Droll

Mantendo a calma, Sayuri toma sua sombrinha em uma das mãos - a bolsa na outra - e se levanta graciosamente. Seu kimono estava em desalinho, isso era possível sentir pela torção na seda, e a geisha tateou com cautela a parede às suas costas, até ter certeza de que era um ponto firme, cujos materiais não ofereciam perigo imediato. Então, utilizando a parede como parâmetro para ângulos retos, alinhou sua roupa o melhor que pôde, sacudindo a areia para longe da seda com vigor e delicadeza ao mesmo tempo - feito que provavelmente só poderia ser alcançado por uma geisha muito bem treinada.

Posicionando sua bolsa de modo elegante e munindo-se da sombrinha, Sayuri buscou determinar a posição das pessoas ao redor pela origem do som que faziam. O barulho de ferro sendo moldado chamou sua atenção em especial: a existência de uma forja talvez justificasse o calor abrasador. Medindo o intervalo entre um clangor e outro, a geisha ensaiou um diminuto passo na direção do som e interpelou:

- Com licença. Poderia me dar uma informação? Receio ter me perdido... Onde estamos? - a voz de Sayuri era melodiosa como as águas felizes de uma corredeira e seus belos olhos azuis se destacavam no rosto oriental.

Por dentro, estava assustada. Teria sofrido outro acidente? Teria batido a cabeça novamente? Por que não conseguia se lembrar de onde estava ou do que estava fazendo no momento imediatamente anterior? Acima disso, porque havia saído munida de todos os seus pertences daquela forma? Mesmo os clientes mais exigentes não esperariam que ela carregasse tantas coisas pelas ruas apenas para atendê-los. As casas de chá normalmente tinham bons instrumentos, por exemplo, e afiná-los não era um problema, mesmo com sua cegueira.

Percebeu, através do tato, que usava um de seus melhores kimonos. Graciosamente, tocou os cabelos, percebendo que estavam presos de forma sedutora, com flores e pentes de joias.

- A casa de chá fica em que direção? Acredito que caminhei tão distraída que perdi meu rumo. - a jovem geisha sorriu na direção aproximada dos barulhos, sabendo que ali haveria pessoas.