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    [Agosto, 2018] - Nova Inglaterra, New Hampshire

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    Mensagem por Rosenrot Qua Nov 07, 2018 3:09 pm

    New Hampshire
    Agosto de 2018

    @Bastet
    Agora, desempacotando caixas, respirando um ar puro que raramente conhecia, era difícil para ele imaginar que tinha realmente deixado Manhattan para trás. Depois de todos os acontecimentos, a ideia tinha lhe surgido de forma tão rápida e espontânea que achava que se demorasse um segundo a mais para tomar a decisão teria desistido. Mas não demorou e lá estava ele.

    Tinha dirigido praticamente a maior parte do caminho, achava que seria uma "aventura" interessante fazer as coisas daquele jeito. Sua mudança total não tinha chego, então a casa estava vazia e espaçosa. Em Manhattan seu apartamento era consideravelmente grande para os padrões da cidade, mas nada se comparava a casa que comprará em New Hampshire, a parte da frente possuía uma enorme varanda de frente ao lago que corria próximo à casa, ela tinha também dois grandes andares e ele sinceramente não saberia onde começava e terminava seu quintal se não existissem as pequenas cercas brancas em volta das outras casas - tinha dois vizinhos próximos, pelo que pode ver no caminho - trouxera no carro algumas roupas e coisas que achou que ia precisar até a mudança chegar no dia seguinte, era início de manhã ainda e pensou que talvez fosse bom dar uma fuçada no centro da cidade.

    Era uma cidade pequena - e se impressionava por ser ainda possível encontrar um lugar como aquele nos Estados Unidos - portanto o centro não possuía grandes prédios ou arranha céus. Conseguirá até mesmo encontrar um lugar para estacionar sem precisar pagar alguém ou ficar rodando por horas. Talvez, pensou com otimismo, aquela nova vida realmente fosse de alguma forma, boa. No supermercado, comprou coisas básicas para alguém que morava sozinho e ia passar um ou dois dias sem suas coisas: comida enlatada, vinho, produtos de higiene, largou tudo no carro e resolveu dar uma volta pelo lugar a pé mesmo. Um único problema de ser novo em um lugar tão pequeno é que você logo era notado, portanto não foi raro ver alguém lhe encarando com curiosidade enquanto caminhava pelas agradáveis ruazinhas de New London.

    Pelo que pode entender, o centro da cidade basicamente era aquela rua. Vira um Shopping Center - nada tão gigantesco como Manhattan - um bar, alguns restaurantes e lojas e muitas casas. Nada de prédios. Pelo que entendeu também, o hospital e as escolas da cidade ficavam naquela região também. O fluxo durante aquele horário parecia maior e ele acompanhava os carros que passavam aqui e ali, e as pessoas que se moviam. Encontrou então um lugar chamado Dunkin' Donuts. O lugar tinha uma aparência agradável, sequer se parecia com uma loja - era uma casa, adaptada para se transformar no Dunkin' Donuts - lá de fora, pode observar a varanda e a entrada, uma ou duas pessoas estavam lá dentro, sentiu-se por um instante como um invasor, mas não podia sentir assim. Logo faria parte da rotina daquelas pessoas, estaria naquele centro pelo menos três vezes por semana para trabalhar. A ideia o invadiu com uma dose de coragem e ele se moveu para a entrada, empurrou a porta e a sinetinha anunciou sua chegada.

    No balcão pediu um donuts sem confeitos e um café, sentou-se em uma das mesas disponíveis e pela primeira vez desde que chegará a cidade resolveu olhar o celular. Tinha algumas poucas mensagens, a maioria de amigos desejando boa sorte ou fazendo piadas sobre como tinha ido viver como um fazendeiro - bem, isso não era bem verdade - ele continuava em sua profissão, apenas mudará de lugar. Até mesmo já tinha vivo em New Hamsphire quando mais jovem, seus pais ainda estavam lá, tudo bem que não tão distante das capitais, mas bem...

    Planejava terminar de tomar o café e ir dar uma passada no hospital, se apresentar e conhecer o lugar, era bom começar a se ambientar com sua nova rotina, ainda que só fosse começar a trabalhar na semana seguinte.
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    Mensagem por Bastet Sáb Nov 10, 2018 4:22 pm

    New Hampshire
    Agosto de 2018

    @Rosenrot
    Ao nascer do sol, New Hampshire era tomada pela magia dos quatro elementos. Quando os raios de sol tocavam na terra, com seu fogo divino, dava alimento para as plantas e energizava os cristais em formação sob o solo. O orvalho, ainda fresco, respingava das folhas e fazia a brisa ficar com um aroma típico de terra e erva molhada, delicioso para quem soubesse aproveitar.  O lago ondulava ao vento, com suas águas turvas e profundas, e os pássaros cantavam em perfeita sinfonia, como se tivessem ensaiado por muito tempo uma música para aprazer os ouvidos da mãe natureza. Não havia silêncio durante o dia, mas o barulho de uma cidade pequena, envolta por tamanha proporção natural, era muito diferente do que a poluição sonora de cidades maiores.

    (...)

    Muriel trabalhava no centro comercial da cidade, na loja de sua avó: “Sinos, livros e velas”. A avó da menina, Anna, claramente não tinha uma boa imaginação para nome, mas a loja era famosa ali. As pessoas da cidade acreditavam bastante em curas naturais e procuravam a senhorinha quando tinham algum problema emocional ou de saúde. Anna sempre dizia: “às vezes, uma erva e energia positiva podem curar a alma e, consequentemente, o corpo”.  Naquela manhã estava preparando alguns utensílios que usariam no ritual noturno... A lua cheia era sempre motivo para comemoração.

    (...)

    Na hora das bruxas, meia noite, Muriel, a avó e uma tia foram até a floresta. Não havia muitas pessoas com magia na cidade, após a caça às bruxas décadas atrás, mas as três tentavam manter a tradição viva. A princípio o ritual seria simples, um pouco de meditação, dança e oferenda de flores, fruta e vinho à Deusa... Mas, na hora do ritual, a tia sugeriu algo que preocupou a mais velha: uma magia de sangue. Muriel sabia que aquele tipo de magia era perigosa, mas provavelmente aceitaria devido a sua curiosidade; já a avó rejeitou prontamente e as duas entraram em uma discussão sobre os ensinamentos que estavam passando para a bruxa mais jovem. Com a discussão, não perceberam alguém se aproximar... E só puderam ouvir “Malditas!!” e um tiro.

    (...)

    Jake acordaria com um barulho muito alto e, se já tivesse ouvido um tiro anteriormente, saberia ser um. A casa vazia ecoaria o barulho de maneira ainda mais assustadora.

    (...)

    Pouco tempo depois, alguém tocaria a campainha na casa dele. E tocaria novamente. E novamente. Logo começaria a bater na porta. Se ele abrisse a porta, veria uma jovem alta, provavelmente com 20 e poucos anos, com um vestido branco e curto embebido em manchas de sangue. As mãos e os braços também estavam sujos. O sangue não parecia ser dela.

    - Por favor... Me ajuda – diria. Ela parecia ter vindo da floresta, devido a algumas folhas presas no cabelo e saiu correndo de volta pra lá. De alguma forma, sabia que aquela era a casa certa para bater... E, coincidentemente, a casa mais próxima da clareira onde faziam o ritual.

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    Mensagem por Rosenrot Sáb Nov 10, 2018 5:59 pm

    New Hampshire
    Agosto de 2018

    @Bastet
    O hospital tinha lhe surpreendido, apesar de ser um local pequeno e bem menos aparelhado do que estava acostumado em Manhattan, era agradável e funcional. Conhecerá algumas partes dele: incluindo a ala onde trabalharia, assim como alguns dos funcionários que estaria junto a si na próxima semana. Era estranho ocupar o lugar do cirurgião chefe, deixando para alguém de fora como ele, pode notar os olhares curiosos e pouco cordiais em sua direção, mas tentou manter a calma e a cordialidade. Sorria sempre que possível.

    Vagou um pouco mais pela cidade, acabou comprando um bocado de coisa que simplesmente não ia precisar, mas achou interessante, incluindo algumas decorações. Retornou para casa praticamente na hora do almoço, quando fez um sanduíche e resolveu limpar a varanda: o local estava cheio de folhas, também começou a desenhar um pequeno projeto de um futuro deck para o lago, talvez aprender a pescar? Era uma ideia. Sem TV e internet - apenas a do celular - precisou ocupar o dia com leituras e tarefas. Pendurou alguns dos quadros que trouxera de carro e abriu as janelas para arejar a casa, tanto tempo fechada.


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    Durante a tarde, sentou-se na varanda, observando o lago e um pouco da leve movimentação na rua que passava à frente da casa, após o rio. Existiam apenas duas casas após a ponte: a dele e outra que não sabia quem morava, talvez devesse eventualmente ir se apresentar. Atrás da casa, uma floresta erguia-se majestosa. Tinha dado uma volta pela área, mas sem ir muito longe, talvez explorasse mais o lugar quanto tivesse mais confiança em afastar-se tanto da casa.

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    Quando a noite foi caindo e ele pode observar o por do sol pelo lago, sentiu que talvez realmente tivesse tomado a decisão certa, as coisas que aconteceram em Manhattan ficaram por lá e ali, poderia começar de novo, com a cabeça fresca e o espírito em paz. Pensou seriamente se deveria dar uma saída à noite, ver como a cidade funcionava, quais eram os locais que as pessoas iam para se divertir, mas estava cansado e portanto tomou um banho e ficou em casa. O sono veio enquanto lia Crime e Castigo, mas do jeito calmo que o sono veio, ele foi arrancado dele de forma brusca com as batidas na porta.

    Jake não conhecia ninguém naquela cidade, quer dizer, havia um ou outro amigo de seus pais por ali, mas eles ainda não sabiam que o rapaz tinha se mudado para lá, e o modo como as batidas soavam desesperadas o incomodou. Naquela noite dormiu na sala, já que seus móveis ainda não chegaram e então moveu-se para a porta da frente: usava apenas a calça de moletom e estava com a cara amassada e o cabelo bagunçado quando abriu a porta. O choque inicial de ver uma moça naquele estado combatia a sonolência de ser recém desperto daquele modo, quando ela começou a se afastar daquele modo, ele ainda estava bastante confuso e olhou na direção que ela seguia e depois para dentro da casa, voltou rapidamente até a própria bolsa, procurando a arma que trouxera de Manhattan consigo: não era o maior fã de armas, mas gostava de praticar nos stands de tiro da cidade grande.

    Ele saiu, descalço e apenas de moletom. - Hei! Hei! - Estava rouco, mas seu timbre era grave e marcante, ele moveu-se a passos rápidos, alto como era não demorou para alcançá-la e lhe segurar o braço com uma das mãos. Achava, em sua fiel ignorância que ela estivesse talvez drogada e algum animal pudesse tê-la atacado, apesar de uma primeira e rápida olhada não parecer revelar nenhum ferimento. - O que aconteceu? - Quis saber.

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    Mensagem por Bastet Sáb Nov 10, 2018 7:36 pm

    New Hampshire
    Agosto de 2018

    @Rosenrot
    Ao nascer do sol, Dizem que em momentos de perigo o seu corpo age por instinto.  As pessoas conseguem carregar o sobro do seu peso, pular de lugares muito altos, correr distâncias inimagináveis... Enfim, não importa o obstáculo, a adrenalina, geralmente, te ajuda a vencer se você ou um ente querido está em perigo.

    Após o tiro, a floresta ficou silenciosa. Não se podia ouvir os animais noturnos, o movimento das plantas, nem mesmo o barulho da água que corria não muito longe dali. O ambiente ficara frio e a aura de partida e de maldade se instalou dentro do círculo mágico onde as três bruxas estavam ajoelhadas. Anna, a mais velha das três, estava encarregada e consagrar o vinho que beberiam no ritual. Assim que ergueu a taça, ignorando os questionamentos da filha sobre ensinar magia de sangue para Muriel, os dois projéteis de uma espingarda recém disparada encontraram o seu peito e se desfizeram em pequenos pedacinhos dentro de seu corpo. O sangue veio logo em seguida, manchando a roupa e taça da senhora, respingando em Muriel que estava ao seu lado.

    A jovem não se lembrava bem do que acontecera em seguida. Ela tentara a todo custo ajudar a avó, parar o sangramento, invocar algum feitiço de cura... Mas, com a idade mais avançada e a agressividade do ataque, não conseguiria fazer nada sozinha. A tia, então, mandou ela buscar ajuda... Enquanto, estranhamente, raspava o dedo na taça suja de sangue. Depois foi até Anna, apoiando a cabeça dela para que Muriel pudesse ir. Assim que a menina deu as costas, a tia lambeu o dedo embebido de sangue e vinho.

    (...)

    Muriel correu, mesmo com os pés descalços e o corpo pouco protegido. Não sentiu os galhos arranhando sua pele nem as pedras e folhagem seca machucando os seus pés. Não sabia para onde estava indo, mas sabia que era para lá que tinha de ir. A jovem não parou de correr até conseguir ajuda... E, de forma apressada, tentou voltar para ajudar a avó.

    O homem que atendera a porta hesitou, mas seguiu a menina. Quando ele tocou no braço dela, a impedindo de fugir, um arrepio gelado lhe percorreu a espinha, fazendo ela puxar o braço de volta com alguma brutalidade. – Quem é você? – perguntou, não sabendo o porque de o toque dele ser tão gelado. Mas, assim que ele perguntou o que havia acontecido, ela voltou a si e o olhou nos olhos, se segurando para não chorar.

    - Nos atacaram na floresta... A minha avó tá muito ferida. Um tiro. Foi um tiro, aqui – parecia um pouco desnorteada, e apontou na direção do peito, onde a avó havia sido atingida. – Por favor, me ajuda – pediu novamente, tentando puxar ele de volta para o caminho de onde ela havia vindo.

    Caminhariam por uma distância maior do que ela lembrava e o corpo começava a doer, a adrenalina começando a baixar. Logo chegariam em uma clareira muito bonita: a grama era verde, com a base de uma arvore que um dia fora muito grande, cortada, como um altar. Durante noites de lua cheia, como aquela, a luz da lua incidia diretamente no centro da base de madeira.


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    Ao se aproximar, ele veria uma cena, no mínimo, esquisita. Uma senhora no chão, com o vestido branco ensanguentado, enquanto outra mulher, parecida com Muriel, estava ajoelhada ao seu lado, segurando a mão dela. Sem uma lágrima. Anna estava ao lado da árvore, que, se ele reparasse, era mesmo um altar de algo: uma taça suja de sangue, flores, velas, frutas etc. Estava meio bagunçado, devido ao movimento ali e ao ataque, mas ainda dava pra ver que não era só um piquenique noturno.


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    Muriel levou o homem até a avó. Ele veria que o tiro fora planejado: ou o atirador tinha uma mira muito boa ou havia sido informado de como fazer aquilo e a hora para fazer.

    A jovem se ajoelhou ao lado da avó, que respirava com dificuldade, sem conter as lágrimas.

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    Mensagem por Rosenrot Sáb Nov 10, 2018 9:16 pm

    New Hampshire
    Agosto de 2018

    @Bastet
    Jake ainda lutava bastante com a sonolência - não tinha despertado totalmente -, mas sentir as folhas e galhos machucarem os pés - e o frio que fazia lá fora - o trouxe de volta relativamente rápido. O sangue que podia ver nas roupas da menina também o fizeram acordar, mas quando ela virou para si, olhando-o daquele jeito e puxando o braço de volta e fazendo aquela pergunta. Ele arqueou as sobrancelhas muito brevemente, sem entender o que estava acontecendo. Afinal de contas, ela tinha batido na porta dele, ela tinha pedido ajuda sabe-se lá com o quê e agora virava daquela forma como se ele tivesse sido o algoz?


    Ficou um segundo parado ali, no escuro e com frio, confuso e bastante perdido, até ouvir o que ela falava. Não escutara o tiro - provavelmente estava em sono profundo - a viagem tinha sido cansativa e cobrou bastante do seu próprio corpo. Mas saber que alguém estava ferido naquele estalo o pôs em total alerta, ele apenas moveu a cabeça em positivo, parecendo mais um soldado do que qualquer outra coisa e indicou que ela começasse a se mover para mostrar por onde ir. Jake a seguiu e por um instante se perguntou se aquela parte da floresta também fazia parte das suas terras - o homem que lhe venderá a casa avisou-lhe que boa parte da floresta também fazia parte do lote -, ainda que algumas leis impedissem que ele fizesse qualquer coisa com aquilo, não sabia porque pensava nisso.

    A beleza da clareira lhe passou desapercebida naquele instante, talvez em outras circunstâncias ele pudesse apreciar mais tudo aquilo, em um momento em que seu coração não parecesse disposto a saltar do peito e que o frio que sentia não lhe desse dores. Mas também existia a questão das esquisitices. Quando se aproximou de tudo aquilo, Jake travou por um instante, olhando em volta com muito cuidado e atenção. Uma tia e uma ex namorada dele gostavam de algumas coisas como aquilo: ervas, estatuetas, incensos e toda essa bugiganga mística, mas o que estava vendo ali parecia muito, muito longe dessas superstições de lojas. E aquilo lhe levou de volta para Manhattan, para à noite do Blues Bar e para a coisa que viu no beco.

    Seu sangue gelou quase instantaneamente e ele ficou parado, segurando a arma na mão e isso durou um segundo ou mais, a verdade é que só voltou a si quando notou a garota levar-lhe até a mulher ferida. Piscou muitas vezes, abaixando-se perto da mulher, forçou-se a deixar o medo e os receios de lado e tornou-se o médico meticuloso pelo qual ficou famoso. Seu olhar passou por ela com cautela e analítico, antes de mover a cabeça muito devagar em negativo.

    Ela ia morrer, Jake soube disso no instante em que pôs os olhos na mulher. Ela ia morrer porque eles estavam numa floresta. Ela ia morrer porque era um tiro muito bem dado, ela ia morrer porque ele estava sem qualquer possibilidade de fazer alguma coisa. Respirou fundo e segurou as mãos da jovem que lhe levou ali, moveu as mãos dela até o peito da mulher ferida e forçou-as ali. - Eu vou levantar ela e você tem que manter a pressão, nós vamos nos mover o mais rápido que puder de volta para casa e pegar o carro. Ela precisa ir ao hospital. - Era o pensamento mais lógico que ele tinha, ficou olhando a jovem, esperando que ela tivesse entendido. - No três. - Então ele contou e quando chegou no três, ergueu a mulher nos braços.

    A mulher era mais leve do que Jake tinha imaginado ou a adrenalina no seu corpo simplesmente o fez acreditar nisso, começou a se mover, esperando que a jovem conseguisse manter as mãos para estancar um pouco o sangue, talvez... Talvez se chegasse ao carro, talvez se chegassem ao hospital... Talvez...

    Agora sequer sentia mais das dores nos pés ao pisar nos galhos e folhas. Tinha só um propósito. Chegar ao carro.

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    Mensagem por Bastet Sáb Nov 10, 2018 10:05 pm

    New Hampshire
    Agosto de 2018

    @Rosenrot
    Muriel não sabia que o homem era médico. Nunca tinha visto ele antes daquele momento... E, apesar do pressentimento ruim quando ele a tocou, sua intuição dizia que ele devia estar ali, naquele momento. Sendo assim, confiou o lugar secreto das bruxas da cidade, confiou o segredo que tentavam manter a todo custo, confiou a vida de sua avó ao desconhecido.

    Quando ele chegou na clareira, ela quebrou o círculo mágico, feito de sal em toda área ao redor da árvore, com um dos pés. Geralmente, outros seres, que não bruxas, não conseguiam entrar. Se ajoelhou e deixou o homem avaliar a situação da avó, chorando baixo. Apesar da confiança dela, a tia era mais desconfiada: quase rosnou ao ver o humano ali e, por um momento, encarou ele de forma animalesca, como se visse o fundo de sua alma. “Ele não deveria estar aqui”, ela disse e ficou repetindo isso em sussurros enquanto o homem tratava a mais velha.

    Muriel assentiu, quando Jake passou as instruções para ela. Não sabia bem como se movimentariam daquela forma, mas deveriam tentar. “No três”, ele disse, e ela se preparou para levantar, mentalizando e fazendo uma prece baixinha para ajudar ele. Assim que se levantaram, a tia surgiu no caminho deles, não os deixando prosseguir.

    Não adianta fugir do seu destino, Muriel. O coven das sombras te espera. E esse foi o primeiro sacrifício para a sua entrada” dizendo isso, o sangue começou a fluir de maneira mais abundante entre os dedos da menina e a avó foi ficando mais mole.

    -Não... Não... Deixa ela em paz! – disse, não conseguindo se concentrar o suficiente para impedir. A tia correu para as sombras e desapareceu aos olhos dos dois – O hospital... vamos, por favor – disse, agora, para o homem que parecia um pouco aterrorizado com o que acabara de acontecer.

    Quando começaram a andar, os dois bastante atordoados,  a senhora disse algo, com os olhos, que já estavam ficando turvos, voltados para o médico: “Não faz ...mal .... ficar com medo... Mas não deixe o ódio... te guiar... A luz.... é sempre o caminho”. As palavras estavam mal pronunciadas, com muitas pausas, devido a fraqueza do corpo dela. Além disso, provavelmente não fariam sentido algum para ele.

    A menina parou, sem conseguir mais andar. Sem conseguir sentir pulso na mulher que a criara. Só conseguia sentir o sangue em suas mãos e o poder que vinha dele. A tia tinha feito aquele sacrifício no nome de Muriel, então a magia da avó estava sendo absorvida por ela. Ela não queria aquilo...  As mãos trêmulas ainda apertavam o peito da mulher morta.


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    Mensagem por Rosenrot Sáb Nov 10, 2018 10:37 pm

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    Agosto de 2018

    @Bastet
    Quando ele levantou a mulher e passou a se mover, tentou fazer do modo mais gentil possível e tentava também mover-se rápido, mas ao mesmo tempo numa velocidade que a garota pudesse acompanhar. Forçou-se a ignorar as coisas ao seu redor, tudo que estava vendo e tudo que sentia - os pelos do corpo estavam todos eriçados - como se tivesse passado por uma grande corrente de ar frio. Jake se movia o mais rápido que podia e amaldiçoou a si por não ter trazido um celular.

    Estava prestes a descer uma pequena elevação, quando a mulher surgiu à frente deles. Jake não entendeu por um momento, mas também não se deu ao trabalho de tentar entender. - Saia do caminho! - Ele gritou e sua voz rouca pareceu ecoar pela floresta toda, trazendo um leve cala frio nas mulheres presentes. Eram raros os momentos em que Jake perdia sua tão bem cultivada calma, mas estava em um ambiente desconhecido, com uma moribunda nos braços e tentando entender tudo que acontecia a sua volta, ser cordial era o último das suas preocupações. Para elas, porém, o grito de Jake quase soou como uma ameaça. Existia algo ali muito maior do que um simples humano falando.

    Estava assustado quando voltou a se mover, mas disposto a chegar até o fim do seu tão fracassado plano. Respirava profundamente e de maneira arfada, quando pode ver a luz da varanda da casa, sentiu uma estranha sensação de paz mesmo que tudo ainda estivesse tão caótico, baixou a cabeça muito levemente para a mulher que carregava, ouvindo o que ela falava. Fez um "shhh" muito suave e mesmo quando Muriel parou de se mover, Jake continuou andando, aproximou-se da varanda da casa, colocando a senhora sobre o piso de madeira que tinha varrido na tarde anterior, abaixou-se próximo dela, tentando sentir alguma respiração - qualquer respiração - e depois o pulso. Não havia nada, ele sabia que não havia nada, mesmo que não quisesse acreditar.

    Levantou a cabeça, olhando em volta, sua mente estava tão vazia quanto sua casa, ele se levantou e moveu-se para dentro e fuçou suas roupas, procurando o celular, mesmo tão distante de tudo, sabia que podia contar com o sinal do aparelho, retornou para o lado de fora, já com o telefone no ouvido.

    - Isso, é esse mesmo o endereço. - Falou, seus olhos pairaram sob Muriel, ele estava sujo de sangue - no peito, a calça e principalmente as mãos - sua expressão misturava-se com o cansaço e com o terror. - Vou aguardar aqui. Certo. - Baixou o telefone então, encerrando a ligação. No fundo, não queria pronunciar aquelas palavras, mesmo sabendo que a jovem tinha ciência do que acontecerá, mas verbalizar a morte de alguém nunca era tão simples quanto parecia. Ele empurrou uma cadeira na varanda. - A policia está vindo. - Informou, seu estado de desorientação era grande. Assimilar tudo aquilo era bastante difícil. Quem diabos era a mulher na clareira? O que inferno ela queria dizer com "Coven"?

    - Sinto muito. - Conseguiu dizer, mas era o máximo que conseguiria dizer naquele instante. Tinha esquecido até mesmo do frio.


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    Mensagem por Bastet Sáb Nov 10, 2018 11:38 pm

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    @Rosenrot
    Só naquela noite, Muriel havia ouvido a floresta se calar duas vezes.  Na primeira, a sua avó havia sido ferida. Na segunda, tanto ela quanto todos os outros seres da floresta sentiram um medo obscuro em sua alma, no momento em que o médico levantou a voz para a tia. Diferente do arrepio que sentira ao tocá-lo, que causara uma sensação gelada e distante, o arrepio que sentiu naquele momento era diferente, como se fosse uma ameaça muito próxima e nada humana. Se a situação fosse outra, provavelmente a jovem teria se afastado dele, mas, como a vida da avó estava, literalmente, nas mãos do homem, ela não o fez. Já a tia, mais experiente, entendeu aquela sensação... Ou ao menos a ameaça que ela trazia. Por isso, deu apenas o recado que queria dar e se afastou deles, se misturando às sombras. Muriel pensou, no momento, que talvez sua intuição o levara ali para a proteger... Mas a menina não fazia ideia que aquilo traria muitos problemas.

    (...)

    O que aconteceu, daquele momento em diante, era somente o seu pesadelo mais profundo se concretizando. Caçadores ativos na cidade, covens se formando, sua família destruída e ela sozinha.  Ficou parada algum tempo, enquanto o homem levava o corpo da avó para a varanda de casa e tentava, em vão, reanimá-la. Muriel sabia que Anna já não estava ali. A jovem bruxa havia absorvido a essência da avó, sendo a principal responsável por aquela morte.

    Somente se aproximou da casa quando Jake havia terminado a ligação. Assentiu com a cabeça quando ele informou que havia chamado a polícia e se sentou na escada, segurando a mão cada vez mais gelada da avó.

    - Obrigada –  murmurou, com a postura curvada e a cabeça baixa. Olhava para os pés todos machucados e para o vestido ensanguentado. Suspirou. – Me chamo Muriel – se lembrou que não havia feito uma apresentação formal – E moro ali – indicou uma das casas vizinhas – Acho que não sou a melhor anfitriã – os olhos dela estavam perdidos em algum lugar e falava sem muita emoção, mas deu uma risada pela ironia daquela situação.

    Ao rir, teve um estalo na sua mente. Ele havia visto e ouvido demais. Apesar de estar muito cansada e emocionalmente abalada, teria de fazer algo. Após ele se apresentar, ela se levantou.

    - Senhor Macbender, me desculpe – disse, pesarosa, e se aproximou enquanto murmurava um feitiço de esquecimento: Nada do que viu, deveria ser visto. Nada do que aconteceu, deveria ter acontecido. Com o beijo da vida, pudemos aqui estar; com o beijo de lábios, sua memória vou selar. Bem perto, ela o puxou pelo braço de forma repentina, e o beijou. Normalmente, seria um feitiço fácil, indolor e muito efetivo... Mas aquilo foi como uma descarga elétrica no corpo dela, que fez a menina desmaiar.

    As memórias de Jake ficaram confusas, como se as partes “bizarras” daquela noite fosse apenas um sonho que tivera antes de ir ajudar a menina e a avó. Ele ainda se lembrava de tudo, mas o que parecia crível era que um caçador atingira a senhorinha e a neta buscou ajuda. Mas não se lembrava de como a jovem havia caído no chão, sem consciência.


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    Mensagem por Rosenrot Dom Nov 11, 2018 9:11 am

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    Agosto de 2018

    @Bastet
    Jake ainda estava bastante atordoado por tudo que acontecerá desde a hora que abriu a porta até o momento em que depositou o corpo da mulher na varanda de sua casa. Sua mente cansada tentava assimilar tudo que tinha visto - e ouvido - na clareira. Sentia-se um tanto enjoado com toda aquela coisa. Deixara Manhattan para trás por motivos semelhantes - quer dizer, não tinha visto nenhum tipo de ritual doido numa floresta -, mas tinha presenciado coisas...

    Respirou fundo e só então notou que a jovem falava com ele de novo, estava de costas para ela, olhando na direção da qual tinham saído minutos atrás. Olharia os papeis da casa para saber até onde - e o que - havia em sua propriedade. - Jake MacBender. - Sua voz ainda era rouca, mas a rouquidão estava passando aos poucos, agora que o semi despertar tinha se completado. Sentia vontade de passar as mãos no rosto e nos cabelos, mas estavam sujas de sangue e ele sinceramente não queria parecer um assassino louco quando a policia chegasse.

    Observou a garota por um longo momento, sabia que o luto - e situações traumáticas - traziam reações inesperadas, portanto não estranhou tanto o riso da jovem. Moveu os ombros, voltando a encarar o caminho que viera, mas então sentiu que ela se aproximava e se virou no instante que a jovem pôs-se na ponta dos pés para beijá-lo - ele era bem mais alto que ela, afinal de contas -, sua primeira reação foi segurar o pulso de Muriel. - Mas que merd... - Suas palavras foram interrompidas pelo tocar dos lábios, mas o efeito talvez não surtisse como Muriel desejava ou esperava.

    Jake afastou-se dela, rápido demais - ela tinha apenas encostado a boca na dele, como um selinho adolescente e inocente -, quando ele a afastou de maneira brusca, confuso e estarrecido. Já Muriel sofreu com uma serie de sensações esquisitas; o frio que tinha sentido quando Jake lhe segurou na floresta passou por todo seu corpo. Arrepios subiram espinha à cima e a mesma sensação que o grito do homem à tia retornou em ondas mais fortes e aterradoras. Tinha sido como segurar na mão uma brasa quente. Então o mundo para ela escureceu, tudo que ela pode ver antes de apagar, foi Jake se adiantando para segurá-la antes que atingisse o chão.


    [...]


    Muriel fechava e abria os olhos com alguma frequência: a primeira vez sentiu seu corpo em algo macio, notou que eram almofadas, na segunda vez pode ver as luzes brilhantes e espalhafatosas do carro da policia parado em frente à varanda, Jake estava lá, conversando com um policial, ainda apenas de calça e sujo de sangue. Na terceira piscadela viu o corpo da sua avó ser posto em um cobre corpo e retirado, na quarta sentiu-se erguida e posta em uma maca dura, levada a uma ambulância, enquanto passava, viu Jake entrando no carro da policia. Então tudo ficou escuro de novo.


    [...]


    Jake MacBender era um forasteiro, e ele sabia melhor do que ninguém o que ser um forasteiro significava ao estar presente em um crime como aquele. E para piorar sua situação, sua memoria começava a lhe trair. O que tinha visto realmente na mata? Agora já não possuía tanta certeza. Contou tudo que lembrava, do jeito que lembrava, mas suas duvidas cresciam a cada vez que precisava repetir a mesma história. Passou praticamente quatro horas na delegacia, antes de ser liberado: um oficial o levará até em casa. Quando Jake finalmente chegou o sol já estava começando a nascer de novo e ele parou na varanda, observando o sangue que manchava as tabuas do piso. Respirou fundo e entrou.

    A primeira coisa que fez foi por uma blusa - era inutil tentar tomar um banho agora, precisava lavar a varanda -, agradeceu por sua sagacidade de ter passado no mercado e comprado aqueles produtos. Jake levou um balde com água, panos, vassoura até a varanda e começou o processo de limpeza. O sangue fresco saia com facilidade, ele sabia, mas o trabalho não era menos desgastante por conta disso. Sua tarefa demorou quase uma hora, quando finalmente terminou de lavar, secar e todas essas coisas, a manhã já tinha nascido completamente, entrou e finalmente pode tomar um demorado banho quente.

    Preparou um café e então sentou-se na sala vazia, pensativo. Sabia que o assunto não tinha acabado, era provável que a policia ainda o procurasse para mais um ou dois interrogatórios. Eles ainda estavam lá hoje para olhar a clareira e foi quando se lembrou que tinha deixado a arma por lá, podia ouvi-los mover-se pela mata, assim como ver as luzes dos carros lá fora. O dia ia ser infinitamente longo.


    [...]


    Muriel tinha sido levada ao hospital, mas não havia nada de errado com a garota, quando recobrou a consciência precisou prestar alguns depoimentos. O que tinha acontecido na clareira? O que estavam fazendo na clareira aquela hora da noite? Como conhecia Jake MacBender? O que ele tinha a ver com tudo aquilo?

    Aquelas perguntas se repetiram para Muriel boa parte da manhã, antes de receber alta e poder sair do hospital.



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    Mensagem por Bastet Dom Nov 11, 2018 3:44 pm

    New Hampshire
    Agosto de 2018

    @Rosenrot
    Apesar do cansaço, do trauma, da perda e da sensação de vazio que a menina começara a sentir desde que chegara naquela varanda, não foi nada disso que fez com que o corpo dela desmoronasse após o acontecido. O que a fez perder a consciência foi o beijo gelado que dera em seu vizinho.

    A princípio, seria um feitiço simples e até bobo. Humanos são, geralmente, movidos pela luxúria, pelo ódio e pelo medo; então, um feitiço com um beijo, por exemplo, não demanda muita energia de um bruxo: toda a energia e a força são canalizadas dos instintos naturais dos humanos.  Mas, ao beijar o vizinho, ela teve certeza que ele não era humano. E teve medo. Medo por não saber o que exatamente ele era e por perceber que a força daquele homem era diretamente oposta a sua, sendo capaz de repelir um feitiço (mesmo que fraco) sem nem perceber o que fazia.

    (...)

    O estado de inconsciência de uma bruxa não é relaxante. É um estado de vulnerabilidade, onde sussurros dos antepassados tomam a sua mente, tentando, por vezes, tomar o seu corpo. Por isso, no quarto de toda bruxa há um filtro dos sonhos e um amuleto de proteção.

    Os ancestrais murmuravam coisas sobre os tempos mais antigos e mais sombrios para eles “Uma bruxa precisa de poder... De sangue. Não se combate fogo alto com um cálice de água. NÓS precisamos parar isso...” –Não! – Muriel gritou em sua mente, recuperando a consciência pela primeira vez. Apesar disso, algo a puxou de volta. Esse era o perigo de um grupo, um coven, sua avó sempre alertou. Todos estão ligados. A vontade de todos é mais importante do que de um só. Ela nem sabia bem o que as bruxas queriam parar, mas sabia que não queria violência... Ou queria? –Não! – mais uma vez acordou, não demorando muito a voltar ao plano astral. “Você ofereceu o sangue da sua família, está pronta... Venha, uma bruxa não deve estar sozinha” –Não! – a menina acordou na ambulância... Nem tinha certeza de como chegara ali. Antes de alguém perceber, seus olhos já estavam fechados. “Você é uma de nós... É uma de nós. Se nos renegar, o preço por nossa ajuda será mais alto”, os sussurros continuavam, deixando Muriel cada vez mais desesperada, querendo acordar. –Eu não sou uma de vocês!!!! – gritou, com tanta força que acordou em meio a um grito, arfando. Havia um policial fora da sala, conversando com um médico. Ao ouvirem o grito, ambos entraram. Ninguém sussurrava em seu ouvido... Mas um peso enorme rodeava a sua cabeça.

    (...)

    Apesar de não querer falar sobre o acontecido, a menina passara o resto do dia sob interrogatório dos policiais. No começo, o tom do policial era mais amigável... Mas, quando voltaram à tarde, após o depoimento de Jake e da vistoria na clareira, o tom ficou mais duro e inquisitivo. Décadas atrás, havia acontecido um “suicídio” em massa de praticantes de magia na floresta. O que ninguém dizia era que, o suicídio foi um assassinato brutal de bruxas. Desde então, qualquer prática na cidade havia sido proibida pela prefeitura... Nem sabia como a avó havia mantido a loja aberta por tanto tempo. Após encontrarem objetos “suspeitos” na clareira, as coisas ficaram difíceis de explicar.

    - A minha avó era uma senhora supersticiosa, policial Becker, o senhor conhece...conhecia ela desde que eram novinhos. Ela tava com umas dores e achou que acender uma vela e fazer uma prece na natureza não faria mal. Eu fui com ela para que não se perdesse ali, faz um tempo que ela não tava enxergando bem... Mas alguém... Não sei se foi proposital ou um caçador desavisado, atingiu ela. Não é ilegal caçar nessa época?

    Tentava amenizar o ocorrido. Ninguém sabia de sua tia, bem, pelo menos ela achava que não, então omitiu. Três mulheres em um altar, na floresta, seria, sem dúvidas, visto como um ritual. A ligação com o vizinho ela não mentiu. Ele apenas ajudara no momento de desespero, não tinha nada a ver com o ocorrido.

    (...)

    Após um interrogatório longo demais, liberaram ela. Como não tinha ferimentos graves, não precisou ficar no hospital também.

    Ela não queria ir pra casa. Não queria entrar nos cômodos vazios. Não queria ter de esperar abrirem sua avó para a investigação, para, então, conseguir fazer um funeral pra ela... Mas era o que teria de fazer. Assinou os papéis do hospital, preocupada com o valor, mas assinou. Logo um policial a levou em casa. Quando saiu do carro,  se virou para a mata. Os policiais já haviam saído lá, após destruir toda a beleza do local. Olhou na direção da casa do vizinho, mas não viu ele lá. Logo se virou para a própria casa, bem simples e com cara de avó, e acabou entrando.


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    Tomou um banho, limpando o corpo de tudo aquilo e lavando o cabelo. Não conseguira chorar depois do ocorrido. Estava entorpecida. Se vestiu com com uma roupa mais quente e decidiu ir até a floresta... Podia não ser a decisão mais inteligente, mas precisava encerrar aquele terrível acontecimento. Certamente a clareira estava com muita energia negativa desequilibrando a magia do local.

    Passou por onde costumava passar, sem saber que a terra ali, agora, tinha dono. Se Jake ainda estivesse olhando pela janela, veria a jovem andando pelo campo em direção às árvores.



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    Mensagem por Rosenrot Dom Nov 11, 2018 4:19 pm

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    Agosto de 2018

    @Bastet
    Jake tinha feito algumas ligações durante o dia - uma delas para seu advogado - era melhor prevenir do que remediar. Explicara ao homem os acontecimentos da noite passada e esse prometeu que estaria lá no dia seguinte, precisava apenas pegar um voo, deu algumas instruções para Jake e tranquilizou o homem.

    A policia tinha vindo mais uma vez, dessa vez trazendo sua arma dentro de um saco plastico - ele pode ver outras coisas em sacos também -, velas e essas porcarias. Questionaram sobre a arma, mas Jake afirmou que apenas a levou por achar tratar-se de um animal ou qualquer coisa assim, sequer tinha disparado. A arma fora apreendida para passar pela pericia, mas imaginava que a teria de volta em breve.

    Por um infortúnio do destino, pela primeira vez na história, sua mudança chegou no tempo previsto, o caminhão precisou de autorização da policia para entrar na área. Agora sua casa era um amontoado de caixas e móveis fora dos lugares e desmontados. A sala parecia uma zona de guerra. Ele tinha dado uma segunda lavada na varanda também, mas nunca se livraria da sensação de que estava suja. Desempacotou um bocado de coisas, montou outras... Até se cansar dessa atividade. Preparou um café e arrastou uma das cadeiras para a varanda lateral - próxima à garagem e ao que ele imaginava ser uma casa para empregados ou hospedes - havia uma extensão da varanda, onde tinha ficado apoiado noite passada, olhando para a trilha que fizera para levar a mulher até sua casa.

    Se sentou de frente para a floresta, encarando as árvores que começavam a tomar tons diferentes conforme o sol se afastava delas, Jake ainda estava lutando contra as próprias memórias, para tentar entender exatamente o que tinha acontecido na noite anterior. Lembrava da clareira, lembrava da batida na porta... E havia uma frase que não saia da sua cabeça, mas estava tão incompleta que não fazia qualquer sentido lógico para ele.

    Sentiu o celular vibrar em cima da perna e baixou a cabeça para ele muito brevemente, quando levantou de novo, pode ver Muriel andando na direção do local de onde tinha saído noite passada. Jake pensou que talvez fosse uma boa ideia começar a espalhar plaquinhas de "propriedade privada" por ali.

    - Você sabe que não pode ir lá, não é? - Sua voz não estava mais rouca, mas ainda era forte e de presença considerável. Era a voz de alguém que se destacava na multidão, que fazia com que as pessoas parassem e ouvisse. - É uma cena de crime, a polícia isolou tudo, ninguém pode entrar lá sem autorização.

    E tomou outro gole do café, observando a garota.



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    Mensagem por Bastet Dom Nov 11, 2018 5:27 pm

    New Hampshire
    Agosto de 2018

    @Rosenrot
    Muriel sempre gostara de ambientes como aquele: as árvores altas, as montanhas ao fundo, o barulho de água vindo de toda parte. Crescera dentro daquela floresta, explorando cada partezinha, mas nunca se cansava de ver o local se transformando, seja sob influência dos raios solares e lunares, ou sob a vontade dos deuses.

    Enquanto andava, ela observava as árvores. A maioria estava intacta na sua beleza natural, mas a mata perto da trilha estava toda bagunçada, cheia de marcas de sapatos, galhos quebrados, folhas arrancadas... Além de sangue, da noite anterior.  Os passos foram ficando mais lentos, devido às lembranças. Como um local tão bonito poderia ter adquirido uma aura tão feia?

    (...)

    Quando ouviu a voz de Jake, se arrepiou inteira. Não havia se acostumado, ainda, com a ideia de aquela casa estar ocupada. Não se lembrava de alguém morar ali desde... Bem, desde que ela era bem pequena. A avó costumava contar que, no passado, um grupo de caçadores morava ali... E que muita coisa ruim acontecera lá... Até que, de uma viagem a uma tribo distante dali, eles trouxeram uma fera, metade homem e metade lobo, que saiu de controle e matou todos. A polícia assumiu que eles haviam prendido um animal selvagem na casa de hóspedes... Mas não sabiam como o animal havia saído de lá: a casinha parecia um forte, com grades, portas e janelas reforçadas, proteção acústica etc. Anna, no entanto, dizia que os espíritos das bruxas e dos outros seres que sofreram por lá haviam facilitado a fuga do garou em noite de lua cheia. Desde então, quase todos os compradores desistiram da casa... Até que a imobiliária fez uma limpa de todas as reportagens sobre o acidente e, após anos, muitas pessoas se esqueceram.

    Ela se virou para o homem, observando, pela primeira vez, a aparência dele. Era bonito, mas com aquele beijo fatal, a menina se recusou a achar algo além disso. Ela suspirou com o que ele dissera, assentindo. – As coisas da minha avó ficaram lá. Não sabia que estava isolado... – disse, se virando para ele. Observou o homem, que parecia tranquilo demais, um pouco curiosa. Pelo jeito, apesar de ter desmaiado, o feitiço havia dado certo.  – Aliás, me desculpa te meter em tudo isso... Quando aconteceu tudo ontem, eu bati na casa mais próxima, nem pensei em muita coisa.

    Muriel disse, dando alguns passos na direção da varanda, mas ainda mantendo uma distância considerável. Os olhos acabaram fixos na parte obscurecida do piso de madeira.... Mancha bem leve causada pelo sangue.  Logo suspirou – Você está bem? –  indicou os braços dele que também estavam arranhados. – Eu...tava indo comer alguma coisa na cidade, você quer vir? Deixa eu te pagar um café pelo... transtorno – engoliu seco na última palavra. Em sua mente, ainda estava em negação. Os olhos se moveram do piso de madeira para os olhos dele. O convite era pra tentar saber, também, o que ele havia falado para a polícia.

    Talvez estar próximo a ela, daquela forma, deixasse a mente dele mais confusa. As memórias bizarras mais fortes, porém ainda pouco críveis. A mente cética, o trauma passado, o recente “trauma” e o feitiço estavam fazendo uma dança bem complexa na cabeça do médico. O que era real?


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    Mensagem por Rosenrot Dom Nov 11, 2018 6:07 pm

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    Agosto de 2018

    @Bastet
    Tomou outro leve gole do café, modéstia a parte, Jake se achava bastante capaz de fazer um bom café. Ele desencostou da cadeira e se inclinou levemente para a frente enquanto a garota falava. Talvez, pensou de maneira metódica, a voz dela lhe trouxesse alguma clareza sobre suas memórias bagunçadas. Existia algo naquela moça que intrigava a Jake, mas preferia deixar aquelas duvidas para lá. Tinha vindo para New Hasmphire exatamente para se manter longe de problemas e confusões... Suspirou levemente.

    - Duvido que tenha sobrado algo lá. - E quando falou, olhou na direção da clareira, mesmo que não pudesse vê-la dali, podia imaginá-la, pois não saia da sua mente, mesmo distorcida e pouco vaga. Jake estava cansado, apesar de seu aparente relaxamento, seu corpo estava cansado e sua mente acompanhava. Mas tinha que manter as coisas nos trilhos. - Tudo é prova, agora. Evidência. - Moveu os ombros levemente, voltando a se recostar na cadeira e então olhou para Muriel, dessa vez ele demorou mais tempo para observar a jovem.

    Ela parecia com qualquer jovem da idade dela, é claro, exceto pelo fato de ele tê-la visto coberta de sangue no meio da noite em uma clareira, exatamente onde suas memórias começavam a ficar confusas. Lambeu os lábios, parecendo sequer ter ouvido o que Muriel falava, perdido nos próprios pensamentos. Ele moveu os ombros levemente e sorriu por um instante - tinha um sorriso bonito, carismático - de novo, Muriel teve aquela sensação de que o ruivo era um líder nato. - Não tem pelo que se desculpar. - Nunca achou que ela tivesse algum motivo pelo qual pedir desculpas, o momento fizera a necessidade e Muriel agiu como deveria agir, para ser sincero, Jake achava até mesmo corajoso da parte da jovem.

    Olhou os próprios braços, quando ela comentou e deu-se conta que seus pés provavelmente estavam piores, mas não parou para pensar a respeito. Sobre o café, ele apenas levantou a caneca fumegante. Se levantou da cadeira, indicando que Muriel se sentasse e moveu-se para dentro da casa, de lá ela podia ouvir o som de copos e o arrastar de cadeira, quando ele retornou com outra cadeira e mais uma caneca, ofereceu a jovem e posicionou a cadeira recém trazida ao lado da outra, sentou-se ali em silêncio, tentando entender o que a presença da garota despertava nele.

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    Mensagem por Bastet Dom Nov 11, 2018 6:55 pm

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    Agosto de 2018

    @Rosenrot
    - Evidência... – a menina repetiu para si mesmo, pensando em tudo o que estava lá. A princípio, não havia nada que realmente pudesse incriminar ela ou a família, mas não sabia o quão distorcidas poderiam ficar as evidências, ainda mais com uma polícia comandada por um pastor, que um dia pregara na igreja da cidade. Ela suspirou e apenas assentiu ao que ele havia dito, baixando o olhar quando o médico repousara o dele sobre ela mais demoradamente. Assentiu novamente quando ele disse que ela não precisava se preocupar pelo ocorrido.

    O tom de voz dele, apesar calmo, ainda causava uma sensação esquisita nela, apesar de agora não ser tão ruim quanto na floresta ou quanto a sensação do beijo. Não entendia bem isso, ele também não parecia perigoso... Devia ser só o jeito de homem poderoso da cidade grande, não é? Afinal, ela não convivia com muita gente assim, em New Hampshire.

    A menina estava pronta pra seguir seu rumo, pensando que ele recusaria o convite, mas logo percebeu que ele a estava convidando a ficar, ao invés de saírem. Franziu as sobrancelhas por um momento, vendo ele se levantar e indicar a cadeira para ela sentar. Não tinha certeza se queria entrar ali novamente, mas acabou aceitando. Pelo menos ele não havia a chamado de maluca... Devia estar tudo  certo com o feitiço. Ela subiu as escadas, deixando o sapato no último degrau pra não sujar o local de barro. Jake havia limpado a sujeira da noite anterior. Muriel se sentou na cadeira indicada,  apoiando os pés na beiradinha da cadeira e abraçando os joelhos. Aquela casa tinha uma vista muito bonita da trilha para a clareira... E de boa parte da floresta. Suspirou, olhando a paisagem enquanto o esperava.

    Ao ouvir os barulhos da cozinha, espiou pela janela, curiosa... Ele havia se mudado muito rápido... Ou estava ali há mais tempo que a jovem percebera? Ela não sabia. Quando ele voltou, pegou a xícara oferecida, apoiando nos joelhos e vendo ele se sentar. – Obrigada – Bebericou um pouquinho, respeitando o silêncio que havia sido instaurado ali. Era uma situação bem atípica e esqusita...

    - Você quer conversar sobre ontem? – perguntou, baixinho. Talvez ela mesma precisando conversar sobre aquilo. Não tinha certeza se queria uma confirmação de que ele não se lembrava ou não. Ele parecera reagir bem, quando viu tudo aquilo... E certamente não era humano. Talvez... Fosse algum ser sozinho, como ela, agora.


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    Mensagem por Rosenrot Dom Nov 11, 2018 8:43 pm

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    @Bastet
    Aquele momento poderia ter acontecido de distintas formas: eles eram vizinhos até onde Jake conseguia se lembrar e provavelmente numa cidade daquele tamanho não era incomum que vizinhos sentassem em suas varandas e partilhassem um café. Mas naquele momento existia um grande elefante na sala. Jake era por natureza um sujeito reservado, apesar de carismático tinha poucos amigos e isso não mudara durante os anos. Falar era uma tarefa difícil, principalmente agora com tudo que tinha acontecido na noite passada.

    Dentro da casa, Muriel poderia notar mais caixas do que coisas. O único móvel visível naquele momento era a mesa e suas cadeiras - mais duas iguais as que estavam sentados agora - o restante nada mais era do que borrões escuros dentro do cômodo pouco iluminado. Mas a casa por dentro parecia-lhe grande e espaçosa, a sala era gigantesca, tinha uma lareira e terminava onde começava a cozinha, com uma bancada.

    A casa tinha um cheiro agradável, apesar de sua presença parecer ser um tanto esmagadora para Muriel. Uma mistura de perfumes que ela não conseguia identificar inicialmente. Quando a pergunta veio, Jake respirou fundo e virou o rosto para ela, finalmente parando de olhar para a trilha. - Você quer falar sobre ontem? - Questionou de forma bastante direita. Havia sido ela a perder um parente, não ele e apesar de todas as suas dúvidas e confusões, Jake sabia como aquele tipo de perda poderia afetar alguém, seu trabalho lhe ensinara isso muito bem.

    Ele sinceramente não sabia a resposta para a própria pergunta, no fundo tinha receio do que poderia tirar da cabeça ao verbalizar todas as suas memórias confusas, mas não se negaria a falar, se Muriel assim o quisesse.

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    Mensagem por Bastet Dom Nov 11, 2018 9:24 pm

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    @Rosenrot
    Muriel manteve os olhos nos dele por alguns instantes, quando ele se virou para responder a pergunta, mas em seguida olhou para a xícara que estava apoiada em seu joelho. A fumaça estava forte, devido ao clima frio e o líquido quente. Ela assoprou de leve, pensando em coisas positivas, um costume que havia adquirido quando sua avó lhe ensinou o preparo de chás “especiais”. Ao ouvir a resposta dele, esqueceu até de tomar um pouco do café. Mordeu o lábio, sem saber o que responder.

    - A minha avó não acreditava nos ideais cristãos de morte, céu e essas coisas. Para ela, o fim de um caminho é a criação de outro. Como um círculo, sabe? – tentou explicar, sem se comprometer muito – Então, por respeito às noss... às crenças dela, eu estou tentando não lamentar. A única coisa que me incomoda é eles não terem liberado o corpo ainda – disse, não falando exatamente da noite anterior. Suspirou e finalmente bebeu um pouco do café e ficou em silêncio por algum tempo.

    A casa dele tinha algo que refletia a sensação fria que ela sentira na primeira vez que o tocara. Ela não estava muito confortável, e até mesmo com um pouco de frio. – Hm, você é médico né? Vai trabalhar aqui na cidade? – perguntou, tentando mudar de assunto. Não tava conseguindo falar muito sobre a noite anterior – Vai ter trabalho. Todo médico novo tem... As pessoas gostavam de ir na minha avó comprar remédios naturais. Ela tinha de brigar com eles quando era algo mais grave...

    Era verdade. A população tinha um pouco de receio de ir ao hospital e, apesar de a prefeitura condenar a prática da medicina natural, as pessoas continuavam indo. Muriel deu um pequeno sorriso ao se lembrar da avó fazendo algo que gostava e, ao mesmo tempo, encolheu um pouco os ombros com a lembrança.


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    Mensagem por Rosenrot Dom Nov 11, 2018 9:44 pm

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    @Bastet
    Jake a ouviu em silêncio, enquanto falava sobre as crenças da avó, ele tentava conectar as poucas informações que Muriel soltava com as coisas que tinha visto na noite anterior, mas fazia isso em silêncio e particularmente. Ele voltou a olhar para a frente, achando que assim talvez Muriel se sentisse mais a vontade para falar a respeito do que desejava. Jake por outro lado, não expressou opinião alguma a respeito das religiões, era um assunto delicado que preferia não entrar, pelo menos não por enquanto.

    Ele se levantou da cadeira e andou até a cerquinha da varanda, onde apoiou as costas ficando de frente para Muriel e de costas para a floresta. Jake era um homem grande e parecia alguém acostumado a exercícios. Ao ouvir a pergunta sobre sua profissão, o ruivo moveu a cabeça em positivo, mas arqueou as sobrancelhas a sorriu de leve. - Não sou clínico. - Esclareceu, acompanhando a mudança de assunto proposta pela jovem. - Cirurgião. As coisas que faço e trato, acho que um punhado de ervas não podem dar um jeito.

    Suspirou, tentando pensar em algo. - Sobre a floresta... - Resolveu comentar, era algo que talvez devesse ficar claro, antes de qualquer coisa. Jake não tinha a intenção de mudar os hábitos das pessoas que viviam ali, mas achava que era bom por alguns pequenos limites. - Eu andei olhando os documentos da casa... E boa parte desse bosque em volta faz parte da propriedade, quer dizer... A floresta mesmo só começa há uns 1km daqui... O resto é bosque, que faz parte da propriedade... Isso inclui a clareira. - Ele fez um leve silêncio, esperando Muriel absorver a informação. - Vocês sempre tiveram acesso ao lugar assim? Quer dizer... Nunca tiveram problemas? É meio estranho um caçador vir tão fora da floresta para caçar...

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    Mensagem por Bastet Dom Nov 11, 2018 10:39 pm

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    Agosto de 2018

    @Rosenrot
    Enquanto falava, a jovem observou Jake andar até a cerquinha da varanda e se apoiar.  Ele era uma homem imponente, seja fisicamente ou em postura. Do local onde Muriel estava sentada, se sentia estranhamente pequena... E com sua altura, um pouco acima da média feminina, não costumava se sentir assim com frequência.  Na verdade, não costumava se sentir, com outras pessoas, da forma que se sentia perto do médico. Não é comum uma bruxa sentir medo, mas o desconhecido é sempre um enigma difícil de superar.

    Quando ele explicou  sobre a sua especialidade, ela prestou atenção, se recostando melhor na cadeira. Muriel assentiu – De fato. Mas podem ajudar bastante na cicatrização e inflamações – disse e abriu um pequeno sorriso – Você veio de onde? Não parece de cidades próximas... – indicou o carro parado perto da casa, que era bem chique e nada alto. Provavelmente ele teria problemas na época de chuvas.

    Ao tocar no assunto da floresta, ele pôde perceber que a menina ficou um pouco mais tensa... E pálida, quando ele informou que a clareira pertencia a alguém. No caso, pertencia a ele. Ela baixou os pés na cadeira, se sentando mais ereta. – Não... nenhum problema. Na verdade, eu não sabia que a área verde poderia ser vendida – disse, com o coração palpitando um pouquinho. Será que perderia mais uma coisa, naquele dia? – Eu não sei se foi um caçador... Não está na época de caça... Há pessoas um pouco intolerantes na cidade... E minha avó nunca baixou a cabeça pra esse tipo de pessoa. Enfim, você deveria tomar cuidado, ao andar por lá... Ainda mais sem conhecer a mata – aconselhou.  Logo se levantou, um pouco inquieta. A meia com uma pelúcia fofinha de gatinhos fazendo um leve “chic-chic” no chão de madeira enquanto ela andava. Logo parou. – Você não vai fechar a clareira... Vai?


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    Mensagem por Rosenrot Dom Nov 11, 2018 11:06 pm

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    Agosto de 2018

    @Bastet
    Ele moveu os ombros, quando a jovem falou sobre cicatrizações e inflamações. Não discordava, mas era bastante pragmático a respeito de medicinas alternativas. Existiam curas e curas, portanto era preciso tomar cuidado com o que se usava. - Minha família materna é Irlandesa. Nasci por lá, mas viemos morar em Portsmouth quando eu era bastante novo, meu pai era um militar americano, sempre viajando, cresci por ali, quando resolvi estudar medicina, me mudei para Nova Iorque, vivi por lá até me divorciar uns dois anos atrás, me mudei para Manhattan... Mas estava um pouco cansado da vida agitada... - Não precisava - e nem pretendia - acrescentar os outros detalhes de sua súbita decisão de mudar dos arranha céus para uma cidade de florestas e bosques.

    - Fiz algumas pesquisas, descobrir que essa casa tinha sido de alguma parte da família do meu pai muitos anos atrás e resolvi comprá-la de volta. - Moveu os ombros, sem se importar muito com a informação que compartilhava com Muriel, para ele era apenas uma casa, apenas uma cidade. Quando ela falou daquele jeito, Jake riu de leve, mas um riso de descontração do que um deboche. Não imaginava alguém com a inocência para o mundo de Muriel. - Nos dias de hoje? A maior parte das coisas podem ser vendidas ou compradas. A mata ao redor da casa é um bosque. Um lote, por assim dizer, não é considerado parte da floresta... Então pode ser comercializado.

    Ele deu de ombros muito levemente. - Pelo que vi, existiam algumas cercas rústicas antigamente feitas de madeira mesmo, mas parece que foram retiradas há muitos anos atrás. Não sei o que eu vou fazer com a terra, mas depois do que aconteceu ontem à noite.... Talvez seja bom marcar o terreno. - Ele deu uma olhada nela, após falar aquilo. Sinceramente, Jake realmente não tinha ideia do que fazer com o bosque que "herdará" ao comprar a casa. Sentia-se estranho deixando o caminho aberto para qualquer um acessar. Coisas da cidade grande, e o evento da noite anterior não ajudava em sua perspectiva de ter estranhos no "seu quintal".

    - Vamos ver o que a polícia diz. - Concluiu de maneira sucinta.

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    Mensagem por Bastet Seg Nov 12, 2018 2:37 am

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    Agosto de 2018

    @Rosenrot
    Quando ele explicou a origem irlandesa, ela deu um pequeno sorrisinho. Mas deixou ele terminar de falar sobre as mudanças e.... Divórcios antes de responder. – Agora tá explicado a barba e o cabelo vermelho e o seu tamanho. O seu povo é descendente dos gigantes da terra, que gostavam de viver pr’aqueles lados. Dizem que foram esses gigantes que criaram os Stonehenges para os Druidas... E o Giant's Causeway, para enfrentar um outro gigante que era inimigo de suas terras –  disse, contando um dos mitos que aprendera quando nova – A mitologia irlandesa é maravilhosa –  suspirou, se lembrando que fazia tempo que não conversava sobre mitologia. – Muita gente da cidade grande vem pra locais como esse justamente por isso. Mas alguns não aguentam a falta de um sinal bom de internet –  riu; estava curiosa pra perguntar sobre o divórcio, pois ele parecia novo pra isso, mas achou melhor não comentar nada sobre.

    (...)

    O assunto sobre as origens estava bastante agradável... Até que ele começou a falar sobre a família dele que vivera ali, naquela casa. Ela começou a pensar no que ouvira dos moradores antigos dali... Não era possível, certo? Qual era mesmo o sobrenome? Ela não lembrava, precisava pesquisar assim que chegasse em casa. Não conseguia acreditar que a sua intuição a tinha levado até um....caçador para pedir ajuda. Certamente não era isso. Ou podia ser só um parente muito distante, sem os genes malvados.... “Mas, e o toque gelado? A sensação terrível após o beijo? A voz inquisitiva?” , pensou, sem chegar a uma conclusão. A cabeça de Muriel estava tão longe que nem percebeu quando ele tirou um pouquinho de sarro da cara dela. – Hã? Ah, sua terra... Eu sei... Eu sei. Só que aqui as leis ambientais são mais rígidas agora... A sua família deve ter comprado essas terras há décadas os pelos dos braços da menina se arrepiaram e uma sensação muito ruim percorreu seu corpo, fazendo ela se encostar na parede mais próxima. Tentou fazer com que aquilo parecesse um movimento natural, mas não sabia se havia funcionado. Ergueu o olhar para a casinha de funcionários que estava bem pertinho deles e balançou a cabeça, olhando para Jake.

    - Eu não... hã... O terreno... hm... – respirou fundo, sentindo a cabeça rodar e o corpo ficar um pouco mole. A possível informação assustadora mais o cansaço da noite anterior estavam agindo juntos no corpo da menina. Forçou os braços para se afastar da parede e piscou os olhos algumas vezes – Eu... Eu preciso ir. Senhor Macbender... – ia falar algo, mas desistiu. Era possível que ele não soubesse do seu legado, como também era possível que não tivesse certeza sobre o que ela era. De ambas as formas, não era bom que ela o fizesse ficar curioso sobre o assunto. Começou a procurar os sapatos, não lembrando onde havia deixado. Se a casa parasse de girar um pouco, poderia ser mais fácil encontrar.


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