Primeiro dia
Um grito estridente de horror fez a espinha de Aeghwynh gelar. Ela observa a parte de trás de um pequeno trono em madeira forrado em vinhas e flores no topo de uma montanha gelada, algo que deveria ser belo. Alguém esta sentado ali com a respiração ofegante. Com foco em uma das vinha percebia que toda sua extensão era repleta de espinhos pontiagudos. O emaranhado verde deslizava vagarosamente, apertando e rasgando a carne de sua “usuária”. O sangue que escorria era captado por plantas bulbosas tal como enormes repolhos macabros e sedentos. Estava agora à frente da cadeira maldita. A mulher arregalou o olho que não estava vedado com o símbolo dO Vidente, e ele parecia vermelho, quase como fogo. Começou a tremer como se em uma convulsão, e então uma das vinhas irrompe brutalmente pelo olho coberto numa pequena explosão de sangue, cérebro e líquido ocular. Na ponta o olho espetado se aproximou de tal maneira que pareceu um floco de neve, e depois emitiu uma forte luz azul. Isso fez com que ela despertasse de mais um de seus terríveis pesadelos.
Desde que nasceu para o mundo com a identidade da sacerdotisa uma intenção de rumar para oeste se formava no âmago da Changeling. Não só a aparência era roubada, mas até os favores do Deus da Antiga Fé se manifestavam em Aeghwynh, tanto é que ela estava se tornando uma Sibyl (um tipo de oráculo), recebendo orientações através dos sonhos, ou pelo menos acreditava nisso.
Um contrato de serviço havia sido firmado entre Magni e Aeghwynh. Ela queria alcançar o posto de observação do Vidente, ou pelo menos havia interpretado isso de seus recentes pesadelos. Eles sairiam na manhã do dia seguinte. Por hora ela dormiria em uma barraca alugada, mas um estranho silêncio tomou conta do acampamento.
A noite gélida havia caído com um silêncio ensurdecedor e um denso nevoeiro naquele fim de mundo chamado Guarnição Oeste. A caldeira não funcionava para amenizar o frio. WhackedSkull e parte do contingente orc, bem como alguns locais, observavam calados e com semblantes sérios o caminho encoberto de neve por onde os mineiros e a clériga do Novo Deus deveriam ter chegado, a aproximadamente 2 horas atrás. O guia da região, Dedoazul, também não dava sinais de vida desde o almoço.
A forja do ferreiro Clockwork, que não se apagava, era convidativa para Rutilo e seu companheiro equino. TT1 era uma agradável companhia metálica naquele fim de mundo, apesar de não possuir um rosto. Algo em sua voz metalizada indicava que ele também apreciava a conversa. Ambos observavam o aglomerado à distância.
Quando ainda era zelador do templo dos Gênios, alguns versos lhe foram ensinados, como se fossem um aviso:
de sangue banhada a pedra na fria noite,
entre cordilheiras nuas, nos cumes agourentos,
na tundra os passos são azarentos
as montanhas escudo se elevam
segregando estepes infinitas
mas o perigo continua latente
no inverno mais contundente
Quando Tarterus se alinhar no firmamento
Com o planeta azul brilhante
Entoado o canto retumbante
Terá inicio o eterno tormento
Suas pesquisas e interpretações do poema convergiram para que ele estivesse ali naquele momento, mas a incerteza do que fazer a seguir era enorme.
Carregava em sua carroça coberta, não o cérebro, mas a cabeça de um dos gnomo ancião de sua antiga aldeia subterrânea. A água mágica de conserva da cabeça se esvaia um pouco cada vez que era emergida do frasco, mas a cabeça podia manter curtos diálogos quando era acionada.
Magni aproveitava suas andanças para, entre outras cosias, coletar cogumelos de fogo, uma especiaria da região do qual é feita a famosa bebida do Taverneiro Irving, a Warmush. Ele ganhava um pouco da bebida pelos serviços, também. Ela deixa o usuário aquecido por até 2 horas, mas devido a sua toxicidade tinha que ser ingerida com moderação. Além dos cogumelos ele se reportava à encarregada das defesas de Guarnição Oeste, a Orc WhackedSkull sobre atividades na região.
Um par de pegadas estranhas que levava a leste foi identificado na neve. Mais Warmush para esquentar as extremidades. Não era humano, certamente, mas bípede, com garras, e deixava uma espécie de gosma preta, tipo um piche, mas com cheiro de carne podre. Seguiu, enfim, para uma saliência na rocha. Era habitada, e logo se deu conta que eram fomorianos. O cheiro era horrível, e havia carcaças, vísceras e fezes espalhadas pra todo lado. A neve havia coberto as pegadas dos fomorianos na entrada, e logo Dedoazul se viu encurralado por um grupo daquelas cabeças de bode que adentrou a caverna.
Carregavam um humano em péssimas condições como prisioneiro. Eles baliam e urravam enquanto açoitavam aquele homem. Eles finalmente o esticaram em uma mesa de pedra, que lembrava vagamente um altar. Um bode de cabeça distinta surgiu de um dos corredores de pedra. Iniciou-se uma conjuração em Dialeto Sombrio, língua sabida por Magni, mas abafado pelo barulho feito pelos demais humanoides. Transcorrido algum tempo da magia, o corpo do homem começou a sofrer mutações terríveis e grotescas, se transformando vagarosamente em uma cópia daquelas criaturas.
Havia perdido a noção de quanto tempo estava ali escondido entre rochas, talvez pela bebida, mas parecia bastante tempo. O novo homem-bode ainda estava amarrado quando um poderoso e amedrontador urro foi ouvido ecoando de dentro da caverna ao passo em que uma lufada de vento apagou todas as tochas. O medo tomou conta daquele bando que disparou para fora da caverna atropelando uns aos outros.
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