Capítulo 4 - Conclusões

Frac não tinha medo algum do sacerdote e diz:

-Se ele diz ter poderes para curar então prove, cure os ferimentos daquele maldito pirata ali e veremos se está falando mesmo a verdade.

Nesse momento o contramestre girava a adaga cega nas mãos e apontava para o cozinheiro, uma torturazinha naquele momento faria o sentir melhor, mas precisava ser inteligente e aproveitar o que tinha ao seu dispor. E isso o fazia se lembrar do capitão e sua mancada frente ao código pirata. Pelo que o contramestre tinha de experiência os marujos poderiam estar bolando alguma coisa e era preciso ficar atento.

- Tragam o cozinheiro até aqui e desamarrem o sacerdote - ordena o capitão.

Raggeti se dispõe a soltar as cordas da cadeira enquanto Albett ajudava a locomover Salaman até que este ficasse a frente do sacerdote. O servo de Umberlee avalia os ferimentos da perna do cozinheiro e faz uma oração rápida e silenciosa antes de tocá-la. Um pequeno ferimento se fecha sozinho e instantaneamente.

- Humnmn... Se sente melhor, cozinheiro? - pergunta Roosevelt.

- Um bouco senhor, um bouco... - dizia Salaman com o seu sotaque estrangeiro.

- Tão vendo só, ele possui poderes milagrosos - foi a vez do mestre carpinteiro falar. - Ele certamente é um enviado de seu deus, um escolhido eu diria, e não podemos simplesmente descartar sua ajuda.

O contramestre fica parcialmente satisfeito e então diz:

-Está comprovado que o que ele diz é verdade, é evidente que ele pode curar as pessoas mas também acho que ele pode fazer mais do que fez agora. Agora, capitão, está nas suas mãos decidir por agregar o maldito ao Marlin Negro ou matá-lo agora.

A decisão era do capitão apesar de dar plena razão ao carpinteiro de que seria bastante útil. Se o contramestre tivesse essa ajuda desde que entrou na ilha teriam acabado com os esqueletos sem maiores problemas e na metade do tempo.


E com relação a essa minha doença, pode fazer alguma coisa?

- Sim, claro - responde o sacerdote ao Frac.

- Façamos isso justo, contramestre. Faremos uma votação. Levantem a mão quem é a favor de sua admissão?

Raggeti é o primeiro a confirmar seu favorecimento a adesão do sacerdote no navio. Salaman, recém-curado, também levanta a mão. Surpreendentemente o próprio capitão ergue seu braço no ar. A seguir ele olha para o contramestre, esperando que ele fizesse o mesmo. Albett e Royce pareciam estar na dúvida se levantavam ou não.

- E quem é contra? - pergunta o capitão.

Hymma ergue seu braço no ar seguindo a lógica de seu amigo Dyke.

Frac ergue o braço e diz:

-Voto para sua admissão mas se não cumprir com sua palavra vou ser o primeiro a fazer picadinho dele e se juntará a minha coleção.

Ele falava muito sério ao mesmo tempo em que usava a outra mão para tocar em seu colar de dentes.

Dyke olha para Albett e Royce e arregala os olhos em seguida comenta, com as mãos em volta da boca, baixo apenas para que Hymma o ouvisse:
- Se esse maldito sacerdote entrar para a tripulação nós estamos ferrados, ele é bem resistente,quase não caia e ainda botou o Frac pra correr.
Dyke começa falando sério, mas acaba soltando o riso quando lembra do contramestre fugindo.

Albett e Royce entendem a mensagem de Dyke e os dois levantam a mão se mostrando contra a admissão do sacerdote.
- Ora, ora, ora, se eu contei direito parece que temos um empate - diz Roosevelt. - Olha que engraçado, neste caso a decisão recai sobre mim, ha ha ha. Seja bem-vindo a bordo do Marlin Negro, sacerdote miserável.

- Às suas ordens, capitão - diz o homem não conseguindo esconder seu sorriso de satisfação.

Dyke desconfiava que o capitão fez isto na intenção de adquirir um possível aliado para protegê-lo contra o motim. E isto o faz ficar com raiva de Salaman, o cozinheiro que votou a favor do sacerdote e que permitiu toda esta situação.

- Ei vocês dois, encontraram a sala do tesouro? - pergunta Roosevelt.

Hymma balança afirmativamente a cabeça.
- Precisaremos de alguns sacos e baús para carregar tudo - diz o vigia.

- Ótimo. Eu, o contramestre, o mestre carpinteiro e o sacerdote iremos pegar todo o ouro. O resto de vocês podem voltar para o porto, mas o porto mesmo, não aquela caverna escondida a qual eu e os outros entraram anteriormente. Acho que precisaremos fazer algum sinal no céu para que o imediato veja e se aproxime. Vamos - diz ele para o grupo de pessoas que chamara.

Sim capitão! Responde o Contramestre.

-Creio que conseguiremos esses baús e sacos naquela sala por onde passamos. Vamos logo, essa ilha já está me enchendo.

Dessa forma ele segue na direção de onde ficava a sala.

- Um passarinho me contou que a tripulação planeja um motim contra a minha pessoa - revela Roosevelt quando o seu grupo já estava longe dos outros. - Rá! Vê se pode, aqueles cães sarnentos querem me tirar da liderança só porque eu matei aquele coitado miserável do Oriun... era este o nome dele, não era? Bom, de qualquer maneira os desgraçados estão planejando um motim às minhas costas, eu sei disso...

Enquanto isso, na sala onde estavam os outros marujos, Hymma fala pro cozinheiro.
- Seu idiota, era para você ter votado o contrário. Agora as coisas ficarão mais difíceis...

- Desculbe, o homem tinha curado minha berna, eu não bodia votar contra...

Frac então diz:

-Motim? Capitão vou te falar de pirata pra pirata, não me importava com aquele Oriun maldito, mas você descumpriu o código pirata e eu já esperava por isso por parte daqueles piratas imundos. O que você está pensando em fazer?

O contramestre dava razão aos marujos, mas não deixava transparecer totalmente isso e provavelmente estaria do lado deles caso ocorresse, afinal, ele era o maior defensor do código pirata dentro do navio.

Dyke olha pensativo para os membros que estavam ali e diz:
- O capitão tá esperto, tá querendo se proteger e isso significa que temos um traidor entre nós
Dyke fala novamente no ouvido de Hymma:
- Talvez nós possamos recrutar uns piratas aqui em baixo que estejam em melhores condições e dizer pra eles que o capitão quer salvar a pele do maldito sacerdote que prendeu e torturou eles aqui nessa ilha, mas não fale sobre o Marlim por segurança.

Dyke olha para os outros esperando alguém se pronunciar.

- Vocês levam o código pirata muito a sério - ia dizendo o capitão enquanto ele, o sacerdote, o contramestre e o mestre carpinteiro saíam do castelo em direção ao depósito para pegar algumas caixas e sacolas. - O código é importante, mas não precisa ser seguido à risca. Quanto ao que eu vou fazer, eu te digo: Nada. Não há nada a ser feito a não ser esperar. Quando os malditos declararem o motim, só espero que vocês aqui permaneçam do meu lado. Afinal vocês devem muito a mim.

- Pode contar com a ajuda da Rainha, capitão - atesta o sacerdote.

Os outros marujos seguiam tramando contra Roosevelt. Royce responde ao timoneiro.
- Estes prisioneiros são uns loucos varridos, não são confiáveis. Eles provavelmente mataram o Lewellin quando ele os libertou, e ainda fizeram questão de esconder o seu corpo. Se quer a minha opinião, devemos fazer o motim por nossa própria conta. E em alto mar, não nesta ilha maldita.

- Eu concordo, eu concordo - diz o cozinheiro.

Dyke mostra o ferimento do tridente voador do sacerdote.
Aqui, olha o que ele me fez, esse sacerdote é forte e eles tem os melhores homens de armas do Marlin Negro mais um traidor e esse sacerdote e o imediato... Se existe uma chance é aqui ou podemos render o imediato e ir embora daqui deixando eles aqui na ilha, mas não acho que ficariam aqui por muito tempo.

Frac permanece calado. Ele não sabia o que falar e não mentiria a respeito de nada naquele momento.

O código pirata era a única coisa que pautava a sua diversão. Sem ele seria muito mais complicado torturar e matar os malditos porcos do mar.

- E a nossa honra de piratas, onde fica? - pergunta Albett, irmão de Royce. - Um capitão do navio deve sofrer o motim dentro de seu próprio navio, e não fora dele. Caso contrário isto não será motim, será um assassinato. E também não devemos envolver aqueles que não fazem parte da tripulação, este assunto não diz respeito a eles. Quanto aos outros, eu não descartaria a ajuda de Raggeti e nem do contramestre, todos nós sabemos como o maldito gosta de se apoiar no código pirata.

- É tem razão, isso vai contra o código, mas não espere que eles fiquem do nosso lado... Então o que temos ao nosso favor?

- Ainda somos a maioria no navio, certo? O contramestre não vai querer perder metade da tripulação numa luta sangrenta, afinal ele nos vê como seus brinquedos, não é mesmo? Acho que podemos convencê-lo a estar do nosso lado, sim. O único que não confio é no imediato, aquele bobalhão de dois metros. Bobalhão, mas forte ainda assim. Seja como for, teremos que nos arriscar de qualquer jeito. - Tudo isso quem falara foi Albett.

No fim o capitão consegue colocar todo o ouro da sala do tesouro nos baús e sacos pegos do depósito. Dyke e Hymma conseguiram fazer o sinal no céu que chamasse a atenção do imediato que estava no controle do Marlin Negro. Os dois apenas incendiaram algumas flechas e as dispararam pelo alto. Depois cada marujo teve que transportar pelo menos uma caixa cheia de moedas pela prancha de embarque. Alguns antigos prisioneiros da fortaleza, que não tinham por onde fugir, tentaram subir à força no navio, mas foram afastados pelas armas de Scrum, Raggeti e Frac'Eido. No porto havia apenas um outro navio, mas este estava quase todo destruído. Seria difícil reconstruí-lo a ponto de tornar-se navegável. Parecia que os homens saíram dos calabouços para permanecerem presos na ilha.

O Marlin Negro finalmente começa a se afastar da ilha. Perderam um tripulante - o Lew - para ganhar outro - o Abaddon, que era como se chamava o sacerdote. Mas o mais importante é que eles estavam um pouco mais ricos e tinham desvendados os mistérios da Fortaleza-Prisão. Teriam algumas boas histórias para contar quando retornassem às Ilhas dos Piratas. Logo no dia seguinte em alto mar, o contramestre começou a se sentir melhor e sua pele foi clareando novamente até voltar a tonalidade normal.

Três dias depois houve uma nova reunião no deque inferior, que era onde o grosso da tripulação dormia. O garoto Sean Dorean foi quem tomou a primeira palavra da noite.
- Tá na hora de decidirmos como será o motim do capitão. Alguém tem alguma ideia genial? - Ele encara cada um dos presentes, Dyke, Hymma, Albett, Royce, Salaman, e até mesmo o velho e frágil Jolly Roguer que também havia comparecido para esta reunião.

- Já que é assim certo, mas devemos tomar cuidado com esse sacerdote e precisamos descobrir quem é o traidor, se não o capitão vai estar pronto para tudo que nos mandarmos.
Termina Dyke, esfrergando as argolas.

- Agora, vamos peguem as armas, vamos anunciar o motim Diz Dyke, O Lampreia com firmaza e em tom sério.

Na verdade Dyke não queria fazer o motim neste momento, se tratava de um jogo, um blefe. Dyke queria ver a expressão de cada um ali presente ao saber do, falso, subto motim. Dyke queria ver suas reações e tentar achar o traidor, pois não planejaria nada com um maldito passarinho levando e trazendo informações.

Spoiler: