CRISTINA ASSAKAWA - PARTE I
Enquanto os raios rasgavam impiedosamente o céu escuro e pesado logo acima de suas cabeças, pessoas das mais variadas raças se reuniam embaixo de uma chuva gélida que teimava em não cessar. Ao lado de seus cavalos, dentro de suas velhas carruagens de madeira ou escondidos entre as árvores da beira da estrada, todos tentavam se proteger da chuva como podiam enquanto não lhes era dada a ordem para seguir viagem.
Logo a frente deles se encontrava uma estrada lamacenta em declive que os colocaria em meio a um território pouco visitado, cercado por uma floresta densa que era o cenário de muitos dos contos que vinham sendo contados pelas pessoas da caravana há algum tempo. Montanhas grandiosas cercavam esse domínio de árvores em quase todas as direções que os olhos poderiam alcançar daquele ponto em que estavam, o que de fato dava uma bela vista para os que não se incomodavam com uma forte tempestade.
Até alguns dias atrás a caravana seguia rumo ao seu destino em Nishidori, uma das maiores cidades do Império, depois de ter deixado uma região cada vez mais populosa de vilarejos próximos ao território gelado de Shirokita. Mas seja por obra do destino ou puro azar, adentraram uma área inexplicavelmente dominada por tempestades fortes que seguiam atrasando-os. Por essa razão, decidiram parar em um local próximo ao que estavam agora e aguardar o término da tempestade. Isso já fazia dias.
“Ei, Cristina!”
A única voz familiar naquele lugar chamou Cristina para fora de seus devaneios. Estava parada em baixo de uma árvore localizada pouquíssimos metros de distância da carruagem que alugara para seguir viagem. Naendra agora estava ali ao seu lado carregando uma cesta velha com alguns pães peculiares, os quais agora oferecia para sua colega.
- Pães:
Cristina deveria saber o quão incomodo aquela situação era para Naendra em especial. As duas estavam ali há menos tempo que o resto das pessoas, mas ainda assim era difícil para uma Hanyô tão inquieta quanto Naendra permanecer restrita ali durante tanto tempo.
O Pégasus que fora presente de seu pai se encontrava dentro do compartimento de suprimentos da carruagem que alugaram. Dois dias atrás, quando a tempestade começou a piorar de maneira assombrosa, ele fora atingido de leve por um raio. Foi um episódio assustador que felizmente não causou danos em ninguém, mas serviu de aviso: seria arriscado danificar seriamente o Pégasus caso outro raio forte o atingisse, sem falar do risco extremo que Cristina e Naendra correriam. Também tinham que levar em consideração a possibilidade de tribos Nezumi não-amigáveis nas montanhas próximas que poderiam tentar algo.
Enfim, tudo culminou na necessidade de precisarem seguir um tempo no chão. Foi isso que propiciou o encontro das duas colegas com a caravana parada. Naendra pagou abrigo para elas e o Pégasus em uma carruagem que originalmente deveria carregar apenas suprimentos, e assim foi. Dois dias paradas aguardando a decisão dos lideres da caravana sobre continuar ou não.
Foi quando repentinamente Cristina sentiu a aproximação de mais alguém, vindo por trás das árvores na direção delas com passos vagarosos. Não parecia alguém interessado em se esconder, pois resmungou por causa da lama um pouco antes de chegar ao lado das duas que já estavam em baixo da árvore.
- “Procure acender uma vela em vez de amaldiçoar a escuridão”. – Citou a moça que ficou ao lado delas para se proteger da chuva. Ela carregava um coelho nos ombros, provavelmente sua refeição se conseguisse acender uma fogueira. – Primeira vez que esbarram com o azar em uma viagem? – Sorriu amigavelmente.