por Soviet Seg Out 14, 2013 12:27 pm
Kara desceu as escadas em silêncio, e da mesma forma subiu em um cavalo, que já estava selado e preparado na rua que ficava atrás da alfaiataria. O céu estava cinza escuro, e neve surgia dele, esparramando-se no chão e começando a cobrir as ruas e casas de Heliogabalus. Aach não disse uma palavra sobre o ocorrido. De cima de seu cavalo, Crvenka se dirigiu para Denir, o homem que a maga viu fazendo sexo com sua própria filha.
- Precisamos passar em sua casa antes de partir. Preciso tratar esta mão.
Após dizer isso, Aach Crvenka virou seu cavalo e bateu com as botas nele, que desatou noite adentro, com Kara, Denir e os outros logo atrás.
Ao redor do cadáver fresco de Duncan, Rakum se arrastou até Hildir, cortando, com mãos pouco firmes e fracas, as cordas que amarravam as pernas do amigo à escada. O esforço havia sido enorme, e o bárbaro não conseguiu fazer nada além de cair de costas no chão e esperar. Esperou por longos minutos durante um silêncio absoluto, durante minutos em que a tristeza era palpável no ar. Rafur pediu por ajuda, e tudo o que Rakum consegui fazer foi virar seu rosto ao anão, impotente.
O halfling notou que havia um risco vermelho no teto. Respingos acompanhavam o espesso risco que cruzava o teto da janela à escada. Não era preciso pensar muito para saber que havia sido aqui que o alfaiate foi morto. O halfling fechou os olhos, e então sentiu suas forças retornando a si, o formigamento nos músculos dos braços e das pernas, os dedos tendo pequenos espasmos. Poucos minutos depois, estavam todos libertos.
O lugar onde Denir vivia era simples e modesto. Sua cama ficava ao lado de um forno de barro, havia uma mesa e cadeiras ao lado de uma janela. O outro cômodo da casa tinha apenas mais camas e um baú, onde as pequenas riquezas desta família eram guardados. Aach estava esperando na mesa quando a filha de Denir voltou com uma bacia de água quente, vinagre e alguns panos limpos.
- Acredito que me excedi - Crvenka disse enquanto a garota limpava os tocos dos dois dedos arrancados pelo mago - Eu sempre faço as coisas sem pensar quando fico excitado com o momento, quando sinto o corpo quente e meu coração forte! Agora, por causa disso, tenho dois dedos a menos.
Aach olhou para Kara e sorriu. Os mercenários haviam ficado do lado de fora, e Denir esquentava vinho para afastar o frio.
- Me disseram que foi o próprio Isaac Nanvador quem lhe atribuiu a tarefa de me levar até o Templo da Benção Noturna em Porlith. Eu imagino a razão de tão alto sacerdote ter tomado para si uma coisa que poderia ser feita por um acólito qualquer... – Aach fechou os olhos no momento em que a menina ruiva apertava as bandagens ao redor da mão do mago. Crvenka suspira profundamente antes de continuar - Eu soube que o templo em Porlith é muito bonito, e que eles tem uma biblioteca incrível lá. Você conhece o lugar, Kara? Estou especialmente interessado em livros sobre a diversidade planar da existência.
Hildir abraçava o corpo de seu fiel amigo e companheiro. O pelo estava empapado em sangue, o corpo estava ficando frio e a língua de Duncan pendia, inerte, para fora da boca. O paladino não se importou com nada disto. Apenas abraçava Duncan. Rakum soltava os outros, que passavam as mãos pelos pultos e tornozelos, onde as cordas haviam feitos marcas e feridas. Hildir, em sua dor, não havia dado muita atenção, mas Thomas, Rafur e os outros notaram que as criaturas de Aach estavam ali, e se movendo entre eles.
Uma busca rápida revelou os equipamentos de todos empilhados em um armário no quarto, as armaduras e armas jogadas no chão. O corpo de Duncan foi ficando cada vez mais gelado e rígido enquanto os demônios se arrastavam pela sala, obstruindo a escada e a janela, cercando a porta do quarto e Hildir, que abraçava o cadáver de seu amigo. Todos notaram que as criaturas não iriam atacá-los até algo acontecer, e isso era provavelmente parte do joguinho doentio de Aach Crvenka.