OLIVIA ANNA BLANC
"Garota do Vinho"
"Salamandra"
Olivia Anna Blanc, ou somente Olivianna, é filha do nobre orlesiano e condecorado Chevalier Julian Blanc, e de Evangeline, uma filha de artesãos. Do matrimônio de Julian e Evangeline, também nasceram Antoine e Anne-Laure, irmão e irmã mais velhos de Olivianna.
Olivianna viveu a sua infância inteira no Vinhedo Le Blanc, propriedade da família Blanc a oeste de Val Chevin, conhecida por produzir o vinho branco Chardonnay Blanc. Desde cedo, a pequena Olivianna já demonstrava menos disciplina que seu irmão e sua irmã, o que divertia os servos da casa quando Evangeline corria pelos corredores do casarão, gritando atrás de Olivianna quando a garota levada aprontava das suas. De certa forma, Julian e Anne-Laure eram mais pressionados com seus deveres da casa e família, enquanto Olivianna sempre fora criada mais solta, sendo o xodó de Julian.
No vinhedo Le Blanc, o tratamento com os servos era diferenciado do resto de Orlais. No geral, a vida da plebe orlesiana era difícil e indigna, mas o viés humanitário de Julian o fazia destoar do restante da nobreza. Seus servos recebiam um pagamento que lhes davam maior qualidade de vida, os filhos dos seus servos recebiam estudo, e até mesmo ascendiam de posição dentro da hierarquia da família Blanc. Claro que tal comportamento era mal visto pela maioria avassaladora dos nobres orlesianos, e também mantinha o Vinhedo Le Blanc com uma produção limitada, que raramente oferecia a família Blanc o estilo de vida que outras famílias nobres ostentavam. A natureza de Julian muito se dava a influência de Evangeline, que não viera de uma família nobre e conseguiu doutrinar seu noivo a partir da vivência que tivera sendo filha de artesãos.
Na adolescência, Olivianna começou a se adequar com os modos no qual Evangeline tentava criar, absorvendo o mínimo de etiqueta que a nobreza de Orlais requeria, embora o ranço de se enfiar em vestidos continuou a incomodar Olivianna. Seus deveres com a família começavam a afastá-la dos seus amigos e amigas do vinhedo, a maioria filhos e filhas dos servos da familia. Nessa época, Antoine já se tornara um soldado treinado e um iniciado Chevalier, sendo movido de guarnição e servindo nas fileiras do Grão-Duque Gaspard de Chalons. Enquanto isso, Anne-Laure preparava ansiosamente a festa de seu casamento, em breve se mudaria para Antiva, para viver com seu noivo, filho de um príncipe mercador.
Meses após o casamento de Anne-Laure, uma doença devastou a costa norte do Mar Desperto, vitimando Evangeline. Dali em diante nada fora como antes. Julian se afundou na bebida, Olivianna que sempre fora o xodó de Julian começou a ser evitada pelo próprio pai. A governanta da casa, e praticamente uma avó adotiva de Olivianna, comentava que o isolamento de Julian se dava ao fato de Olivianna cada vez mais ficar parecida com Evangeline. Olivianna podia notar nos retratos espalhados pelo quarto do casal que sua semelhança física com sua mãe quando era mais nova, era sim assustadora, e isso para seu pai era perturbador, pois quando Julian olhava para Olivianna, enxergava Evangeline. Olivianna passou a adotar o cabelo curto a partir dali, tentando se distanciar da figura da mãe. Suas longas mechas enegrecidas deram lugar a um curto rabo de cavalo, semanalmente tosados. O esforço de Olivianna de nada adiantou, Julian a inscreveu na Universidade de Orlais, em Val Royeaux. Filha e pai se despediram, e Olivianna se mudou para o campus da universidade.
Val Royeaux, Olivianna já tinha visitado a cidade em algumas oportunidades, mas só após morar ali que conseguiu ter noção do quão grande era a cidade, muito diferente do modesto vinhedo em que viveu a maior parte de sua vida. Até sua origem nobre parecia ser totalmente diferente dos nobres de Val Royeaux. Seus primeiros amigos a chamavam de garota do vinho (Wine Girl).
Olivianna, desde o começo, não se mostrou uma boa aluna. Não lhe faltava inteligência, mas não tinha foco, não era disciplinada o bastante para estar naquele ambiente. E por mais que soasse estranho, muitos alunos também era como ela. Olivianna era acadêmica das Artes Liberais, que mantinha uma grade bastante generalizada, mas fora ali aprimorou sua comunicação, sua retórica, não apenas pelas aulas, mas pela necessidade de engabelar seus professores quando não aparecia para presenciar as aulas.
A jovem nobre rapidamente se adaptou a vida urbana e não conseguia parar de se envolver com os tipos de pessoas cada vez mais baixos na escala social, e por vezes à margem da sociedade. Suas noitadas eram acompanhadas geralmente por baderneiros. Por vezes se juntava a bandos e executavam furtos, as vezes sendo levada a isso, outras pela adrenalina ou por um senso deturpado de justiça. O submundo de Val Royeaux apresentava o quê de mais sujo tinha na sociedade, tanto nas classes da base da pirâmide social, quanto do topo. A máscara do nobre orlesiano escondia o quê de pior existia em cada um. Cada vez mais submersa no submundo de Val Royeaux, Olivianna precisou aprender a se defender, e assim conhecia cada vez mais pessoas, e cada vez as pessoas se mostravam mais estranhas. Aprendeu a lutar, aprendeu a se mover com velocidade, aprendeu a se esgueirar, aprendeu a se esquivar, aprendeu a dançar com as lâminas no ritmo de um combate, e aprendeu rapidamente. Olivianna ficara excitada, a vida degenerada que levava nos becos de Val Royeaux lhe dava uma liberdade que nunca antes tinha sentido ter. Volta e meia se encrencava com as autoridades, e quase sempre conseguia escapar sem ser reconhecida, mas outras vezes seu pai era preciso viajar para Val Royeaux e liberar Olivianna de maiores punições, alguns de seus colegas não tinha a mesma sorte de nascer com os privilégios de Olivianna, e não conseguiam mais seguir o caminho que seguiam. Os colegas baderneiros e as autoridades começaram a apelidar a ladra das ruas de “Salamandra”, por ela se provar difícil de ser capturada, claro que os que chamavam Olivianna de salamandra geralmente não a conheciam ou reconheciam, mas conheciam a ladra que desaparecia nas ruas.
Os anos de academia foram repetitivos. E eis que certa manhã uma comitiva de Le Blanc chega a Val Royeaux para buscar Olivianna. Alguns chevaliers a mando de seu pai vieram para escolta-la até o vinhedo da família. Os rumores já haviam chego até Olivianna, as tensões aumentavam dia após dia, e provavelmente a atitude do pai era uma consequência da instabilidade política que Orlais vivia. Enquanto Olivianna viajava para o vinhedo da família, a guerra civil eclode em Orlais.
Julian havia declarado neutralidade no confronto, visto que a maior parte dos camponeses que viviam em sua terra não supriam nenhum sentimento positivo para ambos os lados da guerra. Mas mesmo neutros, era sabido que alguém poderia interpretar a neutralidade de outra forma, então precisavam estar preparados para se defender. Julian e Antoine prepararam os seus homens para um possível confronto em suas terras. E semanas treinando camponeses, junto com Olivianna, que conquistava o povo com sua retórica afiada e claro, a lembrança que tinham de Evangeline estampada em seu rosto. O noivo de Anne-Laure abastecia o vinhedo com suprimentos, visto que não poderiam confiar nos mercadores orlesianos. A neutralidade se tornava cada vez mais difícil de ser mantida.
O vinhedo Le Blanc estava protegido de qualquer tipo de ataque a certa altura, mas não estava preparado para uma traição. Pressionado pelo Grão-Duque Gaspard de Chalons, Antoine toma partido na guerra, justificando sua decisão na possibilidade de elevar o prestígio da família após a vitória do Grão-Duque, e melhorar a produção do vinhedo para que este começasse a gerar lucros mais significativos. Era verdade que Antoine nunca fora de acordo com as políticas de seu pai, mas nem Julian e nem Olivianna esperava que ele fosse capaz de trair a própria família por conta de seu próprio ego. Os soldados de Antoine fizeram um combate sangrento com as forças de Julian, e se saíram vitoriosos. Julian não abdicou de sua honra, se recusou a dobrar-se diante de seu filho. Olivianna estava rendida, e fora obrigada a testemunhar o duelo derradeiro entre Julian e Antoine. Julian era muito mais velho que Antoine, e apesar de ser mais técnico, Antoine parecia não se esforçar durante o duelo, sempre mantendo a luta sob seu controle. Ficava claro que Antoine não queria que o confronto chegasse àquele ponto, Olivianna acreditava até que Antoine estava arrependido de ter confrontado a posição de seu pai, mas após Julian esbravejar e insultar Antoine, a raiva toma conta do Chevalier mais jovem que termina o combate dando um golpe fatal no peito de seu pai. Olivianna chorava, Antoine chorava, um silêncio tomou conta dos campos, e logo após, uma revolta entre os prisioneiros. Olivianna aproveitou o caos do momento e fugiu antes que seu irmão se concentrasse nela, as únicas coisas que carregava era uma muda de roupas e uma porção de moedas. Não mais que isso. Sua decisão não fora pensada, não sabia se seu irmão a perdoaria, ou se a veria como inimiga, assim como seu pai. A verdade é que a distância entre eles já os tornavam desconhecidos, e pouco significava o laço de sangue entre eles. O sentimento de raiva, injustiça e vingança falava mais alto, nenhuma decisão naquela noite fora tomada pela razão, apenas reagiu, julgando que um tempo afastada seria útil para recuperar suas forças e sobreviver.
Seu caminho seguiu até o porto mais próximo, onde pagou para uma capitã pirata levar ela até o outro lado do Mar Desperto, onde seu exílio começou. Semanas e mais semanas se passaram, os eventos da Guerra Civil perduram. Olivianna já está com a vida de exilada. Mas sempre sem esquecer que um dia retornará para cumprir com seus objetivos, formulados através de sua mentalidade jovem e libertina.