A década começou um ano após a queda da bolsa de valores de Nova York, resultando num período conhecido como a Grande Depressão. Milhões de pessoas ao redor do planeta ficaram sem empregos e suas famílias, que dependiam de seus rendimentos, começaram a passar fome. Bancos faliram, renomados empresários perderam tudo o que tinham, a produção industrial caiu drasticamente e a taxa de suicídio aumentou. O período era de total tensão nos países do Ocidente.
Somado a isso, o mundo ainda não tinha se recuperado dos efeitos da guerra entre as grandes potências, que haviam se organizado em duas alianças opostas e que mataram cerca de 20 milhões de pessoas, entre soldados e civis. Países foram devastados e famílias inteiras foram destruídas, e embora muitos acreditassem que a Guerra das Guerras, como ficou conhecida, fosse o ponto máximo de mortes naquele século, havia um medo palpável com a possibilidade de haver uma segunda colisão. De um lado estava Joseph Stalin, governando a União Soviética na base do terror, fome e expurgos. Do outro, Adolf Hitler acabava de se tornar o Chanceler da Alemanha e instaurava o poder ditatorial sobre o país. De um modo ou de outro, as pessoas acreditavam que o futuro do mundo seria escrito por um dos dois.
O ano atual é 1934 e é aqui que começa a nossa história.
SALVATORE SANTUZZA
Dia 2 de Agosto de 1934
Nova York, Estados Unidos
As teclas da máquina de escrever estavam sendo castigadas enquanto Salvatore escrevia a sua última crônica antes da viagem marcada. O charuto, momentaneamente pousado sobre o cinzeiro, deixava o apertado quarto do cronista envolto a fumaça. A única janela do aposento estava quebrada e lacrada com tábuas, e como era pleno verão nos Estados Unidos, o lugar todo estava um inferno. O suor escorria sobre a face de Salvatore e de tempos em tempos ele tinha que fazer uma pausa no que redigia para limpar o rosto.
O autor, neto de italianos, escrevia uma crônica sobre os programas implementados pelo presidente Franklin Roosevelt conhecidos como New Deal. Era uma série de medidas que visavam recuperar e reformar a economia norte-americana, com o objetivo de fazer o país fugir da crise que se instalou após a Grande Depressão.
Salvatore Santuzza, como a grande maioria da população, havia sofrido com os terríveis efeitos da quebra da bolsa de valores de Nova York. Seus dois irmãos, Ângelo e Rinaldo, suicidaram-se após se verem na falência, o que fizeram suas famílias se migrarem para a Itália e Portugal, onde buscavam por uma vida melhor. Salvatore permaneceu em Nova York, onde trabalha para a Literay Digest, uma revista semanal que publica artigos europeus, norte-americanos e canadenses.
Sobre a mesa, ao lado da máquina de escrever, estava uma pilha de artigos, revistas e documentos. Ele tinha dois exemplares da Literary Digest que venderam muitas cópias. Um deles falava sobre um físico teórico alemão bastante conceituado, Albert Einstein, que havia se mudado para os Estados Unidos no ano anterior para trabalhar na Universidade de Princeton. O outro exemplar destacava uma curiosa publicação que trazia uma foto tirada do Monstro do Lago Ness.
Além das revistas, destacava-se sobre o amontoado de papéis algumas correspondências trocadas entre Salvatore e Deborah Carver, uma fiel leitora de suas crônicas. Deborah tinha 34 anos, era médica que aspirava ser cirurgião e sofria de uma profunda angústia em sua profissão. Os dois trocaram inúmeras cartas ao longo dos últimos anos. Deborah chegou, inclusive, a pedir demissão do necrotério em que trabalhava, graças ao encorajamento de Salvatore. A coisa mudou quando, durante seis meses, o experiente autor parou de receber as habituais correspondências. Sem aguentar ficar mais tempo sem falar com a sua fiel leitora, ele resolveu entrar em contato por telefone numa bela tarde de domingo. A conversa não transcorreu de maneira natural; Deborah parecera perder aquele ardor que tinha em falar com o seu cronista preferido de Nova York, e mais do que isso, havia a suspeita de que ela estivesse bêbada ou entorpecida na ocasião. Várias semanas depois, Salvatore recebeu um telegrama que comunicava o desaparecimento de Deborah.
O autor desse telegrama foi Alfred Botham, um jornalista bem-sucedido que Salvatore conhecia só de nome. Foi ele quem tentou explicar toda a história do que acontecera, pelo menos os fatos de que tinha conhecimento. Tudo começou quando um jovem chamado Pip Masterson, um aprendiz entusiasmado em descobrir novas histórias, contava repetidamente para Alfred Botham sobre coisas estranhas estarem acontecendo numa ilha escocesa chamada St. Margaret. Isso se repetia dia após dia, até que Pip Masterson anunciou que iria viajar até a dita ilha, ao lado de alguns colegas também interessados em resolver aquele caso. Com a insistência de Alfred, antes de viajar, Pip passou-lhe os nomes de todos os integrantes do grupo que viajariam até a Escócia. E Deborah Carver integrava a lista. Como Alfred chegou até Salvatore não foi dito, mas não seria difícil imaginar o jornalista investigando a casa de Deborah e encontrar a troca de correspondências entre os dois. Com isso, Alfred Botham pediu ajuda à Salvatore, para que ele se juntasse a outros interessados e investigassem o que havia ocorrido, pois além de Deborah, Pip Masterson e todos os outros daquele grupo também haviam sumido misteriosamente.
Para ajudar nas investigações, Alfred disponibilizou duas impressões que foram a motivação principal pro primeiro grupo de investigadores terem viajado até essa distante ilha. O primeiro era um artigo chamado O Médium Astronômico, escrito inicialmente em 1853, por um autor desconhecido, e republicado em 1931. Havia, também, um trecho do jornal The Times, publicado em 13 de Maio de 1914 [handouts 1 e 2]. Ambas as peças estavam sobre a mesa, mas separadas do resto da bagunça, junto da passagem ao transatlântico RMS Majestic que desembarcaria em Southampton, sul da Inglaterra. A passagem foi comprada por Alfred Botham, assim como todo o resto do dinheiro necessário para a viagem seria disponibilizado por sua conta, e ela estava marcada para acontecer para daqui a dois dias.
As malas estavam praticamente prontas para a viagem. Salvatore só precisava terminar de escrever aquele último artigo e decidir o que, além das roupas, seria levado até St. Margaret.
JASON JOHN JR.
Dia 4 de Agosto de 1934
Nova York, Estados Unidos
O relógio na parede da sala de estar dos Belangers apitava ao dar meio-dia em ponto. Era mais um dia de verão em Nova York, mas aquele dia tinha algo de diferente para Jason Jhon Jr. O ex-militar estava de partida para Inglaterra. Ele, inclusive, achava que já poderia estar atrasado para chegar ao porto da cidade. Na sala, sentado no sofá a sua frente, estavam os seus dois sogros. Era o momento de se despedirem, mas o Sr. Belanger estava tão quieto e de olhos fechados que provavelmente tinha se rendido a um cochilo. A Sra. Belanger, por sua vez, mostrava-se aflita.
Ela estava assim desde que recebeu a notícia de que sua filha Daisy estava sumida, há duas semanas atrás. Tudo aconteceu de maneira muito estranha para aquela família. Daisy e Jason eram casados e tinham uma filha pequena. Eles levavam uma vida normal, na medida do possível, pois a Grande Depressão os atingira como atingira mais de 80% da população norte-americana. Ainda assim, Jason conseguiu abrir uma loja de armas e ganhava a vida como instrutor de tiros. Daisy, por sua vez, lecionava Ciências numa escola local. As coisas estavam caminhando bem até que na páscoa daquele ano, Daisy disse que precisaria viajar para a Europa à trabalho. Segundo ela, a função de professor seria deixada de lado para tentar uma profissão mais nobre, no caso, a de uma cientista. Daisy embarcou na primeira oportunidade que teve para o sul da Escócia, numa ilha remota onde pretendia estudar estranhos fenômenos que aconteciam ali. Ela não foi sozinha para a viagem. Estava acompanhada de um grupo de diletantes e cientistas amadores. Duas semanas atrás, Jason recebeu a notícia de que Daisy e seus colegas tinham desaparecidos.
Foi graças a um anúncio num jornal que Jason ficou sabendo daquilo. O autor da reportagem era Alfred Botham, alguém bem conhecido naquele meio, e Alfred, assim como Jason, também havia perdido alguém na ilha, no caso um jovem aprendiz chamado Pip Masterson. Alfred lançou uma nota em seu jornal com o nome de todos os desaparecidos e se haviam interessados em investigar o que aconteceu, pois dificilmente a polícia norte-americana se mexeria para fazer algo do outro lado do Atlântico. Jason aceitou a ideia de viajar até Escócia, uma vez que Alfred pagaria pelas passagens. E o dia de partir havia chegado.
A Sra. Belanger se levanta do sofá, com dificuldades, pois já era uma senhora idosa e vivia se queixando de dor em toda parte do corpo, principalmente em suas mirradas pernas. Seus olhos estavam vermelhos, mas ela já chorou tanto durante aqueles dias que não caía mais nenhuma lágrima. Ela se aproxima de Jason e lhe dá um beijo em seu rosto antes de fazer um último pedido.
- Por favor, meu querido, traga nossa querida filha de volta. Ela é tudo que nós temos. Por tudo que é mais sagrado, nós não merecemos perder nossa filha. |
Jason suspeitava que sua sogra poderia ter até problemas de saúde se continuasse aflita daquele jeito. Antes que ele pudesse respondê-la, passos leves vindos da escada anunciam a chegada de Justine, a filha do casal. Ela tinha apenas 4 anos de idade e estivera dormindo no andar de cima. Porém algo a fez acordar e agora ela desceu para a sala de estar. A pequena garota foi de encontro até o seu pai, onde abraçou suas pernas.
- Não vai embora, papa. |
Apesar do pedido de sua filha, já estava na hora de Jason partir. Suas malas estavam prontas ao lado da escada. Ali ele levava tudo o que precisaria, incluindo algumas armas, embora achasse que não seria precisaria delas, afinal. Além disso, ele tinha a passagem do transatlântico RMS Majestic e dois itens fornecidos por Alfred Botham. Um era um relato astronômico publicado no The Times em 1914 e o outro era um trecho de um artigo chamado O Médium Astronômico republicado há três atrás. Esses dois itens poderiam ajudar na investigação do sumiço daquele grupo, pois, segundo Alfred, o grupo viajou pra um lugar tão remoto depois de ler o que continha nesses arquivos [handouts 1 e 2].
STÍVAN WESSEL
Dia 4 de Agosto de 1934
Nova York, Estados Unidos
Enquanto esperava pelo ônibus que o levaria até o porto de Nova York, o húngaro Stívan Wessel relia possivelmente pela décima vez os dois arquivos que lhe foram entregues [handouts 1 e 2]. O primeiro deles era assinado por Alexander Scott, numa matéria que saiu no The Times há exatos 20 anos atrás. O texto fala sobre uma estrela cadente e em como aquele fato havia mudado o clima na região. O segundo arquivo que ele tinha em mãos era o trecho de um artigo nomeado O Médium Astronômico. Originalmente ele foi escrito em 1853, mas republicaram-no há três anos atrás e se tornou bastante popular, apesar do autor ser desconhecido. O artigo afirma que certos eventos que acontecem no mundo não são oriundos da Terra, levantando a possibilidade da existência de entidades de outros planetas.
Os dois arquivos lhe foram enviados por Alfred Botham, um jornalista de razoável sucesso, com o objetivo de ajudar na investigação que Stívan faria na ilha de St. Margaret, ao lado de outros investigadores. A história toda começou quando o húngaro recebeu um telegrama avisando que o seu irmão mais novo, Andras, havia sumido misteriosamente após ele ter ido viajar até uma pequena ilha da Escócia. Logo na semana seguinte, Andras viu um anúncio num jornal nova-iorquino detalhando o ocorrido. Ao que tudo indicava, um grupo de diletantes e cientistas amadores haviam viajado até essa ilha, St. Margaret, para investigar alguns estranhos fenômenos que estavam acontecendo lá. A publicação listava o nome de todos os desaparecidos, o que incluía Andras, e pedia para que os familiares entrassem em contato com o jornal. A matéria fora feita por Alfred Botham, que também perdera alguém na ilha, um aprendiz seu chamado Pip Masterson, e agora o jornalista havia reunido um grupo de pessoas dispostas a viajarem até a longínqua Escócia para tentarem descobrir o que estava acontecendo lá.
Stívan ainda não sabia quem seriam os seus colegas de investigação, mas sabia que eles se encontrariam no porto de Nova York, antes de embarcarem no transatlântico RMS Majestic que os levaria até o sul da Inglaterra. De lá, eles ainda pegariam um novo barco até St. Margaret. Stívan já estava com as passagens que ele precisava, todas elas pagas por Alfred.
O húngaro teve que guardar os arquivos que lia quando viu a aproximação do ônibus. Pegando suas malas de viagem, ele subiu no ônibus. Era início de uma tarde veranil em Nova York e o sol era a figura soberana sobre um céu sem muitas nuvens. Enquanto o ônibus percorria as ruas da cidade, Stívan recordou-se sobre o último telegrama que Alfred lhe mandara, durante a noite de ontem. Suas palavras foram as seguintes:
"Caro Stívan Wessel,
Espero que você tenha conseguido fazer as malas a tempo para amanhã. Às 4 da tarde, deveremos nos encontrar no porto. Você irá conhecer os outros que farão essa viagem com você. São dois homens e nenhum deles tem a experiência que você tem como detetive policial. Eles são, assim como eu, pessoas comuns que perderam alguém importante naquela ilha. Você, com toda a sua experiência, deve ser o responsável por conduzir as investigações. Oriente-os sobre o que fazer, e como fazer, é a última coisa que lhe peço. Infelizmente eu não viajarei com vocês, por problemas de saúde, mas estarei lá amanhã para uma última palavra.
Do seu mais novo amigo, Alfred Botham".
Ao virar a última curva, Stívan já pôde visualizar o porto e sentir o cheiro do mar. Ele havia chego ao seu destino com certa antecedência. Possivelmente fora o primeiro a chegar no lugar.
LAUREEN SAUNDERS E ELIZABETH SAUNDERS
Dia 15 de Agosto de 1934
Londres, Inglaterra
As ruas londrinas amanheceram sob uma forte chuva. Apesar de ser verão na Inglaterra, o clima era ameno e as chuvas constantes. Precavida, Elizabeth Saunders saíra de casa com o seu guarda-chuvas. Ela estava se dirigindo ao humilde apartamento de sua irmã. As duas tinham muito o que conversar após uma carta que Beth recebera, direto de Nova York, nos Estados Unidos.
A carta foi escrita por um jornalista chamado Alfred Botham. Ele disse que, após ter realizado algumas pesquisas, descobriu o nome de todos os membros do grupo que sumira repentinamente numa excursão a trabalho na ilha de St. Margaret, sul da Escócia. E disse, inclusive, que sabia que um dos desaparecidos era o seu noivo, Andrew Gallagher. Elizabeth sabia desse fato faziam duas semanas, mas apesar dela ter entrado em contato com a polícia de Londres mais de uma vez, eles deram pouco valor ao caso. Teria sido tudo diferente se Andrew já tivesse o sucesso que ele sempre desejou ter como um grande escritor.
Afred afirmou na carta, ainda, que estava enviando um grupo de pessoas para Londres. Eles investigariam o caso do grupo dos desaparecidos, e pediu para que ela própria, Elizabeth, se juntasse a eles. Se ela concordasse, ela deveria recepcioná-los numa estação de trem no dia 18 de Agosto, às 18 horas da tarde. Em seguida, eles deveriam pegar uma pequena embarcação com direção à St. Margaret. Ela pensava nessa proposta a caminho do apartamento de sua irmã.
Ainda era manhã quando, debaixo de chuva, Elizabeth chegou ao seu edifício de cinco andares. O apartamento de Laureen ficava logo no primeiro andar e ao se aproximar dele, Beth já passara a ouvir o jazz que tocava lá dentro, a partir de um rádio.
Demorou para Laureen ouvir o toque da campainha, pois o volume no rádio era alto. Quando ouviu, ela foi atender a porta, se dando de cara com a irmã. Laureen sabia da situação do noivo de Beth e acreditava que podia convencer a irma a não fazer nenhuma loucura para ir atrás dele. As duas tinham algumas formas de pensar bem diferentes entre si. Quando Beth entrou no cômodo principal do apartamento, além do rádio que estava sobre a mesa, ela observou também um enorme buquê de flores. O presente fora dado por Scott Morris, chefe de Laureen. Apesar de ser casado com outra mulher e ser bastante mulherengo, ele tinha um lado romântico de vez em quando.
As duas agora precisavam discutir o que fariam em relação ao episódio do desaparecimento de Andrew. Havia muitas coisas a serem postas na balança antes de tomarem uma decisão definitiva, inclusive os dois arquivos impressos que Alfred enviou para Elizabeth [handouts 1 e 2]. Segundo o jornalista nova iorquino, foram graças a esses dois documentos que o grupo de Andrew havia se dirigido até aquela ilha.
- OFF (LEIAM POR FAVOR):
- Esse é o primeiro post da aventura. Eu tentei situar cada um de vocês sobre o que está acontecendo com maiores detalhes do que foi passado no resumo da aventura. Não há tantas novidades para vocês até o presente momento, e a ideia desse primeiro post, além de situá-los, e dar a oportunidade de cada um interpretar o seu personagem numa cena solo, afim de conhecê-lo melhor. Aproveitem o primeiro post para trabalharem a personalidade dos seus personagens, darem peculiaridades a eles, formas de pensar e, talvez, o principal: trabalhem as Motivações que farão os seus investigadores abandonarem suas vidas para irem até uma remota ilha da Escócia. No meu próximo post, eu já reunirei a galera que está em Nova York. Já Elda e Luxi terão um tempo maior para interagirem entre si antes de se encontrar com os demais.