Capítulo 2 - HALAMSHIRAL

Enquanto suas companheiras de cela discutem, Olivianna permanece quieta, mas atenta. Seus olhos acinzentados brilham com a pouca luz do ambiente enquanto vão de Shayla a Wahman, de Wahman a Sarah, ouvindo o que cada uma diz.

- Se tentarmos fugir e formos pegas, a morte é certa - pondera - Falando com esse Duque, temos uma chance de sairmos ilesas. Deixem comigo. Mas ajudaria saber por que estão prendendo as pessoas... - reclama, com um muxoxo.

Subitamente, uma voz desconhecida faz-se ouvir na cela.

- Estão atrás da Imperatriz - olhando para os lados tentando identificar a origem da voz, as prisioneiras percebem que é a elfa falando. Seu corpo aparentemente adormecido tinha sido ignorado até então. Se ela acabou de acordar ou se estava fingindo dormir antes, não é possível saber.

A elfa ergue seu corpo e senta-se no chão frio, ajeitando a coluna. Seu olhar é desconfortavelmente penetrante, e faísca enquanto percorre cada uma das prisioneiras, como se lendo suas mentes. Sua expressão misteriosa desfaz-se com um leve sorriso.

- Meu nome é Eshara - apresenta-se, com a voz suave - Fui capturada como vocês. Mas creio estar um pouco mais inteirada sobre os últimos eventos políticos de Orlais.

A elfa de cabelos brancos começa a explicar calmamente a situação. Ao que parece, aconteceu uma rebelião élfica ali, em Halamshiral, e o Grão-Duque Gaspard, aspirante ao trono, aproveitou-se da situação. Incitando a opinião pública, pressionou a Imperatriz Celene a tomar medidas mais duras.

Por isso, o exército imperial marchou de Val Royeaux até Halamshiral, com o intuito de sufocar a rebelião; mas era uma armadilha. Os homens de Gaspard estavam prontos, e encurralaram as tropas da Imperatriz. Um caos sangrento entre soldados de Celene, de Gaspard e os elfos tomou conta da cidade.

- Eu estava aqui - murmura Olivianna, recordando-se da cena que presenciou.

- Eu também - suspira a elfa - Fugi com meu... com meu marido quando as forças imperiais chegaram.

Eshara continua seu relato, contando que a Imperatriz conseguiu escapar, frustrando os planos de Gaspard de tomar a coroa ali mesmo. O Grão-Duque, então, ocupou o Palácio de Inverno e lançou buscas incessantes por Celene. Qualquer andarilho ou viajante que estivesse por perto sem autorização estava sendo levado para ser interrogado.

- Bem, e aqui estamos nós - conclui a elfa, encolhendo os ombros - Fujam se quiserem, mas se não sabem nada sobre a Imperatriz, não têm nada a temer.

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Os olhos da elfa ficam marejados diante da pergunta sobre seu marido.

- Ele... - começa, mas desiste com um profundo suspiro - Falamos disso amanhã.

Depois de mais alguns suspiros, Eshara enxuga os próprios olhos com as costas de uma mão, acalmando-se. Vira-se então para Sarah quando a humana começa a contar sua situação. A elfa franze o cenho diante do pedaço de papel e balança a cabeça, parecendo confusa.

- Perdão, não sei do que se trata - ela murmura, dando de ombros e devolvendo o papel a Sarah - Mas não seria a primeira maquinação da Chantria - complementa, com uma careta de desagrado - Podemos passar lá amanhã, se conseguirmos sair daqui...

Antes mesmo de completar a frase, Eshara já começa a se deitar no chão, voltando à sua posição inicial. Eventualmente, uma a uma, as seis aprisionadas caem no sono.

Acordam de um salto com os gritos de um guarda do lado de fora, aparentemente distribuindo ordens para os demais. É impossível saber que horas são ali, no subterrâneo, mas sentem como se tivessem dormido o suficiente - apesar das dores causadas pelo frio e duro chão de pedra.

Enquanto se levantam, o rosto de um guarda aprece no pequeno quadrado gradeado da porta da cela. Logo em seguida ouvem o barulho de chaves, e a porta abre com um rangido tornado mais alto pela acústica das masmorras.

- Allez ! Allez ! Monsieur le Duc vous espère ! - ordena o guarda, gesticulando com as mãos para terem pressa. Ao notar as expressões confusas de Piper e Sarah, o soldado revira os olhos - Rápido! O Duque espera! - repete, dessa vez na Língua Comum, apesar do forte sotaque orlesiano.

Sem precisar fazer muita coisa além de reunir as próprias coisas e partir, as prisioneiras logo saem da cela, seguindo as orientações do guarda. Depois de algemar cada uma delas, ele brada para um companheiro, que acena com a cabeça para elas, indicando para segui-lo.

O salão de audiências é comprido e luxuoso. Assim que entram, a brilhante luz solar, que invade através das grandes janelas na outra extremidade do aposento, quase cega seus olhos acostumados com a escuridão da cela.

Imediatamente em frente à janela, duas estátuas de mármore ladeiam uma cadeira de pedra, elevada em relação ao chão, sobre a qual está sentada um homem - o Duque, presumem. É alto e possui uma excelente forma física; com certeza é ou já foi um chevalier. No momento, as vestes finas indicam que passa mais tempo nos palácios que sobre o cavalo.

O guarda lidera as seis prisioneiras pelo salão, seus passos ecoando pelo recinto.

- Monsieur Pierre - cumprimenta o soldado, com uma reverência - Ce sont les femmes capturées hier - exibe-as com as mãos e sai do caminho, colocando-se a postos no arco mais próximo.

O Duque, até então sentado em uma posição relaxada, ajusta a postura e inclina-se para frente, apoiando o cotovelo em um dos braços da cadeira. Olhas-as com uma expressão curiosa por alguns momentos, e por fim respira fundo, recostando-se novamente.

- Gostaram da noite na cela, meninas? - pergunta, com um sorriso sádico - Vocês podem passar mais algumas noites lá. Ou... - seus olhos faíscam e ele ergue-se subitamente - Podem me explicar o que diabos estavam fazendo perambulando por aí.

Ele não parece estar ciente dos motivos que levaram a captura de cada uma. Não menciona nem mesmo a fazenda dos pais de Julien. Se o que Eshara falou for verdade, talvez eles realmente só estejam prendendo pessoas aleatoriamente até encontrar alguma pista.

- E então? - ele continua, descendo os degraus que levam à cadeira e aproximando-se das prisioneiras - Vai ser por bem ou por mal?

Olivianna dá imediatamente um passo à frente e faz uma reverência.

- Bonjour, Monsieur le Duc - cumprimenta em orlesiano, mas prossegue na Língua Comum - Meu nome é Anne Marie. Eu e minhas amigas estávamos em uma fazenda quando fomos capturadas. É tudo um grande mal-entendido, senhor. Estávamos apenas ajudando um pobre rapaz desamparado.

Pierre franze o cenho e olha interrogativamente para as demais, esperando mais respostas. Eshara e Piper permanecem caladas.

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