primeiro dia de aula
Oliver conseguiu ler duas HQs, mesmo tendo ficado um pouco perdido na história - e perdendo o interesse nelas de tempos em tempos exatamente por isso. Ele gostava de ação, como a maioria dos meninos que conhecia, mas nesse caso preferia ver na tv ou no cinema mesmo. As HQs eram muito curtas e acabavam rápido demais, por isso o garoto teve que recorrer a pequena televisão do seu quarto. Ficou mais passando de canal do que prestando atenção. O tédio não permitia.
O tédio era tanto que o garoto pegou no sono todo torto em sua cama.
Não foi um sono muito proveitoso. Logo estava acordado de novo e no mesmo estado mental de antes. Nem mesmo Orion, em seu aquário em cima da cômoda velha que estava naquele sótão desde muito antes de Oliver nascer, parecia estar muito animado para se exercitar em sua roda. Estava dormindo, quietinho dentro da toquinha no primeiro andar do aquário, que era dividido em três níveis.
- Até você está entediado. - debruçou os cotovelos sobre o móvel e apoiou a cabeça sobre as mãos, apertando as bochechas de modo a ficar com uma careta bicuda que representava perfeitamente seu estado de espírito - Não é, Orion? - resmungava com a voz rouca.
O único lado bom era que o cheiro do lanche que a mãe deixara em seu quarto não lhe incomodava mais e agora que a fome finalmente tinha batido, o garoto conseguia comer os biscoitos e as torradas.
Depois de suspirar o que deveriam ter sido uma mil vezes, notou que só ele estava fazendo barulho na casa. A mãe estava há tempo demais sem emitir nenhum som. Será que ela tinha saído?
A falta do carro dela respondia a questão.
Estava completamente sozinho em casa! O que queria dizer que não precisava ficar preso no quarto como um doente em quarentena, ou alguém que teve algum contato com alienígenas e foi capturado pelo governo para ser estudado.
Estava livre!
Pelo menos para transitar nos outros andares, porque se saísse seria difícil saber quando a mãe voltaria e se precipitar rápido o suficiente para ela não descobrir sua fuga.
A Sra. Graham podia ser protetora demais… Ou talvez o exagero se devia apenas por ele ser o caçula da família.
Na verdade Oliver estava se sentindo bem melhor agora. Quem sabe se dissesse isso para ela, mamãe relaxaria um pouco e lhe deixaria sair. Ao passar pela entrada a cozinha, o garoto notou o bilhete preso à geladeira. O costumeiro papel grande, laranja e com letras enormes escritas com uma caneta atômica azul. Era para ser visto de bem longe caso seus filhos estivessem muito distraídos para prestarem atenção em seus “bilhetinhos”.
Nem era algo tão importante assim ir ao mercado que exigisse uma nota dessas, Oliver pensava enquanto continuava seu caminho até a sala, onde se jogou no sofá.
O dia estava cinzento lá fora. Não parecia um dia particularmente bom… Talvez estivesse pior por ser o primeiro dia de aula. Sempre era o mais complicado, mas na escola não seria tão tedioso quanto ficar em casa e ver o tempo passar lentamente.
Sem muito mais o q fazer teve que recorrer à tv da sala. A assistia de cabeça para baixo, com os pés onde a cabeça deveria estar apoiada. Estava tão sem graça ficar em casa que ele recorria à qualquer coisa. Não passava nada de legal nesse horário. Nem mesmo uma reprise de algum filme sci-fi. Até tinha alguns desenhos passando, mas naquele horário parecia que só tinha programação para crianças pequenas ou donas de casa e Oliver não entrava em nenhuma das duas categorias.
Estava navegando pelos canais pela terceira vez, quando um forte estrondo aconteceu abaixo do piso e o fez dar um pulo e escorregar do sofá, quase caindo de cara sobre o tapete da sala.
Com o coração batendo como os tambores de uma marcha militar, Oliver levantou-se depressa do chão, muito atento e agitado. O que tinha sido isso?
Veio de baixo, do porão. Parecia até que tinham jogado uma bola de boliche lá embaixo… Não tinham bolas de boliches, não é? E nem ninguém mais em casa para jogá-las.
O garoto não ia muito lá embaixo. Era escuro e meio empoeirado, visto que limpavam o local com bem menos frequência que o resto da casa, além de ser um pouco úmido. Mas não lembrava de já ter ouvido algo caindo no porão. Por que tinha resolvido cair justo neste raro momento em que o garoto estava totalmente sozinho em casa?
No começo não estava muito afim de ir ver o que tinha acontecido, pois o coração ainda estava bem agitado em seu peito, mas quando começou a se acalmar e respirar melhor, a curiosidade começou a crescer.
Será que tinha algo lá embaixo? Ou alguém tinha retornado sem Oliver perceber e agora mexia no porão?
O garoto olhou mais uma vez pela janela da sala para se assegurar de que nenhum carro estava estacionado ali.
O que poderia ser? Um gato que tinha conseguido invadir a casa? Ou uma pessoa perversa querendo roubar as coleções do pai? Ele tinha algumas quinquilharias raras em casa.
Oliver sobressaltou ao se dar conta de algo. Tinha visto algo assim em um filme! Um filme sobre alienígenas!! Talvez fosse meio idiota alienígenas invadindo porões, mas todo o cuidado era pouco e por isso o garoto, já um pouco ansioso em não ter feito se movido ainda, enquanto ficava se perguntando o que tinha provocado o baque que ouviu, decidiu ir buscar um bastão de beisebol la no seu quarto, que tinha ganhado de presente dos avós, antes de se aventurar até a porta do porão.
Se fosse algo perigoso, Oliver, o único que estava em casa, não poderia deixar para lá e permitir que ameaçassem sua família. Tinha que ser corajoso! O homem da casa! (Afinal seu pai já tinha ido trabalhar mesmo).
Com o objeto já em mãos o garoto se esgueirou até a porta do portão e respirou fundo, tomando coragem para girar a maçaneta e dar uma tacada no primeiro alienígena que surgisse em sua frente.
- Encélado, Reia, Febe, Pandora… - começou a sussurrar o nome das luas de saturno sem quase mover os lábios enquanto abria a porta lentamente para que a luz não entrasse de uma só vez no ambiente.
Se não houvesse nada logo na entrada do porão, o garoto deveria dar uma espiada para além da escada, apertando os olhos e procurando o que poderia ter causado o som, mas também preparado para correr até o telefone e ligar para a polícia. Se não pudesse ver nada, até onde conseguia enxergar, Oliver seria obrigado a apertar o interruptor para iluminar o porão.