Magna Veritas

Diante as palavras de Andy, só conseguia pensar em como os humanos eram previsíveis.

Com a aproximação dava para termos uma melhor noção da casa. E se adentrássemos pela porta da frente, levaríamos um bom tempo para checarmos uma casa daquele tamanho.  Mas logo uma singela luz vinda do segundo andar chamou minha atenção.

Mas, antes mesmo que pudesse indicar a janela para Andy, ele mostrou-me novos animais mutilados. No mesmo momento, vi aquilo mais como algum tipo de ritual do que uma obscenidade por parte de Marcus. Provavelmente, eu teria o julgado como pervertido sem considerar todos os fatos.

- Eu tenho que ter certeza que se trata do Marcus. - Respondi. - Não tenho a intenção de confrontar esse maníaco. - Ponderei por alguns segundos. - Precisamos fazer duas coisas, Andy. A primeira é que preciso que você tire uma daquelas estacas do lugar. - Olho para a janela que emanava alguma luminosidade. - A segunda é que vou tentar escalar até lá para ver se vejo alguém. - Mais uma vez o sorriso malicioso retorna a minha face. - Pediria a sua ajuda, mas certamente você acabará olhando para cima para ver sob o meu vestido. - Aproximo-me sussurrando. - Só para descobrir a cor de minha calcinha. - Faço uma pausa e então rio completando. - Apesar que não veria nada. Afinal, não estou usando calcinha.

Sem mais, sigo sorrateiramente próxima a casa procurando por algum lugar que me permitiria subir para alcançar tal janela. Caso conseguisse subir, aguardaria até que Andy derrubasse uma das estacas. Tinha em mente algumas possibilidades se aquilo realmente fosse algum tipo de ritual. Era esperar para ver.

Subir pela árvore até a janela sem ser notada havia sido um sucesso. Estava confiante até ser surpreendida pela visão do lado de dentro da casa.

Questionava-me se aquela dominatrix seria apenas uma prostituta qualquer ou se tratava de uma profissional mais obscura. Considerei saltar pela janela como uma heroína e aproveitar que o homem estava algemado e tomar isso como vantagem. Mas isso não era um filme bobo de ação e qualquer movimento mais abrupto poderia fazer os velhos galhos da árvore darem-me uma passagem dolorosa até o chão.

Perdi a linha de raciocínio ao ver a mulher pegar um... picolé?! Estava surpreendentemente disposta a aguardar para ver aonde aquilo ia parar. Mas, acho que Andy acabou por escolher a estaca que tinha um porco ainda vivo. No mesmo instante, levei a mão cobrindo minha face em um misto de vergonha e desaprovação.

Como nada que já não estivesse ruim não pudesse piorar. Deparei-me com a dupla olhando para mim. Ri sem jeito e acenei discretamente para ter certeza que estavam me vendo.

Se caso isso se confirmasse, eu prosseguiria:

- EU... - Apontaria para mim. - PRECISO FALAR... - Gesticularia com a mão abrindo-a e fechando para simular uma boca. - COM VOCÊ!! - Apontaria para ele.

Por fim, torceria para alguém abrir a janela. Já que não tinha a menor pretensão de descer daquela árvore. Pelo menos, não sem ajuda.

Infelizmente o elemento surpresa já não existia mais. Aguardei que ambos conseguissem assimilar aquele momento estranho. Apesar que eu diria que isso era mais normal do que aquela brincadeira com o sorvete.

Estava pronta para responder quando Andy acabava por dar mais um de seus foras naquela noite.

- Shhh... - Chutei o ar na direção de Andy. Mas, já era tarde.

Enquanto o homem gritava revoltado, uma presença chamava minha atenção. Parecia algo de origem divina. No entanto, parecia que a ira do homem servia para nublar seus sentidos e fazer a presença divina passar despercebida. Poderia estar errada, mas acreditava ter uma nova carta na manga.

- HEY!! - Bradei tentando chamar atenção do casal. - Estou aqui para te ajudar. Então sossega aí, taradão do picolé. - Faço um gesto de mão chamando Ummah até a janela. - Ummah, poderia me ajudar a entrar? - Questiono a meretriz.

Enquanto aguardava pelos próximos passos do casal, olhei para baixo e dirigi-me ao Andy:

- Me espere no carro, Andy. - Enruguei o nariz em desaprovação e apertei os lábios em uma expressão do tipo "agora fodeu". Esperava que a escuridão do lado de fora evitasse os olhares vindos do lado de dentro da casa. - Serei rápida e logo te encontrarei lá.

Agora tudo que restava era tentar ganhar tempo até a chegada do anjo, se é que ele estaria vindo para cá. Caso contrario, teria que pensar em uma saída favorável. Mas, naquela altura, já não acreditava que aquela mulher fosse uma simples dominatrix.