As férias de Arnold tinham sido como todas as outras desde que se entendia por gente. Passava os dias na fazenda com o avô ajudando e ouvindo histórias. Sua mãe tinha arrumado um emprego de meio período na cidade e seu pai continuava a seguir os negócios da família: a fazenda. Viver na fazenda era divertido, ainda mais em companhia do avô, ele podia andar a cavalo ou perseguir as galinhas, tinha um riacho no fim da propriedade onde nos dias quentes Arnold podia se sentar com um lanche feito pela mãe e aproveitar o sol.

Podia andar em veículos grandes como o trator - um dia seu avô até o deixou dirigir um pouco! -, mas agora com o fim das férias, uma coisa estava perturbando Arnold. O último ano tinha sido estranho: ele tinha sua turma, mas não sentia que fazia realmente parte daquela turma. Eles eram cruéis às vezes e parecia querer Arnold por perto simplesmente por interesse. E tinha aquele novo pessoal, eles não eram legais ou descolados. Na verdade pareciam um tanto atrapalhados e sem graça... Mas pareciam MESMO amigos. Arnold tinha os observado por um tempo na escola e às vezes queria mesmo fazer parte daquela turma, mas tinha medo.

Medo do quê? Não sabia bem. Enquanto tomava seu café da manhã e ouvia sem muita atenção a conversa da família, ele pensava que talvez fosse hora de deixar aquele medo de lado e começar a se aproximar dos esquisitos... Mas seria ele um esquisito também? Enquanto pensava nessas coisas, foi "acordado" dos seus devaneios quando seu pai lhe chamava para começar a arrumar suas coisas e se preparar para ir para a escola.

No carro, com sua mãe, Arnold viu de relance a casa Smith - tinham que passar pela rua em que a casa estava para ir para a cidade - ele não gostava daquela casa. Seu avô lhe contava coisas estranhas sobre aquele lugar e Arnold podia JURAR que um dia tinha visto um par de olhos brilhantes lá dentro. Mas ela tinha ficado para trás, quando o carro virou uma esquina e caiu na via principal. Logo estariam na escola e logo Arnold teria que tomar uma decisão.

- Está tudo bem com você aí? - Quis saber sua mãe.

A mãe de Arnold era uma pessoa que tinha mudado muito com o passar dos anos, antes uma patricinha mimada e mal acostumada com a vida boa, tornara-se uma mulher mais responsável e afável. A vida naquela pequena cidade tinha moldado seu caráter de uma maneira quase irreconhecível. Ainda mantinha algumas das suas velhas características, como sua vaidade quase exagerada, mas fato era que Merry Blecher era uma jovem bonita - jovem, afinal tinha engravidado ainda no ensino médio -, porém mesmo assim não era a mãe mais jovem de Derry, mas talvez uma das mais bonitas. Sua beleza chamativa ajudava no novo emprego que tinha arrumado na loja de antiguidades de Darwin.

Mas, como dito antes, Merry Blecher tinha tido uma transformação de caráter muito grande, antes uma jovem mal acostumada a ter tudo e a provocar as outras crianças da escola em que estudava, agora via-se numa situação estranha, já que seu filho estava passando por coisas que ela fazia outras crianças passarem. Ela manobrava o carro com cuidado, atenção na estrada e as coisas que aconteciam à volta - era diferente da cidade grande, afinal, tinha que ter cuidado com pessoas que não estavam tão habituadas ao transito - enquanto pensava numa resposta para Arnold.

- Bem... - Começou Merry Blecher, a ex-patricinha da cidade grande. - Você acha mesmo que precisa se importar com que Thomas vai achar?

Merry sorriu de leve, quando ouvi Arnold. Achava mesmo que talvez ele precisasse de outros amigos, era estranho pensar daquela forma, porque agora via o quão parecida era com os "amigos" atuais do próprio filho e o quão talvez tivesse feito mau a outras crianças na sua idade. Suspirou, conduzindo o carro com tranquilidade pelas ruas do centro e logo pode avistar a escola. Diferente de onde vivia antes, poucos carros se aproximavam ou faziam fila. A maioria das crianças vinha de bicicleta ou até mesmo a pé.

Ela parou o carro próxima a escola, desligando o veiculo. Virou-se para trás, observando Arnold antes de sorri de leve. - Não diga essas coisas. São antiguidades, não velharias. - Mas riu de leve, provavelmente pensaria a mesma coisa que Arnold se não estivesse trabalhando lá. Ela tirou o celular do bolso e mostrou ao filho. - Qualquer problema, basta pedir para me ligarem, você lembra do número, certo? - Apesar do resto do país já ter acesso aquele tipo de coisa, Derry parecia um pouco perdida nesse sentido. Merry conhecia poucas pessoas que possuíam o aparelho celular e achava isso um atraso, ele facilitava muito sua vida.

Esperaria Arnold sair do carro e entrar na escola, antes de dar a partida e rumar para o trabalho. Se despediria com um beijo e um caloroso abraço.

Quando finalmente desceu do carro, Arnold apenas se encontrou com o monte de crianças que estavam chegando, muita gente conversando e pequenos grupos se formando aqui e ali. Não conseguiu localizar inicialmente Thomas ou qualquer um dos meninos com os quais costumava andar, mas pode ver um pequeno grupo - aquele mesmo grupo que Thomas adorava pentelhar - começar a se reunir na frente da escola. Uma das meninas acenou para ele e logo pode reconhecer Harriet.

Arnold não tinha muito contato com Harriet, mas tinha ido ao enterro dos pais dela, dois ou três anos atrás e conversado um pouco com a menina. Desde então quando se encontravam na escola, eventualmente trocavam algumas palavras, ela parecia uma garota legal, apesar de super energética... Talvez fosse a oportunidade que estava esperando para fazer novos amigos...