20 de Tarsakh, 1372
Aquela era uma construção secular, já bastante gasta pelo tempo e pelas intempéries. A madeira estava enegrecida e apodrecendo, com buracos por onde passava o assovio do vento e o lamento dos fantasmas. As chamas das velas que iluminavam o interior da cabana tremeluziam com a entrada forçada do vento, mas não o suficiente para que se extinguissem. Prateleiras foram apregoadas desordenadamente sobre as paredes, portando frascos de variadas cores e conteúdos misteriosos. Livros, tinteiros e pergaminhos estavam espalhados pelo chão, pela mesa e pela estante, e um pesado caldeirão de latão com um líquido borbulhante estava posicionado ao centro do cômodo único, ocupando uma boa parte do espaço.
Os boatos que corriam na boca dos pescadores eram verdadeiros: uma bruxa morava ali. Essa, de fato, era a única verdade das histórias que contavam a seu respeito. Os pescadores gostavam de afirmar que a bruxa amaldiçoava a todos que pisavam em seus domínios, que a bruxa fazia experimentos macabros com restos mortais de animais e homens, que a bruxa transformava a todos que a viam em pedra, que a bruxa isso e que a bruxa aquilo. A verdade, porém, era que Andariel levava uma vida tranquila. Ela não tinha medo dos animais e dos monstros do pântano, e muito menos dos fantasmas e dos outros seres astrais que assombravam as noites pelo lamaçal.
Andariel morava na cabana junto com Fuxo, um corvo falante. Era a única companhia que a bruxa tinha ali, mas de tempos em tempos piratas mais audaciosos vinham até a sua ilha em busca de ajuda, e ela em troca cobrava suprimentos e materiais para suas experiências. Dizia-se que a bruxa sabia prever o futuro e curar qualquer doença, e esses eram os motivos dela receber tais visitas. Contudo, já tinha se passado e muito da meia-noite daquela madrugada, quando Andariel ouviu três batidas secas à sua porta.
Bum. Bum. Bum.