O vento que soprava do oeste era gelado e cortava o rosto de todos. O ano estava na metade da primavera e ainda faltavam meses para o inverno, mas o clima neste lugar ermo do norte de Faerûn não era piedoso; a Geleira do Verme Branco e a Grande Geleira fazem questão de lembrar por todo o ano os rigores do inverno aos habitantes de Damara.
O grupo seguia em perseguição ao feiticeiro Aach Crvenka desde o início do mês e tudo começava a ficar muito frustrante, já que tudo o que eles conseguiam eram seguir rastros; depois de atravessar do sul ao norte todo o Baronato de Ostel, com Rakum e Ahrcon fazendo o trabalho de batedores, a única vez em que se encontraram com Crvenka foi na cidade de Portith, quando o feiticeiro escapou usando sua magia antes que qualquer confronto se concretizasse. Apesar disso o grupo conseguiu conhecer sua presa, e o que mais chamava a atenção no feiticeiro, além da cabeça raspada e os braços repletos de cicatrizes, era uma tatuagem que cobria todo o lado esquerdo do rosto de Crvenka. A missão ofertada por Ivanko Dramvor, burgo-mestre de Tavda, uma pequena vila de mineradores e fazendeiros localizada à dois dias de distância de Zarach, era trazer Aach para a vila vivo, onde ele seria julgado pelos crimes de comunhão com forças malignas, sodomia e tantos e tão variados assassinatos que apenas ouvir os relatos dos morados de Tavda e do burgo-mestre causava repulsa e nojo nos aventureiros. Mesmo Ivanko precisou de um copo de água e alguns minutos sentado em sua poltrona para se recuperar enquanto explicava ao grupo a missão.
O Grande Imphras acompanhou o grupo por toda a viagem desde Zarach, e suas águas claras e frias foram um contraste agradável ao rastro vermelho de mortes que Crvenka deixou pelo caminho. O feiticeiro parecia ser extremamente perturbado e violento, além de ter fortes tendências piromamíacas. Em várias cidades e vilarejos por onde o grupo passou eles encontraram uma trilha sinistra de corpos mutilados e carbonizados e, durantes as investigações, o grupo percebeu que muitos corpos tinham o tórax aberto e que faltavam órgãos, na maioria das vezes o coração, mas também os pulmões, os rins e o fígado. Outra coisa que chamou a atenção do grupo foram corpos onde faltavam músculos da perna ou dos braços, meticulosamente cortados. O rastro de Aach fez o grupo sair de Tavda e seguir para Zarach, e de lá seguiram para o norte às margens do Grande Imphras, passando por vilas e cidades pequenas até chegarem em Praka e depois Portith, cidade onde o grupo permaneceu por mais tempo até agora. Depois os aventureiros se afastaram do Grande Imphras e seguiram para o interior de Damara, para a cidade de Brotha, cruzaram o rio, visitaram uma cidade próxima à Morovar e de lá seguiram para a capital do reino, a cidade portuária de Heliogabalus. Cruzar o Baronato de Ostel durante a primavera geralmente não toma mais do que uma dezena de qualquer viajante, mas por causa das investigações, o grupo fez essa viajem se estender por quase um mês, chegando na capital no 27º de viagem.
Sem dúvida Heliogabalus era a maior cidade que o grupo visitou em sua viagem. Cerca de 25.000 pessoas se esbarravam pelas ruas estreitas da cidade, casas simples e de dois e até três andares dividiam espaço com as mansões dos nobres e mercadores ricos de Damara. A variedade de raças que caminhavam pelas ruas era grande; diversas etnias humanas dividiam seu espaço com anões do escudo e dourados, halflings, gnomos e até uma pequena comunidade svirfneblin, que vendia seus produtos na cidade. Meio-elfos são mais comuns na cidade do que seus pais elfos, mas ambos podiam ser visto pelas ruas de Heliogalabus, e apesar dos anos em guerra contra o Rei-Bruxo de Vaasa e seu exército humanóide, meio-orcs são comuns na cidade e poucos são aqueles que sofrem com o preconceito ou alguma outra forma de violência. Caravanas mercantes iam e vinham pelas ruas, mercados livres tomavam ruas inteiras com os mais variados produtos e todos eles estavam apinhados de pessoas, estivessem elas comprando ou furtando dos mais desatentos.
Depois de quase uma hora andando pelas ruas da cidade, o grupo tinha visto praticamente tudo de interessante ou importante que havia na cidade: a Canção Invernal, uma estalagem de alta classe que fica na parte nobre da cidade; O Sorriso da Deusa era uma estalagem amigável e também um mercado de armas, armaduras e outros itens, um claro ponto de encontro dos aventureiros que estavam na capital, e o 'Ninho dos Ratos', como é conhecida uma taverna nas docas de Heliogabalus que não possui nome, é o buraco onde se enfia a escória da cidade, desde pequenos ladrões até traficantes. Muitas mulheres se ofereceram para o grupo quando eles passaram pelo ninho, e Rafur teve que ser praticamente arrastado de lá para o grupo poder continuar, já que o sacerdote começou a conversar com as mulheres, tentando convencê-las a abandonar aquela vida. Outro lugar interessante era a Fenda de Amakiir, uma loja que vendia produtos arcanos. O grupo sabia que as chances de encontrar alguma pista de Aach nesta loja eram grandes.
Taverna O Sorriso da Deusa
Faltavam cerca de três horas para anoitecer e o grupo sabia que Aach Crvenka estava em Heliogabalus, eles só precisavam decidir por onde começar a procurá-lo.