Yrel, a Pixie da Cidade dos Sonhos, em Apuros!

Ysmar voa desesperado, agora que sua irmã ficou invisível ele sabe que corre grande perigo, os dois insectóides chegam com tudo, um não o alcança, o outro vem com suas prezas mortais, Ysmar esquiva-se. Nesse momento crítico, ele sabe que não pode falhar, então, lembra-se do que seu mestre lhe ensinou, uma magia que o ajudaria a não falhar nessa hora importante. De longe, ele avista um buraco no tronco de uma árvore, o plano é traçado, assim, começa a conjurar sua magia.

Então, Ysmar, enquanto foje, segura com suas mãos uma na outra, lança seu olhar para as folhas, árvores, arbustos, e começa a proferir uma espécie de reza. — Oh, deuses criadores da natureza, sou um grande protetor de sua obra prima, por favor, não me abandonem agora, peço-lhes sua benção, é minha única chance. Forçando suas mãos uma na outra, percebe um brilho surgir ao redor de si, uma energia quente e gostosa o envolve, e ele sente uma confiança enorme. Embora se sinta bem, os insectóides não pararam, as criaturas maléficas aproveitam a chance para atacarem, e ali, no momento em que está recebendo uma benção, quatro garras passam cortando-o, mas ele é forte, resiste, e então, vê o caminho se abrindo. Com tudo, bate suas asas muito forte, e como se tivesse recebido um empurrão divino, mergulha numa velocidade incrível, os monstros não puderam vê-lo se afastar, num instante, ele já estava dentro do tronco! E lá, em meio o escuro, sua visão lhe permite enxergar bem. Os túneis se estendem até o chão, tornando-se túneis subterrâneos, e ele continua voando. No caminho, passa por várias criaturas, tatus, texugos, esquilos, entre outros. Ele passa a toda velocidade, os túneis se ramificam, tornando-se uma espécie de labirinto. Mas ele não desiste, sabe que aquele é um sonho de Yrel, e seja por onde for, ele encontrará um caminho que chegue até ela.

Do lado de fora, Yrel vê seu irmão ser quase trucidado por vários monstros, depois, após aquela reza incomum, um brilho lhe reveste, e como um tiziu, avança para dentro de um tronco. Os insectóides perseguem ele até a entrada, depois, não conseguem entrar, o buraco é muito pequeno. Não desistem, ficam ali, do lado de fora, rodeando, e mais e mais vão chegando, as abelhas também. Yrel sabe que não pode ficar ali, e afasta-se o mais rápido possível, para o meio do que seria a floresta encantada, cada vez mais distante, cada vez mais longe, vai sentindo-se cada vez mais segura, e continua, por um bom tempo.

Depois de voar sozinha por muito tempo, e ver diversas paisagens passarem por seus olhos, árvores grandes e pequenas, clareiras e matas fechadas, diversos pássaros e animais terrestres, muitos lugares que ela já conhecia, agora que sabia ser um sonho ela entende porque aquele lugar lhe parece tão familiar, são lugares onde ela já foi, lugares onde ela visitava, próximos de Nak'Dur, onde ela ia para brincar. Pensando nisso, num estalo, algo surge em sua mente. — Espere, havia um local onde eu sempre ia para brincar com meu irmão, com certeza ele deve estar lá! Assim, ela voa rapidamente para lá, empolgada. Voa próximo das copas das árvores, sobre as folhas e abaixo delas, as vezes pousa em galhos para descansar, depois retorna ao voo novamente. Até que finalmente chega! O lugar é nas margens de um córrego, bem próximo de sua nascente em uma parte mais elevada da floresta, as águas rasas são repletas de pedras coloridas, muitas delas grandes o suficiente para que grande parte de seu corpo ficasse seca, fora da água. Os dois Pixies, quando crianças, ficavam ali, sentados nessas pedras, vendo os peixes passarem, e as plantas dançantes que nascem no fundo do córrego, bem nítidas e vívidas, exaltadas pelos reflexos causados pelas águas cristalinas, com uma correnteza suave, que fazia carinho nos pés dos irmãos.

Yrel avança rápido para lá, e fica emocionada ao ver que o lugar ainda estava em sua memória, cada detalhe, cada maravilha, ali, armazenada. Ela senta-se em uma das pedras e fica olhando em volta esperando que seu irmão apareça. Espera uns minutos, e de repente ... Paft! Seu irmão surge de dentro da água, espalhando água pra todo lado, molhando Yrel inclusive. Ele pousa rápido em uma das pedras, e fica "de quatro", tossindo, e respirando ofegante.

— Aí está você. (Tosse, tosse, e respira forte) Que bom que pensou em mim, caso contrário, eu ficaria perdido por tempo indeterminado. Ufa, foi por pouco ...

E ali, o irmão vai recuperando suas forças.

Ysmar se remexe, tentando se secar um pouco, e fica ali recuperando o fôlego por alguns momentos. Depois, voa até a pedra em que sua irmã está, e pousa ao lado de Yrel, oferecendo sua perna para que a irmã use como travesseiro. Então, prossegue falando.

— É mesmo muito bonito este lugar, uma de minhas melhores memórias também. Os dois ficam ali, conversam por um tempo, matando a saudade um do outro, riem de memórias antigas, relembram coisas boas e ruins de seus passados, sentem-se seguros e acolhidos um com o outro, mas então, Ysmar puxa o assunto para algo de importância imediata. — Contudo, Yrel, não podemos nos deixar levar por este bom momento, o sul é mais perigoso do que eu pensava, há muitas coisas ruins acontecendo. Este nosso encontro em seus sonhos, não aconteceu por acaso, como eu já havia dito, eu estive tentando falar com você há meses! O fato de termos conseguido contato agora, pode ter sido uma feliz coincidência sim, mas diz mais do que isso. Se consegui acessar seus sonhos hoje, mas não conseguia antes, significa que algo estava impedindo e não está mais. Eu, com minha humilde imaginação, suponho que havia uma barreira de proteção em volta do lugar onde estou, e por causa disso, não conseguia falar com você, porém, como agora consigo, eu suponho que você tenha entrado nessa região também! Se eu estiver certo, significa que estamos perto!

O irmão fala como uma matraca, mas seu raciocínio é plausível.

O irmão prossegue enquanto balança seus pés, molhando-os levemente na superfície do córrego.

— Sim, é um sonho! E sim, provavelmente você está no lugar onde caiu no sono, embora eu não tenha a menor ideia aonde é. No entanto, há algo diferente aqui, este não é um sonho comum, essas criaturas que nos atacaram não são fruto de seu sub-consciente. Não, alguém às colocou aqui, acredito que não sou o único que está acessando sua mente irmã, por isso temos que ser cautelosos. Yrel continua perguntando, o irmão ouve, e vai respondendo. — Dehill? Não sei dizer ... Mas, se é neste lugar que você está, talvez eu também esteja aí. Ysmar faz uma pausa, respira fundo e continua. — É mais complicado do que isso mana, acontece que não sei dizer onde estou também. Tudo o que me lembro é que estou prezo numa gaiola de passarinho, num lugar pouco iluminado. Uma sala escura, as paredes não são feitas de tijolos, parecem esculpidas em rochas. Vivo aqui, nesse balcão, no canto. Eventualmente vejo um homem gordo, e também já vi uma mulher. Eles me trazem comida e bebida, já estou aqui há meses, suponho. Não sei por que exatamente estão me prendendo aqui irmã,  o homem gordo as vezes me incomoda, vem com aquele dedo morfético me cutucar, quer que eu faça gracinhas, huum (raiva), estou cansado disso, estão me subestimando!

Seu sembrante agora é sério, olhando em volta, enquanto fala.

Ysmar compreende a importância das questões levantadas por Yrel, e tenta ser o mais específico possível.

— Hmm... O homem gordo não é alto nem baixo, mas não sei dizer sua altura, 1,7 m talvez? Veste-se sempre com roupas coloridas, listradas, ou quadriculadas, e as vezes esta usando casacos de peles de animais por cima. Tem olhos claros e cabelos castanhos, uma testa que parece lutar contra os cabelos para ganhar território, pescoço inxado, e uma barba feia que não cobre o queixo. Já a mulher está sempre vestida com roupas mais largas e desbotadas, está sempre usando longos vestidos marrons ou beges, com longos lenços azuis ou brancos amarrados na cintura, e blusas de mangas compridas, geralmente de cor clara, com as mangas arregaçadas. Ela tem pele clara, e é bonita, tem cabelos loiros, lisos e compridos, normalmente amarrados e engruvinhados para caber por baixo de uma toca branca, olhos castanhos escuros, na maioria das vezes com um olhar frio, boca pequena, discreta, que quase nunca sorri. Além deles, já vi alguns humanóides também, de tamanhos variados, uns da altura de humanos, outros da altura de Hobbits, vestidos com roupões marrom escuro, seus rostos sempre cobertos por tocas, deixando transparecer da região de seus rostos apenas silhuetas sombrias.

Ao falar, ele curva-se, aproximando-se da água, estende o braço e faz vários gestos com as mãos, como que desenhando as figuras na água, para que Yrel entenda melhor.