O Jogo dos Tronos - A Patrulha da Noite

A noite de vigília no septo de Castelo Negro era envolta em uma atmosfera solene e carregada de expectativa. O vento gelado da Muralha parecia sussurrar entre as pedras antigas do septo, enquanto os recrutas entravam em fila, cada um segurando uma vela que oscilava ao menor movimento. O interior era austero, decorado apenas com o essencial: um altar simples com o símbolo dos Sete em destaque e bancos de madeira gastos pelo uso. No centro, iluminado pela luz vacilante das velas, estava o Septão Cellador, com seu colar de cristal de sete pontas refletindo a chama em tons de arco-íris.

Cellador, um homem de aparência desleixada e rosto marcado por anos de excessos, caminhava com um cálice de vinho em uma das mãos, proferindo palavras ritmadas que misturavam sabedoria religiosa e frases arrastadas pela bebida. Apesar de sua evidente embriaguez, suas palavras eram estranhamente persuasivas, como se a paixão em sua voz superasse as falhas de seu estado.

— Vocês estão aqui, na vigília, para refletirem sobre suas vidas, seus pecados e o juramento que farão. A Muralha exige homens de propósito, homens que entendem que não servem a si mesmos, mas ao reino inteiro. Se os Sete ainda olham para este lugar esquecido pelos deuses, que seja esta noite o momento em que suas almas sejam purificadas. Ou... ao menos reconheçam o que resta delas.

O septão soltou uma risada seca e tomou um longo gole de vinho antes de continuar.

Os recrutas se espalharam pelo septo, ocupando posições próximas ao altar ou ao longo das paredes. Cada um foi instruído a meditar sobre os Sete Aspectos de Deus, mas a tarefa não era simples. O frio era implacável, penetrando mesmo dentro do septo. Alguns tremiam, tentando se concentrar, enquanto outros olhavam para a chama de suas velas com olhos perdidos.

Skinner Snow parecia mergulhado em um fervoroso silêncio, encarando o cristal no colar do septão como se esperasse alguma visão divina. Roderick Silvester, por outro lado, parecia inquieto, esfregando as mãos nervosamente enquanto murmurava palavras inaudíveis para si mesmo.

Harwin Impyke se destacou mais uma vez, ajoelhando-se diante do altar e recitando uma oração longa e sincera, que até o Septão Cellador ouviu com atenção. Ele o observou por um momento antes de murmurar algo como:

— Bom garoto, mas cuidado, a Muralha é boa em arrancar a fé de quem a carrega no coração.

Enquanto isso, Gareth Witzel e Daemon sussurravam entre si, sem grande preocupação com a solenidade do momento. Cellador, ao perceber, cambaleou até eles com uma expressão severa.

— Se a fé dos Sete não os inspira, talvez o frio da Muralha os ensine o silêncio.

O septão prosseguiu com seu cântico, interrompendo-se ocasionalmente para beber mais vinho, até que, em certo ponto, seus passos ficaram cada vez mais lentos, e ele se apoiou pesadamente no altar. Apesar de seu estado, sua presença estranhamente trouxe uma aura de humanidade à vigília: ele era um homem falho, como todos ali, tentando cumprir um papel maior que ele mesmo.

À medida que a noite avançava, alguns recrutas começaram a cochilar, enquanto outros mantinham os olhos fixos nas velas que derretiam lentamente. A vigília era uma prova não apenas de fé, mas de resistência ao frio, ao cansaço e à introspecção.

Quando a primeira luz do amanhecer começou a filtrar-se pelas estreitas janelas do septo, o Septão Cellador se levantou com esforço, tamborilando os dedos sobre o cristal de sete pontas ao redor de seu pescoço.

— Que os Sete tenham ouvido suas preces... e que o frio lhes ensine o que a fé não pode. Agora vão, e enfrentem a Muralha como os homens que juraram ser.

Os recrutas saíram em silêncio, cada um levando consigo as marcas da noite — não apenas o cansaço, mas também o peso das reflexões feitas na vigília. Atrás deles, o Septão Cellador apagou as últimas velas com um sopro pesado, tomou o último gole de vinho e voltou a se sentar no banco, envolto em pensamentos que ninguém ousaria interromper.