Capítulo 1 - O Templo de Mystra

A cidade de Wheloon, no sudeste de Cormyr, carecia de muralhas ou de barreiras naturais e se expandia para ambos os lados do Rio Wyvern. Suas ruas espiraladas seguiam o terreno montanhoso e o capricho das construções. Telhados verdes e cheios de vida cobriam a maioria das casas e dos locais de comércio, e a ardósia esverdeada conseguiu para a cidade o apelido de "Torres de Jade".

A primeira impressão para qualquer um que caminhe através de Wheloon é a de um lugar industrioso e próspero. O povo sempre parece estar em seu próprio negócio, desviando-se dos criadores de gado e das caravanas mercantes, e acotovelando-se para lá e para cá. Poucos conseguem grandes riquezas na cidade, mas muitos que trabalham duro obtêm uma boa vida para si mesmo e tem tempo e dinheiro suficiente para aproveitá-la.

O grupo - que ainda não possuía um nome e era pouco reconhecido por seus feitos - acabara de chegar a Wheloon. Seus integrantes eram: Clegorian, um guerreiro alto de 1,80 m e servo de Tempus, o Senhor das Batalhas; Alexander leRoy, um larápio de dedos ágeis e boca afiada; Delding Puon Endub, um gnomo conhecedor da Arte; e por último Turók, um druida cujo seu companheiro mais próximo era um gorila.

Os quatro foram diretos para a primeira taverna local que encontraram. O estabelecimento era pequeno e quase imperceptível para quem andasse distraidamente pela rua. Lá dentro havia poucas pessoas e um taverneiro barrigudo limpava solitariamente os copos. Porém o que chamou a atenção do grupo foi um pergaminho pendurado logo na parede de entrada. Ele dizia o seguinte:

- Graaaaaças a Tymora! - Diz com alegria ao chegar na frente da estalagem. - Até que enfim chegamos, vamos entrar... - Se vira para entrar na estalagem, mas para ao ver o bilhete pendurado.

Dá alguns passos até o bilhete e começa a ler: "... quiserem escutar um enigma bastante peculiar..." - Sorri.

- Pessoal, ouvir dizer que a Estalagem Vigília do Wyvern é a melhor da cidade, que tal irmos para lá? - Levanta a cabeça e olha para o grupo a espera de uma resposta. - Só vou encher meu cantil aqui, um momento. - Se dirige ao taverneiro.

O taverneiro não percebe a aproximação do gnomo. De fato, ele estava tão concentrado em seu tedioso trabalho de limpar copos que nem chegou a erguer os olhos para o grupo bastante chamativo que acabara de adentrar o seu estabelecimento.

- Ei, Olhe aqui embaixo meu graaande amigo! - Sorri - Desculpe lhe atrapalhar em seu trabalho, mas o senhor poderia encher meu cantil com água? Estou morrendo de cede! Vim de longe e o que mais quero é água! - Pega o Cantil e coloca sobre o balcão junto com três peças de cobre.

- Pode ficar com o troco, afinal estou atrapalhando seu serviço - Sorri. - Não querendo aproveitar de sua boa vontade, só uma perguntinha, sabe me dizer o que seria aquele bilhete ali? Quem o colocou ali? - Arregala os olhos esperando uma resposta, afinal a maior indefesa do gnomo era sua curiosidade.

"Hum...?", o taverneiro olha para baixo. "Ah, pequenino. Não vi você aí. Me desculpa." Ele pega o cantil do gnomo. "Claro, será um prazer." Quando termina de enchê-lo, ele o coloca novamente sobre o balcão. "Vejo que você é estrangeiro", diz o taverneiro ao ver as peças de cobre. "Tome aqui, fique com um polegar de troco. Esta é a moeda que circula em Cormyr, do Norte ao Sul e do Leste ao Oeste." A seguir ele pondera sobre a pergunta do pequeno. "Não estou me lembrando quem o colocou ali... Acho que foi há uma dezena atrás. Mas ali é o mural de anúncios, vira e mexe alguém coloca algum aviso para contratar aventureiros ou outros tipos de trabalhos"

- Ah... entendi... Onde fica essa estalagem que o bilhete diz? -Indaga - Estalagem Vigília do Wyvern... - Completa. - Será que você pode trocar mais algumas moedas por esse tal de polegada? - Ri enquanto tirava algumas moedas da algibeira para fazer a troca.

Turok estava incomodado. Não gostava nada de lugares agitados e/ou com muita gente. Com muito custo se juntou ao grupo e mesmo assim selecionou bem suas amizades. Ele não era lá muito falante. Era rude, quando falava tinha dificuldades em falar baixo e não tinha modos. Não era lá muito alto, não era forte, não era bonito. Para completar, andava ao seu lado um Gorila. Um animal grande e imponente, que assusta muitas pessoas. O guarda costas perfeito. Ele olhou o bilhete e entrou na estalagem. Sabia ler, mas isso lhe era custoso e ele tinha muita preguiça de fazer coisas assim.
Tu (Gorila) passou pela porta com as mãos no chão. Ele viu o gnomo ir até o balcão, escolheu um lugar no canto perto da porta e se sentou no chão mesmo, junto a Tu. Assim ele esperava o pequeno retornar...

"A Vigília do Wyvern fica próxima do rio, mais ao centro da cidade", responde o taverneiro. "É a estalagem mais popular em Wheloon", complementa com um pouco de ressentimento. O taverneiro troca duas moedas de prata do gnomo por um falcão e dez polegares. Numa das faces de cada moeda tinha um dragão e na outra um número. "Esta é a data em que ocorreu a cunhagem da moeda", explica o taverneiro.

- E onde fazem dessas moedas? Quero um bocado delas! - Ri. - Obrigado pelas informações, se me dá licença, tenho que alimentar o Jô e o Mento. Um grande abraço amigo! - Se retira agradecendo o taverneiro e vai até o grupo que estava esperando ao lado de fora. - Até o taverneiro disse que a outra Estalagem é melhor, vamos para lá, a cerveja deve ser mais barata - Diz tentando animar o grupo.

Em seguida sobe na sua carroça para tentar fazer o trajeto explicado pelo taverneiro.

- Vamos Jô! Eu sei que você está cansado, mas já estamos chegando. Né, Mento? - Conversa com seus animais de estimação, dois jumentos!

- Alguém quer carona? - Pergunta para os membros do grupo.

Turok sabia das utilidades de animais de carga. Tinha mais afinidades com os cavalos e não gostava de ver animais sendo maltratados de jeito nenhum. O Gnomo conversava quase carinhosamente com seus animais. Eram dele. Ele os comprara e mesmo assim tinha algum respeito por eles e isso ele respeitava. Mas também gostava de caminhar e não tinha intenção de subir na carroça. Tu não conseguiria, então não havia motivo para tal. Ele balança a cabeça negativamente e continua a caminhar.

- Se você for encontrar alguma erva por essa cidade, deve encontrar nessa outra taverna onde estamos indo, dizem que lá tem mais opções que nesta - Diz ao braço forte do grupo.

- Se quiser descansar, posso te dar uma carona, depois você busca seu cavalo aqui - Diz já saindo em direção a Estalagem informada no bilhete.

- Vamos pessoal, talvez possamos encontrar algo de bom pra gente depois de um bom descanso! - Diz animado, como sempre.

Alexander leRoy, Ladrão Extraordinário, seguia entre seus fiéis comparsas, peito estufado e um reluzente e cativante sorriso empertigados sobre o possante Relâmpago, o mais veloz baio daquela metade do mundo conhecido. O renomado herói decidira deixar que seu diminuto amigo cuidasse das informações dessa vez, nada a ver com algum tipo de distração momentânea não-senhor-o-que-é-isto, o Mestre Espadachim das Colinas de Sangue apenas desejava observar a bela paisagem, e as belas damas e belos cavalheiros que passavam ao redor.

-Bom, companheiros, acredito que encontramos uma possível busca. Pomo-nos ao destino, e eu pago a primeira rodada!

O Salvador de Mil Donzelas descansa a mão sobre o pomo de seu reluzente sabre, e ajeita o belo chapéu verde na cabeça, o penacho carmesim balançando levemente ao vento.

Era o começo do anoitecer quando o grupo alcançou a estalagem. Não foi difícil localizá-la, pois o barulho que vinha de dentro dela era ouvido a uma boa distância. Um letreiro acima da porta de entrada indicava que eles tinham vindo ao lugar certo: Vigília do Wyvern estava escrito em letras grandes e douradas.


De dentro do recinto, uma música era tocada por menestréis. Aos fundos da estalagem um grupo numeroso rodeava sabe-se-lá-o-quê e gritava e agitava seus braços euforicamente. Pessoas andavam para lá e para cá, conversando e tagarelando em altas vozes, e duas jovens e bonitas garotas faziam os papéis de atendentes locais. O ambiente possuía um odor agradável de comida assando e sua iluminação era de pouca luz.

O som vindo de dentro da taverna ascendia ainda mais a felicidade que o jovem gnomo tinha por tudo aquilo: Aventuras, boa comida e bebida, diversão e enigmas. O semblante alegre de Endub era visível a quilômetros de distância.

- Fico muito feliz que todos estejam bem, depois de tantas aventuras, é sempre um prazer tê-los ao meu lado - Diz o meiohomen com voz cativante adentrando a taverna e se aproximando da movimentação que o chamava atenção mais ao fundo do ambiente, enquanto sapateava desastrosamente, dançando a música tocada.

- Meu jovem, que tal achar uma mesa pra gente? - Diz para seu amigo, Alexander.

Alexander amarra seu sempre fiel corcel Relâmpago fora da estalagem, e adentra o recinto com seus companheiros. Uma vez dentro, o ladrão lendário observa o ambiente, muito agradável por sinal, e ouve o pedido de seu pequenino amigo.

-Mas é claro que não, jovem Endub!

O Don Juan de Tapista se aproxima de uma das belas atendentes, um largo e cativante sorriso na boca, e toma sua mão e a beija.

-Minha belíssima jovem, que ilumina meu dia como um sol de verão nas após o terror das Colinas de Jericó, se importaria de me ajudar a encontrar uma mesa para meus heroicos companheiros e depois, talvez, dar-me o extasiante prazer de sua companhia?

Alexander aproxima-se da atendente e em meio ao odor ambiente pôde perceber um perfume adocicado que exalava da moça. Ela possuía cabelos loiros e encaracolados, um rosto proporcional e alegre. Seu corpo tinha belas curvas e Alexander sentiu a pele lisa da moça ao beijar sua mão.

"Oh, temos um cavaleiro por aqui", brinca a jovem. Sua voz era leve e despreocupada. "Colinas de Jericó? Não sei onde fica isso, mas sei onde temos mesas vagas. Me acompanhe." Ela vai levando Alexander em meio a multidão de pessoas até encontrar uma mesa livre, perto dos menestréis. "Podem sentar-se aqui, já irei atendê-los." Era uma mesa simples, com quatro cadeiras envolta e uma vela sobre a sua superfície.

Endub foi para os fundos do estabelecimento e teve que passar por debaixo das pernas de várias pessoas até perceber o que estava ocorrendo ali no meio daquele aglomerado. Acontecia uma briga de taverna, é claro! Dois homens sem camisas se esmurravam ali mesmo, e as pessoas envolta torciam para aquele que tinham apostado seu dinheiro. Quando um dos homens venceu a peleja, muitos vibraram com o resultado enquanto outros tantos se amaldiçoaram, sabendo que tinham ficado um tantinhos mais pobres.
"Quem é o próximo a fazer um desafio? Heim? Vamos, não se acovardam, qualquer desafio é válido!" Dizia um homem que parecia gerenciar as apostas.

- Droga, e eu achando que era o tal homem deprimido... - Diz para si, mantendo o sorriso em seu rosto, mas encucado com o homem que gerenciava as brigas. Afinal não era comum brigas em tavernas sendo gerenciadas.

Ao ver que não encontrou nada que buscava, o pequeno volta para mesa onde estavam seus amigos.

- Olá querida - Diz para atendente - Poderia me trazer alguma sopa? Aguarda a resposta da moça, em seguida faz outra pergunta - Sabe me dizer se alguém por aqui está precisando de alguma mãozinha? É porque li em um bilhete que aqui teria alguém deprimido... - Fala sobre o bilhete que havia encontrado na taverna anterior.

Na entrada da taverna já era possível ouvir cantoria e, se Turok não queria entrar ali, Tu não quis entrar. Turok diz para ele ficar atrás da estalagem que se fosse necessário ele o chamaria como de costume.
Turok vê Alexander falar com a mulher. Eles seguem a mulher até uma mesa. Lá, o druida senta e quando começam a fazer pedidos ele apenas fala:

- Uma galinha e um vinho.

Endub consegue achar a mesa onde estavam Alexander, Clegorian e Turok (o gorila havia ficado do lado de fora da estalagem). A atendente retorna para anotar os pedidos e ouve a pergunta do gnomo.
"Alguém deprimido? Curioso você me perguntar isso... Recentemente um homem hospedou-se aqui e todo dia ele desce de seu quarto, senta-se numa mesa e fica sozinho, pensando em sabe-se lá o que... Quando a estalagem começa a se encher ele sobe para o seu quarto novamente, mas nunca sai daqui. Eu e minha irmã já perguntamos a ele se poderíamos ajudar em algo, mas ele havia dito que precisava de homens de armas e não de garçonetes."