Dia 11 de Nightal de 1372 CV
- Quem era aqueele homem? Ele pareeece que não gostou de mim, pareece que não, eu o vi olhando para minha garganta como se fosse um rato particularmente feio que mereceesse ser esmagaado.
Nerók dizia enquanto ele e Johan estavam arrumando seus pertences para partir em viagem com a caravana da senhora Arletha. O goblin, notara Johan, estava bastante preocupado com o que as outras pessoas pudessem pensar dele. A todo o momento Nerók achavam que as pessoas não gostavam de sua presença – e de fato a maioria não gostava -, mas a sua desconfiança era tanto que por duas vezes ele sugeriu que Lonnor, o dono d’O Brasão, queria matá-lo na calada da noite.
Mais tarde eles se reuniram com Ivor em frente a uma mansão de dois andares construída em pedra e madeira, que era nada mais que a residência da senhora de Neve Morta. Uma comitiva de 40 soldados liderados por Mannock, e espalhados em carroças e charretes, enfileirava-se ao longo do pátio frontal à mansão. Mannock veio recebê-los com um largo e afetuoso sorriso no rosto, e o capitão da vigília aceitou de bom grado a inclusão de Ivor na caravana. Uma hora mais tarde os animais que puxavam as conduções começaram o seu trabalho.
* * * * *
Os dias seguintes foram de frio, tédio, medo, expectativa, e mais uma dúzia de sensações e sentimentos diferentes. Por sorte Johan achara que conseguira uma boa companhia para viagem, pois Ivor levava quase tudo na brincadeira e chegava até mesmo a conversar amigavelmente com Nerók, o único a se aproximar de fato do goblin.
O frio aumentou quando a comitiva alcançou a Passagem da Lua. O caminho ficava entre duas cadeias de montanhas, leste e oeste, e o vento batia forte. Eles tinham que passar por trilhas traiçoeiras pelas paredes de um desfiladeiro, onde cavernas congeladas abrigavam tribos de monstros que variavam de orcs a dragões brancos e qualquer descuido poderia ser fatal resultando numa queda de centenas de metros.
- Ás vezes eu me pergunto como seria a sensação de cair de uma altura dessas, o que será que passa na cabeça das pessoas nesse momento em que você sabe que fatalmente irá morrer – Ivor precisava gritar para se fazer ser ouvido, mesmo Johan estando ao seu lado. Além do vento, uma nevasca caía fortemente, dificultando a audição e a visão do grupo de Mannock. – De qualquer forma não pretendo tirar minha dúvida tão cedo.
Nesse momento um rastro flamejante cortou a imensidão branca. A julgar pela velocidade que o objeto tomava no céu só podia ser uma flecha que alguém botara fogo, e isso se comprovou quando ela acertou de raspão a carroça que comportava Mannock. Outros rastros flamejantes surgiram vindo sabe-se lá de onde, e mais flechas por pouco não atingiram algum dos soldados. O capitão começou a gritar ordens de recuo. Havia uma caverna a algumas dezenas de metros a frente, e lá seria um bom lugar para se obter refúgio do ataque súbito o qual estavam sofrendo.
Ivor, por outro lado, havia retirado o arco que portava para revidar o ataque, mas desistiu da ideia ao analisar a situação.
- Que se dane o arco, não consigo enxergar nada a um palmo de distância.
Ele já tinha prendido o arco novamente quando um som ensurdecedor ecoou na montanha.
- Cuidado, cuidado, pedras, PEDRASSSSSS – Nerók gritou enquanto apontava para cima. Uma parte da montanha em que eles estavam desabou acima deles, e pedras do tamanho de casas caíam exatamente no pedaço da trilha que eles seguiam {Teste de Reflexos}. Ivor agarrou o goblin e pulou da carroça, pronto para correr em direção à caverna. Naquele momento de pânico, o mundo inteiro parecia desabar sobre as suas cabeças.
Dia 22 de Nightal de 1372 CV
Cada um reagira à sua maneira com o comunicado da retirada de Harbromm da Confederação das Fronteiras Prateadas. Sophia e Darksol foram os que ficaram mais irritados, enquanto Frafur, calado até então no conselho, tentava digerir essa informação e pensar na melhor solução. Já a cara de Eunsech estava indecifrável, embora fosse de suspeitar de que ele estivesse sonhando em quando seria o próximo banquete, e Belediel não pensara em nada de útil para acrescentar, por isso não disse nada. Drago continuava deslocado de todo o resto, e Tomdrill tentara abordar a questão sob um aspecto mais prático.
Alustriel foi por esse caminho.
- Não sei se o arauto teria algo a acrescentar, mas acredito que algumas decisões minhas tenham desagradado o Rei da Cidadela de Adbar. Devido às longas distâncias que separam os nossos reinos, eu tive que tomar algumas decisões próprias ao invés de consultá-lo, mas isso não cabe dizer mais. O que está feito, está feito. Precisamos pensar no nosso futuro, seja ele com a ajuda ou não de Harbromm.
O arauto não tinha mais nada a informar, e por isso foi dispensado da sala. Só então Helm Amigo dos Anões voltou-se para Alustriel.
- Minha senhora, e se nós devolvêssemos um presente de longa data e de enorme valia que sempre pertenceu por direito à Cidadela Adbar? Estou falando, é claro, de Glanidol, a espada que o elemental de fogo Katon encontrou numa forja abandonada em Fogo Eterno. Talvez esse presente tão simbólico e histórico possa fazer Harbromm mudar de ideia.
- Por um lado você tem razão, Helm. Mas por outro acredito que seria precipitado de nossa parte fazer isso agora. Temos que dar tempo para Harbromm pensar mais sensatamente sobre os benefícios ou prejuízos que a sua decisão acarretará para o seu povo. Por hora não há nada a fazer quanto a isso. - Alustriel voltou seu olhar para os membros do grupo. - Senhores, acho que a reunião por hoje está encerrada. Temos muito sobre o que pensar daqui por diante com essa baixa em nossa força.
Dia 1 de Martelo de 1373 CV
A mulher encapuzada manteve uma voz calma perante o ar indagador do mago.
- Eu ouvi boatos de pessoas más que estariam atrás desse artefato. Sim, pelo que pude descobrir a mão trata-se de um artefato perigoso, principalmente se caísse em mãos erradas. Eu... – ela de repente ficou apreensiva e olhou para o branco invernal do lado de fora da porta
– eu sou uma drow. A moça então abaixou o seu capuz, revelando as orelhas pontudas e cabelos brancos característicos de um elfo negro. Seus olhos eram duas esferas da cor de âmbar claro. Mas ela logo tornou o ocultar o rosto sob o capuz. Drows eram a única raça proibida dentro da Gema do Norte e Ariel se perguntava como ela teria passado pelos guardas e proteções mágicas que haviam.
– Não julgue pela minha aparência. Sei que é difícil acreditar, mas eu saí da minha comunidade para não mais retornar. Tomo como inspiração os feitos do herói do Norte, Drizzt Do’Urden. Você já deve ter ouvido falar dele, não? Foi um grande exemplo de que não devemos julgar as pessoas pelo comportamento geral de sua raça, seja ela qual for. Mas não estou aqui para falar de mim ou de Drizzt Do’Urden. Estou aqui para saber o paradeiro da mão e não deixar que ela fique em posse de quem não deve. Segundo ouvi de uma pessoa numa taverna, a mão foi vista numa loja que vende itens mágicos, mas pelo menos aqui não a estou vendo. Você tem ela com você ou não?