Escolhas (Shizukana de Kitsune)

Odo, o Magi que lhe serviu de figura paterna, assim como a colocou do caminho dos Magi, vinha caminhando ao longe, por entre os bambus. Era um Magi já mais velho, mas de alta constituição - mantinha o rosto entre coberto, deixando apenas a parte de cima do rosto aparecendo. Durante o caminho, passava sem ser parado pelas pequenas árvores de bambu. A espada que carregava tinha maior espessura do que as normais katanas, ainda tinha a leve curvatura e ainda era feita de meteorita, mas o uso dos metais fundidos a fazia mais grossa e mais pesada do que as demais, dessa forma, o uso era bastante limitado a alguém com a constituição que Odo possuía. De qualquer forma, essa imagem era bastante familiar para Shizukana, o que tinha de diferente, era uma bolsa de pergaminho presa em sua cintura. A medida que se aproximada, ela pôde ver de forma mais clara, tratava-se de um pergaminho oficiado do império, uma missão.

Só quando estava bem próximo, falou.

- Shizu.

Sentou-se próximo dela colocando a bainha da espada de lado. Não podia ver sua boca, mas pelo olhos e voz gentil, sabia que estava sorrindo.

- Como está?

Enquanto perguntava, desprendia o pergaminho da bolsa em sua cintura. Guardou a bolsa de volta e estendeu o pergaminho para Shizukana. Ela já tinha saído com ele em uma missão, no ano anterior - tiveram que caçar uma ubagabi, muito trabalho para um único monstro, mas Odo era bastante experiente e as instruções ajudaram bastante. O melhor, ninguém saiu ferido da situação e voltaram com o contrato preenchido. Sendo assim, sabia bem o que significava aquela pergaminho, uma nova missão. Mas, não tinha dito nada, apenas o entregou para Shizukana. Não fez menção de lê-lo, apenas entregou e esperou que ela o fizesse. Estaria ali para quando tivesse terminado a leitura.

(Enviado via PM - Manter em segredo dos outros jogadores)

- Shizu.

Repetiu o nome dela, não tinha deixado muito claro, de fato. Mas parecia desapontado, não por ela não ter entendido, mas por ter que explicar e fazer com que chegasse aquela conclusão através de sua explicação.

- Não iremos juntos dessa vez. Tenho outra missão. Não li seu pergaminho e nem poderia, só fui requisitado para lhe entregar. Mas...

Fez uma pequena pausa antes de prosseguir, suspirando. Os rituais pelos quais passavam faziam com que não conseguissem expressar muitas emoções, mas ainda sentiam. Tinha carinho por Shizukana e receio da mesma sair sozinha em uma missão, não era muito fácil ter uma 'filha' nessa profissão, todas as saídas da fortaleza significavam missões, que por sua vez, significavam um risco real de não retornar mais no inverno e o risco parecia aumentar a cada ano. Mas ao mesmo tempo, confiava em suas habilidades. Teria que confiar e torcer para que o melhor se passasse.

- Mas, pelo o que a grande maioria dos Magi da toca da raposa tem falado, acredito que deva ir para a capital. Quase todos estão indo para as proximidades. Não faz muito sentido caçar monstros longe das cidades e amedrontá-los justamente de volta para as cidades. Apesar de não irmos juntos, gostaria de marcamos um ponto de encontro daqui um mês. Acredito que nos encontraremos próximos da capital, na estalagem reservada aos Magi. Pergunte por mim ao senhorio do celeiro, quando for deixar seu Serow.

Tomou um pouco de ar, antes de retornar a falar.

- Por fim... Você precisa de algo?

(Pode interagir o que precisar com Oda ou com qualquer outro NPC na Toca - na próxima resposta, respondo tudo e inicio a viagem - se não houver nada na interação que impeça).

- Boa sorte no caminho, Shizu.

Disse Odo, ainda com certo pesar, mas confiante em Shizukana. Seu receio poderia mesmo ser infundado por conta da proximidade que tinha com a filha considerada, era uma vida difícil, afinal de contas.

Shizukana se preparou o máximo que pôde, como, dependendo da missão, ficariam mais de um ano fora da Toca da Raposa, muito do que iria utilizar ou mesmo onde ficaria, seria decidido no próprio caminho. A vida podia ser bastante imprevisível, assim como a missão que recebera. Considerando tudo, a viagem não era tão longa, mas a medida que fosse chegando cada vez mais ao sul, teria que diminuir um pouco a velocidade, pois cavalgar na neve ou mesmo no impacto do gelo, poderia ser um problema.

Na saída das torres, um Magi bastante jovem lhe entregou seu Serow, bem cuidado e pronto para a viagem - os alforjes que o acompanhavam tinham alguns itens essenciais básicos, comida para um curto período, algumas ervas e outros instrumentos que poderiam ser úteis para o dia a dia de um Magi.

Para quem já conhecia o local, deixar a floresta de bambus para trás não foi uma tarefa difícil. Aproveitando a luz do dia que ainda lhe restava, atravessou um longo percurso e como seguia diretamente para o sul, podia ver ao longe as primeiras grandes construções que serviam à capital. Ainda estavam muito distantes, mas dado o tamanho, o vulto distante do maior farol da ilha lhe permitia se guiar.

Durante essa primeira parte do caminho não era comum encontrar companhia, mas aconteceu. Um outro montado também em um Serow se aproximou, vendo mais de perto - Shizukana notou que também era um Magi de Kitsune. Ele continuou cavalgando, mas colocou-se bem ao lado de Magi de pele avermelhada.

- Que o caminho esteja sendo amigável, raposa. Está indo para a capital?

- Passo pela capital, mas não paro aqui. Má sorte...

Apontou para uma ferida fechada de forma precária na lateral de seu Serow, logo acima da pata dianteira esquerda. Não parecia atrapalhar o caminho do animal, mas ainda assim era uma ferida e que precisava ser tratada ou poderia infeccionar e se tornar um problema para o animal. Agora, vendo aquele homem mais de perto, via que não o reconhecia da escola de Kitsune, mas tinha as vestes da escola e o medalhão, que parecia ser legítimo, pois ressoava com seu próprio.

- Poucas horas depois de sair do esconderijo, passamos rápido demais contra um galho. Mas, melhor parar agora e seguir viagem depois.

Embora o clima da primavera fosse leve e ainda se misturava um pouco com o fim do inverno, Shuzikana passou a sentir um calor inexplicável. Tinha algo a ver com o homem que se aproximou, embora tinha sido cordial inicialmente, seus sentidos Magi apontavam para algo que não estava completamente certo ali.

- Bem, boa sorte na estrada.

Enfim, tudo apontava para algo de diferente, mas ao mesmo tempo, não conseguia apontar de fato o que estava acontecendo de fato. Com o Serow ferido e mancando um pouco, mas não interrompendo o caminho, tomou um pouco mais de velocidade e começou a se afastar de Shizukana.

Ele pareceu incomodado com a decisão de Shizukana. Quase arrependido de ser se aproximado. Era difícil de entender qual era seu objetivo quando se aproximou, já que mostrou-se incomodado com o fato de ela seguir caminho junto. Não respondeu, mas aceitou - pois agir de forma diferente poderia ser suspeito. Seguiu o caminho para o vilarejo próximo, que podia ser visto de um pouco longe e onde já tinha apontado que cuidaria ali de seu Serow.

Esticou o braço, apontando para o vilarejo à frente. E apertou o trote com seu Serow.

- Talvez tenham um estábulo e possam ajudar!

Aumentou a voz para falar e apertou um pouco mais o trote, fazendo o possível para se afastar de Shizukana. Contudo, como seu Serow estava em melhor condições - conseguiu o acompanhar sem qualquer problema. Os sinais de pressa pareciam não terminar, assim que entrou no vilarejo e foram recebidos por um cavalariço. O homem desmontou e entregou o Serow, não correu, mas apertou o passo entrando no estábulo, esperando que Shizukana não o seguisse, ou ao menos parasse para falar com o cavalariço. Ele nem mesmo disse nada ao entregar o Serow, apenas o deixou e seguiu o caminho. Se estivesse se escondendo ou fingindo qualquer coisa, parecia ser péssimo nesse ato.

Shizukana não perderia muito tempo, pois de fato o caminho fazia parte de seu trajeto e conseguiria desvendar algo de muito estranho com aquele homem, se quem quer que ele fosse.

O cavalariço pegou as moedas e as guardou em uma pequena bolsa, agradecendo à Shizukana, que não teve muita dificuldade para seguir o homem que havia corrido na frente. Cruzou com algumas pessoas e cortou algumas passagens, mas o rastro do homem estava fresco e seus sentidos de Magi facilitaram bastante o caminho à seguir. Chegou então até uma estalagem e ali dentro, realmente não teve nenhuma dificuldade para encontrar o fujão.

Ele estava sentado em uma mesa, com o rosto completamente vermelho e quase prestes a chorar.

- Ahhh... Desculpe, me desculpe mestre Magi!

Certamente aquele homem não era um Magi. Ele provavelmente não teve a tenacidade suficiente para manter a mentira. Estava com uma das mãos estendidas e fazendo o possível para que Shizukana pegasse de volta o medalhão de raposa que ele estava usando anteriormente. Era uma questão de descobrir de quem ele havia roubado aquele medalhão e por qual motivo achou uma boa ideia se passar por um ser no qual no primeiro desafio, seria descoberto. Agora que a farsa estava desfeita, ele realmente parecia fora de lugar usando algumas daquelas roupas que eram dedicadas aos Magi de Kitsune.

- Por favor, não queria ofender a raposa de Imabari! Por favor, por favor!

A estalagem não estava muito cheia, mas os poucos clientes olhavam curiosos tentando entender o que estava acontecendo ali.

Ele colocou o medalhão na frente de Shizukana e o empurrou para ela, para que pegasse o mesmo de volta. Esfregou os olhos cheios de água, tentando se acalmar e colocar a cabeça no lugar para que pudesse se explicar, toda a situação lhe indicava que a charada tinha acabado. Ele puxou um pouco para o lado o manto de Kitsune que estava usando e Shizukana podia ver por baixo do manto que usava um traje do exército imperial. Ele mostrou rapidamente e tão logo escondeu. Era um desertor... Um desertor bastante recente.

- Eu encontrei... Na estrada. Ele já estava morto, eu juro. Foi o império, mas eu não tenho nada a ver com isso, só encontrei ele assim e... E... Ah, me desculpe.

E novamente os olhos se enxeram de água.

As ilhas de Hagakure eram um lugar duro, se você escolhia uma vida militar - certamente teria uma vida sofrida, talvez as escolhas que aquele homem fez não o levaram para o caminho que esperava e agora tentava fugir da situação, inicialmente, tentando se passar por um Magi. Algo que, se não estava apto para ser um soldado, nunca seria também um Magi.

- Eu ia cuidar do Serow, juro que ia!

Podia tentar acalmar aquele homem e fazer perguntas mais diretas para entender o que aconteceu. Mas no geral, era comum esse tipo de ladrão de estrada. O que não era comum, era como havia contado a história - dizendo que o império havia matado um Magi.

Ele pareceu um pouco aliviado quando Shizukana pegou e guardou o medalhão. Assentiu em todas as vezes que ela falou, não respondeu sobre motivação do império - mas quando comentou e pediu que lhe disse onde e como o Magi de Kitsune foi encontrado, o qual ele tinha roubado os pertences, balançou a cabeça positivamente e baixou a cabeça, em respeito. Ele se levantou, imaginando que seria exatamente agora que ela iria querer saber do local, e apontou para a saída da estalagem, logo seguindo.

- Não está muito longe de onde falei com você... Eu vou te mostrar, mestre Magi!

Ele seguiu a pé, não era seu Serow e claro, o animal estava ferido. Mas Yukan, por outro lado, vendo que Shizukana estava de saída, a seguiu à distância. O animal era inseparável de seu Magi e embora seguissem a pé até o local onde o homem mostraria o ocorrido, ele estaria próximo, caso precisasse. O caminho não se demorou, realmente era próximo de onde estavam - não tão próximo, ele se manteve em silêncio e pareceu bem apressado para chegar, considerando que estavam indo a passos rápidos, foi uma caminhada de uns trinta minutos. Ao chegarem, Shizukana viu um corpo coberto, apenas o rosto estava de fora. Não era muito próxima do homem, mas reconheceu que era realmente um Magi da escola de Kitsune - não era um dos mestres, mas já tinha alguns anos na escola e já tinha participado de várias caçadas.

De pé, ao lado e parecendo performar algum ritual póstumo, um grupo de pessoas de robes vermelhos e amarelos. Shizu conhecia bem aquele grupo, um culto religioso que fazia o possível para crescer, mesmo que passando por cima de outras crenças. Era o Culto do Fogo Eterno. Os Magi tinham seus próprios rituais póstumos, aquele Magia deveria ser cremado junto dos seus ou enterrado aos pés da floresta de bambu.

Shizukana poderia intervir ali ou apenas investigar o que tinha acontecido - ou ainda, por fim, seguir seu caminho com a missão inicial.

O homem não se aproximou muito, mas apontou para o corpo - e falou baixinho:

- Foi aqui que o achei. O Fogo Eterno não estava aqui na hora...

O soldado desertor agradeceu, curvou-se em respeito e correu dali, seguindo o conselho da Magi.

Uma daquelas pessoas ao redor se aproximou, usava os robes um pouco diferente dos demais - ao invés de completamente vermelho, tinha uma passagem branca com a cruz do fogo eterno no centro. Ele se aproximou de Shizukana calmamente, mas ela conhecia bem o tipo. Fanáticos religiosos e políticos eram o tipo de pessoa de que todos os Magi concordavam em manter distância. Eram esguios e perigosos, não importa o quão calmos e compreensivos pudessem parecer, sempre havia um motivo oculto em suas intenções, sempre havia um segredo ou um problema.



- Vejo que é uma companheira do homem falecido. Infelizmente já iniciamos nossos rituais para que o corpo desse pecador seja aceito pelo Fogo Eterno e enfim, salvo dessa vida infame! Você poderá acompanhar à distância.

O que eles faziam, não era contra a lei. Era contra uma tradição dos Magi, mas não necessariamente estavam cometendo um crime. O Imperador com seus decretos declarou livres religiões em toda Hagakure, então na teoria eles estavam livres para realizar aquele tipo de ritual. Como era muito dificil para os Magi comprovar qualquer relação familiar, já que a maioria era orfão, não havia muito espaço para argumentação.

O Serow que havia sido ferido tinha sido tratado pelo cavalariço e com a ajuda de Shizukana, seguiu seu caminho. Vagarosamente, pois ainda sentia a ferida puxar. Shizukana viveria com sua decisão, não tinha como saber se foi acertada ou não, mas a vida de um Magi era isso, seu companheiro morto sabia o que havia escolhido e sabia que poderia simplesmente morrer em uma sarjeta qualquer. Com sua nova escolha e seguindo o caminho para sua missão, avançou o máximo que pode antes de parar novamente.

Notou que, a medida que se aproximava de seu destino na capital, via que a vegetação ia se tornando cada vez mais decadente. Árvores perdiam as folhas e adquiriam um tom avermelhado, não estavam exatamente secas, como seria o processo natural da flora, mas podres - como se enxarcadas de água e mortas. Havia também um leve cheiro adocicado no ar por conta disso.

Shizukana parou algumas vezes no caminho para descansar e conseguiu ver mais de perto e com calma essas plantas, mas não havia nada de específico que lhe apontasse a causa. A única correlação, era o aumento de 'civilização', mas já havia estado na capital antes e foi a primeira vez que notou esse tipo de situação.

As cinco torres de Imabari, morada dos Magi de Kitsune e sua floresta de bambu eram grandiosas, mas era impossível comparar-se à capital do Império. Torres complementares eram colossais e as ruas largas e movimentadas fervilhavam de pessoas. Era de fato o centro das ilhas e reunia todo o tipo de pessoas. Via até mesmo pessoas bem diferentes do fenótipo comum das ilhas, homens e mulheres de cabelos claros como a neve, assim como homens e mulheres de pele escura como a terra vermelha.

Não havia muitos detalhes de quem procurar para seguir com sua missão, mas talvez o caminho mais rápido fosse ir diretamente para o palácio e procurar alguém que pudesse lhe ajudar ali mesmo. Talvez um oficiado. Haveria de ter alguém que pudesse indicar-lhe, ainda mais por estar com o pergaminho com o selo do imperador.