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    Facas na Escuridão

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    Mensagem por Soviet Ter Ago 15, 2017 4:51 pm

    4 de Eleint de 1372

    Lehavetin tinha a companhia apenas de seu cavalo.

    Veloz foi batizado por Ælred, seu sobrinho de cinco anos, filho de seu irmão Obeorn. Agora ambos estavam mortos. O humor do nobre de Inverno Remoto estava gelado como o ar que vinha contra o seu corpo, jogando os cabelos longos de Lehavetin para um lado e depois para o outro, fazendo o ladino puxar seu manto de peles para cima sempre que sentia o vento frio lhe beijar o pescoço. Wolfang deixou Inverno Remoto em um misto de sentimentos que convulsionavam dentro do nobre: medo, ódio e o luto por sua família que não poderá ser honrado, já que seus corpos provavelmente serão queimados como os das outras vítimas da Morte Uivante. As poucas lágrimas que ainda sobravam para Lehavetin tinham o gosto amargo da perda, mas no fim dava para sentir o sabor da vingança, e era esse pensamento que movia o nobre para a Floresta Oculta, onde estavam os homens enviados por seu pai.

    Partindo no início da noite e atravessando a Floresta de Inverno Remoto por caminhos pouco conhecidos, Lehavetin chegou ao Vale do Dessarin três dias depois de deixar Inverno Remoto. Evitando a Estrada Longa e viajando sempre durante a noite, Lehavetin passou muito ao norte de Sela Longa e atravessou o vale em dois dias, guiando Veloz para que o cavalo contornasse as Colinas Surbin até a floresta ao norte. O nobre mal apreciou a paisagem, para ele campos, florestas e colinas eram apenas borrões com importância apenas quando serviam como proteção durante o dia. Era da Floresta Oculta que vinham os orcs que atacavam as caravanas que iam para Inverno Remoto e voltavam para as Fronteiras Prateadas, deslocando-se pelas margens do Rio Surbin e pegando os mercadores de assalto próximo da margem sul dos Pântanos Eternos. Julio Wolfang, pai de Lehavetin, enviou um destacamento de alguns homens uma dezena atrás para confrontar os orcs, surpreendendo-os no lado norte das Colinas Surbin. Quando chegou nas margens da floresta, Wolfgang passou a guiar Veloz com mais cuidado pois sabia que existiam mais ameaças nessa região além dos orcs, como gigantes e bárbaros.

    Conforme o nobre e Veloz avançavam, o vento começou a trazer consigo, além do frio, o cheiro acre da morte. Ele era apenas uma fragrância leve, mas causava repulsa e fez um calafrio percorrer o corpo de Lehavetin. Agora com passos lentos, Veloz caminhava margeando a floresta e o cavalo mostrava sinais de desconforto, balançava a cabeça e quase parava de andar, obrigando Lehavetin a forçar-lhe o caminho. Do nobre e de sua montaria, ouvia-se apenas a respiração, o assobio constante do vento nos ouvidos e o canto de alguns pássaros ajudavam a compôr o momento; o cheiro ficava cada vez mais intenso e a tensão cada vez maior. Balançando a cabeça e reclamando com gemidos e bufadas, Veloz fez o resto do caminho contra sua vontade.

    O estômago de Lehavetin embrulhou quando encontrou os soldados e o gosto de bile subiu até a boca. Quase caindo de cima de Veloz, o nobre se arrastou alguns passos e vomitou um caldo viscoso e amarelado com gosto de repulsa. Lehavetin ficou prostrado por poucos minutos, se recompôs, limpou a boca e observou a cena. Havia corpos mutilados, com cortes que iam de um lado ao outro do peito ou da barriga, homens que tiveram suas cabeças separadas dos corpos e colocadas em espetos. Muitos estavam nus, mas Lehavetin não saberia dizer se eles foram despidos depois de mortos ou se os obrigaram à isso ainda em vida. O que o nobre conseguiu foi investigar o máximo que pode, suportando o cheiro e ter que olhar para corpos mutilados de homens que conhecia.

    Lehavetin olhava para o chão procurando por pistas que lhe dissessem algo e o nobre pode ter encontrado algo. Aparentemente, já que não é simples se precisar esse tipo de coisa em um combate, o número de orcs era muito maior, maior inclusive do que os números que os mercadores sobreviventes relataram. As pegadas dos orcs, levemente maiores do que as de um humano, vinham do norte e, se o nobre não se enganou, voltavam para a floresta. O cheiro dos corpos se decompondo agora não incomodava tanto quanto antes, mas Wolfgang ainda torcia o nariz e o cobria com o manto. Lehavetin notou que os corpos foram saqueados, todo equipamento que não foi danificado durante o combate foi levado embora, e mesmo pertences pessoais foram tomados. O nobre reconheceu Jehan, um dos homens de confiança de seu pai, mas agora ele estava com os olhos vazios e opacos encarando o céu e a boca, retorcida em um grito, coberta de moscas. Ele estava nu e Lehavetin se lembrava que o homem sempre carregava um pingente pendurado no pescoço, uma joia simples feita com uma ametista que representava os seus laços com uma mulher, Lehavetin não lembrava seu nome. Foi fácil constatar que os homens de Inverno Remoto foram massacrados, para cada cinco ou seis deles, havia apenas um orc, e não havia muito o que Wolfgang pudesse fazer, ainda mais sozinho. Sem poder voltar para sua cidade natal, Lehavetin precisa decidir logo quais serão seus próximos passos.
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    Facas na Escuridão Empty Re: Facas na Escuridão

    Mensagem por Daemon Qui Ago 17, 2017 1:58 am

    Os sentimentos de ódio e desespero quase foram substituídos pelos de nojo e medo num conflito injusto entre abismos. Pela primeira vez em muito tempo Lehavetin sentiu saudade de sua infância. Num ato de regressão justificado pelo frio, o jovem se abraçou e esfregou suas mãos em seus braços, tentando passar uma ilusão de segurança. Tremia.
    Evitara de ver a chacina da família, mas não tivera tanta sorte dessa vez. A cena horrenda tirara-lhe toda a esperança que ainda restava de um chão frente a conhecidos. Estava só num mundo vasto. Só numa floresta repleta de ameaças, onde nem sua sombra poderia lhe inspirava confiança.
    Atordoado, não conseguia pensar racionalmente, mas os instintos gritavam para que saísse dali o quanto antes.
    Deu meia volta com Veloz, e o único local que lhe vinha a luz da consciência era Lua Argenta.
    Pôs o cavalo a marchar sem muito alarde. A última coisa que gostaria era ser ouvido; farejado; caçado por qualquer besta àquela altura.
    Seguiria margeando o rio. Deveria estar com fome, mas não era disso que o estomago atacava-o, sequer conseguia pensar em comida. Tinha a sensação de que suas tripas seriam vomitadas a qualquer momento.
    Vontades de urrar lhe tomavam de súbito, contra o medo, contra o peso do mundo em suas costas, contra a falta de direções dali em diante... mas não estava tão ensandecido... ainda.
    Assim que estivesse em segurança... pensaria em algo. Não lhe restava mais nada. Do que adianta a liberdade quando não há escolhas?

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