[!ON!] Larissa Aprill

Já era tarde da noite, talvez 23h ou 00h, você não sabia.  Você apenas sabia que estava cansada e que, caso o metrô não atrasasse, talvez você conseguisse chegar em casa antes do Eduardo dormir.

Era no aniversário do primeiro beijo de vocês, uma data que nunca esqueciam, apesar dos anos que estavam juntos.  Vocês nunca deixavam de comemorar, mas, naquele ano, haviam combinado de não sair, afinal, as caixas não se empacotariam sozinhas.

Você passou em uma padaria, comprou o sabor favorito do bolo dele e passou, também, em uma farmácia. O tempo foi quase exato, mesmo com a chuva que caía.  Mesmo sendo algo simples, você sabia que ele gostaria daquela pequena surpresa...

Apesar da sua preocupação com a hora, você conseguiu pegar o metrô a tempo.  Segurava firme a sacola em seu colo e sentia a umidade da sombrinha que, encostada perto da sua perna, molhava levemente a barra da calça.  Sentada ali, enquanto os minutos pareciam não passar,  você se lembrou de uma memória da sua infância, com sua mãe. O que lembrou naquele momento?

***

Quando finalmente chegou em casa,  ouviu o barulho da TV na sala e a luz da cozinha estava acesa.  Edu estava cochilando no sofá, numa posição desajeitada, com uma roupa que você adorava.  Da cozinha vinha um cheiro gostoso,  da comida que vocês haviam comido naquele primeiro encontro... E a mesa estava posta para vocês dois.

Talvez você não havia sido a única a pensar na surpresa.

Seu pai devia estar dormindo já e seus bichinhos te recepcionaram na porta. Talvez os únicos que aguentassem te esperar naquele horário maluco da clínica que trabalhava. Após pedir o aviso prévio, eles haviam piorado ainda mais o horário... E, nesses últimos dias, você nunca sabia quando teria um tempinho livre.

Talvez a mudança fosse boa. Seu marido havia conseguido um emprego muito bom em uma cidade menor, onde uma produtora filmaria um filme brasileiro, que tinha tudo para dar certo.

Enquanto você pensava naquilo, Pablo roçou na sacola que você segurava ainda e a derrubou no chão. Ao abaixar para pegar as coisas que haviam caído,  você se deparou com a caixinha que  estava evitando pensar desde que passou na farmácia.

Caixinha:

O que fará ao entrar em casa?

Sai do trabalho às 21:00 e precisava correr para o metrô. Tinha prometido pro Edu que não iria chegar tarde, mas eu PRECISAVA ir na Liberdade. Primeiro porque hoje era uma data especial, a gente ia completar 8 anos juntos. E mesmo que a gente tinha combinado em não fazer nada de especial eu ia dar só um pulinho no bairro oriental e comprar algumas coisinhas para gente.

A questão era….eu ia conseguir me controlar no mercadinho? Porque aquele lugar era minha tentação, sem sombra de dúvidas. Se pudesse eu iria ficar horas andando pelos corredores, iria parar em frente de cada embalagem bonita ou que me chamasse a atenção para descobrir do que se tratava. Também iria ficar divagando na parte dos doces, pois tem tanta coisa deliciosa ali. Mas hoje eu precisava focar no horário, não poderia me atrasar ou não conseguiria chegar em casa.

Então corri para a prateleira onde tinha os ingredientes do yakissoba e depois peguei o bolo mais delicioso que comi na vida. O bolo de morango da marca Momo. Já estava indo pro caixa, mas a tentação de pegar o café gelado da OKF foi maior. Peguei duas latinhas e joguei na cestinha.

Ao sair do mercadinho, vi uma farmácia aberta e corri para lá antes que a chuva apertasse. Depois de fazer a última compra da noite corri de volta para o metrô.

No caminho de volta, tentava equilibrar o bolo no colo com as outras sacolas e a sombrinha. Olhando o reflexo da chuva na janela, lembrei dos aniversários que minha mãe fazia quando eu e minha irmã éramos criança. Ela sempre gostou de fazer as festas com tudo que a gente tinha direito. Mas mesmo quando não tínhamos dinheiro, o aniversário não passava em branco. Até bolo pulman com uma vela simples foi motivo de comemoração. Sorri com a lembrança.

Ao chegar no meu portão, vejo que as luzes estão acesas. O Pablo estava em cima do carro e quando me viu começou a miar loucamente. Com certeza queria ração. Minutos depois a Mayla começa a latir e tenho que dar um cafuné nos bichinhos ou eles iriam acordar a casa inteira.

Entro na sala e encontro o Edu dormindo, passo de mansinho para não acordar e deixo as compras em cima da mesa da cozinha. Para minha surpresa, lá estava meu vinho favorito e a mesa de jantar posta.

Volto para sala que estava cheia de caixas empilhadas e lembro que a gente precisava continuar empacotando os livros. A mudança seria em algumas semanas. Me aproximo do meu marido e lhe dou um selinho para acordar. Mas escuto um barulho da cozinha e vejo o Pablo remexendo as sacolas.

A caixinha do teste de gravidez caiu no chão. Precisava contar pro Edu que estava atrasada alguns dias. Mas não queria me preocupar com isso aquela noite. Até porque iria fazer o teste na manhã seguinte, pois dizem que tem maior concentração do Beta Hcg.

Você resolve deixar para fazer o teste no dia seguinte, afinal, aquela não era noite para preocupações.  Mesmo que tivessem combinado de não fazer nada, ambos pensaram em uma surpresa fofa e transformaram o momento em algo fofo e cheio de amor.

O cheiro que vinha da cozinha era maravilhoso, principalmente para você, que havia feito sua última refeição em um almoço corrido.  Edu parecia ter adivinhado como te agradar naquela noite.

***
Ao receber o seu beijinho, ele dá um suspirinho e um sorriso, ainda sem abrir os olhos.  Passa a mão no seu rosto e prolonga um pouco mais o beijo, cheio de saudades de te ter por perto. – Hm, eu não dormi.  Tava descansando os olhos – ele brinca, ainda em um carinho leve em seu rosto. Te puxa pro sofá, ainda com preguiça.

- Você está bem? – perguntou, percebendo sua expressão cansada e levemente preocupada. – Imagino que já viu minha “surpresa” na cozinha... Pedi naquele restaurante que você adora... Mas coloquei em travessas. Isso conta como cozinhar? – deu uma risada, também não tivera tempo  de preparar tudo, devido a estar tomando conta das coisas da mudanças de vocês.

Se levantou, indo pegar duas taças e o vinho pra vocês.

Eu guardo a caixinha na sacola e deixo essa preocupação para outro dia. Faço carinho na cabeça do Pablo e vou xeretar as travessas, já que o cheiro estava muito bom e dando muita fome. Vejo que tem lasanha e panquecas, minha comida favorita. Sorriu e volto para a sala.

O acordo com um beijinho gentil e sorriu quando ele acaricia meu rosto. Logo me aconchego no sofá e encosto a cabeça sobre seu peito.

Tudo bem… só o Rafael sendo o babaca de sempre Meu chefe tem o dom de me tirar do sério, mas ainda bem que já estava acabando. Eu vi, o cheiro esta muito bom.- Rio com o comentário e enquanto falo vou lhe dando vários selinhos- Na verdade não, mas eu amei. Obrigada

Enquanto ele vai buscar as taças e o vinho, eu me espreguiço e tiro os sapatos.

E como foi seu dia hj?

- Logo você vai se livrar dele... calma, amor – Edu fez um carinho leve em seu rosto, após você reclamar e logo é atacado com vários beijinhos enquanto você fala. Ele dá uma risadinha, tentando falar entre os beijos – Hm.. que...bom que... gostou – o último selinho ele prolonga em um beijo mais demorado e gostoso.

Por fim, após se levantar, ele volta com o vinho e serve vocês, se sentando ao seu lado. Parecia animado, apesar de ainda sonolento. Sua pergunta fez um sorriso se abrir em seu rosto.

- Foi ótimo! Consegui fechar o contrato do apartamento que a gente tava de olho, apesar de o preço não estar tão bom.  Depois seu pai me ajudou com as caixas lá do quarto... – começou a dizer, te puxando pra perto e afastando seu cabelo com uma das mãos.

- ... então não precisamos nos preocupar com isso hoje – ele sorriu, dando um beijinho em seu pescoço e falando em seguida, baixinho em seu ouvido – Vamos jantar, antes que esfrie mais – talvez fosse a fome, mas aquela parecia uma tentadora proposta aos seus ouvidos.