As escadas foram cansativas, especialmente com a pressa que tinham. Mas valeu a pena. A porta do apartamento também não deu problema algum. mesmo estando trancada. Ao passarem ele viu as trancas novas. Trancas robustas. Trancas que soletravam medo. Porque eles entraram direto? Ela não respondeu a porta. Não respondeu a campainha. Cada segundo do lado de fora tinha sido uma agonia com aquele grande espelho do corredor.
Nenhum sinal dela na entrada. Nenhum sinal na cozinha. Um pote de comprimidos no chão. Pílulas brancas espalhadas. O ar da noite. O vento na cortina da sala. As longas abas de tecido branco dançando no vento. Ela não responde quando ele fala o seu nome. Mas lá está ela na varanda. Encolhida. Pernas abraçadas. Axel atravessa a sala até ela e vê cacos de vidro no chão. A tv com a tela arrebentada. O cheiro de sangue.
Ele a segura pelos pulsos. Sente o sangue nas mãos. Ela está gelada. Não está vestindo nenhuma roupa. O chão em volta dela melado de sangue. Ela luta contra ele e isso é um alívio tremendo. Ela grita e as lágrimas escorrem na mesma hora. Ela bate nele com as mãos sangrando. Grita mais alto. Grita até a voz mudar. Ficar rouca e sumir. Ela tem sangue no rosto. Marcas de unha para cima e pra baixo. A boca aberta no grito sem voz. As lágrimas vermelhas como sangue. Os olhos... vermelhos e arranhados até não verem mais nada. Inchados e em carne viva.
Wanessa luta e chora com medo sem fim.
Do outro lado de cada reflexo alguém ri como uma criança que acabou de ganhar um segundo prato de sobremesa.