Pêlos Azuis - Xie

Pêlos Azuis avançou pela película que separava o mundo material da penumbra., encontrando-se num ambiente exatamente igual ao que estava, vendo os túmulos dos garous ali caídos.

Ele olhou à sua volta, expandindo sua percepção.

O métis viu os caminhos para os reinos da Umbra Média, mas não era para lá que ele queria ir.

Em vez disso, Xie olhou para "baixo", em direção à Umbra Baixa ou como era mais conhecida: Umbra Negra.

Havia uma segunda barreira espiritual para chegar até ela, um fino véu de névoas transparentes, a película da Umbra Negra: a Mortalha.

Spoiler:

Xie encheu-se de determinação e cruzou a barreira, sentindo como se de repente adentrasse um lugar muito frio e abafado.

Assim que passou pela barreira, Pêlos Azuis viu-se num lugar muito semelhante ao que estivera antes, mas diferente. As pedras estavam arenosas, rachadas, ameaçando ruir a qualquer momento. Os túmulos estavam tão corroídos que não era mais possível ver os glifos que os identificavam, seus baixos relevos apenas pequenas fissuras cheias de poeira.

O coração de Xie encheu-se de pesar, solidão e tristeza, sem que ele soubesse exatamente o porquê.

Ao olhar para o lado de fora da caverna, Xie viu apenas árvores mortas, quase totalmente sem folhas, e as que sobravam estavam secas e quebradiças.

O silêncio era total, sem nenhum animal, pássaro, roedor, lobo, nenhum dos componentes da fauna local que Xie já conhecia. 

Apenas o assobio lento e macabro de um vento gelado era fracamente ouvido.

A única coisa quente ali era a pulseira de Xie, que trazia o coração do caern perdido.

Xie caminhou pela floresta morta, à procura de algo que não sabia bem o que era.

A mata era escura, nevoenta, ventosa e silenciosa. Nenhum sinal de criatura viva em nenhuma parte.



Xie agarrou-se ao coração do caern que levava consigo e perseverou, andando durante tanto tempo pela floresta que logo não sabia precisar quanto fôra.

A mata começou a mudar lentamente, apresentando em alguns horizontes alguns sinais decrépitos de civilização. Estradas de ferro oxidadas e com trilhos quebrados, torres de linha de energia com cabos balançando como varais e roupa, velhas cabanas de caça parcialmente ou quase totalmente desmoronadas.

Foi quando parecia estar próximo a uma velha aldeia que Xie ouviu o clique de uma arma sendo engatilhada.

Uma voz áspera soou em seus ouvidos:

- Ora, você está vivo! Quem é você e o que faz aqui?

Uma figura usando trajes de cowboy antigos saiu de trás de uma árvore, apontando-lhe uma espingarda.

Spoiler:

Ao se virar para a figura usando trajes de cowboy, Xie percebeu que a face dele era esquelética e quase sem nenhum traço de pele ou carne, como um cadáver ambulante apodrecendo e putrefando. Suas roupas eram velhas e gastas, assim como a arma que ele lhe apontava.

O cowboy deu uma risada amarga, irônica e sem nenhum humor. Sua voz tinha um sotaque estranho, e o modo dele falar era antiquado:

- De passagem pelo Mundo dos Mortos? Sozinho e desarmado? Está cansado de viver? Macacos me mordam, vosmecê é um lobisomem! Não sabe que gente da sua laia é como um farol para atrair todos os mortos contra você? Sorte sua que estamos no meio da mata e não em alguma necrópole, senão vosmecê já teria sido despedaçado por uma legião inteira! Eu mesmo só não lhe mato agora porque sei que dá pra negociar com os lobisomens...

Ele pôs o rifle sobre o ombro, dando batidinhas enquanto olhava com seus olhos mortos de defunto para Xie:

- Bem, então vamos negociar! Vosmecê me diz o que está procurando e como pode recompensar minha ajuda, e eu decido se ajudo ou se mato vosmecê. Bom acordo, não acha?

- Eu sou Xie e tudo o que busco são algumas respostas… porque mataria alguém como eu?

O cowboy morto deu um risinho ao responder:

- Ah, sim, os lobisomens geralmente vêm pra esse mundo procurando informações... Mas a alma de vocês vale a mesma coisa que qualquer outra. Bem, talvez um pouco mais... Nunca esteve por aqui, garoto? Acho que não sabe como as coisas funcionam, né? Mas basicamente qualquer favor custa alguma coisa, e se você realmente não tem nada que possa dar em troca, então está bem encrencado... Qualquer um que te pegar e for menos paciente que o velho Billy Bullet aqui vai te abater e dar suas almas pros forjadores! Nunca ouviu falar dos forjadores?

O cowboy morto chamado Billy Bullet riu novamente sem nenhum humor, e sua risada parecia mais um lamento do que qualquer outra coisa.

Ele enfiou a mão no bolso e pegou alguma coisa na palma da mão, estendendo o punho fechado para Xie. Quando ele abriu a mão, Xie viu que era uma moeda antiga.

Spoiler:

- Isso é um óbolo, lobinho. É a moeda do mundo dos mortos. Todas as coisas do mundo dos mortos vieram do mundo dos vivos. Sabe como se cunham esses óbolos? Com a alma de alguém. Se você colocar essa moeda bem perto do seu ouvido, talvez até escute o gemido da alma da qual ele foi feito. Lobisomens dão óbolos ainda mais valiosos, sabia? Mas o velho Billy é esperto e sabe que lobinhos perdidos geralmente tem coisas de valor para trocar. Se você for esperto, acho que vai descobrir que tem alguma coisa para fazer valer a pena poupar sua alma, né?

- Eu não tenho muito dinheiro mas será que isso é o suficiente?

Billy Bullet observou enquanto Xie caçava centavos. Ele deu um riso amargo, apenas um som que não alterava suas feições.

- Essas coisas não servem de nada, lobinho! Não tem nenhuma utilidade para os que já morreram! Vou te explicar uma coisa...

Ele finalmente baixou a arma e sentou-se, como um cadáver cansado. Sua fala era lenta e ficou ainda mais lenta enquanto ele explicava como um sussurro de além-túmulo:

- Assim como os óbolos são feitos a partir das almas dos falecidos, frações dos vivos também podem gerar coisas de valor no Mundo dos Mortos. Suas lembranças, caso você desista delas, cada uma delas pode gerar um objeto útil para um fantasma. Mais valioso ainda, a energia espiritual dos lobisomens ou até mesmo o fogo de sua fúria são matérias primas para objetos ainda mais valiosos. Se você desistir de uma dessas coisas, posso lhe fazer um favor de valor equivalente. 

Ele olhou novamente para Xie de modo analítico usando seus olhos mortos, e seu olhar vazio fixou-se no bracelete de Xie.

- Agora, isso aí é bem valioso. Se me ceder isso, eu posso lhe fazer um grande valor, algo que valha realmente a pena. O que você acha?


OFF: Em termos de regras, cada pequena informação vai apagar a lembrança de uma pessoa do passado de Xie. No caern original de Xie, havia 12 pessoas importantes; no novo caern, Xie tem mais 12 pessoas. Cada favor que Xie peça para o fantasma fazer que não seja informação (por exemplo levar ele a algum lugar ou pessoa específico) custaria um ponto permanente de Fúria ou Gnose. O bracelete com a pedra do Coração do Caern do Oriente pode ser prometido ao fantasma (e talvez essa promessa não seja totalmente verdadeira...?) em troca de um grande favor, como a proteção dele durante um tempo bem longo ou contra uma ameaça bastante grave.

- Eu gostaria de perguntar algo. Se eu desistir de algo como por exemplo a lembrança de uma pessoa, em troca de um facor seu, eu posso recuperar isso depois?

O cowboy sacudiu a cabeça, levantando o chapéu com a ponta da arma:

- Tsc, tsc, tsc! Se você desistir, então desistiu! Sua lembrança vai virar um óbolo para mim...

Nesse momento, o cowboy foi derrubado por um ataque feroz de algo que veio de cima, rápido como um borrão. A imensa forma crinos desferiu três velozes golpes antes que Xie reconhecesse Testemunha-das-Estrelas.

Ela olhou para Xie e disse:

- Rápido, vamos correr! Não sei quanto tempo ele vai demorar para se recuperar! Vamos sair daqui!

Logo atrás de Pêlos Azuis, Megumi vinha correndo na forma hispo, latindo furiosamente para ele:

- O que você estava pensando ao vir aqui sozinha???

Depois de correr por alguns minutos, Megumi parou e disse:

- Vamos tentar voltar daqui. A Película da Umbra Negra é chamada de Mortalha, mas não sei a espessura dela aqui. Me dê a mão para irmos juntos.

Xie olhou para sua anciã, ainda brava com ela mas menos furiosa, e sua oferta para escapar da terra dos mortos, mesmo que Xie não tivesse ainda atingido o objetivo que o trouxera aqui.

- Espera... - ao invés de pegar na mão dos dois ele estancou e ficou parado olhando para ambos... o que havia de errado afinal de contas?

Megumi, que tinha mudado de forma tão rápido a ponto de enganar Xie, que chegou a acreditar que ela era duas pessoas em vez de uma, parou ao perceber a hesitação do métis das Fúrias Negras.

Endireitando-se e retomando sua atitude serena que Xie já conhecia, Testemunha-das-Estrelas falou em voz baixa e discreta:

- Não sei o que você está fazendo aqui na Umbra Negra, Pêlos Azuis, mas obviamente você não sabe o suficiente para lidar com os perigos daqui.

Ela olhava ao redor para certificar-se dos arredores a todo momento:

- Os mortos são criaturas tristes e desesperadas, e qualquer resquício do mundo dos vivos que possam ter a possibilidade de possuir deixa-os gananciosos e obcecados. Eles mentirão, enganarão e até matarão você para conseguir qualquer coisa que possa tirar de você. Os garous são seres cheios de energia vital tanto do mundo material quanto do espiritual, e nós somos como imãs nessa dimensão. É perigoso andar por aqui sem saber o que esperar...

Uma forte rajada de vento lamurioso fez a portadora da luz interior virar-se bruscamente para a direção do som, mas após um momento de profunda atenção, não houve mais sinais de ameaças.

Ela virou-se novamente para Xie e disse:

- Eu mesma não sou uma especialista sobre essa camada da Umbra, mas acho melhor sairmos daqui antes de encontrarmos desafios maiores do que podemos enfrentar. Tem algum motivo para querer ficar aqui com os mortos?

Após retornar com Megumi Testemunha-das-Estrelas de sua exploração na Umbra Negra, Xie Pêlos Azuis ouviu um belo sermão da anciã portadora da luz sobre os perigos de incursões em locais desconhecidos da Umbra. 

Outra consequência de sua escapulida foi que Megumi tirou dele a função de Guardião do Portão, passando ela mesma a vigiar a Ponte da Lua que levava do caern do Pássaro de Fogo para o caern mais próximo, o do Grande Urso Pardo, nas imediações da Grande Vancouver.

Sem obrigações com a seita até segunda ordem, Xie pôde se dedicar mais a seus próprios interesses.

Foi após um ciclo inteiro da lua no céu, 21 dias, que a pulseira com a pedra que era o coração do caern natal dele começou a vibrar intermitentemente, como se estivesse se sintonizando com a gnose do métis Fúria Negra.

Naquela noite, ao dormir, Xie teve um sonho impossivelmente vívido, com imagens claras, sons e cheiros bem definidos, quase como se ele estivesse presente no território de seu sonho. Ele viu-se novamente no oásis que abrigara o caern mais oriental das Fúrias Negras, mas estava bem diferente do que  ele se lembrava: os edifícios tradicionais tinham sido convertidos para um uso comercial, e havia até mesmo uma pista para automóveis levando ao complexo. Humanos chineses e de outras nacionalidades circulavam por todos os lados, com a aparência característica de turistas.

Avançando em seu sonho, Pêlos Azuis foi até o que antes era o coração do caern, e passou para a Umbra, onde pôde ver os resultados do impacto causado pelos atuais ocupantes do oásis: a paisagem umbral mostrava cada vez menos água e plantas, rodeadas pelas infindáveis areias negras do deserto. Ali, três Dançarinos da Espiral Negra mantinham cinco garous aprisionados; Xie conhecia esses garous, eram seus irmãos e irmãs de tribo na seita que tombara perante os ataques. Os lobisomens da Wyrm estavam torturando os cinco restantes, enquanto outros cadáveres de  garous estavam espalhados pelos arredores.

Quando Xie acordou, sabia que tinha que fazer alguma coisa, pelo menos tentar retomar aquele território de Gaia.


OFF: Pode descrever o que Xie fez nesses entreatos e também definir como ele pretende agir daqui pra frente.

Depois que retornou e ouviu aquele sermão todo sobre perigos de incursões na Umbra e bla bla bla. Nada como se ele não soubesse antes, mas estava tentando ser o nais cauteloso possível, mas parecia que isso diante dos olhos de muitos não era nada inteligente.

Como consequência de seus atos Xie foi removido de suas funções e isso mais uma vez o fez sentir mal e decepcionado com suas escolhas e atitudes. Era tão mal assim seguir o que seu coração dizia!?

E então 21 noites se passaram enquanto ele estava mergulhado em seus pensamentos, revendo suas atitudes enquanto sua pulseira vibrava intermitentemente. Estaria ela vibrando refletindo suas tristezas, fracassos e frustrações?

E então veio aquele sonho na noite… com seu local… sua casa… apesar de aparência ser completamente difetente do que ja vira antes. Os cheiros eram outros, mas as sensações eram de como se apesar de tudo estava finalmente em casa e isso fazia seu coração vibrar.

Quando adentrou a umbra no coração do seu caern e viu o que viu, teve certeza que ralmente preciaava fazer uma escolha e o que seu coração lhe dizia era para procurar Megumi, contar sibre aquele sonho e pedir sua ajuda…

Xie encontrou Megumi na Pedra do Ninho, onde ela agora se postava para vigiar a Ponte da Lua, tarefa que antes era do próprio Pêlos Azuis.

Ela o recebeu com sua serenidade costumeira e ouviu calmamente toda a narração do fúria negra sobre o sonho que tivera.

Quando ele terminou, ela perguntou:

- O que você quer fazer sobre isso? Eu tenho poucos garous aqui e todos eles são usados para proteger esse caern. É verdade que em nenhum caern você vai encontrar garous sobrando para poder acompanhá-lo numa missão potencialmente suicida para recuperar um caern corrompido. Mas supondo que seja isso que você quer fazer, como pretende fazer isso? Não vou impedi-lo de ir, se assim o quiser, mas você precisa planejar bem sua estratégia para aumentar suas chances de sucesso...

Ele não se sentia bem ao ver que era a própria Megumi que agora estava fazendo o que antes era a sua tarefa, mas sabia que se aquilo estava acontecendo era porque o destino tinha outros planos para ele no que dizia respeito a sua história e ao seu próprio caern.

Ele nao sabia muito bem como argumentar a tudo o que ela lhe questionava, principalmente porque o que ele estava fazendo era simplesmente abrir o seu coração e deixar que ele falasse. Ela tinha razão que o caminho que ele queria seguir era potencialmente suicida, mas era tudo o que lhe restara. Xie havia tentado de tudo antes para se sentir pertencente aquele lugar mas ele era uma fúria negra e nao conseguiu. Seu lugar era outro e tudo o que ele queria era poder voltar…

Ele então olhou para Megumi e lhe disse:

- Ainda não sei como fazer, por isso vim aqui para conversar. Sei que sozinho pode ser uma missão suicida mas não conseguí pensar em nada ainda a não ser vir falar com você e quem sabe conseguir alguma ajuda, alguma ideia… algo do tipo… Você me ajudou muito uma vez e me trouxe para cá. Sei que de alguma forma pode me ajudar de novo, nem que seja me ajudar a interpretar esse sonho e conseguir descobrir algma brecha…

Simplesmente invadir o local não era uma opção, mas talvez se infiltrar, tentar fazer parte do inimigo, conquistar sua confiança e talvez agir a partir disso poderia ser algo e ninguém melhor do que Megumi para aconselha-lo.

- Ainda não sei como fazer, por isso vim aqui para conversar. Sei que sozinho pode ser uma missão suicida mas não conseguí pensar em nada ainda a não ser vir falar com você e quem sabe conseguir alguma ajuda, alguma ideia… algo do tipo… Você me ajudou muito uma vez e me trouxe para cá. Sei que de alguma forma pode me ajudar de novo, nem que seja me ajudar a interpretar esse sonho e conseguir descobrir algma brecha…

Megumi ficou em silêncio por um longo tempo, pensativa, às vezes fechando os olhos e suspirando, para finalmente dizer:

- O seu sonho pode ser real. Você tem uma forte ligação com sua seita anterior e com o caern que protegiam, e isso pode ter lhe dado visões do que ocorre lá agora, ou que ocorreu há algum tempo. Não conheço nenhuma forma de desvendar isso à distância. Para descobrir se isso é real, creio que a melhor forma seria ir direto ao local para investigar.

Mas a theurge levantou uma mão para impedir que Xie pulasse aproximadamente para conclusões.

- Porém, e eu digo isso com grande pesar, uma investigação num caern corrompido pela Wyrm e povoado por Dançarinos da Espiral Negra é o equivalente a suicídio. Você não teria a menor chance de entrar lá sozinho e sair com vida. 

Ela fez um sinal com o dedo, como que contando:

- Retomar um caern nessas condições envolveria um ataque coordenado de várias matilhas bem treinadas e experientes, mas tanto a distância quanto a posição geográfica não concorrem para atrair interessados numa missão tão arriscada. E antes que você pergunte, os garous aqui no caern do Pássaro de Fogo não podem ser usados: além de serem jovens e inexperientes, eu os reuni aqui com base na guia de um totem espiritual, e a missão dele não inclui a recuperação do seu caern.

Ela abaixou a mão e encolheu os ombros.

- No entanto, não posso lhe proibir de fazer o que achar melhor. Se você desejar ir, poderá ir com a minha benção, mas há muito pouco que posso fazer para ajudá-lo, Pêlos-Azuis.