- Merda! – falava pra si, frustrado, a garota não tinha a menor noção do que tava acontecendo, ou do que ele era, e muito possivelmente ia racionalizar qualquer coisa de errado que ela havia visto, mas tinha certeza de que ela havia visto os olhos do lobo nele quando ele olhou pro outro lado pr aterntar ver o que tava sacaneando com o lobo dele.
Ele olha pro celular e ve a mensagem de Bella, aquilo lhe traz algum alívio, ao mesmo tempo ciúme, “Como assim não sabe que horas chega? Clube do livro? Jenny?” pensava nos hobbys dela e na melhor amiga, mas não podia negar que tremia de raiva só de imaginar um outro cara encostando nela, mesmo que eles não tivessem nada formal ainda que escondido como era antigamente.
Parou pra refletir as palavras do pai, sentou-se no banco do carona novamente e bateu a porta. – Médico? Sério? – Connor não se conteve e deu uma gargalhada sonora – Caralho meu velho, uma coisa é não falar as coisas pra que elas fiquem em ordem, outra é esconder as coisas na covardia, o que fizeram contigo é uma covardia! – respirava fundo e coçava a testa – Alguma coisa no fundo da loja, alguma coisa sobrenatural sacaneou o meu lobo, trouxe ele a tona e me fez sair de lá, mas podia ter dado muito mais merda que isso. Eu não sou nada do que costumava a ser pai, quando eu me irrito e me irrito feio a forma de guerra vem a tona, eu tenho certeza que você nunca viu um de nós assim, quando eu cheguei aqui no carro eu tava me segurando pra não ceder aos meus caprichos, eu só assumi ela uma vez... – uma trizteza visível se abatia no rosto de Connor.
- Harry e o T.B. – falava dos companheiros de escola e faculdade, seu pai os conhecia bem e certamente sabia do “acidente” – na noite em que a casa explodiu, não foi bem o que matou eles. – o nó se formava na garganta e as lágrimas começavam a verter dos olhos, por mais que ele tentasse parar, não conseguia – Foi no dia que eu passei pela minha mudança, eu tava lá numa particular, nada demais, Harry e T.B. como sempre tavam comigo, um carinha que era novato no time e umas meninas, eu transformei e comi pedaços das meninas, deles também – pausava e pensava na comida que o pai mais gostava, respirava fundo e passava a mão nos cabelos – Eu não sei como te descrever a sensação, mas imagine que tinha gosto de pudim, por um momento achei que algum deles tinha me sacaneado, drogado minha cerveja, talvez o moleque novo, seria uma ótima maneira pra me tirar do time no teste de doping, e eu achei que tava alucinando, até me dar conta do vô me empurrando pro chuveirão da casa tentando me acalmar, ele explodiu a casa pra cobrir meus rastros e Brendan me levou pra casa da tia Elise por que um espírito me atacou, o filho da puta entrou pelo meu ombro e comeu basicamente meu pulmão direito inteiro. – Se acalmava enxugando as lágrimas, ele nunca havia falado daquilo pra ninguém, mas se sentia mais leve sabendo que alguém que lhe daria força agora sabia. – O ponto é eu não preciso de um médico, eu poderia ser atropelado por um caminhão, e isso provavelmente só me deixaria puto, eu me cobriria com a pele de guerra e provavelmente destruiria o caminhão e mais o que e quem tivesse em volta. – Naquele ponto a voz não era mais carregada do choro e do nó na garganta, era séria e pesada como uma martelada.
- Vai ligar pra mamãe e aí? Ela vai vir aqui, brigar de novo, a gente vai se estressar de novo. Nada bom vai vir disso. Não é o vô que te mantém no escuro, é ela, eu entendo o protecionismo, mas ela errou a mão. Ela tem medo de perder a família perfeita dela, mas a gente tá longe de ser perfeito. – balançava a cabeça em negação e se olhar ficava vago por alguns instantes, ele imaginava o quanto a mãe já havia escondido dele todos aqueles anos, se perguntava como ela conseguia conviver com isso. – Nosso trabalho pai é salvar as pessoas do que tem do outro lado, e exatamente nesse instante eu acho que aquela garota tá em perigo, se você acha que tu tá no escuro, ela tá no breu no fundo do poço, ela nem sabe o que ela é, ela viu olhos de lobo num homem e ela não faz ideia do que tá acontecendo. Eu preciso conversar com ela na franqueza igual to fazendo contigo, mas eu não posso ficar aqui dando bobeira, eu preciso saber se essa coisa tá na loja ou tá seguindo ela, mas eu não posso entrar lá nem ficar aqui, eu preciso que tu me ajude! – Olhava sério pro pai. – Olha, o lugar mais próximo que eu posso ficar é o McDonalds, se tu convencer ela de ir lá e conversar comigo, já seria um ótimo começo. – enxugava mais uma vez os olhos e vestia uma pokerface, como se nada tivesse acontecido, ele passava a mão nas suas bolsas e saia do carro, se debruçava rapidamente na janela. – Eu vou andando daqui, qualquer coisa me liga.