O Jogo dos Tronos - Jone

A travessia das minas foi feita no mais absoluto silêncio. 

Lu Mei ficava perfeitamente confortável sem dizer nenhuma palavra banal. Aubrey mantinha-se atento e circunspecto, e a postura do veterano era espelhada pelos quatro soldados da escolta. Mesmo que quisesse falar, Jone não teria com quem dialogar.

Enquanto o grupo emergia dos túneis, Jone foi imediatamente tomado pela visão imponente da vila de Breakstone Hill. O lugar, que outrora parecia um simples assentamento rural, agora fervilhava como um gigantesco canteiro de obras. Cada canto da vila pulsava com atividade, e Jone observava atentamente, absorvendo os detalhes que revelavam a transformação em andamento.

O que mais capturava o olhar de Jone era a torre Mirela, uma estrutura antiga de pedra cinzenta que se erguia no topo da colina central. Ela já possuíra a aparência desgastada de uma ruína esquecida, mas agora era o coração de uma meticulosa reforma. Escoras de madeira erguiam-se ao redor da torre, sustentando andaimes repletos de trabalhadores, que subiam e desciam como formigas ocupadas. As paredes externas estavam sendo reforçadas com pedras novas, cuidadosamente alinhadas para manter a harmonia com o estilo original, enquanto artesãos esculpiam o brasão do gato-das-sombras nas ameias superiores. Apesar do progresso, a torre ainda exibia suas cicatrizes: partes do parapeito estavam incompletas, e blocos antigos de pedra repousavam no chão, aguardando substituição. Ao redor da torre, um vasto espaço havia sido desmatado, e estruturas provisórias de madeira abrigavam suprimentos, ferramentas e acomodações para os trabalhadores. Os sons ritmados de martelos, serras e cinzéis ecoavam pelo ar, misturados às vozes que gritavam instruções ou negociavam materiais. Jone podia sentir a energia de ambição no ar, uma tentativa de moldar a vila em algo maior, mais imponente. O próprio nome da torre estava mudando conforme uma bandeira semiacabada tremulando ao vento: Forte Arthur, o novo bastião que emergiria do esqueleto de Mirela. Era evidente que a reforma simbolizava mais do que apenas proteção; era um sinal de poder crescente e de novos tempos.

Mesmo além da torre, o resto da vila não ficava para trás. Estradas de terra estavam sendo ampliadas e cobertas com pedras brutas. Novas casas e celeiros surgiam rapidamente, seus telhados recém-cobertos com palha ou madeira. Carroças carregadas de materiais vinham e iam, formando uma trilha contínua que serpenteava até a torre.

Lu Mei trocou algumas palavras com Aubrey, e então Aubrey comandou os soldados:

- Vamos pernoitar na Torre! Ela está bastante habitável, apesar das obras ao redor.

O sol já estava alto quando a comitiva atravessou o movimentado pátio de obras da Torre Mirela. Trabalhadores pararam momentaneamente para observar o grupo, suas expressões revelando curiosidade e respeito. À entrada da torre, um pequeno grupo de servos estava reunido, liderado por um homem magro e de postura rígida, com cabelos grisalhos e roupas simples, mas bem cuidadas. Ele se apresentou como Marlon, o intendente da construção, responsável por coordenar a logística da reforma.

— Bem-vindos à Torre Mirela. Fomos avisados de sua chegada. Prepararemos acomodações e mantimentos para a sua partida ao Porto de Lícia.

Os servos trabalharam rapidamente, levando o grupo para uma sala ampla, improvisada como espaço de reunião, onde uma longa mesa fora preparada com pães frescos, carne curada e hidromel. O ambiente era funcional, mas acolhedor, com tapeçarias gastas nas paredes e janelas estreitas que deixavam entrar a luz do meio-dia.

Após uma breve refeição, Lu Mei tomou a dianteira, explicando o propósito da visita.

— Precisamos dos melhores artesãos disponíveis para acompanhar-nos ao Porto de Lícia. O trabalho será exigente e de extrema importância, e o tempo é um luxo que não podemos nos dar.

Marlon assentiu, franzindo a testa em concentração.

— Temos muitos talentos à disposição, milady. Carpinteiros, pedreiros, e até alguns ferreiros contratados para a reforma. Darei uma lista de nomes para que sua comitiva possa fazer a escolha.

Pouco depois, o grupo foi conduzido ao pátio, onde Marlon reuniu os artesãos disponíveis. A fila era composta por muitos homens e algumas mulheres, alguns de aparência robusta e confiante, outros com mãos calejadas e olhares atentos. Aubrey Abyss, com sua experiência em lidar com pessoas, assumiu a tarefa de avaliar o grupo. Ele fez perguntas diretas, testou o conhecimento de cada artesão e observou suas respostas com um olhar perscrutador. Lu Mei, sempre reservada, observava em silêncio, mas ocasionalmente sussurrava algo a Aubrey.

Por fim, destacaram-se alguns que Lu Mei escolheu:

Staniel Stone, um pedreiro corpulento com barba espessa e uma reputação de precisão em cortes de pedra.


Jack Lumber, um lenhador ruivo com um grande bigode estilizado e braços incrivelmente grossos.


Woodrow Sawyer, um carpinteiro ágil, com mãos rápidas e olhos perspicazes, conhecida por sua habilidade em erguer estruturas resistentes.


Iran Ferris, um ferreiro jovem, mas promissor, com talento para moldar peças intricadas e funcionais.


Mirren Vastel, uma artesã de vidro experiente, cuja delicadeza nos trabalhos com janelas era celebrada.


Junto com eles, viriam seus ajudantes, totalizando os dez artesãos que eles desejavam. Jone poderia questioná-los, ou apenas aproveitar a noite na torre que lhe era tão familiar. Provavelmente a última noite que passaria numa cama confortável por muito tempo.