Nas profundezas da Floresta Amazônica, onde o canto dos pássaros se misturava ao sussurrar das folhas e ao murmúrio do Rio das Águas Claras, a aldeia Jamamadi repousava em harmonia com a natureza. Sob o céu pintado de estrelas, Anuá Karu, pajé e guardião da sabedoria ancestral, observava o horizonte à beira da fogueira sagrada. Sua presença irradiava a serenidade acumulada em décadas de aprendizado, mas seus olhos, acostumados a decifrar os mistérios da floresta, refletiam inquietação.
A descoberta recente de um sítio arqueológico, revelado pela severa seca que castigava a região, trouxe perturbações à vida da aldeia. Não eram apenas os arqueólogos e aventureiros que invadiam a mata densa, mas também uma sensação opressiva, como se as árvores sussurrassem alertas de um desequilíbrio iminente.
Anuá ouviu pacientemente as preocupações de sua tribo naquela noite. O temor era palpável, mas o pajé, com sua voz grave e carregada de autoridade, assegurou que ele mesmo acompanharia a expedição. Essa aproximação inesperada, acreditava ele, poderia trazer benefícios não apenas para os Jamamadi, mas também para os ribeirinhos que compartilhavam as margens do rio.
Um acordo firmado entre representantes do governo, os Jamamadi e a cooperativa dos ribeirinhos prometia a ampliação das terras protegidas, garantindo mais segurança para ambos os povos e encerrando uma exploração mineral próxima que ameaçava o equilíbrio da região. Graças às negociações, conquistaram também painéis de energia solar, saneamento ecológico, visitas quinzenais de equipes de saúde e uma pequena escola. O pajé sabia que, às vezes, era necessário ceder em prol do bem-estar coletivo, e contava com o apoio de José e Jussara para isso.
José, líder da cooperativa e amigo de longa data de Anuá, chegou ao círculo da fogueira trazendo consigo uma garrafa de cachaça artesanal e histórias permeadas de esperança e preocupação. Antigo seringueiro e agora chefe da cooperativa de Águas Claras, José era uma figura robusta e calorosa, respeitado tanto pelos ribeirinhos quanto pelos Jamamadi. Ao lado dele estava Jussara, sua esposa, benzedeira conhecida por práticas que combinavam a ancestralidade indígena com sua fé católica.
— Velho amigo, as águas estão inquietas, assim como as pessoas — disse José, colocando uma mão firme no ombro de Anuá. — Mas acredito que esta expedição pode ser uma ponte entre mundos.
Jussara, com sua voz suave e cheia de respeito, acrescentou:
— Talvez, Anuá, seja tempo de os sinais se revelarem. O que está oculto na floresta pode ser tanto uma ameaça quanto uma dádiva. O que importa é como lidaremos com isso.
A fogueira estalou, como se endossasse as palavras dela. O silêncio entre eles foi preenchido pelos sons da floresta, um lembrete de que ali, no coração da Amazônia, a natureza era tanto mãe quanto guardiã.
Enquanto Anuá fitava o céu estrelado, uma certeza começava a emergir em seu coração. O encontro dos caminhos – entre sua sabedoria ancestral, o pragmatismo dos ribeirinhos e a curiosidade dos exploradores– era inevitável. Mas seria essa convergência uma bênção ou uma ameaça? Apenas o tempo, e os Omahú, poderiam responder.
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Jamamadi e os Visitantes Noturnos
Os Jamamadi acreditam em seres chamados Omahú, descritos como altos e envoltos por luz brilhante. Esses visitantes noturnos seriam responsáveis por ensinar segredos sobre as estrelas e como interpretar os sinais da natureza. As orbes seriam o rastro deixado pelos Omahú ao retornarem para as constelações.
Na Festa das Estrelas, os Jamamadi decoram suas aldeias com figuras luminosas feitas de resina natural e realizam contações de histórias sobre os Omahú. Essa celebração também serve como um momento de reflexão, onde os anciãos passam ensinamentos às novas gerações.
OFF: Você pode interagir com todos, criar NPCs que achar interessantes e aproveitar para explorar o seu personagem. Em dois dias, a expedição se reunirá, essa é uma informação que seu personagem já sabe.