A Iniciação

- Tenho esperado anciosamente por esse dia, pai. As vezes duvidas vem a minha cabeça, será que serei capaz de passar por esses desafios? Será que conseguirei me tornar um homem adulto perante a tribo? - Diz ele olhando pra cima em direção ao rosto de seu pai.

"Se você tem duvidas sobre a sua capacidade, eu não tenho nenhuma", afirma Osaw. "Deixe que os seus instintos o guie na hora da provação e liberte sua mente de qualquer outro pensamento. Foque no que você tem que fazer e tudo ocorrerá bem." Osaw passa a mão na cabeça do filho antes de se retirar para seus outros afazeres.

Zadir conseguiu terminar sua lança a tempo para o Grande Dia. Poucas vezes o jovem garoto viu a aldeia tão movimentada, afinal ele não seria o único a passar pela provação naquele dia. Ched, um garoto de sua mesma idade e de sardas pontilhando seu rosto, e Yawo, um garoto um ano mais velho, seriam seus companheiros de caça. Yawo era alto e magro, e já havia feito o teste no verão anterior. Porém ele havia fracassado e agora mais uma vez tentaria a sorte. Suas famílias encontravam-se no centro da tribo, onde uma fogueira já estava acessa esperando pelo animal que seria assado mais tarde, se tudo desse certo. Osaw deu uma última palavra de confiança ao filho antes de entregar-lhe aos cuidados de Raksh, o experiente guerreiro que guiaria os rapazes através da mata para o grande teste.

"Está na hora de ir", a voz de Raksh era grossa e mostrava que ele não estava para brincadeiras. "Acompanhem-me a partir de agora." O guerreiro começou a fazer o trajeto até a densa floresta que delimitava o território seguro da aldeia. Ched, Yawo e Zadir seriam os únicos a acompanhá-lo.

Porém no meio do caminho uma última pessoa veio se despedir de nosso herói. Era Isi, uma jovem de 14 invernos recém-completados. Seus olhos tinham a cor das folhas e seu rosto possuía traços finos e delicados. Ela levava uma flor à cabeça presa por um cordão simples de cipó.

"Boa sorte, Zad", diz ela, timidamente.

Zadir fica um pouco vermelho, por um momento fica sem o que falar, mas por fim diz:

- Obrigado, Isi. Voltarei com mais uma flor pra você botar no cordão - Diz ele.

Isi sorri – ainda de forma tímida – e retorna para junto de sua família.

Já a Zadir coube tentar voltar o seu foco a tarefa que teria pela frente. Ele ainda não sabia que animal seria caçado, cada ano era um diferente. O caçador da tribo – Raksh - era quem sempre guiava o grupo de meninos através da mata e decidia ali na hora qual seria o animal da vez. Podia ser um javali selvagem ou até mesmo um tigre. Embora já tivesse havido mortes de garotos, isto não era comum pois o caçador sempre estava a postos para intervir se as coisas estivessem saindo errado. Nestas circunstâncias os meninos em questão eram reprovados no teste e só poderiam participar novamente no inverno seguinte, que era exatamente o caso de Yawo. Ele teve que enfrentar um lobo adulto sozinho e por pouco não morreu, embora tivesse perdido a orelha direita com a mordida do animal.

"Estou com medo", confessa Ched, o garoto das sardas. Raksh estava bem à frente dos três cortando caminho entre as árvores e ele não poderia ouvi-los mesmo com a sua audição aguçada. "O que será que teremos que caçar? Um lobo?"

"Torço que não", diz Yawo. "Preferia enfrentar um dinossauro, mesmo com a ira de Ubtao, do que um lobo novamente."

- Estou ancioso, quero ver que tipo de animal vão mandar a gente caçar. Acho todos aqui não iriam querer pegar um lobo pela frente - Fala Zadir.
Seu coração pulsava forte em seu peito, era uma sensação estranha. Era como se seu corpo já estivesse se preparando para o que iria acontecer.

A esta altura o caçador já havia adentrado tão fundo na mata fechada que desapareceu de vista. Porém seus passos, e principalmente seu facão cortando plantas e abrindo caminho, eram facilmente ouvidos e era por esses sons que os garotos se guiavam. Repentinamente, tudo se silenciou. Apenas o zum-zum dos insetos era ouvido. Mas após percorrer mais alguns metros, os meninos avistaram Raksh parado atrás de uma árvore, observando alguma cena que ainda não era visível aos garotos.

O caçador se virou para os três e fez sinal para eles se aproximarem silenciosamente. Quando Zadir chegou próximo bastante, ele viu um urso adulto deitado no tronco de uma árvore. O animal estava numa pose engraçada e parecia completamente inofensivo daquele jeito, embora ele estivesse acordado.

"Este é o desafio de vocês", diz Raksh, bem baixinho. "Cacem o urso e voltem para a tribo como homens. Percam o desafio e voltem para a tribo como os garotos que são. Vocês podem criar alguma estratégia em conjunto para terem êxito."

"Eu irei ficar mais atrás", trata de afirmar logo Ched. "Estarei arremessando minhas azagaias nele". O garoto sardento tinha vindo carregado de uma meia dúzia de azagaias. Já Yawo possuía uma longa lança, da mesma forma que Zadir.

Zadir olha ansioso pra Yawo e fala:

- Vamos nós dois atacar o urso e o Ched fica de trás atirando com a azagaia.

Ele empunha o escudo e a lança curta e avança pra cima do Urso e o ataca.

Spoiler:

Sem esperar pelos outros, Zadir avança em direção ao urso. Sua lança bate no tronco que o animal estava deitado, e o urso negro se levanta soltando urros de raiva. O jovem garoto pôde ver a força do animal quando ele tentou lhe acertar com uma garrada. A garra bateu em seu escudo e arrancou um naco considerável de madeira dele. Ched avançou poucos passos para arremessar sua azagaia, e a arma atingiu o fronte da presa. Tawo, assim como Zadir, também investiu, e sua longa lança perfurou a lateral do animal. O urso agora sangrava e estava mais furioso do que nunca.

O garoto sente a força do impacto do golpe da pata no urso no escudo, mas não recua. Ataca novamente.

Spoiler:

Zadir erra novamente seu ataque, e o urso furioso, se empinando em duas patas, desfere duas garradas contra o garoto. A primeira atinge o rosto de Zadir, enquanto a segunda é desviada pela lança. Ched dispara mais uma de sua azagaias, mas a arma passa longe e se perde no meio da mata. Yawo também tenta estocar o animal acuado com a sua lança, mas não obtém sucesso.

PVs:

Zadir sente a dor e a ardencia do corte do Urso na sua face. Isso o faz ficar irritado e ir pra cima de novo.

[spoiler]

Ataque: +4

Edu efetuou 1 lançamento(s) de dados (d20.) :

11

Dano: +3
Edu efetuou 1 lançamento(s) de dados (d6.) :

5

Ched dispara mais uma de suas azagaias, mas ela apenas resvala no tronco da árvore e se perde na mata mais uma vez. Yawo consegue acertar o flanco esquerdo do animal e a força do golpe faz o urso negro perder o equilíbrio. Ele iria cair em cima exatamente de Zadir, com as duas garras expostas e a mordida preparada para abocanhar o jovem guerreiro. E foi isso que ocorreu. Ched soltou um arquejo ao ver a cena se desenrolar, e Yawo largou sua lança com uma expressão assustada com o que tinha acontecido. O urso caiu em cima de Zadir e ambos tombaram ao chão de terra. Quando esperava-se que o nosso herói tinha sucumbido, eis que ele, com toda a sua força, ergue o urso apenas para que ele próprio pudesse sair de baixo do animal.

Ched aproxima-se do urso.
"Está... está morto."

Uma lança estava partida pela metade e enterrada no animal. Zadir, quando viu que o urso iria cair sobre ele, preparou sua lança e fincou-a no coração do urso, matando-o antes mesmo que ele caísse no chão. Sua lança havia se quebrado e o peso do animal podia ter deslocado um ou dois ossos de seu corpo, mas o desafio estava vencido. Yawo, ainda assustado, pergunta:
"Como você fez isso?"

Zadir respira aliviado. Sente dor no braço por causa do peso do urso. Quando o animal caiu em cima dele com as garras e unhas já armadas acreditava que tinha morrido mesmo que em reflexo rapido tivesse colocado a lança pra pefurar a barriga do bicho. No entanto estava muito feliz que tivesse sobrevivido e terminado o desafio. O garoto ouve a pergunta de Yawo e responde:

- Foi sorte, quando eu vi ele caindo daquele jeito sobre mim só pensei em levantar a lança daquele jeito e para-lo.

O Raksh se aproxima do trio de garotos para parabenizá-los pelo seu feito. Depois ele se vira para Zadir:
"A garra do urso penetrou fundo aqui", ele aponta para a bochecha do garoto. "Vou tratar desse ferimento, mas talvez fique uma cicatriz." O caçador não demora muito para encontrar plantas e ervas medicinais, e ele logo trata de passá-las no rosto de Zadir. O garoto sente um ardimento leve no ponto do machucado, e depois de uma meia-hora Raksh conclui seu tratamento. "Agora vamos retornar para a tribo. Suas famílias o esperam para recebê-los de braços abertos", diz ao mesmo tempo em que colocava o urso sobre os seus ombros fortes.

Tendo o desafio sido vencido, a caminhada de volta foi leve e divertida. Logo eles chegaram a tribo do Clã Zimwa, onde todos os integrantes os estavam aguardando. Osaw estava de pé ao lado da fogueira e abriu os braços ao ver seu filho retornando. Ele dá um abraço paternal em Zadir, e em seguida diz:

"Eu disse que confiava em sua capacidade. Agora você é um homem feito, pronto para assumir responsabilidades e cuidar de sua própria família, se for vontade sua. Estou orgulhoso de seu feito." Ele olha para a lança quebrada do filho. "Não se preocupe com isso, darei um presente para você depois que a celebração toda estiver encerrada."

Zadir abraça o pai feliz.

- Pai nem acredito que eu passei no desafio. Por um momento eu achei que ia morrer. - Desabafa Zadir feliz ainda nos braços do pai.

Aquele era um dia incrivel pra ele. Só faltava Isi pra torna-lo mais feliz ainda. O garoto com o olhar começa a procurar pela menina.

Isi estava ao lado de sua família e o olhar dela se encontrou com o do nosso herói. A jovem menina acenou com a mão para Zadir, mas ele não teve tempo de ir falar com ela, pois neste momento começaria o rito de passagem que marcaria o fim da vida infantil daqueles três garotos.

Todos os membros do clã se sentaram envolta do fogo comunal e se deram as mãos. Em uníssono, eles começaram a rezar agradecendo as selvas de Chult por ter lhes fornecido uma vez mais a benção da comida. Enquanto o urso começava a ser assado na fogueira numa ostentação de madeira, as pessoas passaram a queimar as extremidades de pequenos ramos e então desenhar padrões intrincados ao redor de seus olhos. Tudo isso fazia parte do ritual.

A partir dali foi a hora de saborear o alimento caçado. O urso não seria o suficiente para preencher a fome de todos os presentes, portanto mais dois carneiros foram trazidos. As pessoas conversavam animadamente ao redor da fogueira enquanto comiam, e Zadir ouviu Yawo contar repetidas vezes sobre a batalha triunfal que tiveram naquela tarde. Mas a cada vez que Yawo recontava a história, ele adicionava alguns detalhes que não haviam existido, tudo isso para vangloriar-se ainda mais do seu feito. Por todo o momento da celebração, Isi e Zadir, que estavam um de cada lado das chamas, trocaram olhares e sorriram um para o outro.

Já de noite, Raksh se levantou e pediu a palavra. Ele dedicou suas palavras a Zadir, Yawo e Ched, e declarou o que todos esperavam. Eles agora eram homens perante a tribo. Eles teriam a incumbência de caçar o alimento, de explorar as terras ao redor e proteger a tribo de qualquer inimigo. Aos poucos, as famílias foram se retirando para suas humildes casas.

Mas Zadir ainda teria um último motivo para alegrar-se com a noite. Osaw, após ter se retirado por um momento, retorna para perto do filho desta vez trazendo uma lança em suas mãos.
"Esta é Aram, um tesouro de nossa família que é repassado de pai para filho", explica Osaw com um sorriso carinhoso no rosto. Ele entrega a arma para o filho. A lança era mais leve do que uma lança comum e sua madeira estava impecável, sem nenhum arranhão ou fiapo solto. "Aram significa sol num dialeto antigo e agora estou repassando este tesouro para você. Cuide bem dele." Zadir reparou também em palavras escritas em chultian ao longo do cabo. Os dizeres eram os seguintes: