Julian Grenfell

você sai da construção? templo? achando estranho que algo tenha sido esculpido em pedra para ensinar uma lição e a traduzir com dor no local de onde você arranca sempre seus cabelos, algo não se encaixa ali.
Suas mulas estão amarradas e com o cabresto esticado ao máximo tentam comer o que existe de vegetação verde

A jornada fracassada continua. Após me ver obrigado pelo medo a retornar as coisas continuam estranhas.

- Como pode um cara atento e esperto como eu não ter visto este templo na vinda? E por que eles fizeram aquilo? Trataram os símbolos de química como se fosse algo quase sagrado esculpindo em pedra em um lugar que deveria ser de cunho religioso. Se é que aquilo era um templo?

As dúvidas enchem minha cabeça, misturado ao nervosismo e ao medo, e sem que eu perceba vou arrancando pelos e mais pelos da costeleta do lado direito do rosto, seria pior se eu não tivesse usando luvas. Quando me dou conta paro de arrancar, mas não faço ideia quanto tempo demorou para perceber, "os tricotilomaniaco sente desejo intenso de arrancar os pelos do corpo dizia uma revista médica que lera uma vez", quanta bobagem, nada tem a ver com desejo, é quase como respirar, você nem percebe que está fazendo e já fez. Me sinto triste ao perceber que já posso sentir os cabelos próximo a orelha direito ralos.

- Minha fisionomia deve estar horrível.

Quando chego nas mulas eu libero elas para poderem se alimentar melhor. Assim que elas se satisfazem seguimos montanha abaixo, voltando para meu ponto de partida.

você começa a seguir a estrada porém a sensação de estar perdido começa a ficar grande

[role 3 dados]

o lugar encontra-se completamente isolado, nenhum ser vivo é percebido faz algumas horas, mas você começa a se sentir observado, uma sensação meio paranóica de que estão te observando começa a tomar conta de você

A sensação de ter perdido o rumo aumenta, enquanto isso eu vou esvaziando minhas provisões. Tento me orientar pelo sol, ao menos assim posso acertar a direção. Não duvido que estou sendo observado, mas por hora não posso fazer nada, continuo minha rota tortuosa, esperando que a tortura que me impus acabe. Continuo mantendo a arma próxima, para caso eu precise agir com ela.

você sabe que esta em trilhas conhecidas por causa das bandeirolas que marcam os caminhos por ali, depois de caminhar um tempo você encontra uma espécie de acampamento com dezenas de pequenas barracas baixas de couro espalhadas pelo local, fogueiras indicam que o lugar está ocupado

Eu me aproximo cautelosamente e observo o local, tentando não ser visto. Quero saber se quem frequenta o acampamento é gente "normal" e confiável.

Um vilarejozinho pacato de casas claras feitas com as mesmas pedras das montanhas ali, como as roupas dos habitantes também são feitas de lã não tingida aquilo da um aspecto meio bucólico e monocromático a imagem. Você repara que os poucos habitantes locais a vista são idosos. Uma senhora lava roupas em uma tina de água mais próximo à você enquanto 2 idosos estão sentados na porta de uma das casas tomando algo quente, algumas galinhas magras ciscam por perto

- Não parecem oferecer muito risco, ainda mais para um soldado armado - penso comigo.

Eu me aproximo montado na mula e assim que me avistam eu faço um aceno amigável com a mão.

Nem a senhora lavando roupas nem os velhos te olham uma segunda vez, você entra no pequeno vilarejo que aparenta estar deserto.
As poucas casas estão de portas abertas e você consegue observar um interior simples com poucas coisas, algumas cabras e galinhas andam soltas nas "ruas" Em uma pilha de pedras grandes no centro do lugar um outro senhor prende algumas bandeirinhas coloridas com uma corda grosseira e as estica na direção de uma das casas

Eu desço da mula e me aproximo do senhor no interior da aldeia. O homem colocava bandeiras, eu começava a perceber que aquele costume local deveria ter algum significado, mas não entendia bem.

Eu uso o meu melhor indu esperando alguma resposta positiva.

- "Bom dia"

O velho olha para você, faz uma pequena reverência, e, sem abrir a boca, começa a movimentar as mãos na frente do rosto de palmas abertas depois aponta para a senhora da tina

O velho havia apontado para a senhora que lavava roupa.

- Será que é ela a autoridade por aqui? - penso

Eu deixo o velho com seus afazeres e me dirijo até a senhora, eu tinha muitas perguntas

"Bom dia"

- Dia
ela te responde depois de uma certa pausa
-errr INDIA? LHASA?
ela aponta para um lado e para o outro da estrada

Velha escreveu:- Dia

-errr INDIA? LHASA?

- O idioma vai ser uma barreira, isto ficou bem claro. Bem que seja. Pelo menos já sei como voltar a India - eu faço um agradecimento com a cabeça e me afasto, mas algo me passa pela cabeça, uma tentativa meio vaga, mas vejamos no que dá.

Eu abro minha mochilha e retiro as fotos que recebi de meu amigo infectologista, as que mostrava os doentes, eu as mostro para a velha e questiono uma única palavra.

- MU?

MU? ela aponta pra cima e bate no peito
MU ela responde batendo no peito e soltando um monte de palavra

com a mão dura e horizontal ela coloca a mão alta e abaixa a mão horizontalmente a bacia em cima da outra mão que esta com o indicador e o médio para baixo
ela continua falando e falando rápido depois da mão estar ha poucos cms da outra mão ela ergue novamente a mão ainda horizontal e a move para cima e para o lado fazendo um barulho "bussh" com a boca
depois aponta para si mesma e os outros velhos que estão olhando de longe falando
MU MU MU

vilarejo escreveu:
MU MU MU

A cena toda foge completamente do esperado. Minha reação inicial quase foi levar a mão ao coldre, mas me contive, não entendi bulhufas do que se trata este MU, mas é algo compartilhado por todos. A velha bateu no peito, sinal de orgulho...eu acho. A explicação foi completamente vaga, mas não vou desistir tão fácil. Naquela fração de segundo uma teoria que eu já havia pensado antes ganhou mais força na minha cabeça.

- Esse tal culto a MU deve estar fortemente vinculado a doença infecciosa. Talvez os rituais dos fieis inclua alguma prática que favoreça a disseminação do patógeno, se for isso mesmo para descobrir mais sobre o assunto eu vou ter que bancar o...a droga... o antropólogo - uma careta se forma em minha cara.

Tento uma nova frase em indu algo simples, falo de forma lenta e alta, espero que ela entenda.

- "EU PROCURO MU"

Ela te aponta ao norte ainda falando MU e gesticulando o desenho de uma montanha

Uma montanha ao norte é o que a velha parecia querer dizer.

- Ok, tenho minha nova rota traçada, agora é seguir.

- "Obrigado" - falo para a anciã.

Levo comigo a arma, os utensílios medicos, a barraca, a alimentação que restou e as mulas. Minha viagem finalmente deu o primeiro fruto, espero que outros venham na sequência.