A primeira reação ao se dirigir ao homem era pura agressividade, ele estende a mão pra cima e se cria uma machadinha, tão fantasmagórica quanto ele, o corpo dele era forte e ameaçador, ele era certamente um homem grande e forte em vida, os olhos tomavam tonalidade de um verde fantasmagórico.
Ele estava pronto pra atacar, mas a lua havia enviado as palavras certas, a canção certa, numa língua que ela nem conhecia, que ela devia ser incapaz de proferir com maestria, ainda assim ela não erra uma palavra e tem certeza disso. O fantasma para em meio a sua investida, a expressão confusa no rosto, no momento seguinte ele parece ceder as palavras macias de Beatrice, o rosto guiado em direção a Enola faz ele parece “humano” novamente, a arma fantasmagórica some tão rapidamente quanto havia aparecido.
Enola! - Ele grita o nome dela, os olhos arregalados, a expressão de preocupação estampada nele, que se desvencilhar logo e corre em direção a mulher, que ao ser tocada parece despertar de seu transe.
O abraço e o choro é de pura perda, de amantes que não se viam há décadas, de pais que haviam perdido seu filho, era impossível ficar alheio a aquilo.
- Moake. - ele diz. - Meu nome é Moake, mas acho que isso não importa mais, minha vingança não importa mais. - ele hasteia uma mão e olha pra ela como se pudesse realmente perceber o que ele era agora - Meu tempo acabou. - ainda assim havia fúria nele, ele anda até uma das covas que havia sido cavada por Shiriki e cospe, ou pelo menos faz a menção do gesto já que saliva nenhuma se desprende dele, a mulher só o acompanha com o olhar.
Ele volta pra perto delas parecendo mais consciente, nem mesmo parecendo esquecer da pergunta sobre a noite em que houve a confusão - Eu lembro dos rastros vermelhos, atiraram com prata, nós nos desvencilharmos da reserva porque sabíamos que a coisa ia ficar feia, o negro veio de Nova Orleans, a vagabunda ao lado dele era minha irmã, ela os trouxe diretamente pra nós, como se fossemos traidores. - ele fala cheio de desgosto e rancor, mas algo muito mais contido perto do que era antes.
- Tudo bem escrava da lua, eu vou confiar em você, confiar no meu próprio povo não me fez bem nenhum. - ele não parece completamente satisfeito, ou confortável com a situação, as marcas dos Anshega era profunda demais nele. - Não é como se eu tivesse muita escolha de qualquer forma. - ele diz conformado.
A caminhada de volta é árdua e escaldante o carro ficou pra trás já que eles eram incapazes de utilizar o veículo, água é a primeira coisa que ela consegue pensar quando pisa de volta na cidade.
Subir no topo de um prédio comercial não é difícil, as palavras na primeira língua carregadas na direção de Dobrasin, não importava onde ele estivesse, a resposta demora um pouco até voltar pra ela.
Ele a está esperando, cuidado, ele não gosta de visitas, as Santas também não. Não dá pra ter nenhuma ideia da entonação das palavras, mas elas mostravam que ele parecia saber exatamente o que ela estava planejando.
O território era pequeno e todo mundo sabia com precisão onde ele começava e terminava, era tão pequeno que dava pra ver o sujeito saindo da loja e vindo em direção dela na rua reta.
Ele para na frente da porta do cemitério sem dizer nada e faz um sinal com a cabeça em direção ao portão e entra logo depois sem esperar muito por Beatrice.
Quando ela vai de encontro a ele o sujeito está recostado em um mausoléu, a película ali é tão fina que quase dá pra escorregar pro outro lado sem querer. Ele cheira a fumaça, óleo e suor, e ainda assim ele consegue ter algum charme, a barba por fazer, o corpo forte, so braços levemente destoantes do tronco, como se fossem mais fortes do que deveriam.
O lugar como um todo era uma mistura de cemitério tradicional baixo com túmulos suntuosos e coloridos, mais altos e latinos, como se tivesse começado de um jeito e terminado de outro, existem fantasmas aos baldes no lugar, a maioria deles só vagando de um lado pro outro, outros até mesmo conversando, trajando “roupas” que tinham facilmente um século de idade
- Eu não vou perguntar o que esses dois significam pra você e vou respeitar qualquer trato que você faça com as Santas, mas sem bagunças na minha casa. - é claro que a parte de sem bagunça era esperada, mas ele faz questão de enfatizar aquilo, Beatrice sabia o que os Garras Sangrentas caçavam, ela sabia das histórias dele, da tentativa infrutífera de Chloe de tomar o que ele tinha, ainda assim não existe nenhuma ameaça real na voz dele.
O cemitério em questão parece que não tem uma viva alma exceto por um coveiro longe demais e distraído. O outro uratha atravessa pouco antes dela e mantém distância, do outro lado mais fantasmas, as “santas” vestidas de branco voando de um lado pro outro acolhendo mortos que chegavam mais e mais, alguns deles formando uma fila indo diretamente pra uma cripta no fundo de onde era o limite do cemitério.
David mantém distância e parece não querer se envolver, Enola e Moake parecem impressionados eles mesmos, mas seguem fielmente a uratha.
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