por Xafic Zahi Sáb Jan 11, 2025 1:11 pm
O surgimento de mais três pessoas me pegou desprevenido. Desde quando estavam ali? Teriam ouvido minhas perguntas e súplicas a Vanth? Um rubor de constrangimento percorreu meu rosto. Respondi ao cumprimento da jovem ruiva com um aceno de cabeça, mantendo minhas mãos entrelaçadas em frente ao corpo, um gesto que expressava minha inquietação.
Vanth, então, começou a revelar quem era e, mais importante, quem não era. Não era guia, salvação ou redenção. Não buscava pureza, tampouco demonstrava misericórdia. Sua oferta era clara. Poder absoluto, com um preço a ser pago.
Talvez aqueles que já partiram tenham razão. Quando o momento derradeiro chega, assistimos toda a nossa vida em questão de segundos, e diante da oferta de Vanth, não pude deixar de relembrar meu passado.
Nascido em uma família abastada, com raízes francesas, nunca me faltaram bens materiais ou prestígio social. Mas, em troca, exigia-se de mim uma obediência incondicional. Quando ergui minha voz para seguir minha própria vontade, fui renegado. Passei do luxo para as ruas, onde mendiguei por alimento e abrigo. Sob o céu frio, cercado por perigos, experimentei algo inesperado: liberdade. Mesmo com o estômago vazio e o corpo exausto, meu espírito estava leve, liberto das expectativas e cobranças alheias. Com o passar do tempo, o destino me favoreceu. Um golpe de sorte me tornou milionário. E, sem hesitar, decidi devolver essa bênção ao mundo. Investi minha fortuna em projetos sociais, mantendo para mim apenas o essencial, um teto e o suficiente para viver. Desde então, para mim ficou claro que minha jorada era sobre abrir mão do poder em nome do bem maior. E essa convicção me deu clareza diante de Vanth. Eu não buscava poder. Meu desejo era ajudar. Havia iniciado essa jornada com o objetivo de encontrar Alice e evitar que ela caisse nas garras da tecnocracia. Eu queria redenção. Queria salvação. Queria pureza, liberdade e misericórdia, para todos. O que me impulsionava era querer o bem maior, e não o poder.
- Eu recuso a sua oferta, Vanth - minha voz era carregada de decisão, mas também de vulnerabilidade - Se o preço for a morte do meu corpo, que assim seja. Se minha alma for fragmentada e condenada a vagar pelo Umbral por toda a eternidade, aceitarei esse destino. Prefiro enfrentar o abismo com minha consciência intacta a me render ao caminho que entendo equivocado, ao poder que corrompe.
Virei-me para os demais, encarando-os com uma mistura de compaixão e determinação.
- Mas, enquanto ainda houver vida em mim, enquanto o último sopro me pertencer, ofereço minha ajuda a vocês, para o que precisarem.
Aquelas palavras trouxeram paz ao meu coração. Eu permanecia fiel a mim mesmo, livre para trilhar meu próprio caminho, ou enfrentar as consequências da minha escolha, e ainda assim, estendia a mão àqueles que compartilhavam do mesmo barco que eu.
