INTRO - KANA

Kana Nobushi Idade: 18 anos

Kana abre seus olhos lentamente, as íris douradas ainda estavam se acostumando com a luz do ambiente. Algumas mexas do cabelo verde lhe caíam sobre a face. Ela ficou alguns segundos olhando para o teto com aquele olhar vazio de quem ainda está preso entre o despertar e o torpor do sono.

“ Eu preciso levantar…. Tenho tantas coisas para fazer hoje”

A jovem sentia que o dia poderia ser extenso, que ela precisava se levantar para fazer suas atividades. Ela tenta erguer o tronco, mas o corpo estava pesado, seus braços e pernas não se moveram nenhum centímetro, pelo contrário, se aconchegaram numa posição extremamente confortável e relaxante. Fazer qualquer movimento para se levantar parecia impossível. Kana fechou os olhos novamente e adormeceu novamente.

No fundo da sua consciência algumas pessoas apareciam com a silhueta borrada, mas como só acontece nos sonhos, mesmo sem ver sabemos quem são.

- Onniisan...Okaasan...Otosan.. Ojiisan - Sussurrou para si mesma conforme as figuras iam se dissolvendo na sua mente

Ela abre os olhos de repente e se levanta assustada. A lembrança da sua família a despertou totalmente. A jovem se levantou e lavou o rosto, penteou os cabelos e prendeu num coque alto deixando apenas duas mechas emoldurado o rosto. Colocou o kimono tradicional japonês, apesar de estarem numa ilha ocidental. Kana foi criada num arquipélago oriental e vinha de uma família muito tradicional, então ela se sentia desconfortável ao usar outros estilos de roupas.

Quando terminou de se aprontar, a jovem acendeu o fogão a lenha, apanhou uma leiteira e retirou o leite da vaca, deu ração para os porcos e as galinhas. Antes de voltar para casa apanhou algumas maçãs e amoras silvestres para fazer uma geléia.

Qquando o tio apareceu na cozinha Kana estava terminando de retirar o pão do forno. A mesa já estava posta e eles sentam para comer. Ela tomava um chá verde enquanto refletia sobre o sonho.

" Faz quanto tempo que não falo com eles? Dois anos?? Talvez mais??"

Ela não se arrependia de ter saído de casa e estava grata pelo tio ter a acolhido, mas desde que decidiu mudar de vida achou que estaria vivendo grandes aventuras e que ao completar 18 anos seria uma grande curandeira. Mas ela mal sabia reconhecer as plantas e ervas medicinais sem a ajuda do tio. Ele era muito habilidoso e requisitado na ilha, Kana o ajudava no preparo das poções. Ela aprendeu como macerar as ervas e secar as raízes, mas isso era conhecimentos básicos que todo aprendiz deveria ter. E só sabia preparar sozinha uma poção de cura para tratar arranhões ou ferimentos superficiais.

Kana suspirou de frustração e isso não passou despercebido pelo tio Takashi.

“Venho notado que nas últimas semanas, você parece mais e mais descontente. Está acontecendo algo que queira me contar, Kana?”

Ela não gostava de mentir para o tio, mas também não queria ser ingrata por tudo que ele já tinha feito. Então ela apoiou a xícara na mesa e o falou francamente.

- Ojisan...estava pensando se chegou a hora de conquistar algo diferente. O senhor sabe os motivos que me levaram a sair de casa e sou eternamente grata por ter me acolhido. Mas já se passou tanto tempo e sinto que não conquistei nada. - Ela pega na mão dele de maneira afetuosa.- Tenho estudado muito sobre as ervas e curas. Mas parece que falta algo….Não estou criticando nada... seus ensinamentos foram valiosos...mas aqui sempre serei sua ajudante.

A jovem ajeita a mecha atrás da orelha antes de prosseguir.

- As pessoas vem de longe porque querem seu tratamento. E sinto que preciso conquistar esse reconhecimento com meus próprios esforços. Quero um dia ser tão famosa quanto o senhor.

Ela sorriu de maneira triste, pois seu coração já desejava partir. Mas ela não queria magoar o tio e tinha receio de lhe contar a verdade.

KANA

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ILHA DE TOROA

Como o tio de Kana tinha adivinhado, havia chegado aquele momento que tanto tinha temido. Conhecia a sobrinha, havia nela a chama aventureira, e era somente uma questão de tempo sua decisão de partir. Ele ouve as explicações escondendo sua tristeza interior.

Ao final ele respira fundo, ajeita os óculos, e diz,

“Eu... te entendo, Kana-tchan. O meu desejo era que se sentisse em paz aqui em Toroa, cuidando dos enfermos e vivendo uma vida simples, porém sei que corre no seu sangue um sangue aventureiro. Eu também era assim, pode não parecer, mas tive minha dose de aventuras. Queria te proteger dos males deste mundo, só que sei que se ficar aqui não estará verdadeiramente feliz. Eu... dou a minha benção, Kana! Conte comigo!”

Ele se levanta e abre os braços, com lagrimas nos olhos. Não era comum ver seu tio chorar, exceto nas noites de lua cheia, quando ele ia jogar rosas nas ondas.

Depois de um longo abraço, ele se recompõe, ensaia um pequeno riso, e segura Kana nos ombros.

“Mas não é preciso ter pressa, viu? Vamos aproveitar que hoje teremos a Festa em homenagem ao Deus dos Oceanos!”

**

Mais tarde Kana e seu tio recebem a visita de um jovem, Toshio, o atendente da taverna A Arara Caolha. Ele era meio desengonçado, e fica envergonhado na presença de Kana.

“Ehr, hmm, então, a Shiva parecia que tava meio mal, e ela veio aqui pedir por algumas vitaminas... vocês...tem?”

Takashi vai ate o local onde fazia suas poções, e pega um frasco contendo varias pílulas. Ele entrega na mão de Kana e cochicha.

“Melhor que voce leve... Ele é meio desastrado, capaz que perca...”

**

No caminho Kana tenta puxar conversa com Toshio, mas ele parecia estar um tanto desconfortável com sua companhia. O treinamento ninja da garota a tornava bem atenta nos detalhes de comportamento, e percebeu que ele estava extremamente vermelho, suando frio e varias vezes gaguejava.

Bem, talvez estivesse com disenteria... Um cha de carquejo poderia ajuda-lo.

Logo antes de chegar na taverna, ele se endireita e fica com as mãos em forma de punhos. A jovem assume postura defensiva, colocando um dos pés para trás.

Toshio se vira rapidamente para Kana, e quase grita,

“Voce quer sair comigo na Festa do Oceanos dos Deuses! Quer dizer, Deus dos Oceanos!”

Kana Nobushi Idade: 18 anos

Aquela manhã estava sendo atípica, Kana não imaginou que teria tão cedo esse tipo de conversa com o tio. Mas também não conseguia esconder seus sentimentos e Takashi havia lhe pegado de surpresa. Após dizer quais eram suas intenções, a jovem mantinha o olhar fixo no homem que estava sentado a sua frente. Seu tio não costumava demonstrar suas emoções e quando ele suspirou a jovem apertou carinhosamente suas mãos entre a sua.

“Eu... te entendo, Kana-tchan. O meu desejo era que se sentisse em paz aqui em Toroa, cuidando dos enfermos e vivendo uma vida simples, porém sei que corre no seu sangue um sangue aventureiro. Eu também era assim, pode não parecer, mas tive minha dose de aventuras. Queria te proteger dos males deste mundo, só que sei que se ficar aqui não estará verdadeiramente feliz. Eu... dou a minha benção, Kana! Conte comigo!”

Ela sorri ao imaginar as aventuras que o tio e sua mãe aprontavam quando mais novos. E quando Takashi disse que entendia suas motivações a jovem sente os olhos se enchendo de lágrimas também. E vê o homem se levantando para abraça-lá, mas havia lágrimas no rosto dele

- Ojisan.... - A jovem o abraça apertado e não queria o soltar tão cedo.

“Mas não é preciso ter pressa, viu? Vamos aproveitar que hoje teremos a Festa em homenagem ao Deus dos Oceanos!”

Com relutância ambos se afastam e Kana concorda com a cabeça. Mesmo assim ela fica um pouco melancólica, afinal seu tio sempre a tratou muito bem e ao mesmo tempo que se sentia ansiosa por essa nova fase de sua vida, tinha uma amarga sensação de que estaria abandonando a única pessoa que apoiou suas decisões.

Mas com o passar do dia e com as tarefas domésticas, os ânimos da jovem melhorou. A moça de cabelos verdes estava estendendo a roupa no varal quando escutou alguém chamando pelo tio. Ao entrar na sala, viu o tio sentado numa poltrona e um rapaz de aproximadamente 15 anos. Kana o cumprimenta com um inclinar de cabeça e foi para a cozinha. Então não percebeu que o jovem corou assim que ela entrou na sala.

“Ehr, hmm, então, a Shiva parecia que tava meio mal, e ela veio aqui pedir por algumas vitaminas... vocês...tem?”

O tio entrou logo em seguida e se aproximou do armário de medicamentos e pediu que ela entrega-se as pilulas. Kana limpa as mãos no avental antes de pegar o frasco.

“Melhor que você leve... Ele é meio desastrado, capaz que perca...”

- Claro que vou, só um minutinho.- Ela deixa o cesto de roupa sobre a mesa , sobe rapidamente para seu quarto e sai junto com o rapaz.

Eles caminharam alguns minutos em silencio. Kana tinha guardado o frasco com as vitaminas numa bolsinha e como era de costume sempre que Kana saia pela ilha sem a presença do tio, ela guardava uma Kunai nas dobras do kimono. Então conforme ela caminhava com o jovem Toshio, mantinha as mãos das mangas, como as gueixas costumavam fazer. Era um habito que nem a jovem reparava que fazia.

- Agora que estou me lembrando, você trabalha na Taverna, né!? Fui lá algumas vezes...acredito que o movimento esteja grande hoje por conta do festival - Silêncio- Deve ser por isso que sua chefe está exausta...você sabe se ela está se alimentando direito??

Novamente Toshio não responde. Kana o analisa mais atentamente, o suor escorria pelo seu rosto, seu rosto estava vermelho e ele andava apressado. Será que estava se sentindo mal?? Poderia ser uma intoxicação alimentar? Se fosse o caso, deveria avaliar a Sra. Shiva também.


Enquanto estava divagando sobre os possíveis diagnósticos, eles chegam próximos da Taverna e Toshio fica em alerta, sua postura muda completamente e isso assusta a jovem que entra em modo defensivo. Muda a base dos pés, recuando levemente a perna direita para trás e tateia o cabo da Kunai na dobra da manga.

“Você quer sair comigo na Festa do Oceanos dos Deuses! Quer dizer, Deus dos Oceanos!”

- Oro!?!- Ela pisca um pouco confusa e olha ao redor para ter certeza que não estavam em perigo. Então volta a sua postura calma de sempre- Obrigado pelo convite Toshio-kun. Eu e meu tio ficaremos felizes com sua companhia.

Kana podia ser uma excelente observadora quando se tratava de combate. Mas em relação a interações sociais e principalmente intenções amorosas deixava muito a desejar.

KANA

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ILHA DE TOROA

- Obrigado pelo convite Toshio-kun. Eu e meu tio ficaremos felizes com sua companhia.

O rapaz não parece acreditar no que seus ouvidos acabaram de ouvir… Ela aceitou mesmo? Ele junta as mãos em frente do seu peito e parece que em seus olhos tinham duas estrelinhas.

“Que ó-ti-mo! Eu também fico muito feliz com a companhia de vocês! Noussa, sério, tem um monte de coisa bacana para se fazer la, tem as barraquinhas de jogos, tem o takoyaki da Senhora Mizuno, estavam ate falando do show de fogos de artifícios, e...”

Ele continuava a falar e se movimentar freneticamente de um lado para o outro, como se estivesse querendo imitar por mimica todas as ações possíveis na festa. Este Toshio era estranho, mas também divertido.

De repente Toshio esta na sua frente de novo.

“Preciso te mostrar algo! Vem comigo!”

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A empolgação do rapaz parecia não ter fim, e praticamente havia esquecido do motivo por que teria ido até o curandeiro da vila. Meio que arrastada por Toshio, Kana vai até a casa dele, que ficava perto da taverna Arara Caolha.

Tratava-se de uma casa grande e luxuosa, destoando das demais. Fora construída com materiais estrangeiros trazidos por barcos mercantes, algo muito raro de se ver. A família do rapaz devia ser muito rica. Por que ele estaria trabalhando como atendente de uma taverna?

No entanto eles não vao para dentro da casa, e sim para uma espécie de puxadinho. Ele abre a porta, e mostra seu interior: o local estava repleto de imagens e outros objetos religiosos representando os diversos deuses, como a deusa das plantas Assiral, o deus dos mortos Killeth, a deusa da magia Selarune e a deusa da morte Brunaline. E claro, o venerado deus dos oceanos, Nindassus.

Seus olhos brilhavam, mostrando sua coleção, parecia bastante orgulhoso.

“Gosto de tudo relacionado aos deuses, sempre que posso vou ate a feira do porto para comprar alguma coisa para a minha coleção! Você tem algum deus preferido, além de Nindassus?”

Com a mão ele descreve um arco, como se estivesse em um mostruário.

“Pode entrar! De qual dos símbolos voce mais gosta?”