por Sllaker Sáb Jun 23, 2018 3:54 am
Carlos entregou uma mochila pesada com alguns suprimentos para Vitor que, a princípio, hesitou em pegá-la. Dentro havia comida, remédios e um convite, afirmara Carlos, então Vitor aceitou. Quando a teve em suas mãos, fez questão de abrir o zíper rapidamente e conferir o conteúdo da bolsa, enquanto Edrik fazia mais alguns questionamentos a Carlos e este rebatia. – Você não precisa confiar em todo mundo que encontrar, isso também seria burrice, mas se você continuar pensando que todo mundo é inimigo, então os inimigos são tudo o que você vai encontrar.
As palavras de Carlos rebateram em Vitor e, por algum motivo, ele se imaginou quando criança novamente, levando bronca do falecido pai. Ele sempre era posto de castigo depois de ouvir o sermão. Mas de nada adiantava. As palavras entravam num ouvido e saíam pelo outro. Seu pai nunca o batera, nem uma vez, e talvez esse tivesse sido o seu maior erro.
Quando Vitor colocou uma das alças da mochila no ombro esquerdo, o peso dela o obrigou a apoiar-se na outra perna. Edrik respondeu Carlos e virou-se aos resmungos, indo em direção ao bloqueio. Dessa vez o mexicano não tivera tanto cuidado em manter suas insatisfações longe dos ouvidos dos militares e, pela segunda vez em pouco tempo, Vitor temeu piscar os olhos e encontrar-se no meio de um tiroteio quando os abrisse novamente.
– O que esse cara ta pensando que é... – O militar que havia trazido a mochila falou. – Um cara morto. – Vitor imaginou que Carlos fosse responder. Uma só ordem era necessária para que em instantes todos do grupo estivessem furados como uma peneira, fazendo companhia para os cadáveres que apodreciam no asfalto. Mas o Capitão estava piedoso aquele dia e parecia ter em mente outras preocupações. – Temos nossos próprio problemas. – Ele disse, e Vitor suspirou, tirando o dedo do gatilho da balestra.
Os soldados se preparavam para partir. Um deles ligou o ônibus que cruzava a avenida, manobrando-o e abrindo espaço para que os veículos pudessem atravessar o bloqueio. Alice pareceu refletir um pouco, até que decidiu ir com os militares. Vitor deu de ombros e encarou Theo, se perguntando o que ele faria. A notícia de Leopoldina parecia ter mexido com ele, então não seria surpreendente se Campo Grande de repente lhe parecesse um bom destino.
Antes de finalmente se dar por satisfeito, Carlos reiterou novamente o convite, lembrando-o da Zona Segura. – O convite está na mochila rapaz. Se mudar de ideia. – Logo ele e os soldados atravessaram o bloqueio, parando uma última vez para darem a Vitor e ao grupo a possibilidade de atravessar a Kombi. Ao longe, Vitor observou, dois errantes que caminhavam na avenida se aproximavam, dando passos incertos enquanto erguiam os braços numa tentativa pífia de alcançá-los.
– E agora chefe? – Theobaldo perguntou a Vitor. Ele parecia mais calmo, Vitor notou, mas sua voz indicava que ainda estava abalado. – Você ficou. Sabe tão bem como eu que é furada seguir para essa Zona Segura. – Ele respondeu, começando a caminhar ao lado de Theo e Bola em direção a Kombi. Carlos estava ao longe, aguardando. – Não sei o quanto tu acreditou nesses caras. Mas meu pai dizia que mentira tem perna curta. Vamos até o Rio e até Leopoldina tirar a limpo essa história. De lá, decidiremos o que fazer.