Annalise não conseguia traduzir seus sentimentos em palavras. Do momento em que recebeu a notícia até agora, não se lembrava direito do que tinha feito, apenas lapsos de memória.
No primeiro deles estava incrédula e sentiu os braços do guarda-costas a impedindo de ir ao chão.
No segundo, lembrava do céu, e de como gritou para ele antes de desatar a chorar.
Depois disso, era tudo uma mistura de vozes, mas ela estava sempre a mesma: chorando ou olhando o nada em locais diferentes da casa, diante de um prato vazio, do quarto solitário ou da estufa particular.
A pequena garota que trouxera consigo ficou sob responsabilidade dos empregados a maior parte do tempo, mas o serviço sobrou um pouco para Ratchford e até para Gutierra.
Não quis saber detalhes no primeiro momento, mas mesmo assim estava ávida por eles minutos depois. Sua mente não estava nada preparada para receber tantas informações.
Porém, em nome do público, a filha do barão de Ellsporth aguardava as palavras de conforto que viam de todos os locais. Seu vestido agora era preto, a cor mais triste que já utilizara nos últimos anos. Respondia os sentimentos com educação, um aperto de mãos ou um abraço, sempre agradecendo as boas palavras e até arriscava um minúsculo sorriso.
Nunca teve a chance de falar com seu pai abertamente sobre Os Coletores. Ele jamais poderia ter o orgulho de saber que tinha aceitado fazer parte daquilo, e agora teria que ir até o fim, pois sabia que era um desejo de seu pai.
Como gostaria de ter ido no lugar dele, se dividir e poder substituir o senhor Belgarten em todos seus compromissos e então poder enfrentar os problemas em seu lugar. Como teria sido sua morte? Vez os outra pensava nisso, com o coração dolorido. Algo nela dizia que essa história estava intimamente ligada a sua morte, mas não tinha ideia do que era, de fato, pois não estava tão ligada assim aos assuntos políticos do pai. Com quem ele andara falando ou o que andava fazendo era um mistério, exceto que tinha sido promovido em seu cargo e isso não era uma coincidência.
Recusou-se a olhar para a madrasta ou sair em fotos com ela. A menos que ela se esforçasse para isso, ainda assim a jovem sairia olhando para baixo, frustrada. Ver aquela mulher viva e desdenhando do caixão de seu pai lhe feria muito mais, mas pelo menos ela teve a decência de ir embora.
Tinha em Gutierra uma quase irmã de verdade, por isso confiou a ela que olhasse Lizzie por alguns momentos, mesmo sem explicar quem era aquela menina. A outra nem teria coragem de perguntar, sabia. Também entendia que nã era nada responsável fazer isso, mas não tinha estrutura nenhuma para carregar aquela notícia agora, só queria delegar o máximo possível do mundo, enquanto o mundo tratava de jogar sobre ela aquele problema, que se transformaria em muitos outros.
Ergueu o rosto para observar seu antigo guardião e notou o quanto o tempo tinha passado e quanto gostaria de voltar a ser uma criança boba que tentava dar nó em seu guarda-costas. Ela o abraçou com vontade. Era uma das poucas pessoas que conseguia confiar completamente depois do que tinha acontecido. Nunca poderia saber se alguém ali que visitava o velório seria um traidor e esse sentimento a deixava mais calada ainda.
- Muito obrigada, senhor Hidgens... Isso é muito importante para mim. Muito mesmo.
Até tentou olhar o movimento do ex-protetor até o caixão, mas era muito difícil olhar para o rosto sem vida do pai. Abaixou o rosto de novo. Quando isso acabaria?
Segurou suas mãos, adquirindo delas todo tipo de força espiritual que conseguia.
- O senhor fez demais por minha família. Eu só... peço que... continue cuidado de nós.... de mim. - franziu o rosto, prestes a chorar novamente e apertou suas mãos. - Muito obrigada, senhor Hidgens. - suspirou. - Se souber de
algum coisa ....
qualquer coisa... - olhou bem em seus olhos. Referia-se a traições, a notícias e explicações. Era realmente qualquer coisa. Queria torná-lo um braço direito que tinha perdido naquele tempo. Ele podia entender isso. - Obrigada.
Estava confusa e perdida. Mas acima de tudo exausta. Não aguentava ouvir mais nenhum "meus pêsames" ou o quanto seu pai tinha sido incrível. Já sabia de tudo aquilo. Ao mesmo tempo, não queria ve aquela tampa fechando e tornando tudo muito real. Por esse motivo, ela apenas existia naquele local, sem uma gota da alegria e espontaneidade que a acompanhavam antes.