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    Demônios do Passado

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    Mensagem por Brazen Dom Ago 19, 2018 6:15 pm

    O pequeno quarto do casebre de madiera balançava a cada convulsão violenta que acontecia na cama. A pequena lâmpada incandescente, que pouco ajudava na iluminação do local, piscava ameaçando deixar a escuridão total tomar conta do lugar. Você permanecia sentado no banquinho ao lado da cama. Um cigarro em suas mão direita e o livro místico na esquerda, aberto e apoiado na perna.

    O cigarro aceso não foi apenas para alimentar seu vício em nicotina...foi também a única forma que você encontrou para tentar suportar o cheiro podre de mofo, fezes e urina que a menina na cama exalava e tomava conta de todo o casebre, entrando como um soco direto no seu rosto no momento em que você abriu aquela maldita porta.

    Os gritos e blafêmias proferidas pela figura amarrada naquela cama pararam no momento em que você entrou. Um silêncio quase palpável caiu e permeneceu enquanto a cabeça da menina se virava para você com um sorriso demente e animalesco, totalmente não natural. Seus olhos, completamente negros, o acompanharam enquanto você pegava o livrinho místico do bolso do casaco, abria em uma página previamente marcada e o apoiava na perna após sentar. Nenhuma palavra fora trocada até o momento em que você acendeu o cigarro.

    - Sabe, Allyzinho, isso vai te matar qualquer dia desses. Sentiu minha falta? Todo mundo aqui sentiu.

    O sorriso louco não deixava o rosto cheio de cicatrizes daquela pobre menina magricela, maltratada e de cabelos desgrenhados, mas a voz que dela saía não era humana. Era grossa e potente.
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    Mensagem por Shmul Seg Ago 20, 2018 10:17 am

    O cheiro forte de podridão era tão violento que deixou as narinas e seu cérebro anestesiados, bem como a garganta entalada com vomito. O cigarro deixava tudo mais fácil, como sempre... ou pelo menos suportável.

    Quando seu nome foi pronunciado, um frio na espinha foi sentido, medo, aflição e ódio fizeram um “blend” bem servido de sentimentos em seu amago. Seria aquele maldito demônio do orfanato novamente? Ou algum outro tentando pregar uma peça? De qualquer maneira, ele precisava se VINGAR (complicação menor) desse demônio, mas para isso precisaria ser esperto, será que conseguiria?

    - Sabe, já tem um tempo que eu venho destruindo demônios do seu tipo. Parece que minha fama extrapola esse plano de existência, e fico contente por você ser mais um do fã-clube. Por que você não sai do corpo dessa garota para eu poder te dar um autógrafo? Se era seu desejo me encontrar... cá estou! – Talvez ele realmente não soubesse lidar com a situação...
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    Mensagem por Brazen Seg Ago 20, 2018 10:38 pm

    Spoiler:

    - Você quer uma prova, Allyzinho? Eu posso provar para você.


    Ela se contorce novamente e dessa vez a lâmpada de fato apaga por alguns segundos, deixando o casebre inteiro  na escuridão. Apenas a chama mínima produzida pelo seu cigarro era visível.  Quando a luz se acende novamente, você percebe que a pobre garota possuída não é sua única companhia naquele quarto.

    Cada um deles, da forma como você se lembrava naquela noite maldita. Seus amigos, aqueles pobres orfãos, rodeavam você e a cama. Seus rostos marcados, sujos e preenchidos por chagas e queimaduras grotescas. Crianças que você condenou ao sofrimento eterno por pura irresponsabilidade. Eles nada diziam, apenas o encaravam com olhares frios, vazios e acima de tudo, acusatórios.

    - Estão tooodos aqui. - diz o demônio em forma de menina. - - Esperando por você. E logo logo eu venho para te buscar. Mas primeiro, eu tenho planos para você.

    Ela faz um movimento obsceno com a lingua e você sente seu braço queimar. A dor é suficiente para que deixe seu cigarro cair no chão.

    - Você realmente achou que aqueles símbolos iam te proteger? Os MEUS símbolos? Pobre criancinha tola. Você está marcado, Allyzinho. Por livre e espontânea vontade, você tem um débito comigo. Chegou a hora de começar a pagar.
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    Mensagem por Shmul Ter Ago 21, 2018 11:02 am

    Uma forte tragada foi dada quando as luzes se apagaram, talvez tão forte como nunca havia dado. Sentiu a fumaça invadindo cada milímetro quadrado de sua efêmera existência. Quando a imagem das crianças surge no quarto ao acender das luzes, a vontade de tossir e o desespero fazem seus olhos pulsarem e se irritarem.

    Hiroshi não se achava a pessoa mais esperta do mundo, mas aquilo foi longe demais, foi uma quebra de paradigmas que havia construído a tanto custo com sua mente deveras perturbada. Ele não passava de uma maldita marionete nas mãos de um demônio qualquer. Todas as pesquisas sobre os símbolos e magias, os aprendizados com Tia Olga, Mad Sweeney e o livro de Seu Eustáquio... seria tudo uma mentira? Ninguém no mundo teria de fato um livre arbítrio?

    Sua mão fraqueja com a dor pungente no braço, o cigarro cai. E todas as outras tatuagens místicas gravadas em seu corpo? Seriam todas marcas registradas de outras entidades filhas das putas? Pensava que era como um gado de corte, porém, mais estupido, pois os gados não se marcavam sozinhos.

    Ally ajoelha no chão com a mão no braço em agonia, e grita de ódio e dor, até que cessa. Ele fica ajoelhado, com o rosto desfigurado de raiva, ranho e lagrimas. Parece que esse “combate” se iniciou perdido. Teria de ouvir o que o demônio tinha para falar, teria que obedecer, por enquanto. Se esforçava para se manter lucido.
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    Mensagem por Brazen Sáb Ago 25, 2018 9:53 pm

    Seu braço queimava, fazendo sua cabeça girar. Você se ajoelha no chão, um turbilhão de sentimentos e pensamentos preenchendo sua cabeça, lutando por espaço na dor que lhe queimava até a alma. Enquanto questionava se suas ações do passado foram estúpidas, você não resiste ao impulso, rasgando uma parte da blusa em seu braço direito.

    Ao seu lado, na cama, o demônio começa a gargalhar. Enquanto cada nota pérfida de escárnio preenche seus ouvidos, você olha aterrorizado ao sigilo grotesco que parecia agora uma ferida exposta.

    A dolorosa marca de um condenado.  

    A criatura na cama havia parado de gargalhar e esperou pacientemente você se recompor.

    - Agora, aos negócios Allyzinho. Tenho uma tarefa para você.

    A menina faz um movimento com cabeça em direção ao cigarro no chão. um dos orfãos desfigurados o pega com a mãozinha diminuta e o devolva a sua boca. Um outro aparece com um isqueiro e o acende novamente. Neste momento, você finalmente percebe: o mesmo símbolo que queimava no seu braço, também estava marcado no deles.

    - Mesmo daqui, eu posso ver muitas coisas, Allyzinho. Vocês, macacos de visão limitada ainda não começaram a sentir. Mas não se engane, algo está chegando. Algo grande o suficiente para mudar as regras do jogo e abalar todas as estruturas de poder.

    Ela volta a sorrir, te encarando diretamente no fundo de seus olhos com aquela escuridão sem fim.

    - Muitos temem essas mudanças. Eu não. O caos é sempre uma oportunidade para mudar hierarquias antigas e viciosas. Uma escada em um precipípio.

    A escuridão volta a tomar todo o casebre novamente por alguns segundos, quando a luz se apaga e volta a se acender.

    - Mas estou divagando, Allyzinho. O que importa para você é: Há uma garota. Jovem, tanto quanto esta carne enfraquecida que habito agora. Mas ela é...especial. Seu nome é Melinda. Você vai trazê-la para mim, viva. Quem a possui agora, conseguiu escondê-la bem da minha visão mas você é meu menino dourado e vai achá-la.

    O silêncio toma o aposento por alguns instantes. Você percebe que a aura do lugar começa a mudar, ficando mais pesada. Você observa as crianças à sua volta começarem a desaparecer, o que restou de seus corpos mutilados e queimados totalmente consumidas por um fogo que saía de dentro para fora. O grito de cada uma delas nos momentos antes de se tornarem cinzas ficariam gravados para sempre na sua cabeça.

    - Minha hora chegou. Este corpo frágil não pode mais conter meu poder e tenho outros assuntos a tratar. Sabe o que acontece agora, Allyzinho? - ela diz, com um sorriso medonho, cheio de dentes quebrados e apodrecidos -  Aquele final impactante de cena que todos estão esperando. Até logo, meu amor.

    O rugido como de um animal sai da boca da menina e ela começa a levitar na cama. As amarras se soltam, todas ao mesmo tempo e você sente o lugar inteiro tremer. Ela gira no próprio eixo, em pleno ar e permence de pé virada para você. Foi tudo muito rápido, você assiste aos olhos negros e diabólicos desaparecerem, dando lugar à fragilidade, confusão e um terror absoluto quando a consicência da menina é libertada do controle demoníaco e ela percebe que seu próprio corpo ainda permanecia suspenso no ar contra sua vontade. Ela gira a cabeça para trás com um movimento brusco e todo o lugar se enche do barulho chocante do seu pescoço se quebrando, seguido pelo impacto do corpo sem vida caindo no chão de madeira logo em seguida.

    Dessa vez a luz da lâmpada se apaga pela última vez. Um trovão pode ser ouvido rugindo do lado de fora. Começou a chover.
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    Mensagem por Shmul Seg Ago 27, 2018 2:39 pm

    Quanto tempo demorou caído no chão imundo do quarto até se recompor, não tinha certeza. Talvez uma eternidade? Um maçarico parecia ter fritado sua pele, porém a dor ia além. Era como se o corpo todo fosse eletrocutado, e mais... os ossos do braço da tatuagem pareciam se quebrar e retorcer, mesmo estando intactos. Além da dor física e psíquica, sua moral estava despedaçada, havia se cagado em meio a dor, e ao cair no chão, também se sujou com os excrementos da moça que agora servia de vessel para a entidade.

    Rasgou a camisa e encarou o símbolo arcano desenhado... algo como uma chama atravessando o lado achatado de uma elipse contidos dentro de um pentagrama sem simetria e torto. Talvez em uma realidade paralela aquilo servisse realmente de proteção, ou não.

    Se levantou para ouvir os desejos do demônio enquanto o cigarro sujo era colocado em sua boca, porém, a voz macabra parecia distante e abafada, mas ainda assim compreendeu e balbuciou algumas palavras – Macacos... Caos... Melinda...

    A luz da combustão “espontânea” das crianças atordoou sua vista e os gritos, que já haviam sido escutados outrora, o aterrorizaram novamente. Estava tão debilitado, com a mente totalmente tão ferrada, que aquela dramatização para extinguir a vida da moça parecia não ter surtido tanto efeito quanto se desejava, ao menos não naquele momento.
    Pegou suas coisas e saiu cambaleante pela porta quando se deparou e se apoiou no pastor, que ficou abalado com o estado deplorável do mago – Por Jesus, Senhor Hiroshi. O que aconteceu? - Ally deu uma gargalhada lunática e respondeu – É o apocalipse! O fim está próximo, e eu sou um de seus arautos! – então se desvencilhou e caminhou até tropeçar na sarjeta do lado de fora. Enquanto se levantava ensopado, ouvia o choro e os gritos horrorizados do pastor.

    Aqueles eventos foram terríveis e comprometeram a sanidade de Aleister, ao menos pelos próximos dias em que ficou vagando sem rumo por arruelas e becos escuros. Sua mente navegava em um turbilhão de pensamentos e sentimentos e parecia ter deixado seu corpo mortal para trás. Estava desidratado, faminto, hipotérmico e com a face ensandecida quando foi encontrado, recolhido e tratado por seu amigo Gus Fring que o levou de volta a seu apartamento.

    Mais dois dias se passaram quando finalmente recobrou sua consciência, e ao abrir os olhos pode ver tia Olga, serena como sempre, iluminada pelos raios de sol da manhã que entravam pela janela do quarto. Ela se virou para a porta e falou – Ele voltou para nós, Senhor Fring. – e um delicioso e reconfortante cheiro de bolo, café e alguns ingredientes “mágicos” enchiam o olfato do moribundo. Pankova com um olhar terno disse cheia de sotaque – Foi difícil para o Gus te encontrar, e ainda mais difícil para eu te trazer de volta (magicamente), meu garoto. Mas agora está tudo bem!

    Naquele mesmo dia já estava de pé, com as forças restauradas. Estranhamente conseguia lidar com quase tudo o que aconteceu, talvez fosse o forte ansiolítico que tomou ou talvez a magia de cura de Tia Olga continuasse fazendo efeito. O fato é que ele contou que havia essa marca em seu braço e que precisava se livrar dela, ou teria que ir atrás da garota, ou ainda os dois, pois faria de tudo para dar o troco em seu algoz. Ouviria os conselhos de Tia Olga, passaria algumas diretrizes para Gus e dependendo de como fosse pretendia buscar informação sobre a garota, primeiramente com Mad Sweeney.
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