Capítulo 5: O Barão e a Bruxa

O capitão já tinha se sentado ao lado de seus marinheiros quando a Andariel o chamou. O homem pareceu analisar o pedido dela por um instante, e não vendo mal em acompanhá-la até a porta, ele se ergueu novamente da cadeira e fez como pedido. Contudo, ele questiona Andariel quando ela pede para ele não deixar que ninguém saísse.

- Por que eu faria isso?

A pergunta não era num tom agressivo, mas ele realmente não via sentido algum naquilo. Enquanto Andariel se entretinha com o capitão, Hymma e Lyanna aproveitavam a deixa para chegar às docas do porto.

* * *

O grupo estava voltando a Senhora da Maré Profunda. Lancaster ouviu o que o oráculo havia dito ao seu capitão, e ponderou em voz alta:

- Porto seguro? Eu chutaria que o porto seguro de qualquer homem do mar é o seu navio, mas ele pode se referir a outras coisas, como o seu lar ou simplesmente qualquer outro lugar que você se sente protegido. A charada da lua parece-me mais fácil. Talvez ele esteja se referindo ao quarto dia do próximo mês, ou a quarta fase da lua.

O homem fico completamente solícito com o pedido da Andariel e se ergueu da mesa prontamente disposto a acompanhá-la até a porta. Ele ainda se virou para os seus marujos e disse em tom alto e claro:

- Tão olhando o quê, seus ratos do mar? Vão fazer algo de útil, vamos, andem.

Os marujos se entreolharam, muitos deles provavelmente se perguntando por que o seu capitão estava agindo daquela maneira. De qualquer maneira os piratas desviaram os olhares da Andariel, e o capitão pôde então conduzi-la até a saída da Cauda do Tritão.

Já lá fora, Andariel precisou perder uns cinco minutos até avistar Hymma e Lyana. Eles tinham acabado de conversar com um marinheiro nas docas quando a velha chegou até eles. Hymma não parecia contente com a situação.

- Ninguém quer deixar a garota entrar no navio. Mesmo com o ouro que temos a oferecer, os homens são irredutíveis na questão de levar uma mulher a bordo de um navio, ainda mais uma menina como Lyanna. Parece que teremos que entrar escondidos em algum navio e quando ele já estiver em alto-mar podemos arranjar um meio de tomá-lo para nós ou de convencer o capitão a seguir o rumo que queremos.

Andariel sabia que se tinha alguém dos três capaz que botá-los dentro de um navio de forma clandestina, esse alguém era ela própria. E para a sua sorte, parecia que um dos navios ancorados estava prestes a desaportar da ilha. Era uma caravela de três mastros e velas brancas.

* * *

Barbarossa e os demais chegam ao Senhora da Maré Profunda. O imediato Hendrik aproxima-se para recepcionar o capitão e sua trupe.

- O navio está pronto para zarpar novamente, capitão. Planeja ficar nesta ilha ou podemos ir para outra? Aposto que os homens ficariam felizes se fôssemos para o centro da diversão do mar interior, a Ilha Dragão.

Barbarossa e a tripulação da Senhora da Maré Profunda navegam até a Ilha Dragão, a maior ilha  do Mar das Estrelas Cadentes que servia de refúgio para centenas de piratas. A principal cidade da ilha se chamava Abrigo de Immurk, e ela oferecia inúmeras opções de divertimento. Suas famosas tavernas estavam sempre cheias com os homens gargalhando em vozes altas enquanto as prostitutas se insinuavam para eles. A praça do mercado era bastante movimentada e oferecia escravos, itens de luxo para qualquer embarcação e objetos estranhos retirados de locais distantes e inalcançados.

A tripulação pôde realmente se divertir ali e se esquecer de tudo o que eles passaram na Ilha de Ferro. Barbarossa e seus homens tiveram os seus espíritos renovados no tempo que permaneceram no Abrigo de Immurk, mas não demorou muito para que eles tivessem que tomar um novo rumo. A vida de pirata era dura e exigia saques. Sem dinheiro não havia a possibilidade de mais diversão como a que eles passaram nos últimos dias na Ilha Dragão. Era hora de partir.

* * *

Andariel aproximou-se do primeiro marinheiro que ela viu próxima ao navio, e para o seu espanto se tratava de um monstruoso ogro de cara feia e cicatrizes no corpo. Ele carregava duas correntes pesadas nos ombros, e lançou um olhar fulminante para Andariel quando esta chegou perto dele. O ogro por um momento pareceu avaliar se deveria responder a pergunta da velha ou matá-la ali mesmo, mas por fim ele apontou com o seu longo braço em direção a um homem que estava de costas para eles próximo ao leme da caravela.

- Você dever falar com o capitão da Senhora. Ande logo, pois estamos de partida.

Hymma e Lyana aguardavam mais atrás, sem saber bem qual era o plano de Andariel.

Chamada pelo capitão da caravela, a velha bruxa sobe pela prancha de embarque. Havia uma boa quantidade de marujos a bordo do navio, e a despeito do ogro que permaneceu lá embaixo, havia outros seres raciais além de humanos. Um orc ajudava a içar as velas, enquanto um anão estava perto do leme, ao lado do capitão. Havia mais um marujo por ali perto, um homem bruto com quase dois metros de altura, cabelo loiro e encaracolado, com um grande machado às costas. Ele estava um pouco mais afastado dos outros quando Andariel passou caminhando em direção à Barbarossa.

A velha e o corvo falante tagarelavam com o capitão, que tinha uma bela espécime de papagaio em seu ombro direito, quando sem receber resposta, Andariel sentiu uma sombra agigantar-se por trás dela. Era Hendrik, o imediato do navio, que havia recebido uma orientação de Barbarossa enquanto Andariel embarcava no navio. O homem com os seus poderosos braços segurou o Cajado de Arvandor e tentou arrancar à força da velha, um embate que a princípio não parecia muito justo.

Hymma e Lyana já haviam passado pelo ogro que guardava a rampa de embarque antes mesmo da bruxa tê-los apresentados.

- Escuta... - começou a dizer Hymma ao capitão daquele navio, tentando contornar a situação. - Acho que houve algum mal-entendido por aqui, nós só...

- Hymma?

Albett, um dos marujos de Barbarossa, deixou de lado os seus afazeres ao reconhecer a voz de seu velho amigo.

- Eu não acredito Hymma, você está vivo! - Albett correu em direção ao Hymma para abraçá-lo, que pareceu retribuir o abraço meio sem jeito. - Por Sashelas, pensávamos que você tinha sido levado pro fundo do mar! E aqui o vejo, vivinho da silva! Não posso acreditar! Quando nos reencontrarmos com o Dyke e os outros, eles ficarão tão felizes em vê-lo.

- Aposto que nem todos ficarão contentes com esta notícia - disse Hymma sem tanta animação. Albett estava tão empolgado com o fato que nem ouvira o que o Hymma dissera. Ele olhava para o seu amigo como se estivesse vendo uma assombração diante de seus olhos, ainda sem acreditar como Hymma havia escapado com vida da tempestade que assolara o Marlin Negro.

Deixando os dois de lado, os demais marujos se amontoaram envolta da bruxa e do capitão, onde aguardavam pelo desfecho da negociação. Hendrik deu o seu palpite ao capitão Barbarossa.

- Ela pode ser útil no fim das contas, capitão.