Ao ouvir a resposta de sua mãe, o corpo de Ayleen congelou na posição em que se encontrava, parando de servir seu café da manhã assim que percebeu que o irmão estava atrás de si. Em uma espécie de desaceleração do tempo, William passou por detrás da irmã gêmea, sentando-se ao seu lado e beijando a sua mão. Seus movimentos pareciam tão lentos que até sua voz ficou enrolada e rouca, Ayleen quase não conseguiu distinguir as palavras que saíam da boca do irmão. Ao forçar se recompor, ela conseguiu colocar sua mente no lugar bem a tempo de reagir à interação.
-Bom dia, querido irmão. - lançou um sorriso discreto para ele e olhou de relance para as cartas ao seu lado, na mesa. William notou-as um pouco depois, especialmente a que tinha seu nome como destinatário. Tentando disfarçar a curiosidade de como o irmão reagiria, ela serviu um chá de ervas na caneca de madeira à sua frente. Os olhos dos gêmeos cruzaram-se brevemente, mas Ayleen tentou manter-se focada em achar desenhos aleatórios no fundo de sua caneca. -
Está cheirando bem esta manhã. - a ironia era clara em seu tom de voz, e não ficou claro se estava falando do irmão ou do lenço que ele tinha nas mãos.
William podia ter seus defeitos, mas ninguém jamais poderia duvidar da sua honestidade. Além disso, sua surpresa foi tão espontânea, que Ayleen de modo algum conseguiria duvidar da história sobre como conhecer a moça da carta.
"Sabia que era Victoria Pardus, sabia!", pensou enquanto mexia seu chá, esperando que esfriasse um pouco.
"Com pude ser tão precipitada? Mamãe tem razão, eu preciso parar de tentar prever o futuro", em sua cabeça, ela já tinha discutido com William mil vezes, não apenas sobre o fato de ela ter invadido a sua privacidade, mas principalmente porque ela 'era uma mulher e devia se por em seu lugar', jamais deveria ter lido qualquer carta sem o consentimento do homem da família.
"Acho que eu estou ficando um pouco paranoica sobre William mudar seus hábitos por conviver com os católicos da corte. Ele nunca foi manipulável a esse ponto, tenho que ser sincera". Ficou perdida brevemente em seus pensamentos, até que sentiu a gata da família, Cherry, cruzar entre suas pernas, roçando o pelo fofo em sua pele, e pulando em seu colo logo em seguida. Era óbvio que a esfomeada queria um pouco de comida, mas Ayleen apenas passou os dedos na mão esquerda entre os grossos pelos.
Enquanto a mãe lia a carta de Victoria, os dois irmãos mais novos entraram no local, o caçula puxando a outra pelo braço Brianna estava tão sonolenta que sequer tinha trocado a camisola. A visão alegre dos dois fez Ayleen esquecer sobre o que estavam falando no momento, e retomou pequenas memórias de anos atrás, quando o pai ainda era vivo, e Bryan um bebê recém nascido. Bryanna era a mais diferente entre os irmãos: embora tivesse os mesmos olhos azuis brilhantes e os cabelos negros, ela era de um tipo de criança mais delicada. Não gostava de cavalgar e adorava histórias de amor sobre príncipes e princesas. Era inocente e tímida, a perfeita descrição de como uma donzela deveria ser. Mas era tão preguiçosa que acabava perdendo um pouco a delicadeza que esperariam dela. Já Bryan era totalmente o contrário, era tão ativo que parecia ter uma energia mágica inacabável. Ayleen lembrava perfeitamente de uma vez que ele correu tanto durante o dia, que simplesmente desabou no chão, cansado, quando ficou 5 segundos encostado em uma parede. Era como se a vida fosse tão emocionante que ele não queria perder um segundo sequer.
Voltando ao presente, Alanis terminou a leitura, já questionando o filho mais velho sobre qual seria o seu posicionamento. Como sempre foram confidentes, e tendo uma espécie de conexão telepática, William e Ayleen trocaram alguns olhares, e ela sabia que ele queria ouvir o que tinha a dizer. Sentiu uma pontinha de orgulho ao ter certeza que Will achava sua opinião tão importante que fazia questão de ouvi-la antes de qualquer decisão.
-Não escrever à donzela dos Parduss talvez possa criar uma má disposição desnecessária entre nossas famílias, isso não seria sensato. - ela bebeu um gole pequeno do chá, fechando os olhos por um instante. -
Responda que gostaria de conhecê-la melhor antes de assumir qualquer compromisso público. O banquete da Primavera será uma boa oportunidade para tal. - Dizendo isto, ela encostou seus lábios na caneca de madeira, mas sem beber do seu conteúdo. Fitou o irmão por alguns segundos, avaliando-o, esperando por sua reação. -
A não ser que tenha outros interesses. Então não deve iludir a pobre moça apaixonada... - E deu um longo gole no chá, sem disfarçar o sorriso nos lábios.
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