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    Catas Altas

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    Mensagem por LuizBaggio Qua maio 22, 2019 11:18 am

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    Resumo

    O Santuário do Caraça, fundado pelo português Irmão Lourenço de Nossa Senhora Mãe dos Homens, que teve seu colégio iniciado em 1820 pelos Padres Lazaristas, funcionando por quase 150 anos, é referência para a cidade de Catas Altas por sua beleza natural e histórica.

    A mineração de ferro é hoje a principal atividade econômica. Mesmo tendo causado grandes estragos ao meio ambiente, pois o controle ambiental é bastante recente. A atividade não conseguiu diminuir a imponência e beleza da Serra do Caraça, guardiã da cidade. Com o esgotamento das minas, Catas Altas tornou-se um arraial abandonado e em ruínas e os habitantes que ali permaneceram se dedicaram ao cultivo de pequenas roças de subsistência.

    No início do século XIX, o arraial contava com 200 casas enfileiradas em duas ruas. A mineração sobrevivente era feita nas lavras do Capitão-mor Inocêncio. O capitão-mor recebeu, então, o conselho do naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire de substituir a exploração do ouro pela do ferro, cujas reservas eram abundantes na região. Saint-Hilaire visitou a região nos idos de 1816. Também passaram por Catas Altas: os alemães Spix e Martius, o austríaco Joahn Emanuel Pohl, o inglês Richard Burton, e outros, sendo que o último hospedou-se no Hotel Fluminense do Tenente-coronel João Emery em 1867. O hotel supracitado funcionava no Solar dos Emery, onde funcionou um grande comércio do mesmo Tenente-coronel, e o Posto de Correios e Telégrafos do Arraial no início do século XX. O mesmo solar foi doado por Eder Ayres Siqueira e demais herdeiros em 2003 para ser o Centro Cultural Tenente-coronel João Emery.

    Em 1821 o Bispo de Mariana passou por Catas Altas e falou do estado da Matriz de Catas Altas, da capela de N.S. do Rosário dos Pretos, Santa Quitéria e a Ermida da Arquiconfraria de São Francisco. Contou que o povo era muito chegado à igreja e que havia nada menos do que seis padres na paróquia. Hoje, das citadas acima, existem as Igrejas Matriz e do Rosário, e a Capela de Santa Quitéria para glorificar aqueles tempos.

    Temos na história de Catas Altas a importante figura do padre português Monsenhor Manoel Mendes Pereira de Vasconcelos, que preocupado com a situação de pobreza da maioria da população catas-altense, ensinou uma cultura com melhor técnica e ainda, o cultivo de videiras até a fabricação do vinho. Vinho este que foi premiado em várias exposições no início do século XX e auxiliou muito a população. Já em 1949, aparece pela primeira vez a fabricação do vinho de jabuticaba pelo fazendeiro Sr. Anastácio Antônio de Souza, e hoje tem mais de 30 produtores cadastrados na APROVART - Associação dos Produtores de Vinho, Agricultores familiares e Outros Produtos Artesanais de Catas Altas, que utilizam a fruta para fazerem o excelente vinho que é muito saboroso e responsável pela "Festa do Vinho" que acontece desde 2001, atraindo muitos turistas e gerando renda aos produtores e divisas para o município.

    No final de 2017, a cidade serviu de cenário para a minissérie Se eu Fechar os Olhos Agora da Rede Globo, com estreia prevista para 2019 na TV aberta.


    Fatos Notórios

    O conjunto arquitetônico barroco formado não só pela Igreja da Matriz, mas também por casas antigas ao redor da Praça Monsenhor Mendes, entre outras construções, traz para o presente a história do passado da pequena e bucólica cidade mineira.

    Para proteger este rico acervo histórico, cultural e religioso, o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA) tombou todo o perímetro urbano de Catas Altas. O conjunto arquitetônico e paisagístico do Santuário do Caraça, a Praça Monsenhor Mendes e a Igreja Nossa Senhora da Conceição são tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Além disso, o Parque do Caraça, de propriedade da Província Brasileira da Congregação da Missão, situado no município de Catas Altas (parte dele em Santa Bárbara), também foi transformado em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), outra medida que visa preservar a área.

    O tombamento do acervo é importante porque impede que as construções antigas sejam substituídas ou modificadas, paralisando o processo de destruição das preciosas construções, e preserva a memória da cidade. Antes desta medida legal, várias construções foram destruídas, como o prédio da antiga escola (onde é hoje a Escola Municipal Agnes Pereira Machado) o solar dos "Ayres" que pertencia à família do comerciante Sr. João Martins Ayres, o solar dos "Alves da Silva" que pertencia ao comerciante, fabricante de vinho, Vereador e Major Antônio Alves da Silva, o chalé dos "Alves Pereira" que pertencia ao agenciador e açougueiro Sr. Argemiro Pereira da Cunha, o chalé do Sr. José do Espírito Santo, e outros. Catas Altas é, sem dúvida, uma cidade privilegiada: ao perceber a importância da identidade cultural de seu povo para construção da cidadania e da nação, afirma-se como uma enciclopédia viva de sua própria história e da história de Minas Gerais.

    Catas Altas atualmente é uma cidade histórica de Minas Gerais e conta com várias pousadas/restaurantes que ajudam em seu desenvolvimento.


    Cultura Local

    Catas Altas é um típica cidade do interior mineiro onde a religião faz parte da cultura local. Fundada sobre domínios Católicos, a cidade conta hoje com a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição e movimentos sociais como o Clube da Terceira Idade que também é ligado à Igreja. Além da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a cidade tem hoje outras três capelas, a de Nossa Senhora do Rosário, de Santa Quitéria e de Senhor do Bonfim. Porém, de uns anos pra cá foram ganhando espaços na cidade outras denominações cristãs, como os protestantes. Congregações como Assembleia de Deus (a mais antiga da cidade, fundada na década de 60), Deus é Amor, Igreja Nacional Batista Vida Nova, Congregação Cristã Maranata entre outras fazem o número de evangélicos do município crescer a cada dia.

    Dados do IBGE de 2010 mostram que 79% da população são de Católicos. Evangélicos representam 17% e ateus e pessoas sem religião chegam a 2,7%.
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    Mensagem por Caelestia Sex maio 24, 2019 11:06 pm

    Aquela manhã estava especialmente gelada. Provavelmente os termômetros deveriam estar marcando algo perto do zero grau.

    O que é considerado normal para uma época fria, ainda mais se levar em consideração de que estavam acampados a mais de dois mil metros de altitude, no pico do Inficionado.

    Fernanda havia saído da sua pequena barraca, montada pouco antes do anoitecer do dia anterior. Ela observava a paisagem, que aquela hora e naquele frio, ainda estava em boa parte coberta pela neblina.

    Quantas vezes ela já havia estado ali? Nem sabia dizer, mas o fato é que não importava. A paisagem daquele lugar somado a rica diversidade de flora e fauna sempre a encantavam.

    Ela arrumou a barra da calça por dentro da bota de escalada. Puxou o zíper do casaco até o fim. Conferiu item por item o que iria precisar para aquela expedição: Cordas, mosquetões, magnésio, apito, provisões, sua lanterna de carbureto e pedras sobressalentes, que guardava em sacos muitíssimo bem fechados. Sim ela sabia que era um método antigo de iluminação, por isso mesmo achava mais confiável. Além do que, ela havia aprendido que o carbureto além de luz produzia calor, o que seria muito útil em casos de acidentes. E enfim conferiu tudo mais que ela precisaria para prática de rapel.

    Tudo certo, ela se permitiu observar o pico da montanha. Apenas mais alguns metros acima e chegariam a entrada "histórica" da gruta do centenário, a maior gruta de quartzito do mundo.

    Seu objetivo desta vez era estudar melhor a contribuição dos pássaros andoriões, que a esta época começavam  ser mais numerosos dentro da caverna, com a biodiversidade da fauna cavernícola. Além de coletar alguns dos simpáticos opiliões que vivem nesses lugares.

    Para isso, desta vez ela estava acompanhada pelo grupo de espeleólogos Bambuí, que para esta expedição contava com 7 integrantes amantes de exploração em cavernas. Eram cinco homens: Marcos (médico), Fabrício (geólogo), Filipe (arquiteto), Sandro (Tec informática) e Julio (biólogo). E duas mulheres Cinthia (geógrafa) e Eduarda (dentista), além dela própria, claro.

    Haviam partido da cidade no dia anterior, não sem antes deixar informado onde estavam indo, quantas pessoas iam, que dia retornariam e quem deveriam contactar em caso de problemas. Medidas básicas de segurança que Fernanda havia aprendido serem muito importantes, principalmente após o acidente que vitimou Bernardo.

    Menos de uma hora de caminhada e lá estava ela: A entrada da gruta. Uma enorme fenda infincada na montada que se abria para um abismo de 60m de altura, desbravado somente com ajuda de rapel.

    Fernanda sorriu. Ela simplesmente adorava seu trabalho.

    Entrada gruta do Centenário:

    Itens básico rapel:
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    Mensagem por LuizBaggio Seg maio 27, 2019 3:21 pm

    A entrada da gruta, como a boca de Adamastor, afugentaria os fracos de espírito, mas não Fernanda e seu bem aventurado grupo. Não que fosse a jovem mulher um grande exemplo de intrepidez e ousadia, mas certamente dominava as técnicas para se mover verticalmente quase tão bem quanto horizontalmente.

    Com sua ajuda, a mais experiente em rapel do grupo, Fernanda e os demais desceram por aquela fenda com relativa facilidade, mesmo que alguns apresentassem alguma ansiosidade mais aparente.

    - "Quando a gente chegar lá embaixo, nada de se separar, certo? Todo mundo junto." - Sandro confirmava com os demais, apreensivo, ao que ninguém se dera o trabalho de responder.

    Já no fundo do abismo, nas entranhas da montanha, antes de se liberarem dos equipamentos de rapel e se organizando para iniciar a exploração e estudo, Filipe respondia ao já menos apreensivo técnico em informática.

    - "Pronto, bebê, não vou te abandonar. Papai tá aqui."

    A resposta bem humorada do arquiteto fizera correr um riso baixinho entre os presentes.

    Cerca de meia hora depois, com algumas regras básicas de segurança estabelecidas por Fernanda, começavam a admirar e registrar a lúgubre gruta. Por cerca de duas horas, cada qual focara majoritariamente em suas atividades individualmente, e já estava quase na hora de se reunirem para comer alguma coisa. Fernanda se vira como a primeira a chegar, logo seguida por Sandro, e em cinco minutos, todos haviam chego. Todos, exceto Marcos.

    A raiva ou inconformismo de Fernanda, por Marcos negligenciar as normas de segurança que ela própria havia passado, começaram a ceder ante à preocupação, pois havia passado cerca de 40 minutos e nada do médico chegar. A bióloga olhava para corredor de onde deveria vir o médico, e percebera que a gruta ficara completamente silenciosa, até mesmo sem os sons comuns àquele ambiente. E após isso, a iluminação parecia não mais iluminar como há poucos minutos atrás. Fora com a percepção desse momento que Fernanda e os demais ouviram um grito desesperado:

    - "Não! Para! O que você está fazendo está errado!" - O desespero vinha pela voz de Marcos.

    Fabrício, Julio e Cinthia, praticamente juntos, partiram rumo à origem do som, enquanto Eduarda, trêmula pelo susto do grito inesperado, apertava o braço da experiente Fernanda, e lhe olhava apavorada.
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    Mensagem por Caelestia Ter maio 28, 2019 12:59 am

    Um misto de preocupação e raiva tomavam conta de Fernanda pela demora do retorno de Marcos quando a voz do médico ecoou pela caverna.

    O grito de Marcos somado a demora, ou melhor, ao não retorno dele a base de encontro dentro da caverna normalmente a teriam deixado assustada. Normalmente...

    Mas desta vez foi diferente. Desta vez Fernanda sentiu-se mais intrigada com o grito do que preocupada, por assim dizer.

    O grito de dele soava de forma desesperada e não parecia ser como se ele estivesse mandando algum animal se afastar. Parecia mais que ele falava com alguém. Parecia que mandava alguém parar. Mas quem parar? E parar com o que exatamente?

    Eles haviam acampado na montanha na noite anterior e não tinham encontrado nenhum outro grupo de exploradores.

    Claro que haviam outras entradas para a caverna, inclusive a que rodeava o outro lado da montanha. E todas elas exigiam um nível maior de conhecimento de espeleologia, escalada e rapel por serem entradas de acesso bem mais difícil e ela conhecia praticamente todos os grupos de exploradores da região e não tinha conhecimento de que nenhum deles estive explorando a gruta do centenário por aqueles dias.

    Some isso ao fato que ninguém em sã consciência entraria sozinho em uma caverna como aquela e que se fosse o caso ou teriam ouvido barulhos ou encontrado rastros de demais exploradores.

    “- Diacho... Se isso for uma brincadeira daquele médico...” – Ela pensava enquanto sentia Eduarda apertar seu braço.

    Mas foi quando Fernanda viu Fabricio, Julio e Cintia partirem na direção de onde parecia ter vindo o grito de Marcos, que ela ficou realmente preocupada e entendeu que deveria agir para manter o grupo o mais seguro possível.

    Ela gritou para os três que se afastavam, enquanto se desvencilhava de Eduarda.

    - PAREM ONDE ESTÃO! O QUE PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO? DEVEMOS FICAR TODOS JUNTOS... ESPEREM. ESTAMOS INDO. –  Rezava para que eles lhe obedecessem.

    Então ela se volta para os outros que haviam permanecido com ela.

    - Eduarda, querida. Preciso que você se acalme e junte todos os seus equipamentos. Vocês também rapazes. Existem algumas possibilidades aqui que devemos considerar. Uma delas é que Marcos quer nos pregar uma peça... A outra é que “não importa o que aconteça” devemos permanecer todos juntos... Porque SE não for uma brincadeira do Marcos, emoções afloradas não vão nos ajudar. Temos que ser práticos! O perigo de alguém se perder aqui é real e juntos estaremos mais seguros.

    Ela pegou todas as suas coisas com o máximo de rapidez possível.

    - Todos prontos? Então vamos seguir para onde parece ter vindo o grito do Marcos. Lembrem-se, juntos!
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    Mensagem por LuizBaggio Ter maio 28, 2019 9:46 am

    Fernanda buscou força por suas características mais marcantes: A inteligência e a capacidade de interpretar o ambiente. E justamente por isso seus companheiros a seguiram, como pediu - a despeito do medo ou da insegurança, Fernanda tinha postura de líder e, como líder, se fez. Os quase uníssonos "sim" se perfizeram quando a jovem dera suas orientações.

    Eduarda imediatamente começou a organizar os equipamentos, como a bióloga pediu, e os demais aguardaram que ela, Fernanda, tomasse a frente da marcha. A jovem, porém experiente, exploradora tinha como que um tino natural para decidir em situações de pressão - sabia que ela mesma nunca ficaria perdida numa gruta, mesmo que grande, como aquela. Mas também sabia que, infelizmente, nem todos compartilham desse dom.

    A sagaz bióloga também achou estranho que, de um susto tão apavorante quanto parecera, sobreviesse apenas um grito; mas o fato é que, a maior estranheza ocorrera quando, por melhor que fossem suas habilidades de exploração e seus dons naturais fossem realmente úteis, ela sentia que seus sentidos estavam, de certa e leve maneira, enebriados - em outras palavras, Fernanda não conseguia ter, naquele momento, certeza de que o caminho por onde imaginava ter vindo o grito de Marcos era, de fato, o caminho que os levaria ao médico.

    O fato é que, aquele mesmo corredor de onde sabia que a voz de Marcos vinha, não era o corredor que sua intuição dizia ser o correto. Esse era o dilema entre os dois únicos corredores que, da área que estavam, partiam para as entranhas da montanha.

    E enquanto a decisão era tomada, a gruta fora ficando mais e mais escura, mais e mais silenciosa.
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    Mensagem por Caelestia Qua maio 29, 2019 1:37 am

    Fernanda sentiu um forte alívio quando viu que a parte do grupo que havia se afastado parou e esperou como ela havia pedido. A preocupação de que mais alguém no grupo se perdesse era grande. E foi este sentimento que a fez tomar a frente da situação e guiar os demais.

    Com passos firmes ela se aproximou dos três que estavam parados mais a frente aguardando e quando passou por eles tocou no ombro de Cintia.

    - Muito bem, vamos! Tomem cuidado.

    Ela já havia estado naquela gruta outras vezes antes e sabia que seriam poucos minutos de caminhada até chegarem à bifurcação que tornava a galeria principal em dois túneis secundários.

    Conforme avançavam, Fernanda notou que havia algo estranho. A gruta sempre tinha seus sons naturais. Pássaros, água, insetos. Então por que naquele momento ela não conseguia ouvir nenhum daqueles sons tão característicos do lugar?

    E ela percebeu que não eram só os sons. Tudo parecia alterado a sua volta. Mas achou que talvez fosse a tensão por não saber onde Marcos estava.

    Quando chegaram à bifurcação Fernanda levantou uma das mãos sinalizando que o grupo deveria parar.

    Ela respirou fundo. Se sentia estranha. Quase que como se estivesse embriagada ou entorpecida. As coisas não pareciam só mais silenciosas e escuras, mas também pareciam mais lentas.

    Ela levantou a lanterna a altura dos olhos e conferiu sua luminosidade. Parecia normal, visto de perto, embora não estivesse iluminando o ambiente como costuma ser.

    - “Caramba, Nanda. Você é uma bióloga. Pense como bióloga, droga! Ninguém se sente alterado assim a toa! – Ela pensou enquanto apontava o feixe de luz da lanterna para as paredes e o chão. Ela procurava por algo que biologicamente pudesse explicar a leve alteração de sentidos que sentia, uma vez que sabia que as pedras que compunham a gruta não emitiam nenhum tipo de energia ou radiação nociva aos humanos.

    Ela se virou para os demais exploradores

    - Todos estão bem? Alguém está se sentindo mal ou estranho? – E se dirigindo diretamente a Júlio, que também era biólogo, perguntou. – Consegue identificar nesta área algum elemento biológico que pudesse nos afetar ou fazer mal, não sei, tipo fezes de algum animal, plantas ou algo do tipo? Talvez em grande quantidade...

    Ela sabia que a pergunta feita a Júlio poderia deixar os outros em um estado de alerta desnecessário. Então ela tinha que mudar o foco do assunto para eles

    Ela respirou fundo e olhou em direção aos túneis. Teriam que decidir por onde seguir.

    -“A voz de Marcos veio dali, certo? Então “cadiquê” eu acho que temos que ir pelo outro túnel? Aff...” – Fernanda pensava com impaciência.

    Então ela se lembrou de Bernardo. Do dia do acidente. De como naquele dia ela tinha tido vontade de ficar na base do parque concluindo algumas pesquisas ao invés de fazer explorações em campo. De como se sentiu culpada depois por ter cedido ao pedido de Bernardo e ter entrado naquela gruta com ele.

    E foi naquele momento que ela teve certeza. Havia contrariado uma vez seus instintos e se arrependia disso todos os dias. Sim, poderia se dar muito mal. Mas pelo menos achava que estava tomando a decisão mais acertada. Ela sabia que túnel deveriam seguir.

    - Vamos seguir por este túnel – Disse apontando o túnel da bifurcação diferente do que parecia ser de onde havia vindo o grito de Marcos, mas que algo dentro dela dizia ser o certo. – Apenas confiem em mim. Sei que parece estranho, mas é por ali que devemos seguir. Cinco minutos. É o que precisamos para Julio e eu verificarmos se não existem elementos tóxicos no ambiente. Não se separem! Assim que terminarmos a verificação, se tudo estiver ok, seguiremos em frente.
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    Mensagem por LuizBaggio Qua maio 29, 2019 3:00 pm

    Fernanda estava acostumada a ambientes escuros, na realidade vários dos presentes também estavam, mas como aquele, nunca sequer imaginariam a existência. O que talvez tenha gerado qualquer alívio, tivesse sido a cooperação de seus companheiros.

    Ela e Julio vasculharam o que podiam, como conseguiam, para identificar o que poderia estar causando aquelas sensações. Nada, no entanto, encontraram. Mesmo no escuro absoluto, e com o enebriamento dos sentidos, Fernanda e os outros seguiram o plano, cada vez mais dependentes de tatear o caminho, invés de percebê-lo visualmente. Até o ponto da escuridão total - terreno fértil para o desespero e o pânico.

    Fernanda sentiu a constrição de seu braço. Eduarda novamente a agarrava, desesperada, porém nenhum som era ouvido. Fernanda tentara falar, mas os sons não saíam. A escuridão, por de dentro da caverna, parecia querer entrar em si.

    O silêncio era ensurdecedor. A escuridão era povoada.

    Segundos? Horas? Semanas? Milênios? Quanto tempo poderia ter durado aquela privação dos sentidos diletos? Fernanda não saberia dizer. O fato é que, repentinamente, a luminosidade (mesmo que precária) voltara, assim como os sons, e Fernanda estava só, com exceção da apavorada Eduarda, que parecia ter perdido a própria sanidade.

    Mas não tiveram tempo para se questionar sobre o ocorrido, visto que imediatamente após a luminosidade voltar, do fundo daquela garganta pétrea em que estavam, Fernanda e Eduarda, ouviram uma voz de um médico mais controlado, mais seguro, inquirir com firmeza:

    "O que eram eles quando eram um?"
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    Mensagem por Caelestia Qui maio 30, 2019 9:20 pm

    Ela tateava as paredes da caverna, avançando de forma lenta enquanto sentia alguém apertar seu braço. Não podia ver, mas imaginou que era novamente Eduarda, que deveria estar assustada com a situação.

    Aquilo tudo era realmente muito estranho. Por que as lanternas pararam de iluminar? E que ausência total era aquela? Quanto tempo estavam ali, tateando na escuridão? Mesmo para ela que tinha uma ótima noção de tempo era difícil dizer

    Ela sentiu uma leve sensação de pânico querer arranhar sua mente e, talvez, se os anos de exploração e os problemas eventuais que já enfrentou nessas situações não a tivessem tornado uma pessoa prática e de sangue frio, por necessidade se manter calma, teria sucumbindo a esse sentimento.

    Ela poderia tentar voltar, mas sem conseguir se comunicar, achou melhor seguir em frente, e então, não mais que de repente, tudo voltou.

    - Mas que diacho foi isso? – Fernanda se perguntou, contente por ouvir sua própria voz ou qualquer outro som novamente.

    A luz precária comum do interior da caverna também havia retornado e foi então possível para Fernanda confirmar que era realmente Eduarda quem apertava seu braço. E pela cara apavorada da mulher, Fernanda sabia que o pânico que a ameaçou durante a ausência de tudo, com certeza tinha pego Eduarda.

    E foi então que Fernanda percebeu que não havia mais ninguém com ela, além de Eduarda. Onde os outros estavam?

    Fernanda sentiu o coração acelerar de preocupação enquanto vasculhava a mente em busca de orientação. Não lembrava de, naquele trecho, haver túneis secundários. Então as opções deles eram ou seguir a diante ou retornar. Será que eles retornaram?

    Fernanda se desvencilhou mais uma vez do aperto de Eduarda, se virou para a dentista e a segurou pelos ombros, a sacudindo de leve.

    - Eduarda, querida. Sei que você está nervosa, mas preciso que se concentre em mim. Estamos bem. Parece que passou. Mas os outros... Você por acaso percebeu para onde foram? Eduarda...

    E foi nesse momento que elas ouviram a voz do médico e se voltaram para o lugar de onde o som vinha. E embora não pudessem vê-lo, pois parecia que a voz vinha de um lugar mais ao fundo no túnel em que estavam, sem dúvidas era a voz do médico, embora não parecesse mais assustado.

    - O que era quando o que? – Ela tentava entender o que o médico havia dito, uma vez que aquilo não parecia fazer sentido.

    Ela estava prestes a gritar, respondendo a Marcos, quando uma ideia veio a sua mente. Ela franziu a sobrancelha e olhou a sua volta.

    Ela pensou em tudo que havia feito desde o acampamento. Revisou todos os seus passos. Tentou se lembrar dos lugares por onde passou, os animais e plantas que viu e coletou. O que comeu e bebeu. Tentou mesmo se lembrar se havia caído.

    Quem sabe... O sumiço de Marcos. A estranha ausência de sons e luz na caverna. Os outros exploradores que desapareceram na escuridão. O pânico no rosto de Eduarda. A voz de Marcos, calma, vindo do fundo do túnel com uma mensagem sem sentido. Todas essas coisas estranhas, de repente, a fez questionar uma coisa muito simples.

    - "Será que eu estou realmente acordada? Será que não estou dormindo na barraca ou mesmo na minha casa? Ou será que por algum motivo estou inconsciente e talvez isso tudo não passe de um louco sonho da minha mente? De que outra forma eu explicaria tudo isso?" – Fernanda pensou

    E então antes de gritar pelos demais ou tomar qualquer decisão sobre ir atrás de Marcos, ela simplesmente sabia que precisava tirar essa dúvida. Dor. Talvez, se estivesse mesmo dormindo, a dor a despertasse.

    Então ela soltou o ombro de Eduarda e pegou a caneta que usava para fazer anotações em seus caderno e a pressionou contra a palma da mão, não para machucar, apenas para produzir dor suficiente para desperta-la, se fosse o caso.
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    Mensagem por LuizBaggio Seg Jun 03, 2019 1:35 pm

    O sentimento de desorientação era crescente. Fernanda sentira o incômodo puntiforme da caneta em sua mão, mas nada de acordar. A hipótese de estar dormindo não parecia tão óbvia agora. No entanto, a despeito de qualquer outra inquietação, os sentidos de Fernanda passaram a se atentar para a resposta que proviera após o questionamento do médico.

    Na lúgubre formação rochosa, ressoava a voz supostamente feminina mais assustadora, mas estranhamente acolhedora, que jamais se ouvira. Essa voz dava a suposta resposta com detalhes incríveis. Fora diferente de tudo que Fernanda jamais conhecera, ficando a jovem bióloga à beira do êxtase e da agonia. Ela se mantinha atenta e afiada, graças aos instintos, mas ao olhar para Eduarda - que também ouvia a narrativa - via o rosto de sua companheira se desfigurar, num olhar esquizofrênico de euforia, como se estivesse encantada por aquela narrativa tétrica.

    Ver a, até então sã, Eduarda naquela situação fizera Fernanda engolir seco. Sua mente a estava tentando seduzir a ir mais fundo naquele caminho, mas algo dentro de si falava que não deveria, que deveria ficar bem onde estava.

    Enquanto isso a narrativa continuava e, com a recente alienação mental de Eduarda, esta olhava estatelada, cada vez mais fundo nos olhos de Fernanda, sorrindo com um misto de desespero e euforia. Cada vez mais perto. Cada vez mais insana.

    Insana.

    Perto.

    Muito perto.
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    Mensagem por Caelestia Seg Jun 03, 2019 9:26 pm

    Fernanda suspirou exasperada quando confirmou que estava ali. Que realmente estava ali e acordada. Que por mais estranho que tudo aquilo parecesse, não se tratava de algum tipo de sonho esquisito.

    Sua mente, sempre muito racional e seus instintos treinados para superar possíveis adversidades, teimavam em não se dobrar a toda aquela loucura. Afinal, ela já esteve lá tantas vezes, com grupos diferentes e nunca havia passado por nada parecido. Ela sabia que tinha uma explicação para aquilo tudo. Tinha que ter.

    E foi no meio dessa aflição que ela ouviu uma voz.

    -“Mas o que...” – Ela sussurrou

    A voz soava de alguma forma feminina, embora não parecesse ser de Cintia que, por sinal, havia sumido.

    Fernanda não sabia dizer se por não conhecer sua dona ou se por não saber de onde vinha dentro da escuridão da caverna, o fato é que desta vez Fernanda se sentiu realmente assustada.

    Seja quem for, soava de forma aterrorizante e de alguma forma respondia à pergunta de Marcos. E era uma sensação estranha. Era quase como dar e receber. Ao mesmo tempo que causava medo, tranquilizava. Como se a narrativa contasse algo tão absurdamente estranho e fantástico, que ela realmente não sabia se ela conseguia entender ou somente sentir o que estava ouvindo.

    Lutando contra essa sensação de estase, Fernanda se forçou a olhar para Eduarda. E foi a expressão insana estampada no rosto da dentista que, de certa forma, a despertou para a necessidade de agir.

    Sentia que precisava fazer alguma coisa. Não poderia ficar ali ou sabia que iria sucumbir ao que quer que fosse que estava afetando a mente delas.

    Ela levanta a cabeça e grita bem alto, da forma mais firme que conseguiu naquele momento

    - AHHH! CHEGAAA! CANSEI DISSO! NÃO QUERO OUVIR MAIS NADA! E VOCÊ MARCOS... E OS OUTROS TAMBÉM... QUE SE VIREM SEM MIM!

    Ela olha para Eduarda, agarra um dos seus braços e o sacode, antes de dar um leve puxão e gritar com Eduarda, embora em um volume um pouco mais baixo que antes, em um tom de voz firme e irritadiço.

    - E VOCÊ GAROTA, SE LIGA! PRESTA ATENÇÃO, PORQUE EU VOU SAIR DAQUI. E É AGORA! E VOCÊ VEM COMIGO! E ISSO NÃO É UMA PERGUNTA, ENTENDIDO? VAMOS...

    Fernanda puxa Eduarda pelo braço, retornando pelo túnel que levava a câmara principal mais próxima da entrada da caverna.
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