Thomas acordou de súbito de um sonho indesejado. Lembrava-se apenas de entrar na alfaiataria e depois tudo se tornou trevas. Acordou com um tecido de algodão cru enchendo sua boca e as mãos atadas e amarradas. Os pés estavam livres, e o gnomo tentou se levantar uma vez, apenas para cair sobre os joelhos. Moore não soube por quanto tempo esteve desacordado, mas se sentia fraco e desnorteado. Hildir estava ao seu lado, amarrado pelas mãos e pelas pernas, coberto de vômito e, pelo que lhe parecia, tão perdido quanto ele. Thomas olhou para a frente, para o resto da sala, afim de descobrir aonde estava, e viu estantes com rolos de tecido e uma longa mesa à sua frente. Eles ainda estavam na alfaiataria. Thomas ainda estava tentando entender o que aconteceu quando a viu.
Uma criatura acinzentada, desproporcional e medonha, com uma barriga grande e redonda, braços enormes e pernas atrofiadas. As mãos estavam fechas num punho e a criatura se apoiava sobre eles. Tufos de pelo e pústulas cobriam os braços e as costas. O rosto, sem expressão, tinha a pele flácida ao redor de dois olhos pequenos e uma boca estreita. Uma grande corcunda se erguia por trás da pequena cabeça, e duas longas orelhas pontiagudas se estendiam por cima dos ombros curvados. A criatura estava à no máximo dois metros de distância, mas parecia não notar a presença deles ali. Ao lado da criatura, Rafur se encontrava amarrado numa cadeira, sem armadura, apenas com a roupa que vestia por baixo dela. Duncan gemia longa e profundamente, mas ninguém o via.
Rafur já havia aberto os olhos, mas estava absorto do que acontecia ao seu redor, pois fazia uma prece silenciosa ao Forjador de Almas enquanto fitava pés cinzentos e desconhecidos. O anão do clã Ur ergueu pesadamente a cabeça e encarou a besta que estava a sua frente, e viu Thomas e Hildir à sua esquerda, ambos amarrados à escada, assim como o sacerdote estava amarrado à cadeira, com as mãos atadas às costas. À sua direta, sobre uma longa e estreita mesa, Ahrcon estava deitado, com cada um dos membros amarrado à uma extremidade do móvel. Quando o ladino abriu os olhos, mal conseguiu erguer a cabeça e ficou apenas fitando o teto com olhos cansados.
Kara estava de pé, entre as duas janelas que ficavam na parede oposta à escada, de frente para a escada e para o halfling amarrado à ela. A pequena maga não soube o que fazer ou dizer quando Aach, gentilmente, convidou-a para o quarto quando estas pessoas chegaram. Lá ela ficou, junto de Will, Shagga e do estranho casal que estava com Crvenka. O velho e a garota ficaram todo o tempo bolinando-se e apalpando-se enquanto se beijavam intensamente, e Kara corou uma dúzia de vezes. Quando eles ouviram latidos, a garota apenas deu um risinho e pulou no colo do velho, que a agarrou e a colocou contra uma das paredes, e a própria garota colocou um dedo sobre a boca quando todos ouviram passos apressados escada acima. A maga não entendia nada do que acontecia, mas tinha receio de perguntar. Foi só quando Aach veio chamar o velho para lhe ajudar que kara viu os corpos. A princípio penso que eles estivessem mortos, mas notou que todos eles respiravam. Um cachorro estava no fim de escada e não parava de latir, rosnando e mostrando os dentes, mas com medo de avançar diante das criaturas servas de Aach. Não havia surpresa nenhuma quando os dois mercenários ajudaram a amarrar aqueles cinco, mas Kara notou que Will estava um tento apreensivo sobre o que aconteceria ali. Uma das bestas agarrou o cachorro, que revidou, mas não foi capaz de impedir ser preso e amordaçado. A mesma criatura ainda prendia o cão, segurando-o contra o corpo com as mãos desproporcionais.
Aach Crvenka se encontrava em frente a Kara, de pé, e sua cabeça pálida tinha um brilho alaranjado das velas que ardiam acima das duas janelas. A maga não precisava ver o seu rosto para saber que Crvenka sorria. Os braços do mago pendiam ao lado do corpo, escondidos dentro das mangas de sua túnica, que se estendia até quase cobrir seus pés. Aach estava imóvel, e só era possível saber que estava vivo pelo movimento cadenciado de seu peito crescendo e diminuindo, crescendo e diminuindo. Crvenka estava ali desde o momento em que todos os cinco homens foram amarrados, esperando aquele exato momento. Aos pés de Aach estava o outro halfling, com as pernas amarradas até os joelhos e os braços, ambos para trás, estavam atados às pernas pelos pulsos.
Rakum sentiu o chute tirá-lo da escuridão com força. O halfling perdeu o ar por um segundo, e pareceu sentir uma das costelas se quebrar, e logo recuperou o fôlego, tossindo. Da onde estava, o bárbaro via apenas os pés de um homem e, ainda tossindo, tentou se virar e percebeu que estava amarrado. Rakum ergue a cabeça, para ver os donos dos pés, e não se surpreendeu quando viu o rosto pálido entrecortado por veias azuis de Aach Crvenka, que estava a lhe sorrir docemente.
- Meus perseguidores, enfim acordados. - O voz do mago parecia vir do fundo de um poço. O sorriso nos lábios de Aach estava sempre em seus lábios, irritante e provocador - Eu me cansei desta perseguição vazia. Nesta noite, lhes darei um motivo real para vocês e esta caçada.