Em sistemas mais próximos de rotas e pontos estratégicos, uma coisa parece clara: seja diante dos próprios olhos, seja por notícias, vários planetas se voltaram contra o aparato militar que até então submetia-os a uma obediência cega, sustentada por violência extensiva ou velada. A Nova República se ergue como governo, colocando-se no encalço dos últimos imperialistas.
Apesar das promessas de esperança, tal mudança por si não parece suficiente para iniciar uma era de utopia. Em vários lugares, principalmente para quem sempre vivera às margens de tudo isso, pouca coisa mudou. Atos de vilania e egoísmo persistem, mesmo nos mais civilizados dos planetas, assim como problemas e disputas locais em diferentes escalas.
O frio e a desorientação eram intensos, mortais. Tudo breu e hipotermia. Era difícil à mente lembrar que cadeia de eventos havia levado àquela situação insólita.
Sede. Cansaço. Voltar a pensar e respirar – sem nem entender que havia parado – era um violento coice contra a mente e o corpo. Tremores sacudindo os nervos.
Uma batida metálica ecoava, incômoda, afastando-se e se aproximando. Que droga estava acontecendo?
Uma voz automatizada, com a estranha falta de fluência nas palavras de quando um computador lê um texto, irrompeu em meio àquele nada incômodo, o qual só não era equiparável ao fim de tudo justamente porque tudo doía:
- Não_entrem_em_pânico. Vocês_estão_experienciando_a_doença_de_hibernação.
Hibernação? Aquilo não era uma capacidade de todas as espécies da galáxia. “Carbonita”, completou a figura.
Congelados. Mas como?
Para uns, a última coisa que lembravam eram imagens desconexas de disparos, gritos e coisas do tipo; para outros, nada além de uma sensação de surpresa. Sempre à bordo de alguma nave de pequeno ou médio porte.
Precisavam entender o que havia acontecido, o que estava acontecendo. Não estar à mercê do que poderia acontecer.
Assim que os pensamentos voltassem ao lugar.
- Tenho_que_verificar_o_resto_da_nave. Volto_já. Não_saiam_daqui.
A criatura, seja lá quem ou o que fosse, afastara-se por definitivo. Mas havia outro ruído estranho. Parecia um animal ferido ganindo, difícil de definir.
Algum tempo passou até que a vista voltasse a responder. Aos poucos, um ambiente tétrico, metálico, ia surgindo. Era o interior de alguma instalação. Um galpão ou coisa do tipo. E quanto mais os detalhes se tornavam claros, menos a situação parecia fazer sentido: havia carcaças metálicas e ferramentas de todos os tipos, desde as pequenas de mão às grandes, das que estariam numa oficina. Mas o próprio ambiente parecia meio decrépito, como se fosse velho. Uma grande banheira sucateada.
E havia outros. Todos despertando em igual situação.
Entre eles, era difícil não perceber a presença de um grande wookiee – o responsável pelos barulhos estranhos que escuravam.
Quando o estalido de metal contra metal voltou num ritmo crescente, logo puderam notar a aproximação de uma estranha unidade K-2SO.
Era comum personalizar-se equipamentos como naves e droides, mas aquilo era para além do esperado.
- Não_há_mais_ninguém, mas_tem_isso – e virou destrambelhadamente um grande caixote com equipamentos diversos que haviam sido retidos. Cada pessoa logo reconheceu as próprias coisas em meio àquela pilha caótica. – Meu_nome_é_Allph-red.
Aquela customização, um nome em si... Seja lá a quem pertencera aquela máquina, devia ter depositado alguma consideração a mais nela.
- Levantem. Vocês_têm_que_me_ajudar_a_sair_daqui.
Naquele momento, o wookiee alcançara algo em meio às coisas, uma gargantilha que levara ao pescoço, praticamente sumindo em meio ao espeço pelo.
- Que droga está acontecendo aqui, droide? Que nave é essa? Onde está a minha nave?
- Piratas. Suas_naves_foram_capturadas_e_desmanchadas. Seríamos_vendidos. Escravos. Mas_eles_fugiram. Devemos_fazer_o_mesmo. Não_tenho_os_registros_da_embarcação_atual.
- MINHA NAVE?!
Num surto de ira, ergueu um pedaço de lataria alto e atirou-o à distância, causando um estrondo que ecoou na cabeça de todos, obrigando a própria figura a tapar os ouvidos com as mãos, sentidos ainda sensíveis pelo despertar.