem fica em silêncio por alguns momentos, pensativo. Depois de coçar a cabeça, volta a falar:

- Bem, acho que não faz mal deixar vocês passarem. Pode ser que ainda haja algum Guardião lá. Mas tenham certeza - e então sua voz adota um tom ameaçador - que serão revistadas na volta. A elfa pode ser engraçadinha, mas não confio em você, qunari.

Logo em seguida o guarda afasta-se e, gritando para seus companheiros, ordena que os portões sejam abertos. Vagarosamente, as grades de metal são erguidas por correntes, deixando livre a passagem para o pátio de entrada do Castelo de Jader. No lado oposto, outro portão aberto dá acesso a uma trilha sinuosa, mas aparentemente bem regular. Não conseguem ver o fim da trilha, mas podem ver a ponta branca do topo da Torre, erguendo-se em direção aos céus.

off:

Ouço o guarda em silêncio, cruzando os braços e apertando o maxilar com força, até que ouço a última frase do mesmo e solto uma bufada, furiosa. Me seguro em Khaenis para me manter calma, então vou adiante segurando a mão da elfa até que noto que estou fazendo isso e fico um pouco envergonhada.

—  Uhh... Eu só tô te segurando pra você não escorregar. — Digo isso, apesar de saber que a trilha não oferece esse risco, ao menos não da forma que faço parecer. Só tento justificar o fato de estar segurando a mão dela, pois não quero soltar. Enquanto isso, torço para que tenha algum guardião quando chegarmos até a torre.

Apesar do comentário idiota sobre Ash, apenas ignorei e acenei a cabeça pra ele, afinal ele ao menos tinha nos deixado passar. Mesmo assim senti a mão da qunari segurando a minha e por um segundo, parei de respirar. Mas logo me recompus, dando um sorriso timido a ela.

— Do jeito que eu sou desastrada... — Dei uma risada, mas voltei a ficar séria. — Acha que ainda tem alguém lá? Ou ao menos alguma pista? Odiaria vir até aqui a toa... —

De mãos dadas, Zhera e Khaenis começam a subir lentamente a íngreme trilha. Não é uma tarefa fácil, especialmente com o sol a pino; ao menos, podem sentir uma suave brisa marítima. As ondas do Mar Desperto arrebentam suavemente na face do rochedo, lá embaixo, produzindo um barulho reconfortante.

Talvez por estar vestindo uma armadura mais pesada, e pelo estresse que passou com o guarda, a ladeira deixa Zhera exausta, e a qunari alcança o topo já ofegante. Khaenis, por outro lado, consegue se sair bem no trajeto.

Ambas, entretanto, param surpresas quando veem a Torre em sua frente. É um edifício muito alto, e todo branco, brilhando com a luz solar. O que as surpreende, porém, não é a construção; é a mulher humana parada bem na porta de entrada, de braços cruzados e apoiada no batente. Seu cabelo longo forma uma única trança, e seus olhos são de uma cor castanha penetrante. Veste uma armadura pintada de azul e branco, com o símbolo de um grifo no peito, e, no rosto, porta um sorriso divertido.

- Ora, ora, o que temos aqui? - diz, com a voz doce e suave - O que traz vocês duas a essa Torre? Não ouviram falar que os Guardiões estão desaparecidos?

off:

A subida foi mais difícil pra mim do que eu esperava. A cada passo final, eu ofegava ainda mais e sentia o suor escorrer pelo meu rosto enquanto Khaenis parecia estar em um passeio no campo. Ergui o queixo fingindo que também estava ótima, mas não tive muito sucesso pois ela me perguntou se eu estava bem. — M-mas é claro que tô bem, precisa de muito mais que isso pra me... — Enquanto falo com ela, olho para frente por um momento e minha voz silencia. Meu corpo enrijece e eu automaticamente ponho o braço na frente de Khaenis, afim de proteger a mesma - por instinto. Noto então a armadura da mulher humana e continuo ofegante, mas mudo minha posição, tomando uma postura um pouco mais relaxada, embora ainda esteja desconfiada. Ouço o que ela diz e cruzo os braços. — Nos disseram que os guardiões desapareceram, mas o guarda nos deixou passar, parece que não foi em vão. — Olho a mulher de cima a baixo. — Esse brasão na sua armadura... Essas cores... Você é uma deles, não é? Se for, porque tá dizendo que eles estão desaparecidos? — Minha expressão é rígida e carrancuda, enquanto mantenho meus olhos na humana, encarando-a. Khaenis parece apreensiva.

Tentei ignorar o quão cansada a Qunari estava, considerando o físico excelente dela, mas não pude deixar de perguntar se ela estava bem. Ainda ficava meio paranóica com a idéia de não ter cuidado direito dela, apesar de no fundo saber que não tinha nada errado. Mas antes que ela pudesse terminar a resposta, vimos a mulher que aparentemente era uma guardiã restante. Decidi, no entanto, ficar calada dessa vez. Ela ter ficado para trás era suspeito.

A aparente Guardiã ergue uma sobrancelha enquanto é analisada de cima a baixo por Zhera. Quando a qunari para de falar, a mulher dá um meio sorriso.

- Sim, sou uma Guardiã. E não estou desaparecida porque não sou louca como os outros. - responde - Sou uma Guardiã, e estou na Torre dos Guardiões. Não sou eu que tenho que responder perguntas. Repito: o que traz vocês duas aqui? - indaga novamente, com a voz mais firme.

Entretanto, antes que a elfa ou a qunari possam responder, a própria Guardiã empertiga o corpo subitamente, descruzando os braços e abandonando a posição relaxada que até então mantinha. Rapidamente, suas mãos buscam o cabo das adagas que leva em suas costas. Khaenis ouve um farfalhar nos arbustos à esquerda da torre, e olha em direção ao lugar.

- Crias das trevas! - grita a humana. Quase imediatamente depois de sua fala, surgem dos arbustos três criaturas asquerosas, de pele apodrecida e manchada de sangue, e olhos negros. São baixas, mas robustas; a da frente porta um machado de batalha, enquanto as duas de trás levam nas mãos e em bolsos da armadura pequenos machados de arremesso.

Em coro, as três soltam um urro horripilante, e a da frente parte para cima da Guardiã.

off:

Guardiões Cinzentos têm a capacidade de sentir a presença de crias das trevas próximas, então a humana pode perceber as criaturas momentos antes de elas aparecerem. Assim, em um piscar de olhos, puxa ambas as adagas de suas costas e parte furiosamente em direção ao genlock da frente. A cria, que começava a correr em direção à Guardiã, é surpreendida pela súbita investida. Sem hesitar, a ladina já aproveita seu embalo para cravar uma das adagas na barriga do inimigo.

Ação Menor: Sacar (adagas)
Ação Principal: Carga (deslocamento de 6m, bônus de +1 no ataque)

off:

As criaturas eram horríveis. Foi a única conclusão que eu consegui tirar antes de pegar meu cajado de apontar na direção de Zhera, num movimento quase que automático, utilizando a Ofensiva Heróica nela. Foi só depois de ter feito isso que eu notei que ela ainda estava parada e sem reação, ao invés de indo estraçalhar os inimigos como de costume.

— Zhera! — Gritei, esperando que isso fizesse ela se mover.

Ação Menor: Sacar (cajado)
Ação Principal: Lançar magia

Khaenis canaliza as energias do Imaterial e transfere-as para Zhera, que sente como se armadura e seu machado tivessem ficado mais leves. Na verdade, ela é que ficou mais forte.

Enquanto isso, a atenção das criaturas está completamente voltada para a Guardiã - especialmente depois de ela ter ferido uma delas. O genlock atingido emite um horripilante grito agudo de dor e raiva, mas logo se desvencilha da lâmina da humana e tenta golpeá-la com seu machado. Um de seus companheiros também não perde tempo e, depois de dar alguns passos para trás, arremessa um pequeno machadinho em direção à Guardiã.

Mas o terceiro parece sentir a mana manipulada pela elfa, e volta seu olhar negro para as duas. Com um curto e agudo urro, também ele saca um machado de arremesso e atira-o em direção à qunari. Zhera quase consegue desviar, e a arma passa de raspão em seu braço, rasgando a armadura e fazendo um corte doloroso, mas não muito profundo, em sua pele.

A Guardiã, por sua vez, em seus movimentos ágeis e graciosos, consegue esquivar-se do golpe da cria das trevas logo em sua frente. Não consegue, entretanto, evitar o machado de arremesso, que a atinge em seu ombro. Ela pragueja em voz alta, ainda mais determinada. Ao reparar o de trás atacando Zhera, porém, move-se rapidamente e furtivamente em direção a ele, tentando aproveitar seu momento de distração para apunhalá-lo pelas costas. A cria das trevas não percebe a aproximação súbita da ladina, e é apunhalado, urrando de dor.

ações:

off:

Noto o surgimento daquelas criaturas horríveis, mas é tarde demais. Lembro então da primeira vez que vi coisas como aquelas... No dia em que mudou toda a minha vida. De certa forma, sou grata por eles terem aparecido e acabado com os escravistas que estavam me levando embora, porque nem imagino como seria minha vida hoje se eles tivessem conseguido. Também me lembro das vezes em que lutei ao lado de Adriel contra essas criaturas em nossas aventuras e de como ele me ensinou a nunca dar as costas a uma cria das trevas e eliminá-los até não sobrar nenhum vivo. Ouço Khaenis gritando meu nome e me viro pra ela, saindo do meu torpor e sentindo em seguida um impulso de força, fazendo com que o peso da minha armadura pareça diminuir. Eu conheço essa sensação, ela está contando comigo, não posso desapontá-la! Percebo o machado de arremesso em minha direção e apesar de conseguir escapar de ser acertada em cheio, sinto o golpe de raspão e apesar da dor, sorrio de forma intimidadora olhando para ele. — É mais uma cicatriz pra minha coleção. — Falo com um tom sombrio e sentindo o espírito de guerra se apossar de mim, tiro meu machado do suporte em minhas costas e então avanço contra a mesma criatura que havia acabado de me atacar, me preparando para descer meu machado nele o quanto antes!

Fiz uma careta por reflexo, aquele machucado parecia ter sido horrível. Considerei até cura-la por alguns instantes antes de decidir que seria melhor ecomizar minha mana no momento, afinal, talvez ela realmente precisasse depois. Felizmente, ela havia decidido se mover depois disso e eu pude finalmente soltar um suspiro aliviado enquanto apontava meu cajado para o Genlock que eu tinha visto que havia acerto a Guardiã. Não achava que Zhera e ela precisariam de ajuda pra finalizar apenas um que já estava ferido, então talvez fosse hora de acertar mais um. Concentrei mana na ponta do cajado, atirando uma Lança Arcana contra ele.

Ação:

OFF: