[!ON!] 1ª Noite: Instituto Médico Legal

Como as coisas haviam chegado naquele ponto?

A ligação de Gerson era o primeiro sinal de alerta que aquelas coisas eram reais e poderiam começar a dar errado bem rápido. As mensagens e updates pelo whatsapp eram importantes como informação, mas, assim como ver um ente querido morrer, você só sabe a intensidade de algo assim quando de fato passa por elas. A ligação caia, então, deixando um ar de tensão pra Maria, que com o telefone no ouvido buscava entender o que havia acontecido.

— Gerson? GERSON? — Chamava-o no telefone com a voz mais elevada, porém sem obter nenhuma resposta. Sua mão lentamente retirava o aparelho de sua orelha e caia desfalecida na altura da cintura. Teria a ligação caído? Ele só havia desligado? Que porra estava acontecendo? Se perguntassem a Doc como ela estava naquele momento, não saberia explicar, só sabia que era um sentimento acre.

Enquanto perdia-se em devaneios, recebia as numerosas mensagens de Ace e Mel da Paixão, lia as mensagens enquanto engolia seco, era a segunda vez que se pegava algum lugar restrito onde não podia sequer fumar, aquilo era um incômodo, o seu pensamento era focado nas pessoas .

"É, parece que as coisas antes de melhorar, ainda vão piorar muito essa noite e aqui a gent-"

Seu raciocínio era cortado, as palavras saídas da boca de Antônio espalhavam-se pelo ar enquanto ele ia em direção a porta, fazendo com que pela primeira vez Doc chegasse perto de perder a paciência e olha que naquele mesmo dia havia ido do céu ao inferno e aprendido mais coisas sobre a sua nova realidade do que jamais imaginou que aprenderia antes. Seus olhos seguiam o rapaz que rapidamente sumia no corredor, em seguida Doc olhou diretamente para Mayane, seu rosto trazia indignação, perguntava-se se a psicóloga sentia o mesmo. Por um segundo repousou a mão em sua cabeça enquanto tomava um ar se preparando para continuar.

"Tanto pra trabalho em equipe, pra no final resolvermos as coisas assim. Eu devia ter me formado em pediatria, porque se eu soubesse que teria que lidar com... Deixa, eu preciso me acalmar. Se esse inconveniente não fosse o suficiente, ainda tem..."

Levantava então a cabeça e focava novamente em Dra. Rita, passando por diversos estudos, estágios e trabalhos, sabia que gente insensível havia em todo lugar, o mundo era um lugar cruel, mas ela não precisava ser igual. Havia tirado os olhos do mais importante objetivo por um segundo, mas não o faria de novo, esperava que Mayane não fizesse o mesmo.

Finalmente Doc guardou seu celular, cruzando seus braços, usava um tom mais sério para falar com a mulher.

— Dra. Rita, por favor pare com isso, dá pra notar o seu desespero de longe. Se nós fossemos mesmo fazer algo com você, oportunidades não faltaram. Enquanto você mexia com os corpos, poderíamos ter feito qualquer coisa e você não perceberia. — Descruzava então os braços e encarava Rita, seus pés começavam a bater no chão, como um tique. — Nós pedimos desculpas pelo Antônio, você não é burra e deu pra ficar claro que ele não saiu pra uma reunião em família. A verdade Dra. é que nem nós sabemos direito exatamente o que está acontecendo aqui, tudo o que posso te afirmar é que você está em perigo e nós somos as únicas capazes de te proteger de seja lá o que estiver fazendo isso com essas jovens. E se mesmo assim, a minha palavra não bastar de prova, peço que nos acompanhe. Antônio saiu porque recebemos um chamado, temos amigos em perigo e eu acredito que esse perigo tem a mesma origem do que está atrás de você. Podemos ter novamente o benefício da dúvida? — A resposta de Rita era positiva, respirou então aliviada. — Pegue suas coisas e vamos rápido. Mayane, você se incomodaria de nos dar uma carona? Eu te ajudo com a gasolina depois, juro.