Delvar - Shmul

Delvar estava bem humorado e tentava segurar o riso – Bem, minha querida Elisie, eu disse para você treinar hoje com o meio-orc Vojta. Apesar do sangue orc ele é um habilidoso guerreiro – apesar de preconceituoso o anão começou a mudar, para melhor, a forma de pensar e tratar Vojta.

Quando estavam próximos da estalagem disse em um tom sério – quero ter um momento agradável com Breghila e Kiror, então eu peço que se controle. Estamos combinados?

Elisie ergue a sobrancelha desconfiada com a resposta de Delvar. Ela da um empurrãozinho de leve no anão, que quase faz com que tropece e saia rolando pelo chão.
- Sei... Sei muito bem que voce queria me ver longe, arranjando tarefas só pra voce ficar ai de namorico com esta anã torta-de-chuchu... Mas voce tem razão, Vojta é um guerreiro poderoso. Seu estilo tem a sutileza de um touro enraivecido, e seu lema é “saia da frente se tu é inteligente”.

Em frente da estalagem, Delvar dá o seu recado, ao qual Elisie da uma risada irônica.
- Eu, me controlar? Pft, pare de dizer besteiras, barrilzinho, voce me conhece, eu sei muito bem me comportar!

Logo ao entrarem, Delvar e Elisie percebem que tinham chegado numa hora bem tranquila, com poucos fregueses. Kiror, que estava atrás do balcão, os recebe com uma risada estrondosa.
- Hahaha, meus amigos! É sempre bom ver vocês por aqui! Já ouvi comentários aqui, dizendo que um grupo de aventureiros ajudou a derrotar os homens da Guilda da Serpente no ataque a embaixada de Ling-Xao – diz, fazendo uma cara de interrogação – Saberiam dizer quem seriam estas pessoas?

Beghila, que esta na parte superior da estalagem, desce as escadas rapidamente, até ficar de frente a Delvar. Ela pega nas mãos do anão e o olha nos olhos.
- Veio me visitar? Não sabe como fico contente quando vem aqui, não é, papai? – diz, sorrindo para Kiror, que fica sem graça.

Elisie rapidamente se interpõe entre Delvar e Beghila. Ela empurra a anã de modo a ter uma distancia de meio metro.
- Ei, ei, ei, que assanhamento todo é este? Não sabe que toda pessoa precisa de um espaço só seu, que é muito feio ficar invadindo o espaço dos outros?

Já dentro da estalagem ele responde - Pois somos nós, Kiror! Novamente a Guilda da Serpente teve o desprazer de cruzar o caminho desse anão que aqui vos fala. - e gargalha.

De mão dada com Beghila – Sim, senhorita Beghila, viemos visitar você e seu pai – Delvar dá uma piscadela para a anã que em seguida foi afastada por Elisie. Continua a conversa – Como tem passado? Mais nenhum arruaceiro lhe importunou? Alguma novidade?

Diante da confirmação de Delvar, Kiror arregala os olhos e abre a boca com surpresa, mas então explode numa estrondosa gargalhada, que faz os outros clientes taparem os ouvidos.
- Bahahaha, eu já sabia, estava tirando uma de voce! Quer dizer que vocês estão ficando famosos, meus caros amigos... Não demora e surgirão dezenas de oportunidades para vocês, podem acreditar, pelo martelo de Fenrir!

Enquanto isto, Elisie observava o casalzinho anão com os olhos semi-cerrados, irritada. “Começou a ladainha”, comenta em voz baixa.

Ignorando a existência da guerreira, Beghila se aproxima novamente de Delvar, e o puxa pela mão, levando-o em direção da cozinha.
- Venha, venha, preciso te mostrar uma coisa, acho que vai te surpreender! – diz com a voz doce, enquanto olha em direção ao seu pai. Kiror sorri e acena com a cabeça.

Elisie já ia atrás dos dois, mas no meio do caminho ela é interrompida por Kiror, que cochicha algo em seu ouvido. A contragosto e fazendo birra, ela deixa Delvar e Beghila em paz.

Gargalhou junto com Kiror e após se recompor respondeu - Fenrir sorri para nós, Kiror! Acredito estar seguindo os desígnios dela e que ela tem grandes planos para mim. Seja como for, continuarei minha jornada e tentarei esmagar a cabeça dessa serpente. E por falar em esmagar serpente, preciso lhe mostrar o Martelo de Guerra que eu mesmo produzi. Meu irmão Thimon ficaria orgulhoso se visse.

Deixou ser guiado por Beghila - Uma surpresa? Para mim? Que estranho.

Beghila da uma risadinha juvenil, enquanto guia pela mão Delvar. Eles atravessam a porta ao lado do balcão, e passam pela cozinha, onde a mãe da anã cortava legumes em meio as panelas com agua fervente. Sem tempo de dizer um “ola”, eles atravessam a porta que dava para um espaço aberto, onde varais estavam com roupas dependuradas. Passando pelos lençóis, passam por uma outra porta, que Delvar identificou como a casinha dos fundos onde morava Delvar e sua família.

“Feche os olhos”, pediu Beghila com um sorriso.

Mais devagar, tendo somente o toque macio da anã como guia, Delvar andou passo a passo, e ouviu uma porta se fechar atrás de si. Beghila o solta, e diz, rindo:
- Não abra os olhos, preciso me aprontar.

O cheiro de flores silvestres perfumava o ar, e o anão concluiu que estava no quarto da anã.

O cheiro das flores o inebriava e estar no quarto de Beghila lhe fomentava pensamentos obscenos. "Para que ela se aprontaria?" pensava... "pode não ser nada do que estou pensando. Pode ser um presente, apenas". Delvar tentou ouvir com o máximo de atenção o que a anã fazia na tentativa de adivinhar.

Curioso para saber do que se tratava, a mente fervilhando de suposições, Delvar se põs a ouvir os sons no quarto. Podia perceber uma certa movimentação, de materiais sendo levados de um local a outro, um livro caindo... um... trocar de roupa?
- Pode abrir os olhos, diz Beghila.

O anão então vê a anã a sua frente, e ela estava vestida como... uma estudante das artes arcanas? Estava com um cajado e um livro de magias na mão, uma saia e um bustier azuis, e um manto por cima, contendo o emblema da Universidade de Magia Azul Celeste.
- Surpreso? Espere um pouquinho ai... – diz, e começa a falar palavras arcanas e gesticular. Após duas tentativas, uma rosa ilusória se forma no ar, vai em direção de Delvar e então desaparece.

Ela se aproxima, pega na mão de Delvar e sorri.
- Estudo na Universidade já faz alguns anos, mas acabei me desanimando, não via o por que de continuar... Mas depois que encontrei você e Elisie, vi a bravura de vocês, isto me deu animo de seguir em frente, retomar meus estudos! Eu não conseguia fazer a mais simples das magias, e agora eu vejo que eu posso! Eu vou me esforçar, para que um dia eu possa me aventurar com vocês!

O anão muito surpreso deu uma sonora e feliz gargalhada - Isso é magnifico, querida Beghila. Muito bela sua magia. Nunca imaginei que você tivesse esse tipo de aspiração - Delvar então fechou o cenho - Mas tens que se preparar ao máximo pois o caminho que sigo é muito perigoso, e apesar de poder parecer glorioso, normalmente não o é.

- Conheço muito pouco dessa sua "universidade", fica aqui mesmo em União? E Kiror, você já conversou com ele? - observava o quarto da anã e as flores que perfumavam o ar.

Beghila fica radiante com os elogios do anão, subitamente o abraçando de felicidade. Porém logo se da conta da impropriedade da situação e se afasta.
- Ah sim, nós anões não somos muito versados em magias, mas nada como uma boa dose de estudo e esforço não possam dar conta – diz, e acena com a cabeça – E também sei que é uma vida perigosa, mas eu sinto que posso ter muito mais da vida do que sendo uma simples atendente de estalagem... Já falei com meu pai, e ele da todo seu apoio... Só a minha mãe que morre de medo que eu saia de casa!

Beghila volta a sorrir, e pega novamente na mão de Delvar.
- Quer conhecer a minha Universidade? Vamos la!

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Saindo por uma portinha dos fundos, Beghila guia Delvar pela cidade até a saída leste de União, logo depois das grandes muralhas de proteção. Localizada em terreno próprio, a Universidade de Magia Azul Celeste tinha uma grande área, arborizada e bem cuidada. A anã levou o clérigo pelas salas de aula, as áreas de treinamento e o zoológico. Comeram no refeitório e passearam pelos jardins.

No final da tarde ambos estavam sentados sobre uma pedra, numa colina bem alta de onde era possível ver grande parte da cidade de União.

Os dois estavam observando a paisagem em silencio, até que Beghila comenta:
- Legal o dia de hoje, eu curti muito! – diz, animada. Porém de repente seu sobrecenho fica cerrado, aparentando preocupação – Hmm... Sobre Elisie... Parece que ela não gosta muito de mim, não é verdade, Delvar?

O anão deixou ser guiado pelo "tour" e observava as coisas com interesse. Nunca tinha entrado em uma escola de magia.

No final da tarde enquanto sentados sobre a colina Delvar respondeu Beghila:
- Eu gostei muito, também. Quanto a Elisie... - o tom de voz do anão fica pesarosa - Ela não teve um pai e uma mãe, e eu e meus irmãos Telmar e Thimon fomos sua família. Telmar foi morto tem 4 invernos e Thimon capturado em um local praticamente inacessível. Sou tudo o que restou para Elisie e eu a tenho como uma filha. Ela acaba lhe vendo como uma ameça, pois supostamente poderia me tirar dela, entende?

Delvar contemplava a cidade pensativo e triste, pois lhe vinha a tona a memória de todos seus familiares, da pedra Mianmar e das atrocidades de "Badur, o terrível".

Beghila ouve a explicação de Delvar com muita atenção e em silencio, surpresa por saber de uma historia tão triste. Ela respira fundo antes de responder.
- Sim, entendo... Agora as coisas ficaram bem claras, agradeço por confiar em mim a ponto de contar algo tão intimo de sua família.

A anã então se aconchega ao lado do clérigo e pega em sua mão. Sua palma era tal qual uma rocha vulcânica, estava quente e era áspera, áspera do serviço árduo ao lado do pai.
- Se existir algo que eu possa fazer para diminuir sua angustia, por favor, diga! Não aguento ver o sempre feliz e animado Delvar triste deste jeito – diz, com a cabeça recostada sobre o ombro do anão.

Delvar agradece as intenções da anã - Tudo bem, Beghila, estar com você me faz muito bem. Além disso, não vou me abater tão facilmente. Eu estou bem, mas espero conseguir juntar forças o bastante para vingar os "meus" e salvar Thimon.

Imaginava, agora, que seus outros dois irmãos que foram para o fronte de batalha pudessem estar vivos e reaparecessem para unirem forças e combater o vil irmão.

Beghila apenas sorri, e silenciosa aprecia a brisa que soprava levemente por entre seus cabelos. Com tristeza ela se da conta de que o dia estava acabando, mas ao mesmo tempo que lhe apertava o coração esta angustia, sabia também que aquele tinha sido um dia especial, que ficaria em sua memoria para sempre. Ela aperta a mão de Delvar com força, como se aquilo servisse para tornar aquelas lembranças algo que não fosse esquecido jamais.

FIM DO INTERLUDIO

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Proxima postagem será em Grupo 1!