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    Um avô e seu neto

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    Mensagem por GM Ter Set 24, 2024 8:25 pm

    >>> Um avô e seu neto <<<


    Um avô e seu neto 114


    Na vetusta mansão dos Phillips, erigida sob a égide de sombras arcanas em Providence, o jovem Howard perambulava pelos corredores silenciosos, onde o tempo parecia estagnar-se. As paredes, adornadas com retratos de ancestrais de olhares enigmáticos, observavam-no enquanto ele se dirigia à colossal biblioteca—um santuário de conhecimentos esquecidos e saberes proibidos.

    Ao adentrar aquele recinto quase sacrossanto, seus olhos foram imediatamente atraídos por um volume antigo, oculto entre tratados de alquimia e compêndios astronômicos. O livro, encadernado em couro desgastado e ornado com símbolos indecifráveis, emanava uma aura de mistério que aguçava a curiosidade insaciável de Howard. Com mãos trêmulas, ele abriu o tomo, revelando páginas amareladas repletas de escrituras em línguas há muito extintas.

    Enquanto decifrava fragmentos de textos e contemplava ilustrações de criaturas indescritíveis, um calafrio percorreu-lhe a espinha. Foi então que uma presença se fez notar; seu avô, Whipple Van Buren Phillips, emergiu das sombras. Com um olhar penetrante e voz carregada de gravidade, ele proferiu: "Vejo que descobriste segredos que ultrapassam os domínios do conhecimento mundano, meu caro neto."

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    ***

    Assentindo com um sorriso enigmático, o avô Whipple aproximou-se, seus passos ressoando suavemente no assoalho de madeira ancestral. "Este livro", disse ele, acariciando a capa desgastada, "é um vestígio de eras antediluvianas, um relicário de sabedorias que transcendem a compreensão mundana."

    Os olhos de Howard cintilaram com uma mescla de temor reverencial e curiosidade insaciável. "Mas, avô, que significam esses símbolos indecifráveis e essas ilustrações de criaturas tão desmesuradas quanto indescritíveis?"

    Whipple suspirou profundamente, como se carregasse o peso de inumeráveis eons sobre os ombros. "São ecos de realidades subjacentes, sombras de dimensões que coexistem com a nossa, separadas apenas por véus tênues. Nossos ancestrais eram iniciados nos mistérios que ligam o cosmos aos abismos insondáveis."

    O jovem sentiu um calafrio percorrer-lhe a espinha. "Estás insinuando que existem mundos além do nosso, habitados por entidades que desafiam as leis naturais?"

    "Exatamente, meu caro Howard. E é imperativo que mantenhamos esse conhecimento resguardado, pois a mente humana comum não está apta a contemplar tais verdades sem sucumbir à insanidade. Contudo, percebo em ti uma aptidão singular, uma chama intelectual que pode ser lapidada."

    Howard engoliu em seco, dividido entre o anseio por desvendar os segredos cósmicos e o receio das implicações nefastas que poderiam advir. "Estou disposto a aprender, a explorar esses enigmas ocultos, se estiveres disposto a me guiar."

    O avô pousou a mão sobre o ombro do neto, seus olhos refletindo a profundidade de conhecimentos arcanos. "Muito bem. Mas advirto-te: uma vez que os portais do conhecimento forem abertos, não poderão ser cerrados novamente. Estás preparado para enfrentar as consequências inexoráveis que acompanham a iluminação?"

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    Com uma determinação renovada, Howard respondeu ao avô: "Estou ciente dos riscos que a busca pelo conhecimento arcano acarreta, mas a ânsia por compreender os mistérios do universo consome-me. Guia-me através dos caminhos velados, e juntos desvendaremos os segredos que jazem além da percepção mortal."

    Whipple assentiu lentamente, um brilho enigmático cruzando seus olhos. "Muito bem, meu jovem. Iniciaremos quando a lua alcançar o zênite, pois é sob sua pálida luz que as barreiras entre os mundos tornam-se mais tênues."

    Nas profundezas da noite, avô e neto dirigiram-se a um aposento oculto nos recessos da mansão—uma câmara cujas paredes estavam inscritas com runas ancestrais e cujos ares vibravam com energias etéreas. No centro, um círculo de símbolos geométricos entrelaçados aguardava.

    "Agora, Howard, concentra-te nas palavras que irei proferir e permite que tua mente se abra às dimensões inefáveis que nos circundam", instruiu Whipple, iniciando uma entoação em uma língua esquecida pelos tempos.

    Conforme as palavras ressoavam, um véu translúcido pareceu erguer-se, revelando vislumbres de realidades alternativas—paisagens alienígenas banhadas por luzes espectrais e habitadas por entidades de formas indizíveis. Howard sentiu sua consciência expandir-se, tocando fragmentos de conhecimento há muito perdidos.

    De súbito, uma presença avassaladora fez-se sentir, uma força cósmica que ultrapassava qualquer compreensão. Os símbolos nas paredes começaram a brilhar intensamente, e um vento espectral percorreu a câmara. Whipple ergueu a voz em advertência: "Cuidado, Howard! Há poderes que não devem ser despertados!"

    Mas era tarde demais. A ligação estabelecida ultrapassara os limites do controlável. Com um estalido ensurdecedor, a realidade pareceu fragmentar-se. Quando a claridade ofuscante dissipou-se, Howard encontrou-se sozinho na câmara silenciosa. Seu avô havia desaparecido sem deixar vestígios, como se tivesse sido consumido pelas forças que invocara.

    Dominado pelo horror e pela culpa, Howard compreendeu a gravidade de seus atos. Os conhecimentos que adquirira agora pesavam-lhe como um fardo insuportável. Decidiu então dedicar sua vida a registrar, através da escrita, os terrores inomináveis que vislumbrara, na esperança de alertar a humanidade sobre os perigos que espreitam nas profundezas insondáveis do cosmos.

    E assim, nascia o legado literário de H.P. Lovecraft, um testemunho dos horrores que residem além dos limites da percepção humana, eternizando em palavras os mistérios que jamais deveriam ter sido desvelados.

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