Elettra Gavani

Elettra observava, ao lado de Raphael, a corja de vampiros, aos poucos, começarem a fazer decoro.

Ela via como Raphael fizera para controlar a situação e não deixou de olhar feio para Lucrecia. Tão feio que ela não conseguiu muito bem disfarçar.

Elettra deu um suspiro fingido e, após todos se levantarem, ela seguiu com Raphael na direção dos carros. Sentiu a leve brisa da noite tocar sua face e por um segundo, esqueceu de toda a confusão que ocorrera.

Atrás do grupo, olhava as costas de Lucrecia e, como quem não tinha muito interesse, perguntou a Raphael:

- Qual era o motivo da discussão?

Todos agora estavam mais comedidos pois depois de observarem a expressão de Elettra e mais o pedido de Raphael, não havia mais o que pudessem fazer que não fosse simplesmente se calarem.

O caminho até o carro foi em absoluto silêncio. Lucrecia não ousou abrir mais a sua boca, pois sabia que os olhares de Elettra estavam todos nela. Já Raphael seguia tranquilamente mas também em silêncio.

Já praticamene dentro dos carros, a oportunidade se fez e então a jovem conseguiu perguntar o que estava acontecendo e Raphael se limitou a dizer que era por culpa das ações…

Desde que a empresa foi aberta, a família de Elettra nunca saiu do controle de tudo, mas desde que surgiu a oportunidade de colocar uma parte das ações para que outros pudessem investir e então crescer ainda mais, todos andavam inquietos e Lucrecia nervosa, principalmente porque dess vez, um alto número de ações foi comprado por um desconhecido e isso poderia afetar toda aquela família…

Podia-se sentir a tensão no ar. Por mais que Elettra aparentasse estar calma, sua raiva, para aqueles que a conheciam bem, era tangível.

O caminho até o carro foi em perfeito silêncio. A menina não disse sequer uma palavra e deixava os adultos guiarem o caminho, como se ela fosse, realmente, apenas uma adolescente.

Entretanto, quando chegaram aos carros, Elettra parou diante do seu. Ela olhou para os lados e garantiu que ninguém estava lá para ouvir ou observar. Ou que, pelo menos, as pessoas não prestassem atenção ao que estava acontecendo ali.

Quando viu que estava segura, ela ergueu o queixo e falou em um tom que Lucrecia e Raphael pudessem ouvir. Preocupou-se em não parecer muito autoritária perto dos outros integrantes,

- Raphael e Lucrecia, gostaria de ir no carro com vocês dois só! Temos tanto para conversar.

Ela disse em tom jovial, com um leve sorriso.



Já dentro dos carros, Elettra perdeu seu sorriso jovial e sua expressão foi de certa raiva e desdém. Ela levantou o vidro que separava os bancos de trás do motorista e assim que pôde, falou com seus companheiros:

- Ações? Como assim nossas, minhas ações estão indo parar nas mãos de alguém desconhecido?

Ela olhou ambos, esperando a resposta. E depois, completou:

- Esse tipo de estudo não foi feito antes de abrimos o capital? Ora veja, para não permitirmos esse tipo de situação? A maioria deveria estar sempre em nossas mãos!

E ela encarou ambos novamente:

- O que me dizem? Sabem pelo menos o nome do comprador ou de sua agência?

O mau humor que a menina estava podia ser sentido provavelmente a quilômetros de distância e quando disse que queria ir a sós com Raphael e Lucrecia no carro, isso não era um bom sinal. Ambos engoliram em seco e então todos entraram no carro.

Quando Elettra sobre a questão dos investimentos, não gostou muito então Raphael que parecia ser o mais calmo e sensato disse:

- Quando conversamos sobre disponibizar algumas ações no mercado para que com esse dinheiro pudéssemos fazer algumas melhorias internas e enriquecer um pouco mais, surgiu um desconhecido que comprou todas as ações que disponíveis. Não colocamos mais do que 1/3 das ações para que não houvessem riscos após os estudos feitos. Quem iria inaginar que um só indivíduo compraria todas elas!? - e depois de uma breve pausa, voltou a dizer:

- Já entramos em contato com a bolsa para pegar os dados do comprador, mas ainda não recebemos as informações…

Elettra ouvia tudo que Raphael dizia, mas sua expressão era de poucos amigos. Como uma adolescente humana, rendeu-se à vontade de ir afundando no banco enquanto ouvia as explicações de seu querido Raphael:

- Ou seja, ainda não temos nada! Nada!!

Elettra suspirou e ergueu-se, ficando com a coluna ereta no banco, ao lado de Raphael. Dessa vez ignorou completamente Lucrecia, com os olhos de um brilho azulado fixos no rapaz.

- Quando a Bolsa nos dará qualquer informação? Eles são autorizados a ceder estes dados?

E seu olhar de predador prevalecia. Era tão fixo e sem qualquer movimento que Raphael teve a impressão que a menina se transformara em uma boneca. Uma boneca linda e assassina.

- Qual será nosso plano se não pudermos descobrir, Raphael? Vamos contratar algum.... – ela fez uma careta, como se tivesse esquecido a expressão moderna. - .. Um hacker para conseguir isso? Eu quero resultados até amanhã! Amanhã! E os mais detalhados possíveis.

Seu corpo estava levemente inclinado na direção do rapaz. De uma forma ameaçadora. Elettra ficou assim por um tempo e sua respiração – um velho hábito que guardara de sua época humana – foi ficando mais tranquila. Ela se afastou lentamente e encostou-se no banco.

- Assim, vamos pensar no que faremos. Melhor conhecer este novo sócio, não acha?

Elettra sentia as luzes quentes do lado de fora. As luzes que entravam pelas janelas fechadas e de vidro escuro. Porém, a beleza da não vida era, de fato, experienciar a vida como não se podia antes. Este calor lhe trouxe acalento. E com ele, a calma.

- E de quem afinal foi a ideia de abrir o capital? Não me lembro de ter autorizado.

Ela olhou para Lucrecia, sem piscar. As feições quase infantis contrastavam com o olhar maduro de uma mulher que seria bem mais velha que Lucrecia.

- Foi sua, minha cara criança? Lembrou que falou rapidamente sobre uma ideia assim. Porém, não lembro de eu ter autorizado.