Capitulo Um - Intrusos.

Havia certa indignação na turma quando ele falou, com alguns comentários baixos. Outros alunos manifestaram o apoio a Shelby, ocasionalmente soltando um comentário malcriado. Era costume nos alunos aquele comportamento em aulas que o professor não era tão rígido assim. A única pessoa que não manifestou nenhuma expressão, além de Brenna, fora a russa, que parecia mais interessada em rabiscar alguma coisa no caderno.

O professor olhou o aluno com um olhar sereno e depois para Shelby. Dificilmente aquele homem parecia surpreso ou irritado com qualquer coisa, especialmente alunos. Quando a pequena discussão teve seu fim, o padre limpou a garganta e pronunciou-se com a voz calma.

-- Não pode sair antes do termino da aula, senhor Orcus. Estuda aqui a tempo suficiente para saber disso, suponho. Sente-se em seu lugar, por gentileza.

Depois de falar, o professor voltou a atenção para os alunos que chamavam-o. Nesse momento, Lilya cutucou Anna que parecia ter problemas com as respostas e passou um pequeno pedaço de papel a ela. Quando viu o que era, agradeceu e depois de usar passou a namorada. No pequeno papel, havia as anotações de onde estavam as respostas.

Depois daquele pequeno empurrãozinho, a morena se virou para Shelby, rindo.

"Cuidado, esse professor que temos que expulsar pode ser muito rígido as vezes. E bem mandão. Vamos tomar cuidado."

"Não deviam trapacear, mas desde que não fazem nas provas, esta tudo bem. Espero não me arrepender da ligação."

A moça deu uma risadinha e revirou os olhos. Era evidente que ela esperava algo do tipo e se divertia com a resposta. Depois, suspirou e pronunciou-se mentalmente a eles.

"Shel, o que acha da exibição? E depois nós que somos exibidas..."

Era evidente na expressão do professor o desagrado com a saída do garoto, mas era obvio para qualquer um dos alunos mais antigos que o grande problema do garoto seria o inspetor. A maioria sabia do tipo de detenções que o homem aplicava e alguns já haviam sofrido com elas. Ninguém sentiria inveja do rapaz mais tarde, com toda certeza. Alguns dos alunos mais antigos trocavam pequenos sorrisos enquanto comentavam "Argos adorará punir ele" ou "Espero que Argos não tenha pena". O inspetor não era exatamente mal, apenas excessivamente severo nas punições e um pouco sádico. Se o rapaz tivesse sorte, talvez conseguisse algo mais leve como retirar pelos de gato das poltronas utilizando uma pinça. Sempre tinham mais opções e muitas dessas envolviam os alunos precisarem ir até a enfermaria depois, mas naquela manhã as mentes dos alunos ainda não estavam totalmente "sincronizadas" com as medidas disciplinares do homem. De qualquer coisa, uma coisa era certeza absoluta: Dis ia ser pego pelo homem e punido, o que pioraria quando ele descobrisse o restante da historia.

Lilya, do lado de Shel, deu um sorriso enigmático e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. Em seu dedo médio da mão direita, estava o anel que permitia a comunicação com os demais. Estudando ali a quase dez anos, já havia aprendido muito bem o que acontecia com alunos que agiam daquele jeito. Mas não parecia estar exatamente se divertindo com a situação... O mais provável é que estivesse com pena do garoto.

"Não se esqueça, querida Shel, de nosso adorado inspetor com pequenas tendencias sádicas."

A russa parecia razoavelmente tranquila com aquilo e assumiu um ar pensativo pouco após. Talvez estivesse planejando ou tentando lembrar de alguma coisa importante. Quando Brenna falou com Anna, ela estava trabalhando ainda com as respostas que Lilya havia passado e olhou para a namorada, balançando a cabeça. Mostrou a garota que estava respondendo a última questão ainda, mas estava quase no final.



Dis havia saído a pouco da sala de aula e se dirigia a, provavelmente, sala de artes para realizar o desenho. Dificilmente aquela sala estaria aberta naquele horário, pois normalmente abria apenas para o clube de artes e no final da tarde. Se estivesse aberta, alguma turma estaria em aula lá dentro naquele momento. O bruxo sabia que, a qualquer momento, o inspetor poderia aparecer e ai ele teria problemas.

Lilya simplesmente olhou a amiga com toda calma do mundo e esboçou um sorriso delicadamente maldoso. Os olhos pareciam cintilar sob a perspectiva de alguém ser pego e parecia saber de mais alguma coisa que não havia contado a amiga. Antes que a russa pudesse falar qualquer coisa, porém, a voz de Jace "reapareceu" na mente de ambas. Parecia tão calmo quanto o de costume, apesar do tema não ser tão... Agradável ou mesmo fácil de se discutir.

Ele poderia até resolver tentar, porém ainda é jovem demais para ter poder para fazer alguma coisa que seja realmente perigosa. E dependendo de com o que se meta, é mais provável que morra ou se transforme em um escravo.

Querido, já te contei o quão otimista você é?

Até a russa falava com aparente calma e neutralidade. Mortes por uso excessivo de magia ou por se meter com algo que não controlava era absurdamente comum no meio arcano, o que fazia que a ideia de Jonathan não fosse estranha a nenhum dos três. Mas a calma com que eles falavam era.



Anna havia terminado de escrever a última linha da resposta e fechou o caderno e o livro, parecendo aliviada. Sorriu para a namorada, tocando a mão dela delicadamente e afagando-a, antes de se voltar para as duas garotas sentadas atrás delas. Das duas, Lilya certamente parecia ter um ar conspirador, como se estivesse tramando alguma coisa.

- Escute, vocês são daqui a algum tempo, certo? É muito difícil fazer amizades por aqui ou sei lá?

- Não seja como aquele cara que acabou de sair que consegue amigos fácil... A maioria aqui se conhece a algum tempo, mas aceita fácil novas pessoas nos círculos de amigos se não forem uns idiotas.

O sotaque meio russo meio inglês estava um tanto evidente ali, mas não muito forte. Provavelmente a garota passara muito tempo em ambos os países, mas também já vivia o suficiente ali para que o sotaque enfraquecesse.




Os quartos e dormitórios estavam vazios quando o garoto chegou. Já haviam arrumados as camas e banheiros do lugar, o que significava que aparentemente nenhum funcionário iria aparecer ali nas próximas horas e dificilmente algum aluno também apareceria, deixando o rapaz livre para fazer o que queria.

A russa tinha um talento nato para ironizar quase qualquer coisa ou fazer piadas de alto humor negro quando estava irritada, o que não acontecia muito - exceto quando as garotas extrapolaram os limites e davam descaradamente em cima de Jonathan - ou quando pessoas de quem ela não gostavam faziam algo tolo ou se davam mal - mas era difícil ela não gostar de alguém. A acidez frequente entre ambos era um reflexo de o quão a vontade ela se sentia para liberar um pouco seu nervosismo quando os outros estavam por perto. A jovem mexeu nos cabelos, com a voz de Jonathan ecoando.

Otimista ou não, é a verdade. Você conhece bem os meios de atuação demoníaca, uma vez que seu pai te obrigou a estuda-los.

Sim, esse é um dos maiores motivos para mim querer aprender a expulsar demônios. Pena que é uma magia difícil e não posso praticar como queria na sua casa.

Metamagia era a especialidade de Lilya, mas ela treinava escondida da família de Jonathan. Isso acabava dificultando ela a aprender novos rituais e magias, mas em compensação os livros que ela tinha acesso lhe permitiam um ótimo conhecimento teórico da magia. Talvez a amiga pudesse lhe ensinar um pouco daquela rara forma de magia, que moldava e controlava a própria magia.

- Peltrow. Meu sobrenome é Peltrow. - A garota respondeu com a voz calma e controlada. Era uma família rica e até importante, apesar de não tanto quanto a de Shelby, Jonathan ou Lilya. De todo modo, a garota possuía um sobrenome.

- Dis é uma pessoa muito complicada e difícil de se conviver, mas o primo dele é adorável. Deverim tentar fazer amizade com ele ou com Oliver. Os dois são bem populares, mas por causa da personalidade deles.

Quando falou, indicou ambos os garotos. Em ambos os casos, eles conversavam com amigos e interagiam com a turma. Pareciam alunos perfeitamente normais, como se n.ão estivessem em um colégio como aquele. Nessa hora, uma espécie de onda de energia atingira Brenna e causara uma sensação estranha. Não era exatamente desconfortável ou ruim, apenas não sabia dizer o que era ou o que causara.

Shelby sentia a liberação sutil de uma magia, mas não parecia estar próximo a elas e era muito difícil intuir a direção que ela vinha.



A lembrança tinha algumas falhas, pontos que ele não conseguia vislumbrar com certeza... Mas Dis podia desenhar com alguma precisão o que vira aquela noite no sonho. Apenas demoraria algum tempo para pintar tudo, mas sabia que era capaz.